terça-feira, 27 de março de 2018

Primeiro protótipo de veículo híbrido flex do mundo é apresentado em SP, Portal do governo SP

Fonte: Portal do Governo de São Paulo
Com apoio da Agência Investe SP e parceria com equipe brasileira, montadora japonesa Toyota lança primeiro carro híbrido flex do mundo

O governador Geraldo Alckmin participou, nesta segunda-feira (19), da apresentação do primeiro protótipo de veículo híbrido equipado com motor de combustão interna flexfuel, realizada no Palácio dos Bandeirantes. O projeto, que combina um propulsor elétrico e outro flexível a gasolina e etanol, colocou lado a lado as equipes de engenharia da Toyota no Japão e no Brasil, para somar esforços e buscar sintonia entre as tecnologias.
“Hoje é um dia histórico. Está sendo apresentado o primeiro carro híbrido, elétrico e flex, do mundo com etanol. Quero cumprimentar toda a equipe da Toyota, por meio do seu presidente no Brasil. O etanol emite menos carbono, pois é uma energia renovável através da cana-de-açúcar. É um feito extraordinário à saúde, ao consumidor e ao meio ambiente”, ressalta Alckmin.
O protótipo foi construído sobre a plataforma do modelo Prius, usada como base para condução dos trabalhos. A marca ainda estuda possibilidades de produção dessa tecnologia no Brasil no futuro. As ações foram direcionadas no sentido de extrair o potencial máximo de cada solução: alta eficiência, baixíssimos níveis de emissões e capacidade de reabsorção dos impactos de gás carbono, ao utilizar combustível oriundo de fonte 100% renovável. A companhia deu início à fase de testes de rodagem com a cerimônia na capital paulista.
“A Toyota é parceira de São Paulo. A nossa Agência Investe SP é parceira também. Essa é uma inovação tecnológica que tem tudo a ver com o Estado de São Paulo e um ganho extraordinário para o consumidor, para a sociedade como um todo e para o meio ambiente”, reafirmou o governador.
Metas ambientais
O modelo do primeiro automóvel híbrido flex faz parte de um conjunto de esforços da Toyota no cumprimento de metas ambientais ambiciosas, previstas no seu Desafio Ambiental 2050. “Estou muito orgulhoso de nossos engenheiros da Toyota do Brasil, que trabalharam com objetivo de desenvolver o veículo híbrido mais limpo do mundo, que usa etanol, para nossos clientes brasileiros. A inovação demonstra que a empresa segue a passos firmes rumo à jornada em prover uma nova sociedade de mobilidade”, diz Steve St.Angelo, CEO da Toyota para América Latina e Caribe e chairman da Toyota do Brasil, Argentina e Venezuela.
Estudos preliminares realizados pela fabricante apontam que o híbrido flex possui um dos mais altos potenciais de compensação e reabsorção na emissão de CO2 gerado desde o início do ciclo de uso do etanol extraído da cana-de-açúcar, passando pela disponibilidade nas bombas de abastecimento e queima no processo de combustão do carro. Quando abastecidos apenas com etanol (E100), os resultados se mostraram ainda mais promissores.
Até chegar à formatação do primeiro protótipo, a Toyota realizou diversos testes em escala de laboratório, que tiveram início há quase três anos, em meados de 2015. No primeiro momento, o veículo percorrerá um trecho de mais de 1.500 quilômetros entre o Estado de São Paulo e o Distrito Federal, colocando à prova a durabilidade do carro em percursos desta natureza, para avaliar o conjunto motor-transmissão, quando abastecidos com etanol, nas estradas brasileiras.
A partir daí, novos dados serão coletados, que informarão a performance do carro e servirão para possíveis ajustes, com objetivo de buscar o balanço ideal de todo o conjunto. “Mais do que um marco em nossa sexagenária história no Brasil, este protótipo é o ponto
de partida para a escrita dos nossos próximos 60 anos. A Toyota acredita que o híbrido flex, quando produzido em escala comercial, possibilitará a reabertura de um novo período de aprimoramento técnico de toda a cadeia automotiva”, declara o presidente da Toyota do Brasil, Rafael Chang.
Parceria
Parte dos esforços da Toyota na corrida para cumprimento de seu Desafio Ambiental 2050 passa, especialmente, pela necessidade de engajar e mobilizar parceiros de negócios que atuem em conjunto com a visão em prol da mobilidade sustentável.
Inspirada nesse propósito, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) tem apoiado o projeto, por reconhecer o etanol como combustível eficiente em sistemas de propulsão avançados e adiciona a importância do biocombustível no combate ao aquecimento global e no cumprimento das metas ambientais do Brasil no Acordo Internacional do Clima (Cop21), estabelecido em 2015, em Paris, contando com a capacidade de produção e abastecimento da indústria sucroenergética brasileira.
A entidade reforça que o etanol está cada vez mais presente nas discussões ambientais mundiais voltadas para a descarbonização dos transportes. “Entendemos que estamos em
um processo de transição para novos cenários de mobilidade sustentável e o etanol é parte deles. Nesse sentido, acreditamos que tecnologias inovadoras, como o veículo híbrido, podem fazer parte dessa transição coexistindo com os biocombustíveis, principalmente no Brasil, onde o consumidor dispõe de infraestrutura ampla de abastecimento”, completa a diretora-presidente da Unica, Elizabeth Farina.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Investimentos em São Paulo, OESP


