quarta-feira, 27 de abril de 2022

Mariliz Pereira Jorge - Se não houver ditadura, FSP

 Gostaria de escrever sobre coisas mais leves. Me afundar na crônica sobre como a classe média sofre. Falar do mistério desvendado sobre como ter toalhas macias. Ou do dia que resolvi fazer um tratamento de pele e fiquei parecida com a Charlize Theron. Não a atriz maravilhosa, mas com o seu personagem no filme "Monster".

Dia desses passei um tempo procurando a melhor foto dos meus gatos para postar no Instagram, afinal, era o Dia do Gato, segundo fui informada pelo meu feed. Fotos e vídeos de gato tinham mais poder em conflitos de paz do que a Assembleia da ONU.

O bicho poderia ser o símbolo da frente democrática. E as redes sociais deveriam servir apenas para isso. Fotos de gatos e memes inofensivos. Mas nem isso mais é seguro. Resolvi não postar para não ofender ou causar algum tipo de dor em quem não tem gatos. Chega de gatilhos. Posso até imaginar a situação: o Brasil tem milhões na linha da pobreza, a "jornalista" trata bichos melhor do que crianças. Deveria adotar uma.

Um gato cinza com olhos amarelado sobre uma superfície branca e o fundo cinza
Gato poderia ser o símbolo da frente democrática - Unsplash

Você vai dizer que é exagero, mas no Brasil em que não podemos ostentar um pote de sorvete, viver de acordo com nossas escolhas virou ofensa. Também desisti já na primeira linha de vários assuntos muito banais, mas que renderiam um suspiro a mim e ao leitor, que assim como eu já não aguenta mais as novas aventuras do capitãoÀs quartas, assumi comigo o compromisso de tratar de pautas importantes e, às sextas, me esbaldar em temas irrelevantes, mas muito mais saborosos.

Tenho falhado miseravelmente na missão. Não há nada que não me faça cair no assunto de sempre. Na mesa de bar, na praia, em festa de casamento, no meio do bloco de Carnaval, no feriado. O sossego no feriado deveria ser garantido pela Constituição, mas soubemos em pleno feriado que a Constituição não serve lá para muitas coisas. Bolsonaro conseguiu a proeza de rasgar a Carta Magna e acabar com outra instituição nacional: o feriado. Tinham me falado de uma série nova, mas o que acabei maratonando foram as opiniões jurídicas sobre o último golpe do golpista, o perdão ao um dos seus bandidos de estimação.

Na virada do ano, comecei uma contagem regressiva informal para o fim de 2022. Mesmo sem estar confinada, a sensação é de cárcere e de espera que esse pesadelo acabe. Como eu disse, eu pretendia escrever sobre o milagre das toalhas macias, mas estou aqui, de novo, fazendo cálculos. Já é hora de pedir asilo político ou estou muito pessimista? Sinto a ditadura batendo à nossa porta.

O Brasil desistiu dos brasileiros. Nossas almas foram abduzidas por esse zumbi que sequestrou nossas vidas. No meio de uma festa de Carnaval, quando tudo o que eu queria era me render à profanidade, um folião sacou um leque gigante, lindo e cheio de purpurina. Estava escrito Fora, Bolsonaro. Eu só queria me entorpecer, mas Carnaval também é resistência. É um gole de uísque, uma sambadinha e um Fora, Bolsonaro.

Se não houver ditadura, talvez tenha Carnaval de novo e talvez eu possa voltar a escrever sobre procedimentos estéticos cagados e sobre toalhas fofinhas.


Startups usam luz no lugar de fios em chips, FSP

 Computadores que usam luz em vez de corrente elétrica para processamento estão ganhando força e startups que solucionaram o desafio de engenharia de usar fótons em chips estão recebendo grandes investimentos.

A Ayar Labs, startup que desenvolve essa tecnologia chamada fotônica de silício, disse nesta terça-feira (26) que levantou US$ 130 milhões (R$ 650 milhões) de investidores, incluindo a gigante de chips Nvidia.

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Chip óptico da Ayar Labs chamado TeraPHY - Ayar Labs via Reuters

Embora o chip de silício com base em transitores tenha crescido exponencialmente o poder de computação nas últimas décadas, os transistores atingiram a largura de vários átomos e reduzi-los ainda mais é um desafio. Não só é difícil fazer algo tão minúsculo, mas à medida que ficam menores, os sinais podem vazar entre eles.

Assim, a lei de Moore, que dizia que a cada dois anos a densidade dos transistores em um chip dobraria e reduziria os custos, está desacelerando, levando a indústria a buscar novas soluções para lidar com as necessidades cada vez mais complexas de computação de inteligência artificial.

