sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Netflix compra horário na grade do SBT para expandir fã-clube de série, FSP


Muita gente acredita que empresas como a Netflix vão engolir a TV tradicional e redesenhar o mercado audiovisual. Essa ideia, frequentemente apresentada em tons apocalípticos, ganhou alguma materialidade nos últimos dias.
Na sexta-feira (20), informei em meu blog, no UOL, que a Netflix comprou uma hora da grade de programação do SBT. O horário adquirido, uma faixa no final da noite deste sábado (28), se destinou à exibição do primeiro episódio da primeira temporada da série "Stranger Things". Na véspera, os assinantes do serviço ganharam acesso aos nove episódios desta segunda temporada.
Ao oferecer um "aperitivo" aos espectadores do SBT, a Netflix agiu como qualquer empresa interessada em promover um novo produto junto a um potencial público-alvo. A única diferença é que o seu produto concorre diretamente com o oferecido pelo canal de Silvio Santos —e tem qualidade superior.
Em mensagem sucinta enviada a este colunista na quarta-feira (25), a Netflix deixou tudo isso relativamente claro: "'Stranger Things' é uma série original amada por muitos brasileiros e, ao promovê-la em diferentes canais, estamos expandindo esse 'fandom' [fã-clube]".
O que permanece como mistério é o número de brasileiros que, de fato, "amam" esta e outras séries oferecidas pelo serviço de streaming.
Desde que começou a produzir conteúdo original, e a despertar curiosidade do mercado, a Netflix adotou como política não divulgar números de audiência. Como não depende de publicidade (é mantida, exclusivamente, pelos assinantes), a empresa entende que a popularidade de seus produtos é uma questão interna.
No primeiro semestre deste ano, ao anunciar o cancelamento da continuidade de duas séries ("Sense8" e "The Get Down"), o serviço de streaming reconheceu, implicitamente, que toma decisões baseadas no cruzamento das curvas de custo e audiência.
Mas, bem ao seu feitio, não deu o braço a torcer e tentou transformar o fato negativo em algo positivo. "Estou sempre estimulando a equipe de conteúdo: 'Temos que correr mais riscos, vocês têm que tentar coisas mais loucas. Porque devemos ter uma taxa de cancelamento mais alta em geral'", disse Reed Hastings, o CEO da empresa, ao comentar os cancelamentos.
A pressão para a Netflix tornar público os seus dados de audiência se explica pelo fato de que quase toda a indústria do audiovisual —cinema e TV— é movida por estes números, no Brasil e no mundo. Eles orientam planos e decisões em todas as esferas da cadeia produtiva.
Várias tentativas de medir a popularidade das séries da Netflix já foram feitas, sempre à revelia da empresa, que não as reconhece.
A mais recente foi anunciada há duas semanas. O Nielsen, instituto que mede a audiência da TV nos Estados Unidos há décadas, começou a estimar os números do serviço de streaming. Como explicou o "New York Times", a empresa desenvolveu um software capaz de identificar, pelo áudio, o que o espectador dos 44 mil domicílios que formam a sua amostra estão assistindo.
Entre os problemas do método, um é que a pesquisa inclui apenas os espectadores que estão diante de um aparelho de televisão conectado à "caixa" do Nielsen, o que não inclui quem assiste a séries ou filmes do serviço via laptop, tablet ou smartphone. Outra questão é que os dados do Nielsen se limitam ao mercado americano, que hoje já representa menos de 50% dos 104 milhões de assinantes da Netflix.
Com planos de investir entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões em conteúdo em 2018, a Netflix assusta. Com razão. 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Governos Bolsonaro e Doria iniciam plano para concessão da rodovia Rio-Santos, FSP

Ideia é que plano esteja dentro da nova concessão da via Dutra, via que liga SP ao Rio

