domingo, 20 de setembro de 2020

Bruno Boghossian Agro descobriu que o atraso de Bolsonaro é um mau negócio, FSP

Empresários preferiram se aliar a ONGs ambientalistas, alvos do presidente

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Quando os presidenciáveis desfilavam em campanha, há dois anos, a turma do agronegócio acreditou ter feito uma escolha óbvia. Empresários se aproximaram do candidato que prometia afrouxar fiscalizações, e a bancada ruralista declarou apoio àquele que prometia atropelar as leis ambientais.

O namoro durou pouco. Antes de tomar posse, Jair Bolsonaro abriu a primeira crise com o setor. O presidente eleito causou pânico entre produtores ao dizer que mudaria a embaixada de Israel para Jerusalém. Exportadores de carne criticaram a ideia, com medo de perder bilhões em negócios com países árabes.

O governo não conseguiu levar a provocação adiante, mas manteve a sabotagem. Em março, Eduardo Bolsonaro acusou o governo chinês de ser responsável pela propagação do coronavírus. O líder da bancada ruralista precisou lembrar que a China responde por até 40% das exportações do agronegócio brasileiro.

Além das trapalhadas nas relações exteriores, o lobby do agronegócio ficou incomodado com a omissão destrutiva do governo na Amazônia. Ninguém virou ambientalista da noite para o dia, mas os empresários perceberam que ter um Bolsonaro no poder era um mau negócio.

Jair Bolsonaro em visita ao município de Sorriso, em Mato Grosso - Alan Santos/PR

Em julho, eles cobraram medidas para frear a devastação e as queimadas. O presidente continuou fingindo que os incêndios eram fogueiras de São João e acusou ONGs de produzirem propaganda negativa. “Vocês sabem que as ONGs não têm vez comigo. A gente bota para quebrar em cima desse pessoal”, afirmou.

O desastre bolsonarista é tão grande que alguns empresários escolheram ficar ao lado dessas organizações. Gigantes como JBS e Marfrig se uniram a WWF, Imazon e outras entidades para pedir ações do governo contra o desmatamento.

O agronegócio se deixou seduzir por Bolsonaro e não se incomodou com o fato de que aquele político representava o que havia de mais rudimentar e atrasado na área. Agora, os empresários querem deixar o presidente sozinho no século passado.

Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA). 

Hélio Schwartsman De Posto Ipiranga a Manjubinha, FSP

 19.set.2020 às 23h15

Paulo Guedes passou da condição de ministro que resolveria tudo na economia para a de petisco frito por imersão ("deep fried"). Até aí, não é tão surpreendente. Esse é um destino relativamente comum para ministros, sob governos de todas as ideologias.

Mais difícil de entender é como alguém que se proclama liberal tenha se envolvido com um dirigente autoritário como Jair Bolsonaro. Guedes se gaba de ter lido Keynes "três vezes e no original", mas me pergunto se leu Hayek, autor que, para ele, na condição de egresso da Escola de Chicago, deveria ter maior precedência.

E Hayek, melhor do que qualquer outro liberal moderno, compreendeu que não é possível desmembrar a economia das outras dimensões da vida. "Fins puramente econômicos não podem ser separados dos outros fins da vida", escreveu em "O Caminho da Servidão". Isso ocorre porque a economia é, no fundo, uma forma de ordenar nossas prioridades, algo que depende do valor que atribuímos individual e coletivamente às diferentes atividades e às coisas.

A crítica de Hayek ao socialismo é que este, ao contrário do livre mercado, exige a instalação de um planejador central para a economia, o que necessariamente diminui nossa liberdade existencial. E ampliar a liberdade existencial é, não só para Hayek como para Marx (não confundam o autor com o que fizeram em seu nome), o objetivo último.

Daí decorre que não faz sentido, para um liberal (o caso do marxista é um pouco diferente), trabalhar com um governante com tendências liberticidas. Guedes, reconheça-se, não foi o único a cair na armadilha. Milton Friedman e vários de seus associados flertaram com Pinochet, para recordar um único caso.

O problema, arrisco diagnosticar, é que economistas nem sempre estudam filosofia como deveriam, o que os faz perder a visão do todo. Desse pecado, Hayek, educado na Viena dos anos 20, não sofria. Já o Manjubinha...

Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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