sábado, 13 de março de 2021

Pela democracia, relação de Lula com a imprensa precisa ser diferente, Pedro Doria OESP (definitvo)

Foi num discurso com a verve que lhe é única, com o carisma que nenhum outro hoje tem, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se colocou de volta na cena política brasileira. Ele não o disse com clareza, mas fez discurso de candidato ao Planalto. Só que o Brasil de 2021, assim como o de 22, não é mais aquele que ele deixou ao descer a rampa do Palácio há dez anos. Neste Brasil de hoje, desinformação é o que nutre a máquina que ameaça a democracia. A ação responsável de qualquer líder político terá de ser diferente do que noutros tempos.

Quando Lula era presidente, o PT tinha uma máquina na internet imbatível por qualquer outro grupo político. Uma cadeia de sites e blogs, alguns feitos por jornalistas ligados ao partido, outros por militantes, trabalhava um dia após o outro para oferecer uma versão governista dos fatos. O noticiário, as análises, as entrevistas, tudo funcionava como contraponto àquilo que a imprensa independente produzia. Com todos os atritos que geraram no tempo, tinham uma atuação muito distinta da máquina de desinformação bolsonarista. Havia transparência: autores assinavam textos com seus nomes e os debates provocados eram feitos à luz do dia.


Farmacêutica britânica anuncia que nova droga contra Covid-19 pode reduzir mortes e internações, FSP

 Everton Lopes Batista

SÃO PAULO

anticorpo monoclonal VIR-7831, desenvolvido pela farmacêutica britânica GSK e pela americana Vir Biotechnology foi capaz de reduzir mortes e internações causadas pela Covid-19 em 85%, segundo um anúncio feito pelas empresas na quarta-feira (10).

De acordo com o comunicado, um comitê independente recomendou que os estudos de fase 3 com o medicamento não recrutassem novos participantes por já contar com evidência de eficácia. A indicação foi feita após a análise dos dados de 583 participantes do estudo.

As empresas não publicaram os resultados em nenhuma revista científica até o momento, mas informaram que planejam pedir autorização para uso emergencial na FDA (Food and Drug Administration), agência regulatória dos Estados Unidos. Os mesmos dados devem servir de base para pedidos de uso emergencial em outros países, mas as companhias não especificaram os locais onde também devem submeter as solicitações.

Fábrica da GlaxoSmithKline no Reino Unido - Reuters

Os estudos com os participantes que já receberam o medicamento devem prosseguir por mais 24 meses.

Quando um patógeno entra no corpo humano, o organismo começa a produzir naturalmente as proteínas que chamamos de anticorpos, e algumas delas podem neutralizar o invasor com eficiência. Um anticorpo monoclonal é a cópia de uma única proteína protetora que tem sucesso em bloquear a ação do vírus. Ela é produzida em células capazes de gerar várias cópias do anticorpo específico.

Complexos de serem produzidos, anticorpos monoclononais costumam ter custo alto e acesso difícil, porém.

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Em um artigo publicado também na quarta-feira (10) no formato de pré-impressão (pré-print), ainda não revisado por outros cientistas da área, um grupo de pesquisadores ligados à Vir Biotechnology divulgou dados que indicam que o VIR-7831 é eficaz contra as variantes britânica (B.1.1.7), sul-africana (B.1.351) e brasileira (P.1) dos Sars-CoV-2 —pelo menos em experimentos in vitro, realizados em células em laboratório.

No início da pandemia, cientistas apostavam que um anticorpo monoclonal eficaz contra o coronavírus poderia estar disponível antes mesmo de uma vacina. As moléculas, apesar de caras, poderiam ser uma arma para conter o avanço da Covid-19.

Agora, vacinas são distribuídas pelo mundo todo, mas alguns locais como o Brasil sofrem com a escassez de imunizantes e ainda registra recordes de mortes causadas pela doença. Assim, um medicamento capaz de evitar novos óbitos pode ainda ser muito útil em meio à pandemia.


Brasil e Reino Unido sofrem com variantes, mas britânicos souberam fazer lockdown e vacinação, Fernando Reinach, OESP

 Em menos de duas semanas, a variante de Manaus provocou o colapso do sistema de saúde. Somos o segundo país a enfrentar um pico de casos e mortes causados por uma nova variante. Primeiro foi no Reino Unido, onde a variante B.1.1.7 foi identificada no final de 2020, e provocou uma explosão de casos e óbitos. Estamos vivendo o que a Inglaterra viveu três meses atrás.

No Reino Unido, o lockdown foi decretado no dia 4 de janeiro, o mesmo dia em que o primeiro cidadão inglês foi vacinado, antes que o número de mortes tivesse iniciado sua subida vertiginosa. Os ingleses previram a subida das mortes, pois o número de casos explodira duas semanas antes. O número de mortes aumentou vertiginosamente por um mês, até o final de janeiro. Por mais de um mês, o sistema de saúde beirou o colapso durante o mais rigoroso lockdown imposto por qualquer país.

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Vamos ser forçados a relaxar o distanciamento muito antes de termos vacinado uma fração significativa da população Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

No Brasil e no Reino Unido, a campanha de vacinação estava começando quando os casos e mortes explodiram. Mas as semelhanças entre os dois países acabam aqui. Na Inglaterra o governo decidiu que o lockdown seria o último e duraria até que 100% da população de risco tivesse sido vacinada. São os 21,8 milhões de habitantes acima de 50 anos de idade, 38% da população. 

