sábado, 11 de maio de 2019

Percepção de mais um ano perdido se espalha entre analistas de mercado, FSP


Na semana passada, instituições reduziram previsões para o PIB todos os dias; Bradesco corta para 1,1%

Tássia Kastner
SÃO PAULO
A percepção de que o Brasil terá mais um ano perdido na economia se espalhou entre analistas de mercado, que promovem cortes sucessivos nas previsões de crescimento do PIB de 2019.
Nesta sexta (10), o Bradesco revisou a projeção para 1,1%, corte de 0,8 ponto percentual em apenas um mês. 
Se confirmado o número, o PIB (Produto Interno Bruto) terá avançado ao final deste ano à mesma taxa registrada em 2018 e em 2017.
A brusca revisão de expectativas para o ano, feita pelo segundo maior banco do país, já vinha aparecendo: em abril, Santander e Itaú cortaram suas estimativas a 1,3%. 
A indicação é que novos cortes continuarão a ser feitos, como reflete o mercado nas estimativas do Boletim Focus do Banco Central. Na semana passada, a previsão de PIB foi reduzida todos os dias.
Na mediana, os economistas ainda projetam avanço de 1,49% ao final de 2019.
Considerando o relatório, o crescimento do PIB será 40% menor que o previsto no começo de janeiro (2,5%), quando o mercado ainda alimentava a euforia com o recém-empossado governo de Jair Bolsonaro (PSL) e sua equipe econômica dos sonhos.
Em 2018, corte da mesma magnitude só ocorreu em junho, um mês depois de a paralisação dos caminhoneiros travar a economia em um momento em que o país sofria também com a turbulência vinda do exterior, pela alta de juros nos Estados Unidos.
Já em 2015, no início do segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), a revisão no crescimento foi feita ainda em janeiro. O mercado começou o ano prevendo alta de 0,48%, mas em 21 de janeiro passou a estimar 0,30%. 
Naquele ano, a economia brasileira encolheu 3,5%. 
“No ano passado, essa correção do otimismo foi ao longo dos meses. Neste ano ela foi feita em maio e nem saiu o PIB [do primeiro trimestre]”, diz Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria.
O PIB do primeiro trimestre será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no fim do mês, e, baseado nos dados econômicos conhecidos, como produção industrial e vendas no varejo do período, a projeção é que ele tenha caído 0,2%.
O tombo do primeiro trimestre é especialmente frustrante porque mostra uma reversão de expectativas muito rápida. Os indicadores de confiança, que vinham em alta até janeiro, recuaram para níveis pré-eleitorais, e a avaliação do presidente foi posta em xeque rapidamente.
Há ainda o cenário da reforma da Previdência no radar, considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas e também para ampliar o horizonte de planejamento dos empresários.
“Se a reforma da Previdência tivesse sido aprovada já em abril, ou mais cedo, logo depois da eleição, sem dúvida a gente estaria em cenário mais benigno”, afirma Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco.
Para ele, um dos problemas da economia atual é a taxa de juros em um patamar insuficiente para estimular a economia.
Selic está na mínima histórica de 6,50% e, em reunião nesta semana, o Banco Central disse precisar de mais tempo para avaliar a economia ao mesmo tempo em que voltou a atrelar a queda de juros à Previdência.
A expectativa de Itaú e Bradesco é que a taxa básica de juros termine o ano em 5,75%, com reduções a partir de setembro.
Para Evandro Buccini, da Rio Bravo Investimentos, o problema é menos o juro básico e mais o custo do crédito, ainda caro para pequenas e médias empresas.
“Deve ser mais um ano fraco, e, para o nível de ociosidade que o Brasil ainda tem, a gente está indo para mais um ano perdido. Qualquer crescimento abaixo de 2% é ruim”, afirma Buccini.
 

Problema de base, FSP

Imbróglio envolvendo alunos de ensino a distância retrata bem um dilema

Conselhos profissionais como o de arquitetura e veterinária vêm se negando a conceder registro a alunos formados na modalidade de ensino a distância (EaD). É um tremendo imbróglio jurídico e pedagógico que ainda vai render muitas sentenças e artigos. É também um bom retrato dos dilemas do ensino brasileiro.
Os conselhos alegam, com uma ponta de razão, que é preciso proteger o público de maus profissionais e que as pessoas graduadas no EaD têm desempenho inferior ao de oriundos do sistema presencial. Já representantes das faculdades afirmam, também com fumaça de bom direito, que não cabe aos conselhos determinar quais cursos prestam e quais não. Essa é uma tarefa do poder público, leia-se MEC, e não das corporações, que têm interesse direto no tamanho do mercado.
Estudante faz atividades em casa como parte de curso a distância
Estudante faz atividades em casa como parte de curso a distância - Ronny Santos - 24.out.17/Folhapress
O problema aqui é que o Brasil precisa colocar mais jovens no ensino superior, mas nossa educação básica é muito ruim. O resultado disso é que acabamos dando diplomas de faculdade a alunos que, numa análise qualitativa rigorosa, não deveriam nem ter concluído o ensino médio.
Em tese, não há nada no EaD que o torne intrinsecamente pior. Um estudante aplicado pode, sem sair de casa, obter a melhor formação do mundo (mas não a titulação) fazendo os cursos de grandes professores de Harvard, Yale, Oxford, Sorbonne etc. que estão disponíveis gratuitamente na internet. Na prática, porém, por uma série de condicionantes que não cabe aqui comentar, são os alunos com mais dificuldades econômicas e acadêmicas que acabam optando pelo EaD, contribuindo para a má fama do modal.
A solução para o problema é melhorar muito a educação básica. Como isso não vai ocorrer tão cedo, o próprio MEC (e não as corporações) deveria proceder a uma avaliação seriada do desempenho de estudantes de certos cursos, evitando que eles desperdicem mais tempo e dinheiro numa carreira que não terão condições de exercer.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

A arquitetura dos problemas, Quiroga, OESP em 11 de maio

A arquitetura dos problemas
Faz a contabilidade de tuas preocupações e verifica quantas dessas são relativas aos teus assuntos particulares e quantas se referem ao bem-estar do mundo e das pessoas que nem sequer conheces, mas com as quais sentes um vínculo de fraternidade estranho, ilógico, porém, real. Sim, é inevitável que tenhas de te defrontar com a realidade de que te preocupas em excesso por ti e por teus assuntos particulares e quase nada com o que poderias fazer para agregar bem-estar ao mundo de forma impessoal, sem te apegar ao fruto das ações que empreenderes nesse sentido, porque esses frutos não seria imediatos. Essa falta de impessoalidade, essa carência de ir além do egoísmo, é sobre essa base que se arquitetam os problemas.