terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Entropia ambiental, FSP

Na COP-25, Brasil se comportou como verdadeiro vilão do meio ambiente

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O problema, no fundo, é a entropia. Ela está inscrita na natureza do universo. Existem muito mais maneiras de destruir coisas do que de criá-las ou mesmo de mantê-las. Um bom exemplo de dissipação entrópica é a nova política ambiental do governo brasileiro.
Até alguns anos atrás, o Brasil pertencia ao seleto clube das nações campeãs da preservação ambiental. Não apenas vinha obtendo relativo êxito no controle de emissões de gases-estufa como contribuía ativamente para que os acordos internacionais sobre ambiente avançassem.
O primeiro arranhão no selo ambiental brasileiro veio no segundo mandato de Lula, quando a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, depois de perder vários embates para a ala desenvolvimentista do governo, liderada por Dilma Rousseff, pediu demissão. Mas foi só uma esfoladela, que afetou mais o marketing do que o produto. O Brasil permaneceria ainda por muitos anos no grupo dos países bonzinhos, mesmo que, de vez em quando, precisando explicar alguma derrapada.
Foi com Jair Bolsonaro e Ricardo Salles que sobreveio a destruição da marca. Eles não apenas flertam com a ideia de que não existe aquecimento global como incentivaram agricultores a desmatar e promoveram o desmonte dos órgãos de fiscalização ambiental.
Quando surgiram os primeiros indícios do aumento das queimadas, o governo se apressou a negar os dados e ainda distribuiu ofensas a todos os que demonstraram preocupação, incluindo chefes de Estado estrangeiros. Agora, na COP-25, o Brasil se comportou como verdadeiro vilão ambiental, fazendo de tudo para melar a conferência.
Um niilista contumaz poderia argumentar que preservar o ambiente é inútil, já que, no longo prazo, a entropia triunfará, levando à morte térmica do Universo. Verdade, mas isso não deve acontecer antes de 10100 anos, o que nos dá uma boa janela para tentar manter o planeta tão habitável quanto possível.
 
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Joel Pinheiro da Fonseca O que a lavada conservadora na Inglaterra pode nos ensinar . FSP

Um candidato de esquerda divisivo e com propostas radicais não é o caminho

Imagine o alívio do cidadão britânico neste momento. Foram três anos de discussões intermináveis, idas e voltas, tentativas frustradas e acordos que não vingaram; três anos sem nem sequer saber se a decisão tomada em plebiscito seria respeitada ou se uma nova chamada às urnas estava a caminho. Agora, com a vitória de uma sólida maioria conservadora, a angústia finalmente acabou: o brexit será feito.
Pode não ter sido a melhor escolha. Sim, o povo erra. Aliás, é um exemplo paradigmático do que um plebiscito não deveria ser: uma pergunta com implicações profundas para o país, que envolve uma série de áreas distintas, exige conhecimento técnico detalhado e, pior, não define como se realizará aquilo que o povo escolheu. Dado o resultado das urnas, no entanto, seria impossível voltar atrás sem desmoralizar por completo a democracia do país.
A disposição de Johnson de seguir adiante com o brexit mesmo que nenhum acordo seja selado com a União Europeia dá a segurança de que o prometido finalmente acontecerá. E, se tem algum efeito junto à UE, é de aumentar a chance de um acordo, algo que interessa a ambos os lados.
A Inglaterra repete, no século 21, o movimento de separação do continente que fez no século 16. Naquela época, o poder unificador da Europa era a Igreja de Roma. Hoje, é a União em Bruxelas. Lá atrás, a Inglaterra optou por voltar seu olhar da Europa para o oceano. Acabou por se tornar o maior império que o mundo já viu.
Agora, segundo os defensores mais otimistas do Brexit, a pretensão é a mesma: separar-se da velha e decadente Europa para se tornar global, travando acordos comerciais com o resto do mundo, inclusive com as potências em ascensão —China, Índia. Brasil talvez? Altas chances de dar errado (bem sabemos como é difícil fechar acordos de livre comércio atualmente) e o Reino Unido terminar isolado —mesmo porque, para muitos dos que votaram pelo brexit o que interessa é manter imigrantes fora do país e proteger a indústria local; nada de abertura.
A separação da UE, ademais, corre o risco de desmembrar o próprio Reino Unido. Na Escócia, o Partido Nacional Escocês ganhou de lavada, prometendo um novo referendo para votar a separação. O governo inglês nega, mas até onde ele estará disposto a ir para negar a vontade do povo escocês? Para completar, o brexit cria um problema talvez insolúvel para a fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte.
Tem tudo para dar errado. Mas, se der certo, e o Reino Unido se tornar novamente uma nação global, cujos braços (econômicos, e não mais imperiais) se estendem por todo o planeta, a decisão temerária de agora terá sido uma jogada de mestre.
A derrota acachapante dos trabalhistas guarda também lições para todo país que tenha a intenção de vencer o populismo de direita nas urnas. Um candidato de esquerda divisivo e com propostas radicais não é o caminho a seguir. O eleitorado preferiu os riscos de Boris Johnson do que as loucuras socialistas que Corbyn lhes oferecia. Se, nos EUA, Hillary perdeu por poucos votos em alguns estados-chave (tendo vantagem de quase 3 milhões no voto popular), será que alguém como Bernie Sanders, que assusta o eleitorado moderado, teria mais chances?
A mesma lição vale para o Brasil. Abrir mão do eleitor médio em nome de uma base radicalizada é o caminho mais seguro para garantir uma nova vitória de Bolsonaro. A resposta ao medo e ao ressentimento que a direita populista mobiliza não está em propostas revolucionárias que agradam a universitários.
Joel Pinheiro da Fonseca
Economista, mestre em filosofia pela USP.