Em meados de 2020, a Inglaterra havia fechado contrato com as empresas de vacina para adquirir 4 vezes o número de doses necessárias para vacinar a população e foi o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer e AstraZeneca. Assim, a vacinação foi iniciada com um estoque razoável de doses. Além disso, por utilizar vacinas de alta eficácia, os ingleses decidiram dar a 1ª dose a um número grande de pessoas e deixar a segunda dose para mais tarde. 

O resultado é que o Reino Unido já vacinou 36% da população e está começando a estudar como relaxar o lockdown, à medida que ministra a 2ª dose à população de risco. Lá, foram feitos estudos que comprovam que espaçar as doses nas suas vacinas não prejudica a eficácia e que as vacinas usadas geram anticorpos capazes de neutralizar a variante B.1.1.7.

Aqui no Brasil a situação é muito diferente. Essa não será a última onda nem o último lockdown que teremos de aguentar. Como não compramos vacinas em meados de 2020, simplesmente não temos doses suficientes para vacinar o grupo de risco durante os próximos meses.

Vamos ser forçados a relaxar o distanciamento muito antes de termos vacinado uma fração significativa da população. E então o ciclo se repetirá: novas infecções e mais mortes. O único cenário em que isso não acontece é se o surto atual atingir proporções gigantescas o suficiente para induzir a imunidade de rebanho no Brasil, o que, com as novas variedades, só será atingida quando 80 a 85% da população for infectada. Espero que isso não ocorra.

O Brasil optou em 2020 por não comprar doses de vacina, mas fechou dois contratos de transferência de tecnologia: do Butantan com a Sinovac e da Fiocruz com a AstraZeneca. Por esses contratos, todas as vacinas usadas no Brasil durante o 1º semestre de 2021 seriam produzidas no exterior, envasadas e embaladas no Brasil. Isso daria tempo para o Butantan e a Fiocruz construírem suas fábricas de vacina.

Butantan tem conseguido envasar um grande número de doses, apesar dos atrasos no envio do IFA (Insumo Farmacológico Ativo) pela China. A Fiocruz tem tido problemas em fazer suas máquinas de envase funcionarem de maneira correta e ainda não assinou o acordo de transferência de tecnologia com a AstraZeneca. 

Ambos os institutos já anunciaram que as fábricas para produção nacional não ficarão prontas a tempo para produzir no 2º semestre. Assim, ainda não temos contratos para as doses necessárias para depois de junho/julho de 2021.

O resultado dessas decisões é que aproximadamente 9 em cada 10 vacinas aplicadas no Brasil até agora são as Coronavac/Butantan, a vacina com a menor eficácia de todas as disponíveis. E uma em cada 10 são da AstraZeneca, que juntamente com a Pfizer, tem licença definitiva de uso no Brasil.

A Coronavac é uma vacina desconhecida para a comunidade científica. Os resultados da fase 3 dos testes clínicos ainda não foram publicados e a única publicação científica sobre ela é o estudo da fase 2 e um trabalho submetido para publicação que indica que os anticorpos gerados por ela não são capazes de inativar o vírus da variante de Manaus (esses dados foram contestados por Dimas Covas, diretor do Butantan, mas os dados que embasam sua contestação não foram divulgados).

A Coronavac pode ser uma ótima vacina ou pode ser inócua caso a eficácia contra a cepa de Manaus seja muito menor que os 50% obtidos contra a cepa original do coronavírus. O que sabemos com certeza é que ela é muito segura e, portanto, não devemos evitar de tomar a Coronavac. Eu mesmo tomei e fiquei feliz em ter tomado as duas doses. Uma semana após cada dose tive uma leve diarreia que durou dois dias e cansaço. 

Fiquei curioso se esses eram efeitos colaterais leves da Coronavac. Em situações normais, eu iria consultar o trabalho científico da fase 3. Como ele não existe tive de procurar no meu computador a apresentação que a Anvisa fez no dia da aprovação. 

Foi lá que encontrei que diarreia e cansaço estão entre os efeitos colaterais mais frequentes. Nessa mesma apresentação, a Anvisa declara que o Butantan não entregou nenhum dado sobre a imunogenicidade da Coronavac. E a Anvisa escreve com todas as letras “O único resultado apresentado não foi considerado adequado para a avaliação e conclusão da imunogenicidade”. A Anvisa ainda lista nove grupos de dados que o Butantan ficou devendo. O prazo de entrega era 28 de fevereiro e agora foi adiado para o fim de abril.

A conclusão é que estamos com o sistema de saúde em colapso. Dependemos, para sair dessa crise, do cumprimento das regras de distanciamento social difíceis de manter e de uma vacinação que ocorre a conta-gotas, utilizando uma vacina segura, de baixa eficácia, e cujas propriedades ainda são desconhecidas. Não é um cenário animador.

Mais informações: Neutralization of SARS-CoV-2 lineage B.1.1.7 pseudovirus by BNT162b2 vaccine–elicited human sera. Science vol 371 pag. 1152 2021

*É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS