quarta-feira, 28 de julho de 2021

CNPq tem apagão e plataforma Lattes sai do ar, FSP


BRASÍLIA

Os principais sistemas federais da pesquisa brasileira, as plataformas Lattes e Carlos Chagas, vivem um apagão desde sexta-feira (23) após uma falha na área de tecnologia. O problema impacta processos rotineiros relacionados ao fomento à pesquisa, como pagamento, renovações de bolsas e prestações de contas.

Os dois sistemas são de responsabilidade do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), responsável pelo fomento à pesquisa no país. O órgão é ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

A plataforma Lattes é um banco de dados com todos os currículos de pesquisadores. Ações como a aprovação de bolsas dependem da consulta ao Lattes. Já pela plataforma Carlos Chagas é que se operacionalizam chamadas públicas e editais de fomento à pesquisa, gestão e pagamento de bolsas.

Cerca de 84 mil pesquisadores são financiados com recursos do CNPq. Além disso, outros órgãos, como a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e agências de fomento ligadas a governos estaduais, também realizam operações com auxílio da plataforma Lattes.

O CNPq publicou nota em que admite o erro, que teria sido identificado no sábado (24). Já faz quatro dias que os sistemas estão fora do ar, mas ainda não há previsão para restabelecimento.

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O conselho afirma que prazos estão suspensos e serão prorrogados. Pagamentos de bolsas não serão afetados, segundo o governo.

"O problema que causou a indisponibilidade dos sistemas já foi diagnosticado em parceria com empresas contratadas e os procedimentos para sua reparação foram iniciados", diz nota do órgão.

Há receio entre pesquisadores e funcionários do conselho de que o problema ocasione perdas de informações. Questionado, o órgão nega que esse risco exista e diz que "existem backups cujos conteúdos estão apoiando o restabelecimento" dos sistemas.

"O CNPq já dispõe de novos equipamentos de TI [Tecnologia da Informação] e a migração dos dados foi iniciada antes do ocorrido", diz a nota.

Até o email interno do CNPq está fora do ar. Somente o site do órgão continua em operação porque é hospedado no servidor central do governo federal.

 

Elio Gaspari Brigar com vice é mau negócio, FSP

 Em apenas dois meses, Bolsonaro ameaçou não realizar eleições, insultou senadores da CPI, disse que faltou maconha nos protestos contra seu governo e queixou-se da Receita Federal por ter ido “com muita sede ao pote” num projeto que não é dela, mas do ministro da Economia do seu governo.

É compreensível que uma pessoa capaz de acreditar que a cloroquina remedia a Covid e as vacinas são experimentais acredite em bizarrices. Ex-aluno da Academia Militar das Agulhas Negras, somou -4 com +5, obteve um + 9 e viu no desempenho econômico do seu governo “um milagre”: “É inacreditável”.

Atitudes inacreditáveis, porém pontuais, são uma coisa, mas presidente atacando seu vice publicamente é coisa perigosa que, além de tudo, traz falta de sorte. Bolsonaro disse que seu vice, Hamilton Mourão, “por vezes atrapalha”. Comparou-o a um cunhado: “Você casa e tem que aturar, não pode mandar embora”. Ao contrário do que acontece com seus cunhados, quem escolheu Mourão para sua vice foi ele. Aturá-lo faz parte da ordem constitucional.

Fernando Henrique Cardoso e Lula tiveram nos vices Marco Maciel e José Alencar colaboradores exemplares. Nos últimos 50 anos dois presidentes encrencaram com seus vices: Dilma Rousseff e João Baptista Figueiredo. Ambos se deram mal. Ela foi retirada do cargo e Michel Temer tomou-lhe o lugar. Figueiredo saiu do palácio por uma porta lateral, enquanto o vice, Aureliano Chaves, tomava posse no ministério escolhido por Tancredo Neves.

Indo mais longe, Jânio Quadros não se dava com João Goulart e renunciou achando que ele não seria empossado. No mínimo, brigar com vice não dá sorte.

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Mourão foi escolhido às pressas (o preferido era o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança) e acreditou que teria uma função relevante no governo, talvez cuidando da infraestrutura. Esqueceu-se da lição de Stanislaw Ponte Preta, o inesquecível personagem do jornalista Sérgio Porto: “Vice acorda mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada”.

Mourão está acima da média da equipe de Bolsonaro e poderia ter ajudado em tarefas mais meritórias do que embarcar para Angola numa missão municipal. Ademais, ele só foi colocado na chapa porque traria consigo um apoio militar. Fosse qual fosse o tamanho desse apoio, também não dá sorte perdê-lo. Sobretudo numa fase durante a qual, para um militar, a associação com Bolsonaro pode trazer vantagens, mas cobra prestígio.

O pior que pode acontecer a um país com mais de 500 mil mortos numa pandemia e 14,7 milhões de vivos desempregados, é ter um capitão na Presidência desentendido com um general na vice. Mourão e Bolsonaro não conseguiram criar uma relação parecida com as dos dois presidentes da ditadura que tiveram vices militares. O almirante Rademaker (vice de Emílio Médici) e o general Adalberto Pereira do Santos (vice de Ernesto Geisel) dormiam até tarde e foram felizes para sempre.

É sabido que o presidente e seu vice afastaram-se. Contudo, uma separação pública de Bolsonaro e Mourão conduzirá inevitavelmente a um reflexo no meio militar. Quando esse veneno entra nos quartéis, a desintoxicação custa caro e demora anos para cicatrizar.

A batalha das variantes, Hélio Schwartsman. FSP

 A variante delta vai provocar uma terceira onda de Covid-19 no Brasil? Não sabemos, mas essa é uma possibilidade para a qual precisamos estar muito atentos.

Lidamos aqui com um experimento biológico inédito, que consiste em lançar a nova variante num ambiente em que a cepa dominante é a gama. É Darwin quem dá as cartas. Se a delta apresentar uma vantagem competitiva sobre a gama, então a variante que fez sua primeira aparição na Índia deverá se espalhar com rapidez entre nós, com grandes chances de provocar um novo round de contaminações. A delta já mostrou que é capaz de vencer a alfa e a beta.

Luminoso em Sydney, Austrália, em janeiro de 2021 - Bai Xuefei/Xinhua

Há, é claro, outros fatores a considerar. O mais importante é a quantidade de pessoas que ainda são suscetíveis à infecção por Covid-19. Mesmo que a delta seja muito mais contagiosa do que a gama, a devastação que ela pode causar ficará limitada se a grande maioria da população já estiver imunizada, por vacinas, por ter se recuperado da doença ou por uma combinação dos dois.

E aqui, de novo, a delta preocupa. O Brasil já vacinou 62% da população adulta com a primeira dose, mas apenas 24% estão com o esquema completo. Estudos sugerem que a imunização parcial, que já assegura uma proteção razoável contra as variantes tradicionais, não funciona tão bem contra a delta. Mesmo países que estavam bem mais adiantados na imunização (e com um gap menor entre primeira e segunda doses), como Israel, Reino Unido e EUA, experimentaram repiques quando a nova variante se espalhou.

Nesse contexto, resta-nos torcer pela gama, mas nos preparar para a delta. Não é obviamente o caso de promover lockdowns preventivos, mas prefeitos e governadores deveriam redobrar a cautela antes de relaxar restrições que ainda estão em vigor. É politicamente muito mais custoso ter de recuar em alguma liberação do que prosseguir com cuidado na reabertura. As próximas semanas nos trarão as respostas.