    Fabrício LobelJulio Wiziack
    SÃO PAULO e BRASÍLIA
    Os governos federal e de São Paulo deram nesta quinta-feira (10) os primeiros passos para conceder à iniciativa privada a rodovia Rio-Santos. No trecho paulista, quase todo no litoral norte, a rodovia tem quase 250 km e se transformou em um gargalo de trânsito para moradores e turistas.
    O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), participou de reuniões em Brasília com o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, e depois com o presidente Jair Bolsonaro (PSL). 
    O modelo ainda será estudado pelas equipes. É possível juntar as duas principais estradas que conectam São Paulo e o Rio em um único contrato de concessão. A atual concessão da Dutra (essa a principal ligação) vence em 2021, quando acaba o contrato de 25 anos com a CCR, a atual concessionária. 
    Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas (esq), se reúne com o governador de Sâo Paulo, João Doria (PSDB)
    Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas (esq), se reúne com o governador de Sâo Paulo, João Doria (PSDB) - Divulgação/Edsom Leite/Ministério da Infraestrutura
    Uma ideia é usar a renovação do contrato da Nova Dutra exigindo como contrapartida investimentos na duplicação da Rio-Santos. Caso não seja viável juntar as duas estradas em uma só concessão, a rodovia litorânea seria concedida isoladamente.
    Para técnicos do ministério, faz sentido estudar a viabilidade das duas rodovias em um só contrato. Ambas têm gargalos pesados. No caso da Rio-Santos, é preciso duplicar boa parte da via. Na Dutra, até hoje, está pendente a construção de uma pista na Serra das Araras, na divisa entre os estados, e que exigiria investimentos adicionais de cerca de R$ 3 bilhões.
    Já o governo de SP há anos estuda a concessão do trecho paulista da Rio-Santos, ao menos desde a última gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), passando pelo governo de Marcio França (PSB), no ano passado, e, agora, por Doria. 
    Segundo o governador, "não faz sentido que uma rodovia dessa, importante, não esteja concessionada e operada pelo setor privado, melhorando a sua eficiência". O tucano cita como eventuais benefícios a redução potencial de acidentes e a melhoria de sua "funcionalidade" para irrigar a indústria do turismo para a geração do emprego, renda e movimentação econômica.
    A equipe de Doria agora vai aprofundar os estudos sobre como será feita a concessão. Estudos que já estavam em curso no governo paulista avaliam a atratividade à iniciativa privada de uma concessão feita a partir de Guarujá, ainda no litoral sul paulista, no sentido Rio.
    Não se sabe, porém, até qual cidade a concessão deverá atingir. Uma das alternativas é que ela se torne privada até Bertioga, no encontro com a Mogi-Bertioga.
    Outra opção é alongar o trecho privatizado até São Sebastião, conectando com o Contorno de São Sebastião e Caraguatatuba, onde desemboca a rodovia dos Tamoios. Nesta segunda hipótese, o estado teria cerca de 150 km de trechos contínuos à beira mar concedidos à iniciativa privada.
    Há ainda uma terceira opção. Seria a de estender a concessão até Ubatuba, onde a estrada passa a ser administrada pelo governo federal, a cerca de 50 km da divisa com o Rio de Janeiro.
    Mas a viabilidade de se alongar o trecho concedido, dizem especialistas, depende do reaquecimento da economia e até do avanço de projetos como a ampliação do porto de São Sebastião --prometida por Alckmin, mas que não saiu do papel.
    Uma aproximação entre o governo paulista e o federal, porém, pode alterar esse arranjo e permitir uma concessão mais ampla, até a divisa com o estado do Rio de Janeiro, na chegada a Paraty (RJ). A concessão, neste caso, teria quase 250 km.
    Se o plano conjunto com o governo federal der certo, a rodovia privada iria até a entrada da cidade do Rio de Janeiro, num trecho de 450 km, desde o Guarujá.
    Segundo o secretário paulista de Logística e Transportes, João Octaviano Machado Neto, esse é um dos pontos que será negociado entre os governos Doria e Jair Bolsonaro.
    Octaviano cita ainda que, entre os benefícios buscados, está um novo desenho da Rio-Santos, permitindo a criação de pistas marginais, para isolar o trânsito local das cidades por onde a rodovia passa, o que minimizaria os constantes congestionamentos. A duplicação das pistas também será estudada.
    A rodovia Rio-Santos é o trecho da BR-101 que interliga essas duas cidades, cortando o litoral norte paulista e sul fluminense. A concessão do trecho paulista é anunciado há anos como uma das possibilidades de melhorias na via que constantemente fica congestionada, principalmente em feriados e finais de semana. Uma viagem pelo trecho paulista pode durar até sete horas.
    Só no trecho de Bertioga, a Rio-Santos recebe em média 21 mil veículos por dia (91% carros de passeio). 
    Por quase todo o caminho, a estrada passa por áreas de mata atlântica, mangue ou restinga, o que deve dificultar a realização de futuras obras por causa das licenças ambientais.
    Em 2017, a Polícia Rodoviária Federal registrou 38 mortes no trecho paulista da Rio-Santos. A maior parte deles, atropelamentos, seguidos de colisões frontais. As cidades de São Sebastião e Bertioga são as que concentram o maior número de mortes.

