quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

ESTADÃO / POLÍTICA Lira abre 2024 com recado ao STF, fala em regulação de redes e quer urgência em exploração de terras

 O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) voltou a afirmar que cabe ao Congresso Nacional o papel de legislar no País. Em entrevista à TV Câmara, divulgada nesta terça-feira, 2, Lira afirmou que quando os parlamentares decidem não legislar sobre determinado tema isso não abre margem para que outro Poder o faça.

A declaração tem como plano de fundo a crítica de congressistas ao Supremo Tribunal Federal (STF) em razão das tensões entre os dois Poderes em 2023. Uma parte dos deputados e dos senadores afirma que os ministros da Suprema Corte se apropriam de atribuições do Legislativo.

A entrevista teve como tema o aniversário de 35 anos da Constituição de 1988. Lira destacou ainda a necessidade de modificações do texto para que leis alcancem o mundo virtual, em alusão às questões relacionadas a redes sociais.

Presidente da Câmara dos Deputados defendeu a aprovação urgente de uma proposta que regulamente a exploração das terras demarcadas, a ser feita pelos próprios indígenas.
Presidente da Câmara dos Deputados defendeu a aprovação urgente de uma proposta que regulamente a exploração das terras demarcadas, a ser feita pelos próprios indígenas.  Foto: Mario Agra / Câmara dos Deputados

Confira os principais pontos da entrevista:

Congresso legisla, os outros Poderes não

Política

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Lira afirmou que mesmo quando o Congresso “decide não legislar, ele está legislando”, e que isso não abre espaço para que outros Poderes o façam.

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“Se você tem um Congresso eleito para aquele período temporal, de quatro anos na Câmara e oito anos no Senado, aqueles são os representantes da população para aquele período. Aqueles receberam a autorização, a procuração popular para representá-los nas suas decisões.”

A crise entre STF e Congresso envolve temas como a descriminalização da maconha e o direito ao aborto legal, julgados pelo Supremo em 2023. O auge da crise ocorreu depois do STF invalidar a tese do marco temporal, aprovada pelos congressistas.

Em outras ocasiões, Lira já falou o que pensa sobre certos aspectos dos poderes do STF. Em dezembro, ele afirmou ser contra que decisões monocráticas possam anular projetos do Legislativo. Entretanto, disse se opor à Proposta de Emenda Constitucional que define mandato fixo para os ministros da Corte.

Regulação das empresas de tecnologia

Um dos articuladores do projeto de lei das fake news, Lira defendeu que os congressistas promovam mudanças na Constituição para que ela proteja os direitos individuais dos cidadãos.

“A realidade virtual é muito diferente da realidade real que a gente vive. Ela é muito mais rápida, efêmera.”

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O projeto está parado desde maio do ano passado no Congresso, quando foi retirado da pauta de votação após pressão da oposição e de outros setores da sociedade, incluindo as big techs.

Exploração de terras indígenas

Para o presidente da Câmara, falta de regulamentação para que indígenas possam explorar suas terras é o que causa “dilemas” entre eles, fazendeiros e ambientalistas.

Ele defendeu a aprovação de uma proposta que regulamente a exploração comercial das terras demarcadas, já que há previsão constitucional para isso.

“Não é possível que parte da população pense que os povos originários têm que viver como em 1500″, declarou o deputado, que não indicou se alguma proposta nesse sentido tramitará pela Casa em 2024.

A lei que institui a tese do marco temporal foi publicada no Diário Oficial da União da última quinta-feira, 28, após ser promulgada pelo presidente do SenadoRodrigo Pacheco (PSD-MG). O Congresso derrubou vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao texto.

Ataques de 8 de Janeiro de 2023

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Lira afirmou que mesmo em momentos difíceis, como os de 8 de Janeiro de 2023, a Câmara “se portou como garantidora da nossa Constituição”.

“Aquele ato, impensado ou pensado, foi ao limite da irresponsabilidade”, afirmou ao defender a necessidade de punição aos envolvidos pelos ataques às sedes dos Três Poderes.

Lúcia Guimarães -Para ficar na Casa Branca, Biden precisa enfrentar Trump e Murdoch, FSP

 No próximo dia 16, um júri em Nova York vai decidir o valor da indenização que Donald Trump deve pagar à ex-colunista da revista Elle E. Jean Carroll.

Em maio passado, Trump foi considerado culpado de agressão sexual e difamação da jornalista, num julgamento civil. Mas só foram informados dos detalhes e da gravidade da acusação os americanos que não consomem uma dieta de mídia restrita à trumposfera –não só a dominante Fox News, como One America Network, Newsmax e outras cloacas digitais na franja da desinformação.

Donald Trump, à época candidato à Presidência dos EUA, e Rupert Murdoch, dono da Fox News, conversam ao sair de campo de golfe pertencente ao ex-presidente em Aberdeen, na Escócia - Carlo Allegri - 25.jun.16/Reuters

O sistema bipartidário americano tem origem no final do século 18, mas a objetividade como guia da cobertura política é um fenômeno bem mais novo —tem apenas um século.

Mais do que em qualquer eleição recente, o ano nos Estados Unidos vai ser marcado por um expressivo desequilíbrio: um conglomerado de mídia está em campanha pelo Partido Republicano, não importa o candidato.

Se o presidente Joe Biden for confirmado o candidato democrata à reeleição, vai ter um poderoso adversário além de Donald Trump ou de quem quer que seja o concorrente republicano: Rupert Murdoch. O decrépito semiaposentado australiano de 92 anos, dono da Fox, a mais assistida TV a cabo americana, vem conspirando para eleger e sabotar governos na sua terra natal, no Reino Unido e nos EUA há décadas, mas há um cenário especialmente nefasto em 2024.

Depois da invasão do Capitólio, em 2021, Murdoch quis abandonar Trump, mas o culto ao ex-presidente ainda forma a audiência que contribui para o faturamento da Fox. A diferença entre o candidato do caos, derrotado em 2020, e o escancarado aspirante a Mussolini, em 2024, é a radicalização ainda maior dos eleitores trumpistas e a normalização da mentira pela Fox News e imitadores.

Não há fato que mereça descrição objetiva se for favorável a Joe Biden. O relatório federal sobre novos empregos foi o dobro do previsto? O popular âncora da Fox noticia o relatório como "um escândalo." Não há distinção entre cobertura econômica, política ou científica. Tudo é propaganda.

Desde que o grotesco empresário alaranjado desceu a escada rolante da Trump Tower, em junho de 2015, ainda pré-candidato azarão, nem o Partido Democrata nem os liberais americanos conseguiram articular um ecossistema de informação que enfrente o trator Murdoch.

As palavras têm peso. O escritor Jeff Sharlett critica o tabu com o uso do termo "fascismo" e é contra jornalistas optarem por "crise da democracia", porque "crise" sugere que se trata de uma história com começo, meio e fim. Mas "fascismo", ele argumenta, é o termo preciso para definir o culto à personalidade num movimento político que oferece o homem forte como solução para tudo, o líder que está acima das leis e, especialmente, celebra a violência.

Um exame publicado em novembro pela Columbia Journalism Review mostrou um número irrisório de artigos de análise na cobertura sobre política nacional das capas de jornais americanos, na eleição de 2022. É impossível noticiar a aberração Donald Trump apenas com descrição factual.

Se um empresário de mídia de centro ou de esquerda tivesse tratado o candidato Ronald Reagan com a negligência criminosa de Murdoch, a licença de transmissão do canal teria sido debatida pelo governo. É tarde demais para enfrentar o Frankenstein que sucessivos reguladores federais ignoraram.