quinta-feira, 4 de outubro de 2018

O mundo de hoje é classe média, Clovis Rossi, FSP

O mundo moderno é de classe média e alta: pela primeira vez na história contemporânea, um pouquinho mais de 50% da população global de 7,6 bilhões de pessoas pode ser considerado de classe média ou alta, sendo 3,59 bilhões só no segmento médio.
É o que informa o World Data Lab, baseado em Viena e financiado, entre outros, pelo governo alemão e pelo Unicef, o braço da ONU para a infância. O resultado decorre da análise da renda e de gastos de lares compilados por 188 países e agregados pelo Banco Mundial.
Pena que o Brasil não siga essa tendência mundial. Afinal, classe média costuma ser elemento de estabilidade, porque, em geral, seus integrantes têm um desejo existencial (ascender ao andar de cima) e um receio primordial (evitar descer para o andar de baixo), para usar expressões consagradas por Elio Gaspari.
É óbvio que instabilidade, econômica ou política, conspira contra a ascensão e facilita a derrapagem.
Homi Kharas, um dos coordenadores da pesquisa, traz a classe média para a situação do Brasil às vésperas da eleição de domingo: "A classe média estava saturada da corrupção, saturada dos pobres serviços públicos e vinha consistentemente optando por mudanças no governo", disse.
No Brasil, de fato, a classe média foi espremida nos anos Lula/Dilma, como prova a mais completa e confiável pesquisa sobre desigualdade, feita pelo grupo liderado pelo francês Thomas Piketty e que desmontou a propaganda governamental de que havia diminuído a desigualdade no período.
O estudo deles demonstra que os 10% mais ricos viram sua fatia da riqueza nacional aumentar de já obscenos 54% para 55%. Os 50% mais pobres também tiveram um ganho de um ponto percentual (de ínfimos 11% para insignificantes 12%).
Quem perdeu esses dois pontos percentuais foi justamente a classe média, que passou a ficar com 32% da renda.
Que esteja enfurecida, se entende. Mas, do meu ponto de vista, não se justifica que penda para um candidato que faz apologia da tortura.
Na teoria, o comportamento deveria ser diferente, como comenta Kristofer Hamel, operador-chefe do World Data Lab: o rápido crescimento da classe média, diz ele, "terá significativos efeitos econômicos e políticos, na medida em que as pessoas se tornarão mais exigentes com as empresas e os governos".
O World Data Lab põe na classe média quem ganha entre US$ 11 e US$ 110 por dia (de R$ 43 a R$ 423), com base na paridade do poder de compra, o cálculo que leva em conta os preços em cada país.
No Brasil também houve notável progresso, mas a maioria da população ainda é ou pobre ou de baixa renda (ganha entre US$ 2 e US$ 10 por dia).
É o que mostra outro estudo, do Centro Pew de Pesquisas, feito em 2011: a maioria (50,9%) ficava entre a pobreza (7,3%) e a baixa renda (43,6%).
Na classe média (US$ 10 a US$ 20), estavam apenas 27,8% dos brasileiros, de todo modo um auspicioso crescimento de dez pontos percentuais em relação a 2001.
Como os anos mais recentes, não cobertos pelo estudo, foram de crescimento econômico negativo ou muito reduzido, parece razoável deduzir que a classe média encolheu ou estacionou desde 2011.
Ou, posto de outra forma, também nesse quesito, o da classe média, o Brasil está fora de sintonia com o mundo.
Clóvis Rossi
Repórter especial, membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Ligação direta de trem do Brás a Cumbica estreia com viagem de 31 minutos, OESP

Novo serviço deve aumentar a presença de passageiros na subutilizada linha 13-jade

Fabrício Lobel
SÃO PAULO
A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) estreou na manhã desta quarta-feira (3) o serviço de trens que liga a estação Brás, no centro de São Paulo, ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. 
Com o nome de Conect, o serviço acontece, nos dois sentidos, três vezes pela manhã, às 6h20, 7h00 e 7h40, e três vezes pela tarde, às 18h, 18h40 e 19h20. Aos sábados, o serviço funcionará só pela manhã: às 6h20, 7h e 7h40. O serviço não funcionará aos domingos.
O tempo de viagem é de 31 minutos, utilizando a estrutura da linha 13-jade e parte da linha 12-safira. 
A tarifa é a mesma dos trens metropolitanos, de R$ 4. O deslocamento tem paradas nas estações Tatuapé e Engenheiro Goulart, na zona leste de São Paulo, e na estação Cecap, em Guarulhos. 
 
