terça-feira, 4 de outubro de 2022

Rodrigo vai apoiar Tarcísio em SP e marca encontro com Bolsonaro, FSP

 Carlos Petrocilo

SÃO PAULO

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), entrou em acordo com Tarcísio de Freitas (Republicanos) para declarar apoio ao candidato de Jair Bolsonaro (PL) ao Governo de São Paulo.

Nesta terça-feira (4), Rodrigo também tem um encontro com o presidente na capital paulista, indicando que o apoio a Bolsonaro na corrida pela Presidência também está encaminhado.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Rodrigo Garcia (PSDB), que devem selar aliança em São Paulo - Ronny Santos/Folhapress e Danilo Verpa/Folhapress

Rodrigo terminou o primeiro turno da eleição em terceiro lugar, com 18,4% dos votos válidos, e não avançou para o segundo turno, numa derrota histórica para o PSDB no estado.

O apoio declarado dos tucanos paulistas a Tarcísio e Bolsonaro é um revés para as campanhas de Fernando Haddad (PT) e Lula (PT), que também buscavam atrair a sigla nesta segunda etapa da disputa em que enfrentam os bolsonaristas. Tarcísio terminou com 42,32% contra 35,70% do petista.

Na segunda-feira (3), a campanha de Haddad chegou a procurar interlocutores de Rodrigo, mas não teve contato direto com o governador.

De acordo com aliados de Rodrigo, o governador viu vantagem em fechar uma aliança com Tarcísio na expectativa de que o PSDB mantenha parte dos cargos e das secretarias que ocupa hoje na estrutura governamental, incluindo o Sebrae. A manutenção do comando da Assembleia Legislativa também é um pleito dos tucanos.

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Os tucanos levaram em conta que Tarcísio e sua coligação não teriam quadros suficientes e precisariam do apoio do PSDB para tocar o governo. Além disso, o movimento de apoio também busca blindar que tucanos sejam alvo de investigações ou retaliações promovidas pelo eventual governo Tarcísio.

Pesou ainda o fato de que Tarcísio é considerado favorito para o cargo num estado que sempre elegeu governos de direita. O bolsonarista terminou o primeiro turno em primeiro lugar e tem rejeição menor do que o adversário Haddad.

O PSDB em São Paulo também considera o PT um adversário histórico e, de acordo com interlocutores de Rodrigo, não havia sentido apoiar os petistas no segundo turno.

Prefeitos ligados ao PSDB já iniciaram um embarque na campanha de Tarcísio, a exemplo do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira (PSDB). "Por coerência, não posso apoiar um candidato [Lula] que foi condenado e preso pelo maior escândalo de corrupção do nosso país. Luto contra a corrupção generalizada no PT há muitos anos", disse.

Rodrigo deixou a corrida eleitoral com mágoa dos adversários —os ataques de Haddad a ele contribuíram com a migração para Tarcísio. A campanha do PT preferia enfrentar Tarcísio no segundo turno, considerando que o bolsonarista seria menos competitivo e, por isso, centrou críticas em Rodrigo.

Haddad, por exemplo, questionou Rodrigo sobre o desconhecimento dos atos praticados pelo irmão Marco Aurélio Garcia, o Lelo, condenado por lavagem de dinheiro na chamada máfia do ISS.

O petista também tentou colar a imagem de Rodrigo na de Paulo Maluf, enquanto o tucano dizia que debutou na política durante a gestão de Mário Covas (PSDB).

A questão dos ataques a Rodrigo e a menor artilharia contra Tarcísio é uma crítica forte por parte da equipe de Lula à equipe de Haddad. Os lulistas cobravam ataques mais fortes em Tarcísio para fragilizar o palanque de Bolsonaro em São Paulo, onde o presidente acabou, por fim, tendo mais votos que Lula.

Emissários de Lula chegaram a propor que Haddad amenizasse as críticas a Rodrigo, na expectativa de que, com o gesto, o tucano viesse a apoiá-los em um segundo turno. A campanha de Haddad manteve peças ressaltando a ligação entre Rodrigo e o impopular João Doria (PSDB), além de o ex-prefeito ter feito fortes críticas ao governo e ao governador durante debates.

