A cidade de São Paulo poderia evitar anualmente 11.372 mortes caso melhorasse seus indicadores ambientais de poluição do ar, aumentasse suas áreas verdes e reduzisse em 1°C sua temperatura média diária, indica um novo estudo que tentou estimar o impacto na saúde de políticas públicas aplicadas na maior cidade do país.
O número equivale a 17% do total de mortes por causas naturais registrado anualmente na população adulta (com 20 anos ou mais) do município. Os dados, de 2017, são do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM-SP).
Do total de mortes, 8.409 foram atribuídas à poluição acima dos índices recomendados, 2.593 à falta de espaços verdes e 370 ao excesso de calor diário.
A pesquisa é liderada pela brasileira Evelise Pereira Barboza, doutoranda do Instituto Global de Saúde (ISGlobal) e da Universidade de Pompeu Fabra (na Espanha), e por pesquisadores de instituições europeias e do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Universidade de São Paulo.
A estimativa do impacto foi feita a partir de modelos matemáticos que calcularam quantas mortes podem ser atribuídas aos níveis acima do recomendado de concentrações de poluentes na atmosfera ou a excesso de temperatura, por exemplo.
No caso de São Paulo, os pesquisadores fizeram a análise de qual seria a redução nas mortes se a cidade atingisse os níveis recomendados internacionais, como preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ou com base em referências locais, comparando os bairros.
Por exemplo, para a análise de mortalidade associada à poluição do ar, foi utilizada como referência a concentração máxima de 10 µg/m3 de dióxido de nitrogênio (NO2) e no máximo 5 µg/m3 de material particulado de dimensão 2,5 (PM2,5), ambos limites recomendada pela OMS. O estudo usou dados até 2017 da Cetesb, que apontavam que São Paulo possuía 41,2 µg/m3 de NO2 e 16,6 µg/m3 de PM2,5.
Em relação às áreas verdes, a recomendação da OMS é que todos tenham acesso a elas. Assim, os pesquisadores compararam a distribuição desses espaços por distritos (valor de 0 a 1) da cidade através de monitoramento por satélite da concentração de árvores em cada região.
Por fim, para a temperatura máxima diária, os dados foram obtidos a partir das medições nas estações meteorológicas municipais, fornecidas pelo CGE da prefeitura, com a estimativa de redução de 1 °C por meio do plantio de árvores, maior permeabilização do solo e diminuição do tráfego de veículos. A temperatura média diária na cidade de São Paulo considerada foi de 19,5 °C, em 2017.
Segundo Barboza, a pesquisa é importante por ser a primeira a de fato quantificar como as ações voltadas para o planejamento urbano e meio ambiente impactam diretamente a saúde populacional.
"O orçamento de saúde não deve ser só aquele que é aplicado para hospitais, ele deve também considerar qualidade do ar, e como isso impacta na qualidade de vida", afirma.
À Folha, o secretário-executivo de Mudanças Climáticas do município, Antonio Fernando Pinheiro Pedro, disse que a secretaria criou um plano com o objetivo de reduzir em pelo menos 30% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, começando com a mudança parcial da frota de ônibus por veículos elétricos.
Em relação à arborização da cidade, ele reconheceu que a distribuição de árvores é desigual, e disse que está dentro do Plano Municipal de Arborização Urbana (Pmau) aumentar as áreas verdes da cidade, incluindo a criação de dois grandes parques até 2024. Segundo o secretário, a desigualdade na cobertura vegetal urbana "em áreas densamente povoadas comparados ao Jardins pode produzir uma diferença de temperatura média diária de até 6 ˚C na cidade".
Já a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Coordenadoria de Vigilância em Saúde, disse que o Vigiar, programa voltado à análise de risco de saúde pela poluição do ar, realiza o monitoramento, através de Unidades Sentinela, do aumento de incidência de doenças respiratórias no público infantil que possam estar ligadas à poluição.