Embora ainda lenta no ano passado, a recuperação já era disseminada e firme, e dados e projeções recentes indicam sua aceleração ao longo de 2018

O Estado de S.Paulo
26 Março 2018 | 05h00
O expressivo aumento observado nos investimentos anunciados para o Estado de São Paulo em 2017, de 133% sobre o ano anterior, é mais um indicador que confirma o vigor da retomada da atividade econômica em todo o País. Embora ainda lenta no ano passado, a recuperação já era disseminada e firme, e dados e projeções recentes indicam sua aceleração ao longo de 2018. O maior volume de investimentos em São Paulo anunciados no ano passado concentrou-se no setor de infraestrutura, o que tende a propiciar condições mais seguras para o crescimento. Seguiu-se o setor industrial, confirmando a vocação econômica do Estado.
De acordo com a Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo 2017, que acaba de ser concluída pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) – instituição vinculada à Secretaria de Planejamento do governo do Estado de São Paulo –, os investimentos somaram US$ 18,7 bilhões no ano passado. Os resultados referem-se exclusivamente a 474 investimentos cujos valores foram informados pelas empresas. A instituição constatou que outros 365 empreendimentos foram anunciados no ano passado pelas empresas, mas não foram incluídos na pesquisa porque seus valores não foram especificados. É possível, por isso, que o Estado tenha recebido investimentos maiores do que os informados pela pesquisa.
O anúncio de um investimento não é garantia de que ele será efetivado, mas revela as expectativas da empresa em relação ao futuro de suas atividades e o grau de sua confiança na economia em geral. O montante anunciado em 2016, de US$ 8,0 bilhões, é o menor da série de pesquisas da Fundação Seade iniciada em 1998. Esse dado confirma o que outros indicadores haviam sugerido, isto é, que a crise iniciada na segunda metade de 2014, no final do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, atingiu seu ponto mais agudo no ano em que ela foi afastada do cargo. Embora a base de comparação seja baixa, a recuperação é vigorosa, pois o total de investimentos anunciados mais do que duplicou. Já se dissipava, no ano passado, o clima de incerteza e insegurança que marcou os anos anteriores e inibia os investimentos, sobretudo os de médio e longo prazos.
Na administração pública estadual, a persistência da disposição de transferir para o setor privado atividades que este pode desempenhar com maior eficiência tem propiciado investimentos expressivos em infraestrutura. Dos recursos anunciados no ano passado, 45,3% (ou US$ 8,4 bilhões) referem-se a investimentos em infraestrutura. Nesse setor, a pesquisa da Fundação Seade inclui alguns segmentos da indústria, como derivados de petróleo e biocombustíveis, gás e eletricidade; água, esgoto e gestão de resíduos. Também alguns serviços, como transporte, armazenagem e correio, foram incluídos no grupo denominado infraestrutura. Assim, entre os principais investimentos em infraestrutura anunciados no ano passado estão os destinados a transportes (US$ 6,3 bilhões), energia (US$ 1,9 bilhão) e saneamento básico (US$ 195,4 milhões).
Quanto aos investimentos anunciados para o setor industrial, quase 75% do total de US$ 7,2 bilhões estavam relacionados à indústria automobilística. Desses investimentos se destacam os anunciados pela montadora General Motors na modernização de sua fábrica de São Caetano do Sul, para o desenvolvimento de novos produtos e atualização de modelos já em produção. Também a Volkswagen está modernizando sua unidade de São Bernardo do Campo, com a introdução de 373 robôs. A Toyota, de sua parte, anunciou a instalação de uma linha de montagem para a produção de um novo modelo.
O único segmento em que os investimentos diminuíram no ano passado foi o de serviços, em razão do fraco desempenho do setor imobiliário.
Do ponto de vista regional, a região metropolitana de São Paulo recebeu o maior volume de investimentos (US$ 10,5 bilhões), seguindo-se, pela ordem, Campinas, Sorocaba, São José dos Campos, Bauru, São José do Rio Preto, Região Central e Santos.

