sábado, 4 de janeiro de 2020

Marcos Mendes Fundo de Participação dos Municípios precisa mudar, FSP

Fundo prejudica municípios do Norte e do Nordeste

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A PEC do Pacto Federativo propõe que municípios de menos de 5.000 habitantes, e que não tenham receita tributária equivalente a 10% da sua receita total, devem ser incorporados a outros. A ideia é acabar com administrações municipais pequenas, que oferecem poucos serviços públicos e gastam a maior parte do dinheiro com os salários da burocracia.
De fato, desde 1980 foram criados 1.579 municípios. Atualmente, 23% dos 5.570 municípios têm menos de 5.000 habitantes. 
É preciso, contudo, entender que a criação de municípios é impulsionada pela possibilidade de receber elevadas transferências. Em especial, aquelas provenientes do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).O FPM é uma transferência, da União para os municípios, de 24,5% das receitas de Imposto de Renda e IPI.
Está prevista na Constituição e existe desde a Carta de 1946. Em 2018, transferiu R$ 104 bilhões. Para 30% dos municípios é a principal fonte de receita.
Várias leis definem regras complexas de partilha do FPM entre os municípios. Na prática, essas regras beneficiam os municípios de baixa população. Por isso, estimulam as emancipações. Em 2017, municípios de até 5.000 habitantes receberam, em média, R$ 2.300 per capita do FPM. Valor quatro vezes maior que os R$ 567 per capita transferidos às cidades com 30 mil a 50 mil habitantes.
Esse viés nas regras de partilha decorre, provavelmente, da ideia de que município pequeno é município pobre. Nos anos 1940 e 1950, quando surgiu o FPM, isso talvez fizesse sentido. Os menores municípios do país ficavam no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Sete décadas depois, essa realidade mudou.
A migração e a multiplicação dos municípios fizeram com que a região Sul passasse a ter os municípios menos populosos, com média de 25 mil habitantes, contra 34 mil no Nordeste e 44 mil no Norte.
Em consequência, o FPM passou a aguçar a desigualdade regional. Um município do Norte recebe, em média, R$ 811 per capita. No Nordeste, R$ 948. No Sudeste, R$ 1.144. No Sul, R$ 1.396. A correlação entre FPM per capita e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal é zero: não há redistribuição para os mais pobres.
Para piorar, o perdedor típico é o município médio, localizado em região metropolitana, de alta densidade demográfica e rápido crescimento populacional.
É nessas localidades onde há pressão de demanda por serviços públicos: bairros periféricos crescem e requerem urbanização, saneamento e escolas. Movimentação entre municípios demanda corredores de transporte. Crime, favelas, pobreza e desemprego estão aí concentrados.
A maior capacidade de arrecadação tributária desses núcleos metropolitanos não compensa a perda que têm com a má distribuição do FPM. A soma de FPM e arrecadação própria é de R$ 1.600 per capita nos municípios tipicamente perdedores na partilha do FPM. Nos pequenos municípios rurais, privilegiados pelo Fundo, é 70% maior: R$ 2.700 per capita.
Mais importante que tentar acabar à força com os pequenos municípios, como propõe a PEC do Pacto Federativo, é redirecionar o FPM para onde o dinheiro público é mais necessário.
Isso arrefecerá o incentivo a criar municípios e melhorará a alocação de recursos, aumentando a produtividade do setor público e da economia.
Também contribuirá para a redução das desigualdades regionais, dando às cidades médias do Norte e Nordeste condições de oferecer infraestrutura e serviços públicos melhores, aumentando suas chances de atrair investimentos privados.
É curioso que os políticos do Norte e Nordeste não se mobilizem por essa pauta.
Marcos Mendes
Pesquisador associado do Insper, é autor de 'Por que É Difícil Fazer Reformas Econômicas no Brasil?'

Irã anuncia descoberta de imenso campo de petróleo, O Globo

O presidente do Irã, Hassan Rohani, anunciou neste domingo (10) a descoberta de um novo campo de petróleo no sul do país, com mais de 50 bilhões de barris de óleo bruto. O achado pode aumentar em um terço o tamanho das reservas comprovadas de petróleo do país persa.
O anúncio de Rohani é feito no momento em que o Irã se vê pressionado pelas sanções americanas, depois de os EUA terem abandonado, no ano passado, o acordo nuclear antes firmado com potências mundiais.
Rohani fez o anúncio em um discurso na cidade desértica de Yazde e explicou que o campo está localizado no sul do Irã, precisamente na província de Khuzestan, centro da indústria petrolífera nacional.
Segundo ele, mais de 53 bilhões de barris seriam adicionados às reservas comprovadas do Irã, atualmente em cerca de 150 bilhões.
"Estou dizendo à Casa Branca que nos dias em que você sancionou a venda de petróleo iraniano, os trabalhadores e engenheiros do país foram capazes de descobrir 53 bilhões de barris de petróleo", afirmou Rohani, segundo a agência semioficial de notícias Fars.

