Apesar de ter sido escondido na campanha do prefeito Bruno Covas (PSDB) e de apresentar desempenho pior como cabo eleitoral do que Lula (PT), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), foi um grande vitorioso na eleição municipal e consolida seu projeto presidenciável de 2022.
Essa é a opinião do presidente do PSDB estadual, Marco Vinholi, 36, que também é secretário de Desenvolvimento Regional na gestão Doria. Nas duas funções, ele lida com prefeitos.
Em 2016, após dois turnos, o PSDB elegeu 173 prefeitos no estado e 804 no país. Agora, são 176 (pode chegar a 183) em São Paulo e 519 (pode chegar a 533) no Brasil. Vinholi vê derrota do bolsonarismo e avanço do que chama de centro democrático —rejeita o termo direita.
Pelo Brasil, partidos parceiros do PSDB, como DEM e PSD, ganharam prefeitos. Se associando a eles, Vinholi minimiza o encolhimento nacional e diz que os tucanos apostaram em alianças.
Já em São Paulo, ele destaca vitórias no ABC, na Baixada Santista e no Vale do Paraíba. Diz ainda que, na capital, o projeto de Guilherme Boulos (PSOL) é o mesmo do PT.
Vinholi defende a união de nomes como Luciano Huck, Sergio Moro, Rodrigo Maia (DEM) e Doria em 2022. Ao lado de outros colegas secretários, prepara um livro com bastidores sobre como a gestão tucana lidou com a Covid-19.
Em São Paulo, o PSDB ganhou prefeitos, mas perdeu no país. No estado, é uma excepcional vitória, uma vitória do grupo do João Doria. Significa uma renovação que foi feita no partido. Temos quadros novos como em São Vicente, que é uma jornalista [Solange Freitas] que está no segundo turno. Nós nunca ganhamos a prefeitura de São Vicente.
A nível nacional nós devemos fechar com cinco capitais. É um ótimo resultado se a gente pensar também no centro democrático. O MDB também elegeu um bom número, o DEM um bom número. Todos esses partidos se ajudaram na medida do possível.
Qual foi a estratégia do PSDB em São Paulo? São muitos candidatos novos que vieram para o partido. Tivemos cerca de 400 candidatos no estado [são 645 cidades]. Na minha cidade [Catanduva], o prefeito eleito é um padre, que nunca tinha sido da política. Ganhamos do PT lá. O Eduardo Bolsonaro foi lá, declarou apoio para um candidato, que ficou em quarto.
Fora essa articulação, trazendo gente nova, eu classificaria a baixa influência ou até a influência ruim do Bolsonaro nas eleições. Foi assim em todos os lugares. Eu posso dizer que a gente ocupou um campo político muito forte. Entendo que o bolsonarismo saiu perdendo. E esse centro político saiu como grande vencedor.
Que campo político vocês ocuparam? O campo do centro. O PT elegeu duas prefeituras [pode chegar a cinco]. Houve um encolhimento da esquerda na política estadual. E quem foi o anti-PT fomos nós. Os extremos ideológicos nessa eleição acabaram ficando menores.
Existe a crítica de que o PSDB usa a máquina do governo para crescer em São Paulo. É uma crítica infundada. Pergunte aos prefeitos do PT qual é o tratamento que eles têm sempre aqui.
No início da camapnha, o sr. dizia que o segundo turno na capital seria entre PSDB e PT ou PSOL. Por que descartou Márcio França [PSB] e Celso Russomanno [Republicanos]? Desde 1985, aqui foi entre o PSDB e o PT. Fatalmente esse eleitor petista estaria em algum campo e acabou indo com Boulos pelo PT não ter conseguido fazer essa renovação, mas a gente entende que é o mesmo projeto. Bruno esteve sempre numa crescente. Não saiu um milímetro de passar proposta, de demonstrar o que foi feito, demonstrar sua história pessoal. O Boulos ocupou o campo do PT, é nítido isso.
O PT usa o fato de serem do mesmo campo para minimizar sua derrota. O sr. vê a vitória do Boulos como vitória do PT? O projeto é uma continuidade do que foi implementado pelo [ex-prefeito petista Fernando] Haddad. São siameses. Só não sei se essa conotação do PT é tão válida assim, mas, do ponto de vista político, não vejo diferença.
O PT não é mais o partido hegemônico da esquerda, dá pra dizer isso? Ainda vai demorar alguns anos pra gente descobrir.
Vamos descobrir em 2022? [Risos] Acho que sim.
O Plano São Paulo, que orienta as questões da pandemia, seria atualizado no dia 16, mas isso foi adiado para após a eleição. Estão segurando a segunda onda? Se optou por postergar o avanço de regiões que poderiam vir para a fase verde para justamente poder observar os números. Antes, depois, quando for necessário, se for necessário, o Plano São Paulo aumenta restrições ou diminui. Por enquanto, não tem esse aumento de restrições justamente pelos números não indicarem.
A respeito da articulação entre Doria, Moro, Huck e Maia, eles estarão unidos em 2022? É cedo para falar, mas você tem um centro democrático que dialoga. Esse campo deve fazer um esforço, sim, para estar junto. O campo político contra o radicalismo, contra os extremos, está se tornando cada vez mais visível no país.
Doria abriria mão da cabeça de chapa em prol dessa frente? É cedo para falar, é algo que vai sendo discutido. Mas, sem sombra de dúvidas, o governador João Doria, governador de São Paulo, com essa estatura, é sempre um nome lembrado.
Ele é mais presidenciável do que outros? Não vou entrar nisso. Só acho ele excepcional.
Doria foi escondido na campanha de Covas e enfrenta forte rejeição na capital, não é uma derrota para ele? Não. Ele teve um número altíssimo de prefeitos eleitos aqui no estado do campo político dele. No Brasil também. Eu enxergo que ele sai como um grande vitorioso.
E o fato de não ter aparecido na campanha de Covas por causa da alta rejeição? Não enxergo dessa forma. Uma vez por semana, Bruno está aqui em coletiva com ele, uma construção de gestão. Foi demonstrada a importância da parceria entre estado e município. A compreensão é de que a campanha é focada nos problemas e nos desafios da cidade.
Por que o sr. se refere ao seu campo como centro e não direita? A questão fundamental é contra radicalismos, contra extremos, de um lado ou de outro. Um governo equilibrado, que enxerga parcerias com a iniciativa privada como muito positivas. Mas que trabalha também o social de forma muito intensa, que implementa um diálogo com a sociedade civil, que respeita as liberdades individuais.
O fato de ter se alinhado a Bolsonaro em 2018 não coloca esse campo na direita? O PSDB foi coerente com o que acreditava e, dentro de duas opções, você escolhe aquele que você não quer.
Ser de centro pressupõe poder se alinhar com a esquerda ou com a direita. O pêndulo de vocês pode ir para a esquerda? Não, ele é bem central. Ele segue pra frente [risos].
RAIO-X
Marco Vinholi, 36
Iniciou a vida pública com cargo de coordenação no Ministério do Trabalho e Emprego e foi diretor da Secretaria de Desenvolvimento Social do governo de São Paulo, onde coordenou o Vivaleite. Em 2017, assumiu a cadeira de deputado estadual, para a qual fora eleito suplente em 2014. Exerce o cargo de secretário de Desenvolvimento Regional do governo Doria e é presidente do PSDB paulista. É formado em administração pela PUC-SP e começou a atuação política no movimento estudantil.