Lipoaspiração constitucional, opinião OESP


Creio ser impossível vingar essa ideia de Jobim, restam-nos as emendas pontuais

Almir Pazzianotto Pinto, O Estado de S.Paulo
26 Março 2018 | 05h00
O Fórum Estadão, oportuna iniciativa do Estado, cujo tema de fundo é A Reconstrução do Brasil, iniciou-se na manhã de 27/2 com instigante debate em torno da Constituição. Participaram os juristas Eros Grau, Nelson Jobim e Joaquim Falcão, os dois primeiros ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e o último, professor da Fundação Getúlio Vargas.
As opiniões foram unânimes: com a Constituição de 1988 é impraticável governar. Além de críticas ao STF pelo excesso de protagonismo, despertou a atenção a proposta feita pelo ministro Nelson Jobim de se “fazer uma lipoaspiração na Constituição” e dela retirar todos os “excessos para reconstruir a harmonia dos Poderes”.
A prolixidade da Lei Fundamental, apontada pelo ministro Eros Grau, teve como uma das causas a força de corporações, associações e sindicatos empenhados em converter em garantias constitucionais todas as expectativas. O professor Joaquim Falcão destacou o tratamento dispensado aos servidores públicos, que “têm 16 vezes mais chances de levar temas para julgamento no Supremo Tribunal Federal em comparação com trabalhadores da iniciativa privada”, os quais, apesar da posição de inferioridade, gozam da proteção de 6 artigos, 42 incisos e 4 parágrafos.
Com 250 artigos, 114 disposições constitucionais transitórias e 99 emendas, a Lei Superior perde em extensão apenas para a da Índia. E me traz à lembrança a frase do jurista espanhol Pablo Lucas Verdú: “La prolijidad de uma Constitución se paga al precio de la dificultad de su interpretación. La dificultad de su interpretación com el fracaso de su aplicación” (Curso de Derecho Politico, Ed. Tecnos, Madrid, 1986, 440).
Uma das razões da prolixidade reside na manobra política que viciou a eleição dos integrantes da Assembleia Nacional Constituinte. É impossível ignorar que 459 deputados e 72 senadores, eleitos em 15/11/1986, foram beneficiados pela sobrevida assegurada ao Plano Cruzado I, decretado em 28/2/1986, tardiamente substituído pelo Plano Cruzado II, baixado em 21/11/1986, seis dias após o pleito. Anos depois admitiu o presidente José Sarney, sobre o Cruzado II: foi o “maior erro que cometemos no governo e por ele paguei muito caro”.
Com 559 membros na maioria jejunos em técnica legislativa e despreparados em matéria constitucional, os resultados não poderiam ter sido mais desastrosos. O regimento interno teve a relatoria do senador Fernando Henrique Cardoso. Foram criadas 8 comissões temáticas, compostas por 63 membros cada uma, divididas em 3 subcomissões. A tarefa principal ficou reservada à Comissão de Sistematização, integrada por 49 constituintes e presidida pelo senador Afonso Arinos de Melo Franco, tendo como relator o deputado Bernardo Cabral, a figura “mais poderosa, com extrema influência política na condução do anteprojeto”.
