Aos 38 minutos do segundo tempo de Fluminense x Botafogo no domingo (9), pênalti para o Botafogo. No placar, Fluminense 1 a 0. O alvinegro Lindoso vai bater. No arco tricolor, estava Rodolfo, goleiro que entrara no intervalo, substituindo o titular Júlio César, contundido. Rodolfo tem um drama. Aos 21 anos, em 2012, atuando pelo CRB, de Maceió, caiu no antidoping —cocaína— e tomou dois anos de suspensão. Recuperado, voltou ao futebol pelo Atlético Paranaense e, agora, está no Fluminense. Ah, sim, o pênalti. Lindoso correu para a bola e chutou forte, no canto. Rodolfo fez grande defesa, garantindo a vitória.
Até aí, apenas uma boa história de volta por cima, embora esta, quando envolve álcool ou drogas, não seja comum no futebol. Vide Jardel, ex-Grêmio, Adriano, ex-Flamengo, e Jobson, ex-Botafogo —a dependência acabou com suas carreiras. São raros os casos como o de Dinei, ex-Corinthians, e Breno, de novo no São Paulo, que se conscientizaram, deram uma nova chance a si próprios e voltaram a jogar.
O importante em Rodolfo é que, tendo abandonado a droga há quatro anos, ele não se considera curado. E está certo. Ninguém se “cura” da dependência química —consegue, no máximo, mantê-la sob controle, um dia por vez. E, ao contrário de outros jogadores que também passaram por isso, ele não atribui seu uso da droga à morte do pai, a problemas com a noiva ou aos “fantasmas que o assolavam” —não põe a culpa em ninguém, muito menos no fantasma.
Sócrates, médico, nunca admitiu sua dependência; Paulo Cezar Caju contou uma história charmosa para explicar a dele; e Casagrandepublicou um apressado livro de autocelebração quando, na verdade, continuava na ativa. Não sei com quem Rodolfo se tratou ou se trata. Mas, ao ouvi-lo ao fim do jogo, pareceu-me lúcido e objetivo.
Sabe que, até o fim, terá de defender um pênalti por dia.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.