De acordo com a empresa de dados PitchBook, no ano passado as startups de fotônica de silício captaram mais de US$ 750 milhões, dobrando o montante em relação a 2020. Em 2016, foram cerca de US$ 18 milhões.

"A inteligência artificial está crescendo muito e assumindo grande parte do data center", disse o presidente-executivo da Ayar Labs, Charles Wuischpard, à Reuters. "O desafio da movimentação de dados e o consumo de energia nessa movimentação de dados é uma grande, grande questão".

O desafio é que muitos grandes algoritmos de 'machine learning' (aprendizado de máquina) podem usar centenas ou milhares de chips para processamento e há um gargalo na velocidade de transmissão de dados entre chips ou servidores usando os métodos elétricos atuais.

Fonte de luz remota da Ayar Labs chamada SuperNova - Ayar Labs via Reuters

A luz tem sido usada por décadas para transmitir dados através de cabos de fibra ótica, incluindo cabos submarinos, mas trazê-lo para o nível do chip foi difícil, pois os dispositivos usados ​​para criar luz ou controlá-la não são fáceis de encolher.

Além de conectar chips de transistor, startups que usam fotônica de silício para construir computadores quânticos, supercomputadores e chips para veículos autônomos também estão levantando grandes cifras.

A PsiQuantum, por exemplo, arrecadou cerca de US$ 665 milhões até agora, embora a promessa de computadores quânticos mudando o mundo ainda esteja a anos de distância.

E não são apenas as startups que impulsionam essa tecnologia. Os fabricantes de semicondutores também estão se preparando para usar a tecnologia de fabricação de chips de silício para fotônica.

O chefe de computação e infraestrutura com fio da GlobalFoundries, Amir Faintuch, disse que a colaboração com PsiQuantum, Ayar e a Lightmatter, que monta processadores usando a luz para acelerar o trabalho da inteligência artificial no data center, ajudou a montar uma plataforma de fabricação de fotônica de silício para outros usarem, lançada em março.


Efeitos do acordo Musk-Twitter, Câmara derruba taxa de bagagem e o que importa no mercado, FSP

 Artur Búrigo

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PRIMEIROS EFEITOS DO ACORDO MUSK-TWITTER

A compra do Twitter por Elon Musk respingou nas ações da Tesla, que caíram mais de 12% nesta terça, tirando da empresa US$ 100 bilhões (ou "três Twitters") em valor de mercado.

O que explica: apesar de ter sido um dia negativo para as empresas de tecnologia em geral, a Tesla caiu muito mais. Boa parte do tombo pode ser justificado pelo modelo alinhado por Musk para financiar a transação de US$ 44 bilhões (R$ 218,5 bilhões).

  • Do total, US$ 21 bi (cerca de 10% da sua fortuna) devem sair do seu bolso. Ele não detalhou de onde vai tirar o dinheiro, o que abre a possibilidade de ter que vender parte de suas ações da montadora. Isso poderia gerar uma instabilidade nas negociações dos papéis da empresa.
  • Musk também conseguiu US$ 25,5 bi em empréstimos financeiros. Quase a metade disso será vinculada à participação acionária que possui na Tesla, estimada em torno de US$ 170 bi. A outra parte será de emissões de dívidas de suas empresas no mercado.
  • O bilionário e o Morgan Stanley, que o assessorou no processo, também estão sondando outros investidores para ajudar a rachar a conta que o sul-africano terá de pagar.

Em números: as ações do Twitter caíram 3,9%, para US$ 49,68, valor abaixo da oferta de US$ 54,20, o que indica um pé atrás dos acionistas com o sucesso da operação. Enquanto a Tesla, agora valendo US$ 920 bi, volta a deixar o seleto grupo das empresas que valem US$ 1 trilhão.

Consequências: em meio às críticas do bilionário às políticas de moderação da rede social, a União Europeia alertou Musk de que a plataforma terá de seguir as novas regras digitais do bloco. Se não andar na linha, poderá ser multada ou até banida.

  • O discurso "antimoderação" do novo dono do Twitter também tem gerado preocupação em parte dos funcionários da rede. Além de transformar o trabalho feito até aqui em pó, eles também temem que a parte de sua remuneração em ações seja prejudicada.
  • Outra angústia dos trabalhadores é se Musk irá repetir o que fez com a Tesla e transferir a sede da empresa da Califórnia para o Texas.

CÂMARA DERRUBA TAXA DE BAGAGEM

A Câmara aprovou nesta terça o fim da cobrança de taxa para despachar uma bagagem de até 23 quilos em voos nacionais e de uma mala até até 30 quilos em voos internacionais.

O dispositivo estava em um dos destaques de uma MP (medida provisória) aprovada que flexibiliza regras do setor aéreo. Agora, o texto precisa ser aprovado pelo Senado antes de ir à sanção. A validade da MP vai até dia 1º de junho.