    OUTROS PROJETOS

    O anúncio desse plano de concessão da Rio-Santos foi feito em reunião nesta quinta-feira em Brasília entre Doria e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Além da Rio-Santos, o ministro prometeu viabilizar mais dois projetos no segmento dos transportes no estado: o Ferroanel e o Trem Intercidades.
    Segundo o ministro, os empreendimentos serão tirados do papel com recursos privados. Ele explicou que o Ferroanel --Contorno Ferroviário da Região Metropolitana de São Paulo--, orçado em R$ 5 bilhões, será viabilizado a partir da renovação do contrato com a concessionária MRS Logística, que já opera no estado.
    Já para concretizar duas linhas do Trem Intercidades, para a região metropolitana de Campinas e do Vale do Paraíba, será realizada uma "licitação privada, onde vai haver compartilhamento das linhas que já existem". "A gente vai endereçar isso tecnicamente", disse o ministro.
    De acordo com o chefe da Infraestrutura, existe capacidade para acomodar o trem de passageiros porque há uma quantidade pequena de trens de carga por dia.

    RAIO-X DA RIO-SANTOS

    500

    quilômetros tem aproximadamente a rodovia, que liga a parte continental de Santos ao Rio

    1973

    abertura do primeiro trecho e crescimento turístico da região

    102

    praias existem em Ubatuba e cerca de...

    60

    cachoeiras estão espalhadas pelas cidades da Rio-Santos

    2

    usinas nucleares podem ser vistas na estrada, em Angra dos Reis (RJ)

    R$ 0

    o trajeto não tem pedágio

    BNDES devolverá R$ 100 bilhões ao Tesouro. OESP

    Adriana Fernandes e Vinicius Neder, O Estado de S. Paulo
    07 Janeiro 2019 | 05h00

