quinta-feira, 28 de abril de 2022

Reduzir poluição e aumentar áreas verdes evitaria 11 mil mortes por ano em São Paulo, FSP

 Ana Bottallo

SÃO PAULO

cidade de São Paulo poderia evitar anualmente 11.372 mortes caso melhorasse seus indicadores ambientais de poluição do ar, aumentasse suas áreas verdes e reduzisse em 1°C sua temperatura média diária, indica um novo estudo que tentou estimar o impacto na saúde de políticas públicas aplicadas na maior cidade do país.

O número equivale a 17% do total de mortes por causas naturais registrado anualmente na população adulta (com 20 anos ou mais) do município. Os dados, de 2017, são do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM-SP).

Do total de mortes, 8.409 foram atribuídas à poluição acima dos índices recomendados, 2.593 à falta de espaços verdes e 370 ao excesso de calor diário.

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O plano diretor, prestes a ser revisto, incentivou adensamento nos eixos modais na periferia de São Paulo - Eduardo Anizelli - 21.abr.21/Folhapress

A pesquisa é liderada pela brasileira Evelise Pereira Barboza, doutoranda do Instituto Global de Saúde (ISGlobal) e da Universidade de Pompeu Fabra (na Espanha), e por pesquisadores de instituições europeias e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Universidade de São Paulo.

A estimativa do impacto foi feita a partir de modelos matemáticos que calcularam quantas mortes podem ser atribuídas aos níveis acima do recomendado de concentrações de poluentes na atmosfera ou a excesso de temperatura, por exemplo.

No caso de São Paulo, os pesquisadores fizeram a análise de qual seria a redução nas mortes se a cidade atingisse os níveis recomendados internacionais, como preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou com base em referências locais, comparando os bairros.

Por exemplo, para a análise de mortalidade associada à poluição do ar, foi utilizada como referência a concentração máxima de 10 µg/m3 de dióxido de nitrogênio (NO2) e no máximo 5 µg/m3 de material particulado de dimensão 2,5 (PM2,5), ambos limites recomendada pela OMS. O estudo usou dados até 2017 da Cetesb, que apontavam que São Paulo possuía 41,2 µg/m3 de NO2 e 16,6 µg/m3 de PM2,5.

Em relação às áreas verdes, a recomendação da OMS é que todos tenham acesso a elas. Assim, os pesquisadores compararam a distribuição desses espaços por distritos (valor de 0 a 1) da cidade através de monitoramento por satélite da concentração de árvores em cada região.

Por fim, para a temperatura máxima diária, os dados foram obtidos a partir das medições nas estações meteorológicas municipais, fornecidas pelo CGE da prefeitura, com a estimativa de redução de 1 °C por meio do plantio de árvores, maior permeabilização do solo e diminuição do tráfego de veículos. A temperatura média diária na cidade de São Paulo considerada foi de 19,5 °C, em 2017.

Segundo Barboza, a pesquisa é importante por ser a primeira a de fato quantificar como as ações voltadas para o planejamento urbano e meio ambiente impactam diretamente a saúde populacional.

"O orçamento de saúde não deve ser só aquele que é aplicado para hospitais, ele deve também considerar qualidade do ar, e como isso impacta na qualidade de vida", afirma.

À Folha, o secretário-executivo de Mudanças Climáticas do município, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, disse que a secretaria criou um plano com o objetivo de reduzir em pelo menos 30% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, começando com a mudança parcial da frota de ônibus por veículos elétricos.

Em relação à arborização da cidade, ele reconheceu que a distribuição de árvores é desigual, e disse que está dentro do Plano Municipal de Arborização Urbana (Pmau) aumentar as áreas verdes da cidade, incluindo a criação de dois grandes parques até 2024. Segundo o secretário, a desigualdade na cobertura vegetal urbana "em áreas densamente povoadas comparados ao Jardins pode produzir uma diferença de temperatura média diária de até 6 ˚C na cidade".

Já a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde, disse que o Vigiar, programa voltado à análise de risco de saúde pela poluição do ar, realiza o monitoramento, através de Unidades Sentinela, do aumento de incidência de doenças respiratórias no público infantil que possam estar ligadas à poluição.

Viva a farofa de macumba! Marcos Nogueira, FSP

 Sensacional que o maior destaque do Carnaval fora de época em 2022 tenha sido o Exu interpretado pelo ator Demerson Dalvaro num carro alegórico da Grande Rio –escola que acabou campeã do grupo especial carioca. O orixá cuspidor de farofa superou em repercussão até a ínfima fantasia de Paolla Oliveira, rainha da bateria da mesma escola.

Antes do desfile, Demerson treinou duro. Segundo reportagem do jornal Extra, ele gastou dez quilos de farofa em ensaios solitários dentro do box do chuveiro.

Contorce, faz careta, come farinha, contorce mais um pouco, toma água e cospe tudo num jato. A coreografia da Sapucaí num banheiro de apartamento. Com farofa. Tem um trechinho disso num vídeo que o Extra incluiu na matéria.

O ator Demerson D'alvaro, que interpretou o orixá Exu num carro alegórico da escola de samba Grande Rio
O ator Demerson D'alvaro, que interpretou o orixá Exu num carro alegórico da escola de samba Grande Rio - Muro Pimentel/AFP

O melhor do Exu carnavalesco é a "des-demonização" tanto desse orixá em particular quanto, em geral, das religiões de matriz africana. A famosa macumba, termo pejorativo que os adeptos dessas crenças resolveram adotar para –perdão pela palavra– ressignificar.

Eu sou ateu e me reservo o direito de não engolir nenhuma religião, independentemente da origem da matriz. Também sou, pelos padrões brasileiros, branco.

Vivi muito, vi muito e acho que não sou burro. Sei muitíssimo bem que o "medo" da macumba como feitiço para amaldiçoar não passa de racismo mal disfarçado.

Não gosto de religiões, mas nunca cogitei quebrar santos católicos ou queimar igrejas evangélicas, a despeito dos padres pedófilos e pastores picaretas que estão por aí, em número pouco desprezível. O tratamento deve ser equânime para mesquitas, sinagogas e qualquer espaço ou objeto de culto.

Curiosamente, certas pessoas "de bem" acham justo depredar as oferendas de candomblé e umbanda, quando não incendiar ou demolir terreiros.

"Chuta, que é macumba" até virou expressão idiomática, de tão disseminada. Considera-se normal tratar como ultraje incivilizado as ofertas deixadas pelo caminho, com comidas e afins –frango, pipoca, charuto, cachaça e, claro, farofa.

Dá medo, é? Vai ver as salas de ex-votos de algumas igrejas, cheias de pernas desmembradas de bonecas. Isso, sim, é macabro.

Exu não é um demônio e, principalmente, as religiões de gente preta não são diabólicas. O orixá pop bonitão cuspidor de farinha terá feito um grande serviço se essa mensagem perdurar. Infelizmente, acho que não vai. Pessimista, talvez. Realista, mais provavelmente.

Tomara que eu esteja errado. Viva a farofa de macumba!

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