segunda-feira, 21 de maio de 2018

PMs saem ilesos em apenas 8% dos ataques de criminosos em SP, FSP

PMs saem ilesos em apenas 8% dos ataques de criminosos em SP

Mesmo armado, policial dificilmente não é ferido ou morto, mostra levantamento

Gedalva, 66, ao lado do filho Gilmar, 41, com a foto de seu outro filho, Osmar, PM morto em 2012 
Gedalva, 66, ao lado do filho Gilmar, 41, com a foto de seu outro filho, Osmar, PM morto em 2012  - Eduardo Anizelli/Folhapress
Rogério Pagnan
SÃO PAULO
O soldado José Luís Alves, 43, entrava em um banco quando desconfiou de um homem que chegava apressado. Levou a mão à arma na cintura e ameaçou sacá-la, mas desistiu assim que percebeu o suspeito vestido de gari. Repreendeu-se intimamente por desconfiar de tudo (e de todos) e logo baixou a guarda.
O soldado José Luís Alves, 43, tem até hoje a cicatriz de um tiro que tomou no rosto durante roubo
O soldado José Luís Alves, 43, tem até hoje a cicatriz de um tiro que tomou no rosto durante roubo - Eduardo Anizelli/Folhapress
O tiro de revólver atingiu o lado esquerdo de seu rosto, pouco abaixo do olho, jogando-o ao solo. Olhando para seu próprio sangue escorrendo pelo concreto, notou o criminoso vestido de gari atirar mais uma vez na direção de sua nuca. Teve ali a certeza de sua morte e só lamentou a má sorte.
“Que lugar ruim para morrer. Uma segunda-feira, na porta de um banco e vindo pagar conta”, pensou o policial, conforme se lembraria dez anos depois do ataque sofrido em 26 de maio de 2008.
Por uma sorte difícil de explicar, José Luís não morreu, ganhou o apelido de “vaso ruim” e entrou para uma triste estatística de policiais militares atacados em São Paulo que, mesmo armados e treinados, acabam levando a pior em situações semelhantes.
Levantamento inédito feito pela Folha com base em relatórios sigilosos da PM de São Paulo mostra que, de cada dez ataques a policiais, em nove eles acabam feridos ou mortos. A maioria em roubos, envolvendo soldados.
Os dados mostram ainda que em cerca de 23% dos crimes, além de atacar o policial, os bandidos ainda levam a arma dele. E há episódios em que o PM é morto com a própria pistola, aquela que carregava para se proteger —isso ocorreu em 4% dos casos.
Esses números são resultado de análise feita pela Folha em 491 relatórios de PMs vítimas, documentos elaborados de 2006 a 2013 por equipes da Corregedoria da PM especializadas em investigar ataques desse tipo no estado.
Segundo os dados, desses 491 policiais com registro de violência, 218 foram mortos e 233 ficaram feridos —sendo ao menos 81 deles atingidos na cabeça por tiro ou paulada. No total, só 40 saíram ilesos, o equivalente a 8% do total.
Os documentos descrevem as circunstâncias em que os crimes se deram, as primeiras informações sobre o estado de saúde do policial militar e o destino do criminoso.
Essas apurações são abertas quando o PM é atacado e figura na condição de vítima, como em casos de roubos ou assassinatos, além de tentativas desses dois crimes.
Não entraria nessa lista, portanto, o recente caso da PM que baleou e matou um criminoso na porta da escola da filha, em Suzano, na Grande São Paulo, já que ela não era o alvo do crime e interveio ali de surpresa como policial.
Se a policial militar de Suzano não entrará nessa estatística, será diferente com um colega de farda dela cuja ação também foi filmada por câmeras um dia depois, em Guarujá, no litoral de São Paulo.
No domingo (13), ele matou um ladrão que, durante um assalto, passou a persegui-lo dentro de uma drogaria. O PM, nesse caso, era um alvo.
