O Datafolha que mostrou que 44% da população vê grande risco de o Brasil se tornar comunista dependendo do resultado da próxima eleição foi recebido de diferentes formas por lideranças da esquerda.
Eles são unânimes a respeito da impossibilidade de implantação de um regime comunista, mas veem a questão com graus de preocupação distintos: alguns dizem que uma desmistificação pública seria importante, e outros falam em ignorar o tema, que seria de menor relevância hoje.
Marcelo Freixo (PSB-RJ) diz que "ninguém pode brincar com esse tipo de coisa. Por mais que saibamos que não é verdadeiro, devemos ter muita atenção ao dado. É resultado de um governo de desinformação, de ataque à ciência e fake news, que é o de Bolsonaro."
O deputado afirma que a esquerda tem a tarefa de contribuir para a qualificação da informação e de sua divulgação, contra um governo da desinformação.
"A política precisa ser pedagógica. A gente precisa falar com mais clareza. Precisamos falar para agradar não quem fala, mas quem escuta", diz.
"O anticomunismo virou discurso oficial do Planalto, essa retórica mistifica o debate público, sustenta a polarização nas discussões políticas e oculta as fragilidades do governo Bolsonaro. Não há possibilidade de implantação do comunismo a partir da eleição de 2022, mas essa ideia funciona como um espantalho para mobilizar incautos", analisa, no mesmo sentido, Orlando Silva (PCdoB).
"Com Lula presidente e o camarada Geraldo [Alckmin] de vice acho improvável a chegada do comunismo", diz Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT, em tom de brincadeira.
Tatto afirma que esse debate é de interesse de Jair Bolsonaro e não tem influência eleitoral significativa. Ele diz que o PT se concentrará em temas prioritários, como o combate à fome.
Para Guilherme Boulos (PSOL), a rejeição de Bolsonaro medida pelo Datafolha mostra que a discussão não é preocupante do ponto de vista da disputa eleitoral, mas o resultado de 44% coloca a necessidade de a esquerda "retomar uma disputa de ideias e valores da sociedade que foi perdida, e muitas vezes por W.O."
"O medo do comunismo sempre é estimulado quando as elites precisam combater projetos que representam maior justiça social ou em momentos de crise do capitalismo. Nos últimos anos a extrema-direita brasileira foi eficiente em mobilizar esse medo, ainda que ele não tenha nenhum fundamento nesse momento", diz Juliano Medeiros, presidente do PSOL.
"O Brasil não corre risco de ser comunista ou socialista depois das eleições. Infelizmente", completa.
Para Carlos Lupi, presidente do PDT, a esquerda deve marcar sua posição em defesa da democracia e da liberdade por meio de projetos.
"A ameaça associada ao comunismo no século passado era a da retirada de liberdades, e quem está fazendo isso hoje é o Bolsonaro, a extrema-direita. A grande campanha que devemos fazer é sermos democratas", afirma. "O exemplo e as ações são a maior demonstração de uma visão republicana e democrática".