quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Tebet anuncia apoio a Lula: ‘Depositarei nele o meu voto’, OESP

 Terceira colocada na eleição presidencial, a senadora Simone Tebet (MDB) anunciou nesta quarta-feira, 5, apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno contra Jair Bolsonaro (PL).

“Não cabe a omissão da neutralidade”, justificou. “Depositarei nele (Lula) o meu voto”.

Terceira colocada na corrida presidencial do primeiro turno, a emedebista obteve cerca de 5 milhões de votos; mais cedo, a cúpula do MDB liberou seus diretórios estaduais e filiados a apoiarem Lula ou Bolsonaro, sem restrições. Pouco antes, o governador reeleito do DF, Ibaneis Rocha, aderiu à campanha do atual chefe do Executivo no segundo turno.

Antes do anúncio de Tebet, Lula já havia sinalizado, após reunião com o PDT, que pretende conseguir o maior número de aliados até o dia 30 de outubro. “Vamos nos juntar porque acredito piamente que vamos ganhar essas eleições, aumentar a diferença. Vamos juntar os diferentes para vencer os antagônicos”, afirmou Lula após reunião nesta quarta-feira, 5, em São Paulo com diretório nacional do PDT, partido que aderiu na terça-feira à campanha do ex-presidente.

Uma eleição reveladora e educativa, Helio Beltrão, FSP

 Foi uma eleição reveladora. As previsões das raposas políticas, em grande medida, não se concretizaram. O presidente Bolsonaro saiu fortalecido e na ascendente para o segundo turno. No Congresso, a esquerda estagnou e houve notável avanço da direita. A polarização política foi refletida na composição parlamentar, porém com nítida vantagem da direita, que passou a liderar tanto Câmara quanto o Senado.

Houve um festival de derrotas da velha política e de percebidos traidores do presidente Bolsonaro. Não se elegeram Orlando Silva, Ivan Valente, Paulinho da Força, Collor, Requião, Vicentinho, Cesar Maia, José Serra, Álvaro Dias, Alessandro Molon, Eduardo Cunha, Marcelo Ramos, tampouco Luiz Henrique Mandetta, Joice Hasselmann, Alexandre Frota e os irmãos Weintraub. Adicionalmente, Ciro Gomes foi amassado, e o PSDB perdeu relevância.

Por outro lado, entre os 10 deputados mais votados, figuram apenas 2 de esquerda e 5 ou 6 com credenciais liberais sólidas. A Lava Jato foi exaltada, com votações expressivas de Sergio Moro e Deltan Dallagnol no Paraná.

Nikolas Ferreira faz selfie com o presidente Jair Bolsonaro em carreata em Poços de Caldas - Douglas Magno - 30.set.22/AFP

O mercado reagiu muito positivamente. A queda do dólar de R$ 5,40 para R$ 5,17 foi em grande medida reflexo da constatação de que os planos da extrema esquerda de revogar reformas do governo Temer e Bolsonaro —como o teto de gastos, a reforma trabalhista, o marco do saneamento e a extinção do imposto sindical— sofrerão oposição ferrenha no Congresso.

A pior mancha na eleição foram as pesquisas. Os institutos mais bem avaliados até recentemente erraram de maneira vexaminosa. Perderam a credibilidade para o segundo turno e talvez definitivamente. Este tema será pauta por período prolongado.

Entre as novidades da política, a federação de PSOL/Rede cresceu e superou a importante cláusula de barreira, mas o Novo foi um dos derrotados e reduziu a menos de metade sua participação no Congresso. A exceção foi a espetacular vitória de Romeu Zema para o governo de Minas Gerais.

O erro estratégico do Novo ocorreu entre 2019 e o início de 2022. O fundador, João Amoêdo, amparado pela cúpula, optou por uma oposição sistemática ao governo, com foco no impeachment do presidente. A ideia era enquadrar o partido inteiro. Os mandatários, liberais genuínos, foram perseguidos como inimigos e, em onda macarthista, foram tachados de "bolsonaristas" por não embarcar nessa cruzada pelo impeachment.

Em lugar de focar uma frente anti-PT, o Novo optou por combater diretamente a onda bolsonarista em busca de eleitores de direita.

O partido rachou, e, depois de longa depuração, foi construída uma nova governança em 2022. Era tarde demais. Muitos antibolsonaristas saíram do partido, mas não tiveram êxito no domingo (3). Outros permaneceram, mas preferiram não se posicionar a favor da pauta liberal do governo: também foram mal. Restaram os liberais pragmáticos como Marcel van Hattem e Gilson Marques, que souberam equilibrar as necessárias críticas com o apoio a pautas liberais. Tiveram votações muito expressivas.

