terça-feira, 26 de abril de 2022

Sociólogo italiano Domenico de Masi constata o rebaixamento da inteligência coletiva brasileira, via Brasil 247 (definitivo)

 Brasil 247 – “Neste momento, vocês estão nas mãos de um ditador”, disse o sociólogo italiano Domenico de Masi, autor de O Ócio Criativo, argumentando que Mussolini, Hitler e Erdogan também foram eleitos.

Leia trechos da entrevista:

“Esta ditadura reduz a inteligência coletiva do Brasil. Durante esta pandemia, Bolsonaro se comportou como uma criança, de um jeito maluco. Ou seja, o ditador conseguiu impor um comportamento idiota em um país muito inteligente. Porque é isso que fazem as ditaduras.

Este me parece um fato tão óbvio que às vezes nos passa despercebido. Quando o país é comandado por pessoas tão tacanhas, a tendência é o rebaixamento geral do nível cognitivo da sua população.

É fácil entender por quê. Sob Bolsonaro, Damares, Araújo, Pazuello, Salles, Guedes & Cia, vemo-nos obrigados a retomar debates passados, alguns situados na Idade Média, ou no século 19, como se fossem novidades.

Terraplanismo, resistência à vacinação e a medidas básicas de segurança sanitária, pautas morais entendidas como questões de Estado, descaso com o meio ambiente, tudo isso remete a um passado que considerávamos longínquo.

Quando entramos nesse tipo de debate entre nós, ou com as “autoridades”, é como se voltássemos da pós-graduação às primeiras letras do curso elementar. Somos forçados a recapitular consensos estabelecidos há décadas, como se nada tivéssemos aprendido.

É como forçar cientistas a provar de novo a esfericidade da Terra ou a demonstrar eficácia da vacinação. Ou defender, outra vez, a necessária separação entre Igreja e Estado, mais de 230 anos depois da Revolução Francesa.

É muita regressão e ela nos atinge. De repente, nos surpreendemos discutindo o óbvio, gastando tempo com temas batidos e desperdiçando energia arrombando portas abertas séculos atrás na história da humanidade.

À parte a necessária luta política para nos livrarmos o quanto antes dessa gente, entendo que existe uma luta particular e que depende de cada um de nós: a luta para não emburrecer.

Manter a lucidez e a inteligência através da leitura de bons autores e da escrita. Manter viva a sensibilidade pela conversa com pessoas normais e pela boa música. Assistir a bons filmes para contrabalançar a barbárie proposta pela vida diária e pelas redes sociais.

Enfim, mantermo-nos íntegros e fortes para a reconstrução futura do país. Não podemos ser como eles. Não devemos imitá-los em sua violência cega. Não podemos nos deixar contaminar por sua estupidez. Eles passarão. E estaremos aqui, para recomeçar.

Provavelmente, o que leva a esse rebaixamento é o ódio e o ressentimento por levar as pessoas a se sentirem, no fundo, perdedoras (é o caso de todos os bolsonaristas que conheci mais de perto) e ter de encontrar bodes expiatórios para culpá-los. A cultura competitiva, que estabelece, com critérios perniciosos, o que é ter sucesso, faz com que quem entra nesse jogo perverso, sinta-se, no final das contas, sempre um perdedor.”

No destaque, o sociólogo Domenico de Masi (Foto: Ricardo Stuchert)

Hélio Schwartsman - Bolsonaro faz jogo pesado que erode a democracia, FSP

 Constitutional hardball", ou "jogo pesado constitucional". A expressão é de Mark Tushnet (Harvard), mas foi popularizada por Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, autores de "Como as Democracias Morrem". Eles sustentam que o uso repetido de "constitutional hardballs" ocasionou a erosão democrática em países tão variados como EUA, Brasil, Hungria, Argentina, Venezuela, alguns dos quais se converteram em autocracias.

O cientista político norte-americano Steven Levitsky em lançamento de seu livro no auditório da Folha
O cientista político norte-americano Steven Levitsky em lançamento de seu livro no auditório da Folha - Karime Xavier/Folhapress - 7.ago.2018

Mas o que exatamente são "hardballs"? É a exploração de procedimentos, leis e instituições por atores políticos para obter ganhos pessoais ou partidários de modos que violam costumes preestabelecidos e forçam os limites da legalidade. A concessão de graça por Jair Bolsonaro a Daniel Silveira é um exemplo perfeito de "hardball". No Brasil, o presidente tem a prerrogativa de perdoar criminosos. Praticamente não há limitações explícitas a esse poder nem na Carta nem nas leis. Mas perdoar amigos era algo considerado fora dos limites, de acordo com as normas não escritas da política e até da decência.

Dilma Rousseff era a presidente à época do julgamento do mensalão, que encarcerou importantes petistas. Não havia nada na lei que a impedisse de indultá-los, mas ela sabiamente não o fez. O problema com "hardballs" é que, quando você as usa, quase que intima o outro lado a responder na mesma medida. O STF não é um bicho sem dentes. Se quisesse bater o pé no caso Silveira, por exemplo, poderia metê-lo em algum outro inquérito e decretar sua prisão preventiva, sobre a qual em tese não cabe indulto presidencial.

Mas é fácil ver que, se todos entrarem nesse jogo, quem mais perde são as instituições e por conseguinte a democracia.

Jair Bolsonaro não inventou as "hardballs" nem foi o primeiro a lançá-las. Mas ele as usa com apavorante desenvoltura. Se não nos livrarmos dele em outubro, temo que a democracia brasileira não resista a mais quatro anos de jogo pesado.


Arthur do Val tenta nova cartada para manter direitos políticos e atrasa andamento do processo, FSP

 Os advogados do ex-deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei, protocolaram um pedido para que a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) suspenda a tramitação do processo que pode resultar na cassação de seu mandato.

O parlamentar renunciou ao cargo no dia 20, uma semana depois que o Conselho de Ética da Casa aprovou a sua cassação por unanimidade.

Sua defesa afirma agora que, com isso, o processo perde a validade e deve ser suspenso.
Se a ideia vingar, Arthur do Val mantém seus direitos políticos e pode ser candidato a deputado federal ainda em 2022.

O deputado Carlão Pignatari, que preside a Assembleia, determinou a suspensão da reunião da Comissão de Constituição e Justiça marcada para esta terça (26) que seguiria analisando o processo. E enviou o pedido dos advogados à procuradoria da Casa, que deve emitir um parecer.

Do Val é julgado por quebra de decoro parlamentar depois de viajar à Ucrânia e enviar áudios a amigos com comentários sexistas sobre as mulheres do país em guerra. Entre outras coisas, ele disse que as ucranianas são fáceis porque são pobres.

Integrantes da Assembleia Legislativa desconfiam que a União Brasil, partido ao qual Arthur do Val se filiou em março, depois de ser expulso do Podemos, está costurando um acordo para manter o ex-parlamentar na disputa de 2022.

A legenda apoia a candidatura do atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB-SP) à sucessão de João Doria.

"A lei é clara: mesmo com a renúncia, o processo deve prosseguir", diz o deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), que integra a CCJ da Alesp. "Se paralisarem o processo, vamos judicializar", afirma ele.

Os advogados de Mamãe Falei dizem que a tramitação só não poderia ser interrompida caso o processo de cassação já tivesse sido despachado para o plenário, o que ainda não tinha ocorrido.