sábado, 7 de abril de 2018

É preciso privatizar a Eletrobras? SIM

É preciso privatizar a Eletrobras? SIM

Consertando os erros do passado

O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, concede entrevista coletiva em Brasília, em 27 de março
O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior, concede entrevista coletiva em Brasília, em 27 de março - Ueslei Marcelino 27.mar.18/Reuters
Wilson Ferreira Junior
O projeto de lei que trata da desestatização da Eletrobras foi enviado à Câmara dos Deputados em 22 de janeiro e começa a ser debatido pelos deputados. O texto do Executivo abre uma nova perspectiva para a holding, que responde por um terço da geração de energia elétrica no país e quase metade das linhas de transmissão.

A proposta é recuperar a capacidade de investimento da Eletrobras e criar uma grande corporação do setor elétrico, capaz de contribuir com os desafios associados às novas tecnologias e operar em igualdade de condições com as maiores empresas de energia do mundo.

É preciso ter soluções inovadoras, respeitando o meio ambiente e com responsabilidade social. Ao mesmo tempo em que lança esse desafio, a proposta enfrenta, de maneira firme, alguns erros do passado.

Nos últimos anos, várias decisões governamentais conspiraram contra a solidez do setor elétrico. Uma delas, a mais relevante, foi a MP 579, de 2012 (que deu origem à lei 12.783, de 2013). Para renovar antecipadamente concessões que venceriam no período de 2013 a 2015, empresas geradoras foram obrigadas a aceitar redução nas tarifas, na época da ordem de R$ 100 o megawatt/hora para R$ 30 o megawatt/hora, cobrindo apenas os custos de operação e manutenção.

A justificativa era que o investimento nessas usinas já estaria amortizado e seria possível, com essa medida, beneficiar o consumidor. O valor da conta de luz caiu, de fato, 20% no primeiro momento.

A almejada queda, no entanto, durou pouco. Isso porque, em contrapartida a uma tarifa tão baixa, sobrou para o consumidor o custo do chamado risco hidrológico. Isto é, aquele associado à energia produzida por usinas térmicas, acionadas quando há estiagem prolongada. Essa energia é muito mais cara do que a gerada pelas hidrelétricas. 

Porém, já em 2013, o consumidor deveria pagar pelo risco hidrológico mais do que a tarifa vigente antes da MP 579, cerca de 100 R$/MWh. Em 2014, no pior mês, o consumidor deveria ser onerado em cerca de R$ 130/MWh. Para manter artificialmente baixas as tarifas, o governo contratou, junto à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e um pool de 13 bancos, um empréstimo de R$ 22 bilhões, que todos os consumidores pagarão até 2020.

Nesse período, o governo injetou no setor elétrico, por causa do risco hidrológico, mais R$ 4 bilhões, que poderiam ter sido investidos em educação, saúde e segurança.

A medida resultou em perdas a empresas que aderiram à MP. No caso de Furnas e Chesf, subsidiárias da Eletrobras, as perdas foram de R$ 10 bilhões, só no primeiro ano, ou 30% da receita perdida.

O processo de desestatização da Eletrobras prevê que novos contratos de concessão sejam assinados com a União, eliminando os erros da MP 579 e liberando as usinas para operarem no regime de produção independente, com tarifas mais competitivas.

O consumidor também será beneficiado, porque deixará de arcar com o risco hidrológico, que deve voltar a ser administrado pelos geradores. Terá ainda menos encargos na conta de luz, já que um terço dos recursos da desestatização será usado para abater a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que compõe a tarifa.