    BRASÍLIA - O diretor financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Thadeu de Freitas, confirmou ao Estadão/Broadcast que o banco tem capacidade de devolver neste ano R$ 100 bilhões ao Tesouro Nacional. A instituição tem ainda uma dívida de R$ 260 bilhões para pagar ao Tesouro e tinha acertado um cronograma de devolução que prevê uma parcela de R$ 26 bilhões em 2019. 
    Como antecipou o Estadão/Broadcast em dezembro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, queria a devolução dos R$ 100 bilhões para reduzir mais rapidamente o estoque da dívida pública. Isso começou a ser negociado pela equipe de Guedes ainda na transição com o novo presidente do BNDES, Joaquim Levy, que toma posse hoje. 
    BNDES
    O BNDES precisa se reinventar', diz Carlos Thadeu de Freitas, diretor financeiro do banco Foto: Adriana Lorete/Agência Globo - 14/7/2017
    A devolução maior está em linha com os planos de Guedes para o banco. Em seu discurso de posse, o novo ministro da Economia disse que mudará o papel dos bancos públicos, que devem focar mais nas pequenas empresas, que não têm acesso a outros financiamentos. “O BNDES tem que se reinventar. Não pode competir com os bancos privados emprestando giro para empresas que têm como captar”, completou Freitas. 
    Segundo ele, a ideia é concentrar a atuação do banco no longo prazo em infraestrutura e incentivos para as pequenas empresas. “O tamanho (do banco) vai ser menor”, completou. 
    O montante final a ser devolvido em 2019 dependerá, em última instância, da evolução dos desembolsos de empréstimos pelo banco de fomento (leia mais abaixo). Técnicos do BNDES já tinham sinalizado que haveria espaço maior para a devolução em 2019, de cerca de R$ 50 bilhões, o que elevaria a devolução a R$ 76 bilhões. 
    Em 2018, as empresas pagaram antecipadamente R$ 25 bilhões ao BNDES por seus financiamentos. Em 2019, a expectativa é de que, com um cenário de queda de juros, o pré-pagamento poderia chegar a R$ 20 bilhões.

    Aporte

    O BNDES recebeu R$ 500 bilhões da União durante os governos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o que afetou fortemente a dívida pública. Em 2015, Levy, então ministro da Fazenda, iniciou a devolução dos empréstimos pelo BNDES à União. Até agora, o BNDES já devolveu R$ 309 bilhões e, no ano passado, negociou um cronograma de devolução antecipada do restante. 
    O Tesouro Nacional projeta que a dívida pública chegará a 81% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, cenário que seria pior sem a devolução dos empréstimos. As devoluções já feitas pelo banco e as acertadas com o BNDES para os próximos anos vão permitir uma redução de 9 pontos porcentuais da dívida bruta até 2027. 
    Se houver um pagamento adicional no ano que vem, o endividamento poderá cair mais rapidamente. 

    Porte do banco já diminuiu 

    Os desembolsos do BNDES para empréstimos chegaram, em 2018, ao menor valor desde 1996. No ano passado, o banco liberou R$ 69,16 bilhões, conforme informou uma fonte com acesso aos dados. A máxima histórica é de R$ 278,3 bilhões, em 2010. A divulgação está marcada para 29 de janeiro. 
    A expectativa é de que os desembolsos não ultrapassem R$ 80 bilhões este ano. 
    A política econômica a partir do governo Michel Temer, o BNDES vem diminuindo de tamanho. Especialistas veem a redução como resultado tanto da queda na demanda, por causa da recessão, quanto da retirada de subsídios no crédito e das devoluções dos aportes feitos pelo Tesouro Nacional no banco de 2008 a 2014.
    Joaquim Levy assumirá o comando do BNDES, a partir desta segunda-feira, com a missão de definir qual será seu tamanho no governo Jair Bolsonaro. Em seu discurso de posse, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que pretende “despedalar” o BNDES, com a devolução dos recursos aportados pelo Tesouro. Quanto mais o BNDES devolve ao Tesouro, menor é sua capacidade de emprestar.
    Os desembolsos para empréstimos em 2018 ficaram em 1,0% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme a estimativa da Inter.B Consultoria, abaixo do 1,1% efetivamente registrado em 2017, segundo os dados do BNDES. Por essa ótica, os valores estão no mesmo nível de 1995 e equivalem à metade da média de 1995 a 2017, de 2,3% do PIB.
    Para o consultor Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B, com uma política econômica focada na redução do Estado, os desembolsos poderiam ficar até abaixo de 1,0% do PIB ao ano, pois o banco teria uma função que “tem menos a ver com financiamentos e mais a ver com privatizações”. Nesse desenho, o papel do BNDES seria assessorar os governos em privatizações e projetos de concessão em infraestrutura.