Passageiros vindos de Guarulhos chegam à estação Brás, no centro de São Paulo
Passageiros vindos de Guarulhos chegam à estação Brás, no centro de São Paulo, no primeiro dia do serviço Conect - Willian Moreira/Futura Press/Folhapress
Já de malas para sua viagem para Natal (RN), o empresário Milton Ribeiro, 60, disse que já planejava ir de trem para o aeroporto. Sua ideia era pegar seguidas baldeações até Cumbica. Mas ao chegar na estação Brás, soube do novo serviço com destino ao aeroporto, mas sem ter de fazer paradas. 
Outro passageiro inaugural foi o segurança Sebastião Ferreira, 55, que pela manhã pegaria um voo para o Recife. “O meu carrinho estava quebrado e meu irmão não conseguiria me trazer no aeroporto. Então, resolvi vir de trem novo. Apostei e deu certo”.
Após chegarem à estação Aeroporto, os passageiros têm ainda que pegar um ônibus para acessarem os terminais de Cumbica. Os veículos partem até de meia em meia hora, obedecendo o ritmo de chegada dos passageiros dos trens.
Segundo Paulo Magalhães, presidente da CPTM, o novo serviço Conect deve atender tanto o público do aeroporto quanto os moradores de Guarulhos e da zona leste que querem acessar o centro de São Paulo, aumentando a atratividade da linha 13-jade e a oferta de trens em parte da linha 12-safira. 
Prova disso é que o primeiro trem vindo de Guarulhos até o Brás chegou cheio, ainda que não lotado, ao centro de São Paulo. 
“Vamos deixar claro que este não é um serviço exclusivo para o aeroporto. É para dar uma opção à população de Guarulhos”, disse Magalhãe s. 
Entre os novos passageiros do serviço que não estão interessados no aeroporto está o agente administrativo Willian Espínola, 35, que mora em Guarulhos e trabalha no Tucuruvi, na zona norte de São Paulo. 
Com a inauguração da linha 13-jade, em junho deste ano, Willian passou a pegar o trem em Guarulhos e fazer uma baldeação na estação Engenheiro Goulart, na zona leste de São Paulo. E de lá seguia até o Brás, onde acessava a linha 3-vermelha do metrô e depois a linha 1-azul. 
Com o novo serviço Conect, num mesmo trem, Willian deixa Guarulhos e chega até o Brás, evitando a baldeação na lotada estação Engenheiro Goulart. A estação serve à já lotada linha 12-safira da CPTM, com passageiros vindos do extremo leste de São Paulo.
“O caminho direto até o centro é bem melhor. Não tem tumulto e confusão com baldeação”, diz ele. 
A lotada estação Engenheiro Goulart, onde é feita a baldeação da linha 13-jade e 12-safira é um gargalo da linha 13-jade, a mais nova do sistema ferroviário da Grande São Paulo. Por isso, o novo ramal de trem ainda está subutilizado
Para a CPTM, serviços como o Conect devem aumentar a procura do público pela linha 13-jade. 
“Temos a previsão de transportar muito mais pessoas. Com esse serviço Conect, o movimento vai aumentar bastante. Nós não temos dúvida nenhuma de que haverá demanda. O público começa aos poucos a conhecer o serviço".
O próximo serviço que a CPTM deve entregar para conectar Cumbica é o Expresso da linha 13-jade. Com saída desde a estação Luz, os trens seguirão sem paradas até a estação Aeroporto, em Guarulhos. Este trecho era prometido para o mês de julho.
O presidente da CPTM chegou a dizer que, no dia 10 de outubro, o serviço seria inaugurado. Mas nesta quarta-feira, ele disse que a data ainda não está confirmada. 
Com tarifa de R$ 8, o serviço expresso deve começar a ser feito com trens comuns. Mas a expectativa é de que no primeiro semestre de 2019 novos trens com bagageiros para malas cheguem da China. 

ATRASOS

Desde 2002 que existia a promessa de governos tucanos para a criação de uma viagem sobre trilhos até Cumbica. Após sucessivos atrasos, ela foi entregue no fim de março, ainda em fase de testes, pelo ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), em meio à maratona de inaugurações antes de ele sair do cargo para disputar as eleições à Presidência da República.
Em junho, a linha passou a funcionar com operação integral, quando também passou a ser cobrada a tarifa de R$ 4. Seu primeiro mês de plena operação teve baixa adesão de passageiros —demanda similar à dos ônibus intermunicipais que já faziam a ligação. Recebeu em média 7.147 usuários por dia útil, como mostrou a Folha.
Já a ligação direta com a linha 12-safira, no Brás, era prometida pela CPTM para começar em julho. A companhia disse à época esperar uma popularização com a oferta de novos serviços, que evitassem tantas paradas e baldeações no trajeto entre a capital e Cumbica.