O projeto de lei, portanto, procura corrigir distorções que oneraram o consumidor nos últimos anos, ao mesmo tempo em que estabelece bases para o futuro do setor e devolve à Eletrobras seu protagonismo e a capacidade de contribuir para a expansão do setor elétrico por meio da criação de uma corporação efetivamente brasileira, unindo competitividade, valorização da empresa e desoneração dos contribuintes.
Wilson Ferreira Junior
Formado em engenharia elétrica, foi diretor da Companhia Energética de São Paulo (1995-1998, governo Covas) e presidente da CPFL (2000-2002, governos Covas e Alckmin); é presidente da Eletrobras desde 2016

Protagonistas, PT e PSDB têm dia simbólico com Lula e Paulo Preto, FSP


Leandro Colon
BRASÍLIA
Era manhã de sexta-feira, 6 de abril de 2018, 8h30, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou ao jornalista Ricardo Kotscho, da Folha, a decisão de não se entregar à Polícia Federal em Curitiba.
Pouco antes, a PF prendera o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, atendendo a pedido da Lava Jato em São Paulo. Conhecido como Paulo Preto, ele é suspeito de ser um operador de trapaças financeiras do PSDB paulista. Um arrecadador de luxo.
Guardados as devidas proporções e os contextos históricos e políticos de cada caso, os dois episódios têm potencial para influir nas eleições de outubro.
Não há elementos, hoje, que apontem planejamento prévio por parte da Lava Jato paulista para coincidir a prisão de Paulo Preto com a possível detenção de Lula.
Decerto que o encarceramento do operador tucano foi ofuscado pelo gigantismo que representa o caso Lula, mas é inegável o simbolismo deste 6 de abril envolvendo o PT e o PSDB, partidos que protagonizam desde 1994 a disputa presidencial no país.
O impacto da prisão de Lula para o PT será óbvio, duradouro e previsível. 
Duas vezes presidente da República, fundador e maior nome dos 38 anos de história da sigla, é o candidato da legenda ao Planalto. Lidera as pesquisas nos cenários de primeiro turno.
A prisão aniquilará ainda mais o discurso petista a favor da candidatura. Condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, Lula passa a ser um ficha-suja em cumprimento de pena.
O PT bate na tecla de que vai registrar seu nome na Justiça Eleitoral em agosto, apesar das chances remotas de ser aceito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O comando petista precisa levar em conta o cálculo de que, quanto mais tempo demorar para desistir de Lula, menos terá para impulsionar um plano B capaz de brigar de fato na eleição presidencial.
Por sua vez, o impacto da prisão de Paulo Preto no ninho eleitoral tucano é hipótese bem provável, ainda que seus efeitos sejam imprevisíveis.
Ele não pertence à classe dos políticos tucanos, mas aparece como peça importante no submundo de possíveis falcatruas que teriam bancado muitos deles.
É citado por delatores de empreiteiras, entre elas Odebrecht e OAS, como figura-chave a ligar propinas e caixa dois com a elite do PSDB. 
Revelou-se recentemente que Paulo Preto detinha R$ 113 milhões em contas bancárias na Suíça. 
Nos bastidores, o responsabilizam pelos movimentos de José Serra para sair de campo nas eleições de 2018 e pelo enfraquecimento político do tucano e ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, de quem Paulo Preto se declarava amigo.
aulo Vieira, conhecido como Paulo Preto, presta depoimento no Forum Regional da Lapa sobre envolvimento do Vice Pres. do PSDB Eduardo Jorge no caso de propina nas obras do Governo Paulista em 2011
Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, apontado como operador do PSDB - L.C.Leite - 16.fev.2011/Folhapress

VOLTA NO TEMPO

Pouco ou quase nada se sabe sobre suas relações com o presidenciável Geraldo Alckmin, que nega conhecê-lo. Uma eventual delação em ano de eleição atormenta os tucanos pelo potencial estrago que pode causar ao PSDB, mesmo que não atinja Alckmin diretamente.
A prisão permite voltar no tempo, mais exatamente às eleições de 2010. 
A então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, confrontou José Serra, seu oponente naquela disputa, sobre as ligações do PSDB com o emblemático personagem. O tucano desconversou. Paulo Preto não gostou. 
Reagiu na ocasião e mandou um recado que fez balançar as penas tucanas: "Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro". 
Agora, o "líder ferido" não está na estrada, está no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, na capital paulista.