Após prisões, Planalto diz que Temer é alvo de canhões da conspiração
Escalado para defender governo, Carlos Marun insinuou que há complô por causa de pré-candidatura do presidente
Escalado pelo Palácio do Planalto para defender Michel Temer, o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) disse, na noite desta quinta-feira (29), que o presidente se tornou alvo de “canhões da conspiração” e de um “complô” depois que se colocou como pré-candidato à reeleição.
“Entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilidade de que venha disputar a reeleição, colocar como concreta essa possibilidade, faz com que, novamente, se dirijam contra nós os canhões da conspiração”, afirmou Marun após uma reunião com Temer e outros ministros.
Temer, que iria para São Paulo nesta quinta-feira para passar o feriado de Páscoa com a família, mudou de ideia e permanecerá em Brasília até segunda-feira (2).
O presidente tem reunido aliados desde o início da manhã, quando uma operação da Polícia Federal prendeu alguns de seus amigos mais próximos, como o empresário e advogado José Yunes, o coronel João Baptista Lima Filho, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (MDB), e o empresário Antônio Celso Grecco, dono da Rodrimar, empresa que atua no Porto de Santos.
As detenções foram autorizadas pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), relator do inquérito que investiga Temer por suposto recebimento de propina em troca de benefícios a empresas do setor portuário via decreto.
Sem citar o nome de Barroso, Marun insinuou que vem do ministro do STF a tal conspiração.
“O Ministério Público tem um papel acusador, existe para isso. Na verdade, penso que caberia ao Judiciário uma atenção maior em relação ao que se coloca na nossa Constituição”, disse Carlos Marun.
O ministro evitou criticar a procuradora-geral, Raquel Dodge, embora tenha sido a PGR (Procuradoria-Geral da República) a solicitante das prisões desta quinta. Marun afirmou que ela tem “outro nível”, criticando o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, que apresentou duas denúncias contra Temer no ano passado, e o ex-procurador Marcelo Miller, que recebeu do escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe Advogados, responsável pelo acordo de leniência da J&F, apenas três meses depois de deixar cargo no Ministério Público Federal.
“Não vejo na procuradora Raquel aquele mesmo viés. Não vejo alguém de dentro do gabinete da procuradora Raquel recebendo dinheiro para orientar gravações ou qualquer coisa neste sentido”, afirmou Marun.
O ministro disse desconfiar de prisões feitas em véspera de feriado e disse ter havido autoritarismo nas detenções para ouvir sobre questões ocorridas antes do mandato.
“Entendo que houve abusos de prender gente para ouvir depoimentos”, disse o ministro. “Não acredito em coincidências. Sempre que o Brasil dá uma reagida, surgem flechas envenenadas dirigidas ao presidente Temer. Não tenho como fazer afirmações ainda, mas, realmente, não sou pessoa de acreditar em acaso. Começo a achar que algumas coisas têm a ver com as outras”, afirmou Marun.
O ministro de Temer tem feito várias críticas a Barroso depois que o ministro do STF autorizou a quebra de sigilo do presidente e determinou alterações no indulto concedido pelo emedebista no fim do ano passado.
Marun deve, inclusive, retomar sua cadeira de deputado em abril para apresentar o pedido de impeachment de Barroso.
O ministro disse que a operação desta quinta-feira não inviabiliza a candidatura de Temer à reeleição e que o governo não acredita na apresentação de uma nova denúncia contra o presidente.