Como mostrou a Folha, a eleição em São Paulo embaralha a busca de Lula por apoios na corrida presidencial, inclusive o do PSDB. A executiva nacional do PSDB, que se reúne nesta terça, tende a ficar em cima do muro e liberar os líderes para apoiar Lula ou Bolsonaro.

A sigla está dividida entre a bancada de deputados federais —que são mais próximos do bolsonarismo do que da esquerda— e os cabeças brancas, que preferem Lula. O ex-senador Aloysio Nunes (SP) já estava com o petista no primeiro turno, e o senador Tasso Jereissati (CE) declarou apoio nesta segunda.

Ex-procurador-geral da República prega a inocência de Lula, FSP

 O ex-procurador-geral da República Claudio Fonteles publica artigo sob o título "Por que Lula é inocente?"

Ele responde: "O processamento criminal e a condenação de Luiz Inácio Lula da Silva não se sustentam porque conduzido, e decidido, por juiz suspeito" [Sergio Moro].

O texto estava disponível em seu blog no dia 29 de setembro, quando o candidato Padre Kelmon tumultuou o último debate eleitoral, e chamou Lula de "descondenado".

Segundo o ex-PGR, "o manejo do tema corrupção para denegrir sua pessoa [de Lula] é avassalador nas chamadas redes sociais, espaço recente e aberto a toda a sorte de manipulação das pessoas".

Ex-PGR Claudio Fonteles publica artigo sustentando inocência de Lula
Claudio Fonteles, ex-procurador-geral da República, durante debate. No destaque, o candidato Padre Kelmon (PTB) - Wilson Dias/ABr e Reprodução

Fonteles estende a suspeição ao coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, "que deveria zelar pela correta aplicação da lei, descumpriu com o princípio processual do contraditório, que garante o pleno equilíbrio das partes no processo judicial".

Franciscano leigo, Fonteles foi nomeado PGR por Lula. No governo FHC, impôs ao procurador da República Luiz Francisco de Souza o silêncio obsequioso. O procurador fustigava o secretário-geral Eduardo Jorge, mas o MPF não provou que EJ tenha ganho dinheiro ilícito.

Suas críticas à condução da Lava Jato são anteriores às eleições.

Em março de 2016, recomendou moderação a procuradores. Considerou "inadmissível" (...) "compelir testemunha, indiciado ou réu a prestar depoimento à margem do devido processo legal".

Em 2019, defendeu a "plena investigação" dos fatos divulgados pelo site The Intercept Brasil, e pela Folha, envolvendo Moro e Deltan: "O membro do MP não pode, por qualquer meio, mancomunar-se com o julgador."

Em crítica a Moro, afirma que os juízes devem ser imparciais, "sem subjetivismo impregnado de emoções, de qualquer partidarismo". Quanto a Deltan, diz que a acusação deve ser feita em "exposição objetiva e coerente dos fatos, sem estrelismos, sem encantos midiáticos".

Eis trechos do artigo:

"O que se viu, o que é inconteste, tendo, inclusive, a chancela de nossa Suprema Corte foi que o então juiz federal Sergio Moro e o então procurador da República Deltan Dallagnol entabularam, entre si, conversas várias sobre Luiz Inácio Lula da Silva no decorrer do processo criminal."

(...)

"Eloquente a suspeição do juiz, eloquente que o procurador da República, que deveria zelar pela correta aplicação da lei, descumpriu com o princípio processual do contraditório, que garante o pleno equilíbrio das partes no processo judicial."

(...)

"Dir-se-á: mas as instâncias revisoras dessa decisão, mantiveram-na. Então, ela vale. Não. Tal raciocínio é sofisma.

As instâncias revisoras, que o processo percorreu, são, como disse, revisoras. Elas se debruçam sobre o que foi feito perante e sob a condução do juiz. Elas não produzem provas sobre os fatos. Provas sobre os fatos são, unicamente, produzidas pelas partes ante o juiz.

Ora, se esse juiz se conduz, flagrantemente violando o impostergável atributo da imparcialidade, o que aconteceu mesmo, então toda a sua direção processual e o que decidiu quedam nulo de pleno direito e, se a nulidade é plena, não pode ser sanada em hipótese alguma."

(...)

