quarta-feira, 28 de julho de 2021

Mariliz Pereira - Jorge Fim da fila da vacina, FSP

 A Prefeitura de São Paulo, a exemplo do que já tinha feito a de Belo Horizonte, decidiu que vai para o fim da fila quem tentar escolher o fabricante do imunizante contra Covid-19. Aos críticos dos sommeliers a medida parece justa. Quem muito escolhe fica sem nada.

Com mais de 550 mil mortes, parece suicídio recusar qualquer que seja a oferta. Então, que se lasquem. Eu mesma pensei assim, num primeiro momento. Mas não é uma questão de revanche contra quem brinca com a própria sorte numa pandemia.

A medida não parece tão simples de ser cumprida. Aos profissionais de saúde, que já têm a enorme responsabilidade do corpo a corpo com a população, caberia fiscalizar e punir os dribladores. Num país onde a frase favorita é "você sabe com quem está falando?", dá para imaginar de que lado a corda roeria.
Parece também muito fácil chegar a um posto de saúde qualquer e, antes de entrar na fila, obter a informação sobre qual imunizante está sendo aplicado e dar marcha à ré, sem ser enquadrado nem receber uma advertência por escrito. Fazer de conta que o sommelier vai ficar de castigo faz barulho nas redes sociais, ganha espaço na impressa, mas resolve pouco o que de fato importa: ter vacinas, várias, para todos.

Importante dizer que o sommelier de vacina é um egoísta. E um baita ignorante. Sabemos que os imunizantes disponíveis têm performances distintas, mas os aprovados funcionam dentro de um plano nacional que inclui diferentes laboratórios.

Mais vale a maior parte da população vacinada com um imunizante que tem 50% de eficácia do que nem metade imunizada com um mais eficaz, como acontece nos Estados Unidos. O país já enfrenta uma nova pandemia, a dos não vacinados, e vê o número de casos e de internações disparar entre os negacionistas, que representam mais de 95% das mortes pela Covid-19 em alguns estados. Então, pior do que tomar qualquer uma, é não tomar nenhuma.


O aço e a segurança nacional, Antonio Delfim Netto, FSP

 Um setor siderúrgico integrado à economia é indispensável para a manutenção da autonomia energética, militar e alimentar de um país, principalmente um de dimensão continental. Não é à toa que praticamente todas as maiores economias do mundo são —ou foram e agora se arrependem— importantes produtoras de aço.

Nosso parque siderúrgico é tecnologicamente atualizado e bem posicionado em termos de produtividade relativa (homem/hora por tonelada) frente aos principais competidores. Somos o nono produtor mundial, com capacidade instalada de 51 milhões de toneladas e aptos a suprir plenamente a demanda doméstica —e ainda exportar. O consumo de aço no Brasil se expande com a intensidade de uso e, principalmente, com o crescimento econômico, uma das razões pelas quais o setor enfrenta dificuldades desde a recessão de 2015/2016.

O choque profundo e inesperado da Covid-19 levou à paralisação imediata de muitos setores econômicos. Esperava-se que o corte de demanda produzisse queda generalizada dos preços e que a retomada ocorresse de maneira gradual. O que se viu, entretanto, foi a canalização de boa parte da demanda de serviços para bens, sem ajuste adequado da oferta.

Houve falha generalizada na antecipação desse movimento (e de sua intensidade), o que levou à completa disrupção dos processos produtivos. Os preços se elevaram e o mundo sofre hoje com entraves de logística e carência de insumos, peças e componentes, principalmente no setor industrial. Mesmo onde a paralisação não foi completa, prevê-se retorno gradual, em alguns casos só em 2022.

No setor do aço não haveria de ser diferente. A reversão mais rápida e intensa da queda de demanda e a necessidade de reposição de estoques de consumidores diretos e da rede de distribuição elevaram preços e tornaram a regularização da oferta mais lenta do que o desejado.

É preciso, portanto, ter cuidado com soluções simplistas para um problema complexo, principalmente num contexto global que reforçou protecionismos existentes para enfrentar as consequências da pandemia. Os EUA, por exemplo, expandiram a taxação e o regime de cotas das importações de aço. A Europa implementou salvaguardas.

O imposto de importação do aço no Brasil deve, portanto, ser analisado neste quadro conjuntural e sem que se perca de vista a importância estratégica do setor no longo prazo. Não se pode comprometer a sua competitividade, já prejudicada pelos demais custos com os quais a indústria nacional convive.
Aproveito para apresentar a minha solidariedade à família de nosso grande filósofo Roberto Romano.


terça-feira, 27 de julho de 2021

Câmeras não identificam entrada de estranhos no prédio da Joice, diz Polícia Legislativa, OESP

Camila Turtelli, O Estado de S.Paulo

27 de julho de 2021 | 14h28

BRASÍLIA – A Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados (Depol) disse não ter identificado a entrada de nenhuma pessoa estranha no prédio em que mora a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) entre os dias 15 e 20 de julho. A parlamentar sofreu um incidente, ainda sem explicação sobre a causa, na madrugada do dia 18. Ela acordou com fraturas e hematomas pelo corpo e sem memória do que aconteceu. Além da Polícia Legislativa, a Civil também investiga o caso atualmente.

A assessoria da Câmara disse que há segurança nos locais onde se localizam os apartamentos funcionais dos parlamentares. “Os prédios possuem vigilância armada e porteiros, ambos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Além disso, há câmeras de segurança e rondas ostensivas, com viatura caracterizada”, diz a nota.

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A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) conversa com jornalistas após prestar depoimento. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em nota, a deputada afirmou que não existem câmeras de segurança nas escadas, nem nas entradas dos apartamentos funcionais. “Eu mesma chamei a atenção para o problema em meu depoimento à Depol e agentes alegaram que seria para resguardar a “privacidade” dos parlamentares. Comuniquei a falha de segurança também à Procuradoria da Mulher da Câmara e à Polícia Civil”, disse. Ela já afirmou que suspeita que alguém com acesso ao prédio tenha ficado escondido em seu apartamento e a agredido na madrugada.

A Depol diz também que as imagens mostram que Joice não saiu do apartamento do dia 15 até o dia 20, quando disse ter ido ao hospital. “Prova o que eu tinha dito desde o início sobre as datas do ocorrido e derruba a tese espalhada por governistas de suposto acidente de carro: eu não saí de casa, como, aliás, é de praxe nos finais de semana”, afirmou a parlamentar.

Ainda nesta terça-feira, 27, a Polícia Civil realizou uma perícia no apartamento da deputada e, na segunda, o carro dela foi vistoriado pelas autoridades.

Também na segunda-feira, 26, Joice prestou depoimento por mais de duas horas na Polícia Civil do Distrito Federal sobre os ferimentos no seu corpo – ela sofreu fraturas e hematomas e relatou ter acordado, ensanguentada, domingo retrasado em seu apartamento funcional, em Brasília.