sexta-feira, 25 de maio de 2018

Informações relevantes, FSP

Informações relevantes

Não há mágica, combustíveis estão mais caros e a sociedade terá de conviver com isso

Uma das principais razões por que a economia de mercado é eficiente é que os preços refletem informações relevantes sobre a disponibilidade de produtos e as distribuem para milhões de microagentes, que irão se posicionar de modo a satisfazer suas necessidades da melhor forma possível. Imagine quantos ofícios não seria necessário expedir para obter o mesmo efeito numa economia planificada.
A simultânea disparada do dólar e do valor do petróleo significa que itens como gasolina e óleo diesel se tornaram menos disponíveis. Tentativas de falsear essa informação, mantendo os preços artificialmente baixos, levarão as pessoas a tomar decisões erradas de consumo, o que poderá custar mais caro depois. Já vivemos isso há pouco, quando o governo Dilma segurou reajustes nos combustíveis, contribuindo para a ruína da Petrobras.
A administração pública pode e deve tentar evitar variações bruscas. Impostos regulatórios como a Cide existem para isso. Mas não dá para fazer mágica. Combustíveis ficaram mais caros e a sociedade vai ter de conviver com isso. Deveremos experimentar mais dor na hora de encher o tanque e esperar uma inflação um pouquinho maior.
Isso vale para o plano macroeconômico. No micro, os prejuízos não se distribuem uniformemente. Entram os caminhoneiros. Eles foram a primeira categoria a sofrer a uberização. O transporte de carga no Brasil é hoje feito em larga medida por motoristas autônomos, que não chegam a ser disputados a tapa pelas empresas. Eles têm, portanto, pouco poder na hora de negociar o preço do frete. Percebendo que corriam sério risco de terminar com o mico na boleia, os caminhoneiros partiram para a greve, paralisando o país. 
Diante de um governo alquebrado, o mais provável é que os prejuízos sejam empurrados para o Tesouro. Se o Brasil fosse negociado em Bolsas, o preço de suas ações estaria caindo mais que as da Petrobras. Essa é uma informação relevante.

Perguntas para pensar a greve, FSP


Michel Temer fez uma operação tapa-buraco a fim de dar cabo da paradeira no transporte de carga, um remendo tão ruim quanto esses que disfarçam as crateras das estradas brasileiras.
Assim, na noite de quinta-feira (24), o governo deu algumas respostas a esse questionário para pensar a greve. Caminhoneiros e empresas com dificuldades para repassar aos preços a alta de custos do diesel queriam passar a conta para o Tesouro Nacional. Conseguiram, em parte.
O governo vai deixar de cobrar a Cide sobre o diesel; vai bancar o desconto que a Petrobras der para o combustível. Isso vai implicar uma combinação de: 1) aumento da dívida pública e do gasto com juros; 2) corte de gastos em outra área; 3) aumento de impostos para alguém.
Qual a opção preferida? Não é, nem de longe, a única pergunta que ajuda a pensar esta crise.
Imagine-se que empresas clientes de fretes de caminhão, transportadoras e caminhoneiros autônomos conseguissem repassar o aumento de seus custos com o diesel para os preços que cobram. Então haveria greve?
Por que tantas associações empresariais que não são do ramo de transporte apoiam a greve? Reflitam sobre a questão anterior.
Por que as empresas não conseguem repassar o aumento de custos para os preços? A recessão é parte da resposta. No caso de transportadoras e caminhoneiros, um excesso de oferta também ajuda a explicar.
Em suma, está sobrando caminhão.
Existe conluio entre as empresas que contratam serviços de transporte, acordo para não aceitar aumento de preços?
Vários candidatos a presidente da República criticam a política de preços da Petrobras. Deve-se então entender que, no governo, vão interferir nos preços da petroleira?
O controle de preços da Petrobras pode diminuir o seu faturamento. Além disso, ingerência pesada do governo pode fazer com que a empresa tenha de pagar mais pelos empréstimos que toma. A estatal então teria menos capacidade de investir em pesquisa e exploração de petróleo. O que os candidatos a presidente favoráveis à intervenção na empresa têm a dizer a respeito?
Os candidatos acreditam que a baixa do preço dos combustíveis da Petrobras por meio de interferência do governo compensa a redução do investimento e da rentabilidade da empresa? Têm dados que banquem a tese?  
Vários políticos, da oposição ao governismo, acreditam que o Orçamento do governo federal tem uma “sobra” neste ano, o que permitiria bancar a queda do preço do diesel e, talvez, até de outros combustíveis.
É, por exemplo, o argumento do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pré-candidato a presidente da República pelo DEM. Onde está a sobra, se o governo tem déficit, se gasta mais do que arrecada mesmo se descontada a despesa com o pagamento de juros da dívida pública?
No último ano, o investimento em obras do governo (PAC) caiu ainda mais, outros 17%. A despesa com saúde caiu 2,6%. Na educação, queda de 3,2%. O governo teve de cortar para que o déficit não fosse ainda maior. Onde está a sobra?
O fim do imposto sindical, que afeta federações de sindicatos de trabalhadores e empresas, tem a ver com os ânimos sindicais do setor de transportes nesta greve, talvez locaute?
No começo da semana passada, caminhoneiros avisaram o Planalto de que poderiam fazer greve. Por que o governo deixou a crise explodir? Onde estava o pessoal de informações e do Gabinete de Segurança Institucional? Jogando peteca?