"As condutas supervenientes do juiz Sergio Moro, aceitando cargo de relevo na administração do mais ferrenho opositor de Luiz Inácio Lula da Silva; lançando-se à disputa eleitoral para o cargo de senador da República e, sob essa perspectiva, notabilizando-se como ferrenho opositor a Luiz Inácio Lula da Silva são fatos claros e óbvios a caracterizar, inequivocamente, sua parcialidade, confirmando o acerto da conclusão por sua suspeição."

(...)

"Quais fatos em relação a Luiz Inácio Lula da Silva, e mesmo seus familiares, significam sinais ostensivos de riqueza? Onde estão os imóveis comprados com dinheiro vivo a indicar lavagem de dinheiro? Onde estão carros, lanchas e jatos particulares? Onde estão fazendas? Onde a prática da ‘rachadinha’ quando exerceu o mandato de deputado federal?"

Joel Pinheiro da Fonseca - Novo Congresso vai moderar Lula ou empoderar Bolsonaro, FSP

O grande vencedor das eleições de 2022 para o Legislativo foi o bolsonarismo. Junto dele, o centrão fisiológico (e conservador) também cresceu, irrigado pelo orçamento secreto. O campo da esquerda como um todo teve uma diminuição, mas dentro dele o polo lulista ganhou poder, enquanto alternativas de centro-esquerda (PSB, PDT) perderam espaço.

O maior perdedor foi a centro-direita moderada, focada em tornar o Brasil um país mais seguro, mais eficiente e melhor para se investir, sem bajular Bolsonaro nem aderir a histeria ideológica. PSDB perdeu cadeiras e perdeu São Paulo. Pior ainda foi o desempenho do partido Novo; uma pena, porque é um partido de pessoas honestas, transparentes e que sempre colocaram o debate de propostas em primeiro lugar.

O novo Congresso é mais coeso e mais à direita, que soma 273 cadeiras. A esquerda, 138. Bolsonaro, se reeleito, não terá dificuldade alguma em lidar com ele. Nadará de braçada num Congresso que já se mostrou mais do que disposto a dar-lhe carta branca no controle das instituições em troca de uma fatia sempre maior do orçamento, além da confluência natural de posições conservadoras.

Bolsonaro tem perfeita clareza de quem são os inimigos de seu projeto de poder: o Supremo, a Justiça Eleitoral, a imprensa profissional e as universidades. Reeleito, terá mais liberdade para agir contra eles.

Com o Senado tendo no PL sua maior bancada, está aberto o caminho para mexer no Supremo, seja com impeachment ou aumento do número de cadeiras. Só essa ameaça crível já permite que condutas que foram punidas em anos passados —as ameaças de Daniel Silveira, os vídeos terroristas de Roberto Jefferson, a formação de milícias armadas como a de Sara Winter, as calúnias em massa do Gabinete do Ódio— possam voltar sem nada que as interrompa.

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Já Lula, se vencer, encontrará um Congresso mais difícil para ele do que o atual. Não que seja impossível negociar e formar uma base, mas ela cobrará um preço alto em termos de verbas, cargos e agenda. Controle da mídia, com esse Congresso? Nem pensar.

Mesmo para quem vê equivalência nas posturas de ambos com relação à democracia, é preciso aceitar que um Lula enfrentando a resistência do Congresso representa muito menos risco do que um Bolsonaro com o Congresso a seu favor.

O próprio segundo turno tende a cobrar um movimento para o centro para conquistar os votos que foram para a terceira via. Terá Lula a capacidade de se comprometer com uma agenda de responsabilidade na economia, assim como fez com a agenda ambiental para conseguir o apoio de Marina?

Já Bolsonaro, no desespero pelos milhões de votos adicionais de que precisa, vai apelar para o tudo ou nada no terrorismo do Whatsapp. Lula tem pacto com o diabo, Lula vai fechar igrejas, a Nova Ordem Mundial vai fraudar nossas eleições para ajudar Lula. Será daí para baixo.

Enquanto isso, nas redes de informação bolsonaristas, os influenciadores mais influentes já plantaram o discurso: "como é possível que tantos candidatos bolsonaristas se elejam sem que Bolsonaro ganhe também? Muito estranho…".

O cinismo já prepara o discurso golpista de fraude nas urnas que será utilizado caso Bolsonaro perca. Sabendo disso, e sabendo que Bolsonaro é quem propaga esse discurso (disse, semanas atrás, que se não ganhasse com 60% dos votos no primeiro turno seria porque houve fraude), como considerá-lo aceitável?