Extração viável

As reservas de petróleo referem-se ao petróleo bruto economicamente viável para extração. Os números podem variar muito de país para país devido a diferenças de critério, embora continue a ser uma medida de comparação entre os produtores de petróleo.
O Irã tem atualmente o quarto maior depósito comprovado do mundo de petróleo bruto, e as segundas maiores jazidas de gás natural do planeta. Ele partilha um enorme campo offshore no Golfo Pérsico com o Qatar.
O novo campo petrolífero poderá tornar-se o segundo maior campo do Irã – o maior, com 65 biliões de barris, fica em Ahvaz. O campo é de 2.400 quilômetros quadrados, com o depósito a cerca de 80 metros de profundidade.
De acordo com cálculos da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), cerca de 100 milhões de barris de petróleo são necessários em todo o mundo por dia. Um barril, a medida padrão da indústria, contém 159 litros de petróleo. O cartel do petróleo estima que a demanda aumentará em cerca de 12% até 2040.
Desde que os EUA se retiraram do acordo nuclear de 2015, os outros países envolvidos - Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China - têm lutado para salvá-lo. Mas eles ainda não conseguiram oferecer meios para que o Irã venda seu petróleo no exterior.

O amanhã pode ser o instante seguinte, OESP

Ignácio de Loyola Brandão, O Estado de S. Paulo
03 de janeiro de 2020 | 03h00
Primeiros dia pós Natal e Ano Novo. Ruas vazias, silenciosas. O que é estranho nesta cidade. 
Após estranhos dias em que tudo o que se viu foi gente correndo para shoppings, mercados, armazéns, mercearias, fica um vácuo, um buraco no ozônio de nossos cérebros. Na infância, em manhãs como esta, eu garoto remediado corria pelas ruas de Araraquara, batendo nas portas e desejando Boas Festas. Ganhava nozes, figos secos, pedaços de bolo (nem se sabia o que era panetone), uma moeda ou uma raspança: “Ora essa, garoto sem vergonha, não venha nos acordar de manhã, suma daqui!”.
Amanhã seguimos para o interior de Minas Gerais. Seis horas de carro e mal passamos de um estado para outro. Lugar isolado, difícil com o Wi-Fi, um temperamental. O que é maldição para muitos, ninguém se desconecta mais, ficam desesperados, ansioso, insones, querem saber o que acontece no mundo. E interessa? Por exemplo, só de saber o que acontece em Brasília é uma angústia, nos leva a ingerir litros de ansiolíticos. 
A fazenda Cangalha (geringonça que tropeiros colocavam no lombo dos animais para transportar mercadorias) é de um casal, Ivo e Sueli, amigos novos, de uns dez anos para cá, aos quais nos afeiçoamos. Nosso grupo ali terá gente de São Paulo e do interior de São Paulo e de Minas, paisagistas, arquitetos, professores, lavradores, músicos, escritores, agricultores, produtores de mel (é o Harvey, um americano que veio para cá, adorou, ficou) e especialistas em azeite de oliva. 
No final de ano acaba sendo um grupo de umas 20 pessoas, há o cerimonial do café da manhã, todos juntos, cerca de oito e meia ou nove. Há o almoço e tudo ali é local. O leite é das vacas, a manteiga é batida ali, os queijos a Renatinha faz, da ricota ao fresco, o leite vira também, doce, pudim, ambrosia, etc, os sucos vêm do pomar (frutas, amoras, ameixas, maçãs, laranjas, mexericas, tangerinas, goiabas, mamão, uvaias, sem tóxicos) ou da horta (couves e verduras, coisas da moda, dizem que ajudam a emagrecer).
O café é passado no coador, como antigamente. Compra-se na cidadezinha vizinha, Aiuruoca, pequena, mas berço da Isis Valverde, estrela da Globo, uma sensação. O interior surpreende. Agora, nosso amigo Ivo tornou-se cidadão honorário da cidade, afinal foi dos primeiros produtores de azeite de oliva local.
No final da tarde, toma-se gim tônica com zimbro, voltou à moda. Na minha juventude nos reuníamos no Bar do Pedro, no hotel Municipal em Araraquara tomando gim tônica. Uma vez, aos 20 anos, tomei um porre, quase entrei em coma alcoólico, uma barra, fiquei mal três dias, levei mais de 40 anos para voltar a tomar gim. Sem falar no castigo paterno. 
As comidas são diversas. Cada um leva alguma coisa pronta, carne, carneiro, salmão, peixe, vitela, massa, molhos (ou ali se fazem molhos), etc. Quem cozinha vai para a cozinha, exibe-se. 
Nada sei fazer, é um defeito grande. Passeamos, descansamos, lemos, ficamos na varanda, caminhamos (eu cada vez menos), tomamos sol.
O tempo escoa em outro ritmo. A paisagem é ensurdecedora de tanto silêncio. De tão linda, surpreendo-me levantando os olhos do livro e fico absorto, contemplando montanhas altíssimas, verdes, ou pedras gigantescas que nos fazem anões.
Leio Pontos de Fuga, segundo volume da trilogia de Milton Hatoum, sempre impecável. E também o Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro. Deleito-me com A Elite na Cadeia, de Walter Nunes, que mostra o dia a dia dos corruptos na prisão de Curitiba.
“Momentos. Na vida o que valem são os momentos”, dizia o falecido Giovanni Bruno, grande personagem entre os chefs de cozinha paulistanos. O amanhã existirá? Aqui em São Paulo todos se lembram do jovem de 18 anos que saiu da festa de um amigo na rua Bela Cintra e ao chegar ao térreo, a marquise do prédio desabou sobre sua cabeça, matando-o. Amanhã? O amanhã pode ser o minuto seguinte a este. Ou o instante.

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