A cabo da PM que reagiu em Suzano, ao lado da filha e de outras crianças e famílias que participariam de evento do Dia das Mães, foi homenageada pelo governador de São Paulo, Márcio França (PSB).
O ato contrariou a estratégia da polícia de evitar a exaltação de ocorrências com mortes —especialistas temem que isso passe mensagem à tropa de incentivo à letalidade policial.
Parte dos relatórios da Corregedoria da PM analisados pela Folha foi redigida pelo sargento Maurício dos Santos, 49. Ele se aposentou no ano passado, após 28 anos de corporação, sendo 26 deles no setor de PMs vítimas, e participou de centenas de apurações de policiais atacados —inclusive de um colega que trabalhava nessa mesma equipe.
Maurício afirma que os resultados do levantamento refletem aquilo que ele presenciou ao longo dos anos. Por isso, ele passou a defender o desarmamento de policiais nos horários de folga. Para ele, essa medida reduziria a quantidade de mortes especialmente nos roubos. Nesses casos, o bandido geralmente já chega com arma em punho, não dá chance de o policial reagir e atira assim que encontra o armamento.
“Se for pego com a arma, vai morrer. O crime não perdoa”, afirma Maurício. Nessas quase três décadas, ele diz não se lembrar de nenhum caso de alguém que tenha sido poupado pelos criminosos após ser identificado como PM.
O coronel Marcelino Fernandes, comandante da corregedoria, onde trabalha há 24 anos, conta se recordar de apenas dois casos de policiais poupados por criminosos. Isso, porém, há muitos anos.
O cenário se agravou, para ele, depois do crescimento do crime organizado e a glamorização disso na sociedade. “Eles [bandidos] crescem na organização criminosa. Hoje, não escondem nem os sinais [atribuídos a quem mata policiais]. Querem [tatuagens de] palhaços desenhados, carpas, para mostrar aquilo que são no crime: matador de policial.”
Além da mudança do perfil dos criminosos, o oficial aponta a legislação brasileira como agravante do problema ao permitir, por exemplo, saídas temporárias da prisão de detentos sem condições de voltar às ruas. “O sangue desses PMs não está somente nas mãos dos criminosos, mas também nas mãos de muitos congressistas”, afirma Marcelino.
Entre os 218 mortos no levantamento feito pela Folha está o soldado Osmar Santos Ferreira, 31, assassinado a tiros em 22 junho de 2012. Um dos suspeitos de participar do crime era um rapaz de 23 anos foragido depois de conseguir autorização para passar o Dias dos Pais fora da prisão. Ele cumpria pena por roubo, tráfico de drogas e formação de quadrilha.
Ferreira morreu numa sexta-feira, véspera do aniversário do filho Gustavo, que completava cinco anos e tinha a festinha preparada. “É uma dor muito grande perder um filho assim”, diz Gedalva Maria dos Santos, 66, mãe do PM. “Eu sinto muita dó quando vejo, pela TV, outros pais e outras mães passando pelo que eu passei. É como se eu morresse todos os dias mais um pouquinho”, afirma.
O coronel Marcelino diz ainda que, para tentar reduzir o número de policiais mortos ou feridos, a PM realiza um trabalho de conscientização. Um dos motes é sugerir ao PM que ele seja o mais discreto possível no horário de folga (quando acontece a maioria dos ataques) —desde o uso de redes sociais até o modelo de moto adquirida. Em 20% dos ataques, o policial estava em moto.
Motos com menos cilindradas não atraem muito interesse de criminosos. “Precisa evitar principalmente a abordagem surpresa em que ele pode ser vítima”, afirma Marcelino.
Colaborou Júlia Barbon
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comentários