O PSOL, por outro lado, se posicionou ideologicamente à esquerda do PT e apoiou Lula como representante da frente esquerdista. Aparentemente, aprendeu a lição das derrotas acachapantes de Marina Silva em 2014 e de Ciro Gomes, que peitaram o PT na busca do eleitor de esquerda e extrema esquerda. O PSOL formou quadros e cresceu com identidade própria, distinta do PT.

O Novo implicitamente demonstrou indiferença entre uma agenda liderada pelo PT e a agenda Bolsonaro/Guedes: ficou com imagem de isentão. A direita viu traição, enquanto a centro-esquerda seguiu percebendo o Novo como parte da frente do governo. Acabou espremido pelos flancos.

A nova governança do partido é promissora, mas terá decisões difíceis a tomar. Os liberais merecem uma casa para chamar de sua, mas é preciso reconstruí-la.

2022 não é 2018 e pode ser 1974, Elio Gaspari, FSP

 Quem viu o último grande evento da campanha de Lula, no dia 26 de setembro, podia achar que estava na cerimônia de entrega do Oscar, com um só vencedor, Luiz Inácio Lula da Silva. Sentia-se no ar uma opção preferencial pelas celebridades. O evento destinava-se mais a deificar Lula do que a permitir que uma coligação de vontades derrotasse Bolsonaro.

Contados os votos, Lula prevaleceu, mas não conseguiu fechar a eleição no primeiro turno. Olhando-se para o mapa, vê-se que os candidatos apoiados por Bolsonaro ficaram na frente em todos os Estados do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo.

O mapa de 2022 guarda semelhanças com o do vendaval de 1974, quando o MDB elegeu todos os senadores do Rio Grande do Sul até a muralha da Bahia. (A semelhança é grosseira por parcial, porque desta vez as eleições no Rio Grande do Sul e São Paulo decidem-se no segundo turno.)

O ex-presidente Lula durante evento com artistas em São Paulo - Marlene Bergamo - 26.set.22/Folhapress

Em 1974 o favoritismo dos candidatos da ditadura era tamanho que Ulysses Guimarães em São Paulo e Tancredo Neves em Minas Gerais preferiram ficar no conforto de sua cadeiras de deputado. Elegeram-se os pouco conhecidos prefeitos de Campinas e Juiz de Fora, Orestes Quércia e Itamar Franco.

Em 1974, dizia-se no palácio que Nestor Jost, candidato do Governo no Rio Grande do Sul, devia ficar quieto, pois ganhara uma cadeira de senador. Ilusão, ela foi para o emedebista Paulo Brossard. Em 2022 o comissariado petista selou sua aliança com o ex-governador Márcio França dando-lhe a cadeira de senador e entregando à sua mulher a vice na chapa de Fernando Haddad. Contados os votos, França foi para casa, o astronauta de Bolsonaro elegeu-se senador e Haddad lutará no segundo turno.

A eleição do astronauta Marcos Pontes em São Paulo traz outro sinal. 2022 não é um replay de 2018 porque ele não é o Major Olímpio, que tomou a cadeira de Eduardo Suplicy. É verdade que em 2022 o boiadeiro Ricardo Salles conseguiu se eleger para a Câmara, mas seu bolsonarismo, mesmo sendo radical, é recente. Quem o trouxe para a política de São Paulo foi Geraldo Alckmin. Entre 2018 e 2022 o deputado federal Eduardo Bolsonaro perdeu um milhão de votos.

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Alguns ventos de 2018 fizeram-se sentir, mas a força que os move está de certa forma ligada ao antipetismo. O ex-juiz Sergio Moro elegeu-se senador pelo Paraná e sua mulher, deputada por São Paulo.

O comissariado e, sobretudo Lula, subestimaram o vigor desse sentimento. São muitos os eleitores que apreciaram a entrada de Geraldo Alckmin na chapa de Lula, mas não o acompanharam no mea culpa de dizer-se iludido por ter condenado práticas dos governos petistas.

Juscelino Kubitschek, um político que amava a vida, ensinava que não tinha compromisso com o erro. Errou bastante, mas acertou muito mais. Lula e seus comissários, com um notável acervo de acertos, tropeçam nas bolas de ferro dos próprios erros.

A eleição de domingo mostrou que a tentativa de deificação de Lula pode ter um preço: a reeleição de Jair Bolsonaro.

Quando Lula diz que o segundo turno é uma simples prorrogação de um jogo ganho ele pode estar cometendo o último erro de uma campanha que começou bem e se perde num terrível instante, parecido com aquele em que a defesa da seleção brasileira de 1950 achou que o ponta direita uruguaio Alcides Ghiggia recebeu a bola e ia centrar. Ele avançou e fez 2x1.