terça-feira, 9 de abril de 2019

O incrível homem que derreteu, FSP

queda na popularidade de Jair Bolsonaro após os primeiros três meses de governo era esperada. O fenômeno é universal, atingindo democraticamente todas as gestões. O que talvez tenha surpreendido é a intensidade com que a avaliação do presidente se desmilinguiu.
O índice de ruim e péssimo de Bolsonaro atingiu a marca de 30%, a maior de todos os dirigentes eleitos em seu primeiro mandato, desde a redemocratização. Num distante segundo lugar vem Fernando Collor com 19% —e Collor, vale lembrar, confiscara a poupança.
Há dois fatores que, creio, ajudam a entender o derretimento. O primeiro é que o governo é mesmo um caos. Despreparo e foco nas coisas erradas resumem bem esses três meses iniciais. O segundo é que há um descasamento entre as ideias defendidas pelo presidente e as preferências do eleitorado. Isso já ficara claro na pesquisa Datafolha de janeiro, que mostrou que a maioria das bandeiras do dirigente —coisas como Escola sem Partido, política ambiental, indígena, facilitação do porte de armas— era rejeitada pelos eleitores, por margens às vezes graúdas.
Basicamente, as pessoas votaram em Bolsonaro não pela pauta que ele propôs, mas por ele ter sido o candidato que melhor encarnou o papel de antípoda do PT e do próprio sistema político, percebido como corrupto pela população.
Bolsonaro não vai mudar. É da natureza do neopopulista insistir na retórica inflamada, apostando em criar inimigos, mesmo que imaginários, para agregar aliados. O problema é que essa tática antissistema se torna meio autofágica quando se é governo, isto é, quando se está no centro mesmo do sistema.
Acho até que Bolsonaro conseguirá, aos trancos e barrancos, atravessar os quatro anos de mandato, se não houver uma piora notável da economia. Mas, se vier uma deterioração, em especial se a inflação de alimentos voltar a subir, o jogo muda, e a impopularidade pode tornar-se letal.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
TÓPICOS

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Se os homens engravidassem esse problema já estaria resolvido há muito tempo’, OESP

Pepita Ortega
08 de abril de 2019 | 14h57

Luis Roberto Barroso participou de evento em Harvard. Foto: Reprodução
Em Harvard para a Brazil Conference, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, afirmou, no sábado, 6, que o direito ao aborto é um direito fundamental da mulher e que uma política de drogas no país deve impedir hiper encarceramento de jovens pobres. O ministro foi um dos convidados do painel ‘Tolerância: Relações entre Estado e Religião no Brasil’.
Barroso destacou que o direito ao aborto é um direito da mulher à liberdade sexual e reprodutiva, à autonomia e também à igualdade. “Se só a mulher engravida, para ela ser verdadeiramente igual ao homem ela tem que ter o direito de querer ou não querer engravidar”, disse.

Assista ao discurso de Barroso a partir de 1 hora e 59 minutos

O ministro fez ainda uma comparação: “Se os homens engravidassem esse problema já estaria resolvido há muito tempo”.
Durante sua fala, o magistrado destacou que “a criminalização impacta de maneira grave e desproporcional as mulheres pobres que não tem acesso ao sistema público de saúde”. “Sobretudo negras”, completou o ministro após a manifestação da mediadora do debate, a jornalista Flávia Oliveira.
Barroso disse que considera o aborto algo ruim e que é papel do estado evitar que ele ocorra, por meio de educação sexual, distribuição de contraceptivos e amparo às mulheres que desejam ter os filhos, mas estão em condições adversas.
Durante sua fala, o ministro lembrou uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde que indica que a criminalização do aborto não impacta o número de procedimentos realizados em um país.
A finalidade de uma política pública sobre aborto, segundo o ministro, é tornar o procedimento raro, mais seguro. Segundo Barroso, as religiões têm direito de ‘pregar contra não fazer’, mas criminalizar o procedimento é uma ‘forma autoritária e intolerante’ de lidar com o problema.
O magistrado disse ainda que nenhum país desenvolvido do mundo criminaliza o aborto porque trata-se de uma má política. “Para ser contrário ao aborto não é preciso defender a sua criminalização”, afirmou.