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PAULO ANTONIO DE FIGUEIREDO

Há 7 horas
Isto apenas mostra que nossas leis são fracas e lenienyes com a bandidagem. Perderam o medo. E ainda tem im---be--ccis que fala que a PM é violenta. Errado. Tem um vídeo no YouTube tube, onde uma promotora de justiça fala que o policial tem que ser baleado primeiro para depois reagir. Caso contrário terá problemas. Gostaria que ela levasse um tiro ,para depois falar sobre essa experiência. Quando morre um policial, morre um funcionário público, morre um cidadão.

PAULO ANTONIO DE FIGUEIREDO

Há 7 horas
A completar. E aí quando um político vc é assassinado,tal qual a vereadora do Rio, aí seu partido, a esquerda, os grupinhos de apoderam então etc, vem cobrar justiça e agilidade na investigações. Não estão errados, mas deveriam ter a mesma postura quando um PM, pc, Oi GM tomba em serviço..

NELSON LIPORACI

Há 3 horas
Não há informação suficiente para as conclusões indicadas, para se chegar a conclusão de que soldados são os mais atingidos necessitaria da informação do número de profissionais das demais patentes. Agora, além de mal remunerados, "mal vistos" (pela imprensa) serão levados a andar desarmados e se tornarem presas fáceis do crime... Enquanto nos EUA fazem o oposto... Estimulando o profissional até usar a viatura policial no momento de folga (claro, desde que se necessário, responda a situações)

Touros enfrentam chutes e som alto em rodeios pequenos de São Paulo, FSP

Touros enfrentam chutes e som alto em rodeios pequenos de São Paulo

Rotina em eventos também inclui esperas em currais apertados sem ração

Peão cai de touro em rodeio em Santa Gertrudes, interior de São Paulo
Peão cai de touro em rodeio em Santa Gertrudes, interior de São Paulo - Joel Silva/Folhapress
Marcelo Toledo
CAFELÂNDIA , IACANGA e SANTA GERTRUDES
Pouco antes do início da montaria, o touro insiste em ficar no curral em que está. Minutos se passam e dois homens que tentam levá-lo para a arena começam a chutá-lo, sem sucesso.
Um deles resolve enrolar o rabo do animal e puxá-lo. Também não dá certo. Mais alguns minutos se passam até que os homens consigam puxar e levar o animal ao local para o qual não ele queria ir.
A situação aconteceu em Santa Gertrudes, um dos três rodeios em pequenas cidades paulistas em que a Folha esteve nas últimas semanas.
Os outros dois, em Cafelândia e Iacanga, também foram marcados por fatos que, para entidades de proteção animal, são considerados maus-tratos. Os rodeios negam.
Som muito alto, animais esperando até seis horas para serem usados e currais apertados sem ração ou água são rotina nesses locais.
Sem contar o sedém, principal ponto de discórdia entre rodeios e ONGs: para elas, a cinta que passa pela virilha do animal e o faz pular é torturante, enquanto para as festas o instrumento só faz cócegas —e o boi pula para se desvencilhar dela.
Em Cafelândia, funcionários que atuam nos bastidores disseram à reportagem que os animais chegaram para o evento às 17h30 e, a partir disso, não receberam alimentação ou água. Num dos locais em que estavam confinados, havia cinco animais em pé, apertados, sem espaço para locomoção. O rodeio foi aberto às 21h35, e as montarias terminaram perto da 0h.
Um decibelímetro usado pela Folha indicou som acima de 100 decibéis no evento, equivalente ao barulho de uma motocicleta. Em Iacanga e Santa Gertrudes, o som chegou a 115 decibéis, como num estádio de futebol. Estudos mostram que o ouvido humano pode sofrer lesões auditivas importantes quando expostos a sons nesses patamares.
“É muito alto para um animal. Bois e cavalos, cavalos principalmente, têm o ouvido muito mais sensível que o nosso. É torturante para eles esse barulho, além da confusão com pessoas gritando e fogos”, diz a advogada Renata de Freitas Martins, que já ingressou com cerca de dez ações contra rodeios.
Animais chegaram a ser levados para as montarias em Cafelândia com o uso de condutor elétrico, que causa choques, o que também é visto como tortura na avaliação da ativista Claudia Carli, fundadora e diretora da ONG Amor de Bicho Não Tem Preço, que atua contra rodeios na região de Campinas. “Eles sofrem estresse, pavor. Isso é cultura pré-histórica.”
Em Iacanga, as montarias começaram às 22h, com animais próximos às caixas de som. Não houve condutor elétrico, substituído por vara de bambu, mas ao menos dois touros receberam tapas no cupim antes das montarias.
“Quanto menor [o evento], mais comum é esse trato com o gado. Isso ocorre nos grandes também, mas de forma menos explícita. Se acham tudo normal, basta lembrarmos do sedém”, critica Carlos Rosolen, diretor do PEA (Projeto Esperança Animal).
Os rodeios alegam que a cinta de lã gera cócegas, não dor, argumento questionado pela advogada Renata Martins. “Se gera comportamento anormal, está maltratando. Ele pula porque quer tirar aquilo.”
Para embasar ações, ela afirma que houve coleta de sangue de animais de rodeios que mostraram níveis de hormônios indicando estresse, além de pupila dilatada.
“Tiraram os animais dos circos e eles seguiram existindo. Se colocar um peão fazendo corrida de saco na arena o público vai ser o mesmo, pois as pessoas vão para ver shows, não montarias”, diz Rosolen.
Já em Santa Gertrudes, animais também foram encontrados apertados nos currais, sem comida ou água.
Os três eventos divulgaram em redes sociais preços de ingressos e grade de shows. Em nenhum foi publicado o nome do peão campeão.
Os rodeios têm enfrentado severas críticas nos últimos anos, o que resultou em redução no número de eventos e na duração de alguns deles. Há os que têm tentado amenizar os pontos criticados, como Itu, que na década passada assinou acordo com a Promotoria estabelecendo que os bois fiquem no máximo quatro horas no local, não sejam transportados em caminhões superlotados e que os shows só comecem após todos deixarem o recinto e serem analisados por veterinários.
Além disso, eles não são usados em montarias dois dias seguidos, não ficam perto do som, e a festa não tem fogos. Não há maus-tratos e som alto não faz mal, dizem organizadores.