Em nome da preservação das liberdades democráticas, ao invés de qualificado grupo de constitucionalistas, tivemos anárquica assembleia cujos trabalhos se desenvolveram sem anteprojeto ou projeto. O texto da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, ou Comissão de Notáveis, criada pelo presidente Sarney por decreto, foi rebaixado a relatório e enviado ao arquivo do Ministério da Justiça. Quatro vetores orientaram os trabalhos da Constituinte: o ativismo das corporações, o ambiente revanchista, o predomínio da utopia e a ignorância da realidade.
Segundo os professores Yan de Souza Carreirão e Débora Josiane de Carvalho de Melo, da Universidade Federal de Santa Catarina (Representação Política na Assembleia Nacional Constituinte – 1987/1988), “durante o processo foram apresentadas 61.020 emendas e 122 emendas populares”. À Comissão de Sistematização foi enviado 1 milhão de assinaturas favoráveis à reforma agrária e 500 mil pela estabilidade no emprego.
Sendo impossível governar com ela, que destino dar à sétima Constituição republicana? A convocação de assembleia constituinte esbarraria no primeiro obstáculo: quem teria a prerrogativa de fazê-lo? As seis Constituições anteriores resultaram de golpe. A exceção é a atual, cujas raízes se encontram na eleição indireta de 1985, vencida por Tancredo Neves, comprometido com a redemocratização do País. Morto Tancredo, Sarney assume a obrigação e envia ao Congresso Nacional, em junho de 1985, a Emenda n.º 85, aprovada em 26/11, com a determinação de senadores e deputados eleitos em 1986 se reunirem em Assembleia Nacional Constituinte no dia 1.º/2/1987.
Poderia o presidente Michel Temer, ou quem vier a suceder-lhe, redigir e submeter ao Congresso projeto de Constituição, como acabou de fazer no Chile a então presidente Michelle Bachelet (Estado, 7/3). O presidente Castelo Branco o fez mediante o Ato Institucional n.º 4/1966, ao ordenar que o Congresso Nacional se reunisse extraordinariamente, de 12/12/1966 a 24/1/1967, para “discussão, votação e promulgação do projeto de Constituição apresentado pelo Presidente da República” (artigo 1.º). Na data aprazada a Constituição foi promulgada. Os tempos são outros. Ao invés do regime militar, temos o Estado Democrático de Direito. No Congresso escasseiam juristas. Embora impraticável, a Lei Magna será mantida e quando possível e conveniente, obedecida.
Se houver como eleger nova Constituinte, presenciaremos a repetição dos problemas na elaboração da Constituição de 1988. Atores, coadjuvantes e figurantes serão outros, mas o enredo não será diferente. Creio ser impossível vingar a ideia da lipoaspiração, apresentada por Nelson Jobim. A quem competirá determinar quais dispositivos serão sacrificados?
Excluída medida de arbítrio, resta-nos prosseguir no acidentado caminho das emendas pontuais. Quem sabe venhamos a ser governados, em algumas décadas, por Constituição merecedora do nome?
*Advogado. Foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.