domingo, 5 de janeiro de 2020

Projeto fotográfico mostra 14 megacidades pelo mundo, FSP

Próxima etapa de 'Hipercidades' inclui Nova York, Los Angeles e Cidade do México

SÃO PAULO
Numa viagem de cinco meses, começando e terminando em Istambul, na Turquia, o repórter fotográfico Tuca Vieira percorreu 14 cidades com mais de 10 milhões de habitantes. O resultado está no projeto “Hipercidades”.
“A ideia é trazer um pequeno fragmento de um mundo cada vez mais urbano”, diz.
Nessa primeira etapa, Vieira passou por Hong Kong, Shenzen, Guangzhou, Xangai, Chongqing, Tianjin e Pequim, na China; Bancoc, na Tailândia; Jacarta, na Indonésia; Manila, nas Filipinas, Tóquio e Osaka, no Japão, e Moscou, na Rússia. Juntas, essas megacidades somam 223 milhões de habitantes.
A viagem foi planejada como uma espécie de circuito fechado, no qual a chegada e a saída coincidem, mas sem nunca repetir o mesmo caminho.
“Há aí um sentido poético, pois ida e volta se confundem. O destino é o próprio ponto de partida”, diz o fotógrafo.
Depois de Istambul, Vieira esteve em Bancoc, cidade de maioria budista e que ele classifica como hedonista e libertária. Em Jacarta, localizada no país muçulmano mais populoso do mundo, Vieira se deparou com uma cidade bastante tradicional e com poucos turistas.
Nas Filipinas, ele foi a Manila, de colonização espanhola e maioria cristã. “É como uma metrópole latino-americana deslocada para a Ásia”, diz.
​No Japão, encontrou a maior de todas as cidades, Tóquio, com 37,5 milhões de habitantes. Ali, para todo lado que se olha, há cidade. “Do alto, até onde a vista alcança e para além, é como se todo o planeta fosse coberto por este único tecido urbano infinito.”
Em Osaka, o fotógrafo se impressionou com as máquinas: esteiras giratórias para comida, máquinas para pagar estacionamento, jogos eletrônicos e até máquina para trocar dinheiro para usar em outras.
“De tudo o que vi, nada me impressionou tanto como a China contemporânea. Numa visita a Xangai ou a Chongqing, tem-se a impressão de ver a história se desenrolando diante dos olhos, em tempo real. Na China, com seu modelo de desenvolvimento que combina autoritarismo, velocidade e otimismo, finalmente me convenci de que chegamos ao século 21. Fica muito claro que qualquer discussão sobre o futuro da humanidade, seja ela social, política ou ecológica, passa por ali.”
O gigantismo do território russo e os dramas da história acabaram criando Moscou, uma cidade monumental, mas incapaz de esconder por completo dos visitantes seus momentos de delicadeza, relata. “Cúpulas multicoloridas em forma de cebola convivem com a brutalidade de imensos blocos monocromáticos.”
Depois de Moscou, o repórter fotográfico voltou a Istambul, completando o circuito. “Era um misto de estranhamento e familiaridade. Afinal, se a cidade permanecia a mesma, eu, depois de tudo que havia visto, não.”
Na próxima etapa do projeto, ele vai visitar as gigantes da América do Norte: Nova York e Los Angeles, nos EUA, e a Cidade do México.
Os relatos completos do projeto Hipercidades podem ser acessado pelo endereço folha.com/hipercidades.

A 'nova' ABI e a democracia, FSP

A eleição de Jair Bolsonaro abriu um período no qual a democracia passou a correr perigo. Não há, na afirmação, um exagero. Ela se sustenta em atos e declarações do presidente ao longo de sua vida pública. São notórias as demonstrações de apreço de Bolsonaro à ditadura militar.
Esse pano de fundo levou um conjunto de jornalistas a se organizar, no começo de 2019, para trazer de volta ao cenário a Associação Brasileira de Imprensa, a velha ABI. 
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Fachada da sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no centro do Rio de Janeiro - Lucas Tavares - 23.out.19/Folhapress
Criada há 111 anos e protagonista nas mais importantes lutas do povo brasileiro, a entidade estava abandonada à própria sorte e alheia à realidade nacional. Mas, no governo Bolsonaro, passou a ser tarefa urgente trazê-la de volta às lutas em defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade de imprensa.
Não foi fácil a retomada. A antiga diretoria usou diversos artifícios para se agarrar ao poder. Adiou o quanto pôde a eleição. Até mesmo a lista dos associados —necessária para que a oposição fizesse campanha eleitoral— só foi obtida por ordem judicial. Um pleito que deveria ter acontecido em abril só teve lugar em junho. Mas, por larga margem, deu uma esmagadora vitória à oposição, cuja chapa não por acaso intitulava-se “ABI: Luta pela democracia”.
A nova diretoria encontrou a entidade às traças. O CNPJ estava suspenso, e as contas bancárias, bloqueadas. Aos poucos, a casa vai sendo arrumada. E, embora o título deste artigo fale em “nova” ABI, o que nos inspira é o retorno à “velha” ABI.
Nesses poucos meses transcorridos desde a nossa posse, ela já retomou seu papel na defesa da democracia, do Estado de Direito e da liberdade de imprensa. Já no fim de julho de 2019, realizamos um gigantesco ato em defesa do jornalista Glenn Greenwald, ameaçado de expulsão do país por um decreto de Bolsonaro e de seu ministro Sergio Moro (Justiça). Acorreram ao evento mais de 4.000 pessoas. O auditório da ABI, um dos maiores do Rio, mostrou-se pequeno ante tanta gente. Foi necessário instalar telões na rua para transmitir o ato. Nunca na história da centenária ABI tinham acorrido tantas pessoas a um evento.
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Ato de apoio ao jornalista Glenn Greenwald na ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Rio de Janeiro - Lucas Rezende - 30.jul.19/Futura Press/Folhapress
Mais recentemente, em 12 de dezembro, ao lado de outras entidades, organizamos um ato em defesa da Petrobras, sob risco de privatização. Desenvolvemos também a campanha “Toda vida importa muito”, de combate à criminosa “política de segurança” do governador Wilson Witzel (PSC), a qual levou a polícia do Rio, de janeiro a agosto, a matar em média mais de cinco pessoas por dia —pobres e residentes em comunidades carentes ou favelas.
Quando Bolsonaro ordenou que os órgãos do governo federal cancelassem as assinaturas desta Folha, a ABI imediatamente ingressou na Justiça com uma ação popular contra o ato, denunciando-o como um atentado contra o princípio constitucional da liberdade de imprensa. No dia seguinte, Bolsonaro recuou e cancelou a ordem.
Quando o prefeito Marcelo Crivella (PRB) proibiu, recentemente, a presença das equipes jornalísticas do Grupo Globo em entrevistas coletivas da Prefeitura do Rio de Janeiro, prontamente emitimos nota oficial denunciando o ato como outra agressão à liberdade de imprensa.
Enfim, esta não é a “nova” ABI, mas a volta da velha ABI, aquela de Barbosa Lima Sobrinho, que sempre esteve à frente das melhores causas ao longo de nossa história.
Paulo Jeronimo de Sousa
Jornalista, é presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)