REGRAS DA MONTARIA EM TOURO

Objetivo
Peão precisa ficar oito segundos montado no touro para pontuar; se cair antes, a nota é zero
Pontuação
São avaliados os desempenhos do peão e do animal, com no máximo 50 pontos para cada um; a soma deles é a nota do participante. Montarias consideradas boas recebem acima de 85 pontos
O que não pode
Peão deve usar só uma mão na montaria; se encostar a outra no touro, é desclassificado. Também não é permitido “enroscar” a espora na corda para buscar firmeza
Segurança do touro
Espora pontiaguda é proibida, para não machucar o animal
Segurança do peão
Competidor pode optar por usar capacete e/ou colete

OUTRO LADO

Organizadores dos eventos nos quais a Folha esteve afirmam que não há maus-tratos, que têm vencido na Justiça contra ONGs e que há inverdades atribuídas aos rodeios.
Renan Rochite, dono da Companhia RR e organizador da festa de Santa Gertrudes, diz que a situação flagrada pela reportagem —boi sendo chutado e tendo o rabo torcido— pode ter sido protagonizada por um mau profissional, e que isso não é rotina. “Não vi, algum mau profissional pode ter feito isso, mas se vejo mando parar na hora. Se teve, foi um boi só. Não é recomendado, de forma alguma.”
Ele diz defender os animais, rechaça que o som alto prejudique os touros e afirma que os fogos são piromusicais, sem o barulho de bombas. “Eles ficam atrás das caixas de som, e o som vai para a frente. Só ouvem som alto na montaria, mas são animais acostumados. O boi não tem audição tão apurada quanto um cachorro ou cavalo, que se assustariam.” 
Sobre a falta de água e ração, ele frisa que bois à noite praticamente não ingerem líquido e que é “lenda” que o sedém aperte testículos. ”Posso jogar bola dia e noite que não serei igual ao Neymar. É dom. Animal que não serve para pular não vai servir nunca, é índole.”
Já o organizador da festa de Iacanga, André Brumati, diz que nunca foi questionado sobre som alto e que os eventos seguem normas de bem-estar animal. Segundo ele, as varas de bambu usadas não são para bater nos animais, mas para conduzi-los. “Antigamente tinha choque, foi uma evolução, as ONGs vieram para evoluir o rodeio em questão de maus-tratos. Não sou contra.”
Brumati admite que há rodeios com dificuldades para se manter e que os eventos dependem dos shows. “Se fizer e não tiver show bom, o pessoal não vai. Antes, [a montaria] era a atração, agora é [apenas] uma delas.”
Folha não conseguiu contato com a direção da festa da cidade de Cafelândia.