Drogas

Segundo Barroso, a guerra às drogas fracassou. O Estado tem o papel de desincentivar o consumo de drogas, evitar o tráfico e tratar dos dependentes, indica o ministro.
“A criminalização assegura o monopólio do traficante”, afirmou o magistrado, citando Milton Friedman.
Na avaliação do ministro o maior problema em relação às drogas no Brasil é o ‘poder que o tráfico exerce sobre as comunidades carentes’, onde se coloca como ‘poder político e econômico’.
“Uma política de drogas no brasil deve libertar essas comunidades e impedir o hiper encarceramento de jovens pobres e primários que são presos com pequenas quantidades de droga”, afirmou o ministro. Segundo ele, esses jovens já respondem por quase 30% dos internos do sistema penitenciário.
Para Barroso, a atual política de drogas ‘destrói vidas, custa dinheiro, produz resultados piores para a sociedade e não produz nenhum impacto sobre o tráfico’.
O ministro afirmou ainda que a legalização das drogas é uma experiência que merece ser testada, com planejamento. Ele faz a ressalva que não se trata do único caminho.
“Não importa o que cada um ache sobre drogas. Essa é uma discussão que precisa ser feita”, disse o ministro.

Samba da privatização doida, Marcelo Rubens Paiva, OESP

Privatização é um excelente negócio para a sociedade, quando há agências reguladoras fortes que estabeleçam meta, controle e multas.
Como o Estado tem outras prioridades, aluga-se uma linha de trem, metrô, uma banda larga.
As agências atuais, por conta do desequilíbrio entre a mobilização de consumidores e lobby do mercado, defendem os interesses dos regulados, não da população.
Viraram cabide de emprego e moeda de troca entre governos e partidos. Em algumas, a corrupção equivale ao PIB de muitos países. Em outros, como nas ferrovias, estatizadas pelos militares, o negócio de transporte de passageiros sumiu.
Choveu, acaba a luz em muitos bairros de São Paulo.
Nesse sábado no meu bairro, Sumaré, acabou às 15h. Só há 1h que se viu um caminhão da companhia elétrica rondando a quadra. Levou mais de dez horas para voltar.
No passado era melhor. Nunca ficávamos mais do que duas horas sem luz. Que tipo de privatização doida foi essa, da qual somos vítimas?
Um consumidor insatisfeito, num telefonema, mudaria de plano, de companhia, já que o serviço piorou depois da privatização.
No entanto, existe apenas uma companhia elétrica atuando não no bairro, mas em 24 municípios da Grande São Paulo: a gigante italiana Enel.
Em Praia do Una (Barra do Una), Litoral Norte, em que a família tem casa, caiu um raio depois do Carnaval e queimou o modem da Vivo de todos.
Nessa casa, muitos trabalham. Já enviei dezenas de colunas e posts dela.
Ligamos cinco vezes. Nos dão o número de um protocolo, mas nada. Fomos ao SAC da empresa. Nenhum dos cinco protocolos estava registrado no sistema. Foi como se nunca tivéssemos ligado.
Trocamos de companhia? Apenas a Vivo opera na área.
No Brasil, já se viajou de trem de São Paulo para Brasília.
A Eletropaulo começou a ser privatizada em 1995. Virou AES, consórcio entre americanos, franceses e Siderúrgica Nacional, e é agora Enel Distribuição, grupo europeu que atua em SP, RJ, CE e GO.
É a maior distribuidora de energia elétrica da AL. Tem ações na bolsa que valiam entre R$ 10 e R$ 15, chegaram a mais de R$ 40 há um ano e hoje estão R$ 34,54
Tem mais de sete mil funcionários. Sua intenção é dar lucro, cortando excessos.
A Vivo é a antiga Telesp, que não deixa saudades. Foi a privada CTB (Companhia Telephonica Brasileira), braço da Bell, concessão cedida por Dom Pedro II em 1879, que os militares transformaram em Embratel em 1966.
Ainda se veem bueiros no Rio e em SP com seu logo.
Foi na ditadura que conhecemos uma estatização fora do controle de todos os serviços. Nela conseguir um telefone fixo era missão quase impossível, e uma linha de celular em 1989 custava US$ 4 mil.
Internet? Só para acadêmicos ou quem tinha amigos na USP, Unicamp ou conhecia alguém na Embratel, empresa estatal que geria a novidade.
No Brasil, privatizou e não privatizou.
RECOMENDADAS PARA VOCÊ