Qual é o papel das empresas estatais?, OESP

JOSÉ GOLDEMBERG*, O Estado de S.Paulo
21 Maio 2018 | 03h00
Empresas estatais não foram inventadas pelos socialistas do século 19 – entre os quais se destacou Marx –, que argumentaram que os meios de produção deveriam estar nas mãos do Estado, e não de empresas privadas, cujo objetivo principal é o lucro. Segundo eles, empresas estatais atenderiam melhor ao interesse público.
Muito antes deles, os reis da França criaram empresas estatais, algumas de óbvio interesse público, como os correios, e outras de interesse exclusivo do próprio governo, como a indústria de armamentos. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos, meca da iniciativa privada, onde até hoje os correios são uma empresa do governo.
O que a experiência histórica mostra é que governos criam empresas estatais para resolver problemas que a iniciativa privada não consegue ou não quer resolver. Não há, portanto, nada de ideológico em criá-las: o critério básico para justificar sua criação, contudo, é sua utilidade na resolução de problemas econômicos ou sociais. A ideologia entra quando governos vão para os extremos de estatizar toda a economia e abolir a propriedade privada, como foi feito na Rússia na revolução comunista de 1917.
Essa revolução teve grande sucesso em industrializar rapidamente um país agrícola atrasado e transformá-lo numa grande potência industrial, capaz de derrotar o até então invicto exército nazista na 2.ª Guerra Mundial. Mas o novo regime não foi capaz – após mais de 70 anos – de dar à população um nível de vida adequado, o que levou à dissolução da União Soviética e à “privatização selvagem” que destruiu a economia russa.
Apesar disso, inspirou a criação de empresas estatais no mundo todo e em particular no Brasil, no setor de energia elétrica e petróleo. A produção de eletricidade em grande escala começou no Brasil quando uma empresa canadense (Light and Power) construiu a usina Henry Borden, em Cubatão, há quase cem anos, que abastece São Paulo até hoje.
Aos poucos o sistema se expandiu, mas o crescimento populacional e o desenvolvimento do País exigiam cada vez mais investimentos, que as empresas estrangeiras não faziam por considerarem baixo o retorno econômico, uma vez que o governo fixava as tarifas abaixo do que consideravam adequado. 
Por essa razão foi criada na década de 1950 a Eletrobrás, empresa estatal que nacionalizou as empresas estrangeiras da área de energia elétrica e, com recursos do Tesouro Nacional (e empréstimos do Banco Mundial e bancos privados internacionais), lançou um grande programa de construção de usinas hidrelétricas.
A Eletrobrás e subsidiárias e outras estatais criadas nos Estados, como Cesp (São Paulo), Cemig (Minas Gerais) e Copel (Paraná), completaram o sistema, gerando, transmitindo a longas distâncias e distribuindo eletricidade nas grandes cidades.
Situações similares ocorreram em outros países, até nos EUA, onde as empresas privadas sempre foram consideradas a única solução para os problemas do país. Prova disso é que lá não existe até hoje uma rede nacional de transmissão de eletricidade, como no Brasil. Nos anos 30 do século passado o presidente Roosevelt implementou com recursos do Estado um amplo programa de produção de eletricidade por meios da Tennessee Valley Administration (TVA), que construiu várias usinas hidrelétricas como parte de um programa de desenvolvimento regional que a iniciativa privada não tinha interesse em bancar.
O sucesso inicial da Eletrobrás levou à criação de inúmeras estatais em outras áreas. No País são hoje cerca em nível federal e mais de uma centena em nível estadual; só no Acre são 33. Em torno delas se criaram interesses corporativos dos próprios funcionários e frequentemente interesses de políticos que indicam seus diretores e promovem às vezes favoritismo nos negócios, como evidenciado nos escândalos da Operação Lava Jato.
As inúmeras subsidiárias criadas nos Estados do Norte e do Nordeste permitiram levar eletricidade a toda a região, mas a gestão dessas empresas se tornou tão deficitária que inviabilizou a própria capacidade da Eletrobrás de investir em novos empreendimentos de grande porte, que é sua função principal e pela qual foi criada.
Muitas delas se tornaram, ao longo do tempo, verdadeiros cabides de empregos. São cerca de 90 mil funcionários com salário médio muito superior ao das empresas privadas. 
De modo geral, a criação das estatais é meritória, mas resolvido o problema para as quais foram criadas elas continuam a existir, mesmo quando sua missão original foi cumprida e deveriam passar para a iniciativa privada. O governo Fernando Henrique Cardoso tentou resolver o problema com a privatização parcial da empresa de distribuição de eletricidade. Não há nenhuma justificativa para mantê-las como empresas estatais, já que são empresas comerciais que apenas compram e vendem eletricidade.
Essa é a experiência bem-sucedida do Estado de São Paulo onde a Centrais Elétricas de São Paulo (Cesp) teve o papel pioneiro de construir grandes usinas ao longo do rio Tietê e no Pontal no Paranapanema. A Eletropaulo e a CPFL compravam a eletricidade da Cesp e a distribuíam. Passada a fase heroica de construção das usinas hidrelétricas, a população de São Paulo continua a ser bem servida após a privatização da transmissão e distribuição de eletricidade como era no passado, quando essas atividades estavam todas na mão do Estado.
O que o bom senso indica é que esse é o caminho a seguir em relação à Eletrobrás: privatizar as atividades que cabem melhor na iniciativa privada e permitir que ela se concentre na expansão do sistema de usinas necessário ao País.
*PRESIDENTE DAS EMPRESAS DE ENERGIA DE SÃO PAULO (ELETROPAULO, CPFL E COMGÁS) NO GOVERNO MONTORO