sexta-feira, 17 de março de 2017

A questão da moradia está no centro de 'Era o Hotel Cambridge', de Eliane Caffé


Eliane Caffé embarcou na terça, 14, para a Europa. Nas próximas duas semanas, faz um périplo por quatro cidades e festivais da França e da Suíça - Creteuil, Gênova, Toulouse e Lyon - mostrando seu longa Era o Hotel Cambridge, que estreia nesta quinta, 16, em São Paulo. Desde a sua apresentação no Festival do Rio, em setembro/outubro passados, Hotel Cambridge vem tendo expressiva participação em eventos de cinema no País e no exterior. Embora seja uma obra de ficção, não se assemelha a nada que o público ande vendo nos cinemas.
“Lili’, como é chamada, invade com sua câmera - e seu ator fetiche, José Dumont - uma ocupação urbana em São Paulo. Desde novembro de 2012, o hotel do título, na Avenida 9 de Julho, está sob ocupação pela Frente de Luta por Moradia. Gerido pelo Movimento dos Sem Teto do Centro, o imóvel foi recuperado - tinha acúmulo de lixo e focos de dengue - e hoje abriga quase duas centenas de famílias, incluindo refugiados, numa mistura de culturas, costumes, idiomas, comidas etc., de que o filme tenta dar conta.


Foto: Aurora Filmes
Era o Hotel Cambridge
O espaço. Personagens e culturas em troca contínua
O ineditismo dessa experiência - a arte abraçando a realidade, a ficção contaminando o documentário (e vice-versa) - tem repercutido mundo afora, e no País nem se fala. Para chegar à forma de seu filme, Lili frequentou durante dois anos a ocupação do Hotel Cambridge. E criou uma ficção - sobre dois refugiados que chegam ao Brasil, a São Paulo e, por não se enquadrar nos abrigos oferecidos pelo Estado, passam a viver com os brasileiros dos movimentos de sem-teto. São refugiados da Palestina, de Uganda, do Congo, da Colômbia, da Síria, entre outros países.
Todos tentam escapar da guerra, da morte ou da pobreza. Zé Dumont, que interage com todo mundo, diz que, de pobreza, ele entende. E Carmem Silva Ferreira, dirigente da FLM, que comanda o MSTC, arremata. “Somos todos refugiados. Refugiados da falta de nossos direitos.”
É uma parceria que está para comemorar 20 anos. Começou com Kenoma, em 1998. Depois disso, Eliana Caffé e José Dumont fizeram Narradores de Javé e agora Era o Hotel Cambridge. Entendem-se às mil maravilhas. Ela lhe oferece papéis cada vez mais complexos. Ele retribui fazendo, em Hotel Cambridge, a ligação da realidade com a ficção. Pois o filme, encenado numa ocupação real na cidade de São Paulo, é uma obra de ficção. Hotel Cambridge marca a maturidade de uma autora que se reinventa a cada trabalho.
‘Lili’, como é carinhosamente chamada, viaja nas lembranças. “Quando comecei a fazer cinema, a câmera era um totem, uma coisa sagrada. Entrava no set protegida, só o diretor de fotografia e a cineasta podiam tocar naquilo. E a bobina de filme tinha um tempo. Tudo tinha de ser muito planejado, e depois executado. Tudo isso mudou com o digital. Hoje há muito mais interação da câmera com a equipe. As próprias tomadas ficaram mais longas. Pode-se filmar horas contínuas.”
Era o Hotel Cambridge nasceu dessa nova realidade (ferramenta?) do cinema digital. Atraída pelo tema, a diretora visitou possíveis locações na cidade de São Paulo. Descobriu o Hotel Cambridge, na Avenida 9 de Julho, e outro prédio que foi reintegrado. O Cambridge nunca teve reintegração de posse. A câmera circula lá por dentro. Quando dramatiza, ficcionalmente, a reintegração, o filme usa as imagens do outro prédio. Os personagens são quase todos reais, transfigurados pela ficção. Três atores fazem a interação - Zé Dumont, Suely Franco e Carmen Silva. Como Zé, também Suely e Carmen têm história. Algumas das melhores cenas de Hotel Cambridge passam por eles.
Filmando, improvisando, definindo a linha de ficção de seu filme, Eliane Caffé descobriu e aprofundou os personagens. Dois terminaram por se impor - Carmen Silva Ferreira, da Frente da Luta por Moradia, que comanda o Movimento Sem Teto do Centro, sendo responsável pela ocupação do Hotel Cambridge, e Hamad Issa, o refugiado que se integrou à luta dos brasileiros. Hamad, Eliane conheceu num documentário de Samora Machel, feito na Jordânia, A Chave da Casa. Ao saber que ele estava no Brasil, no Rio Grande do Sul, a diretora iniciou os contatos que trouxeram o jordaniano para o Hotel Cambridge. “Ele é um homem de cultura, de muita vivência. E a Carmen é um fenômeno.”
E a diretora prossegue: “Tivemos uma pré-estreia do filme no começo da semana, no Cinesesc, e estava lá o ex-prefeito Fernando Haddad, cuja administração mapeou, no começo do ano passado, os mais de mil prédios sem função social na cidade. São edifícios ociosos, que permanecem vazios e não pagam impostos. Imediatamente, se formou uma rodinha ao redor da Carmen, logo que o filme acabou. Ela tem essa personalidade que agrega as pessoas. O filme mostra.” 
Carmen diz que somos todos refugiados. Zé Dumont, com sua experiência da pobreza - “O que me salvou foi ter apreendido a ler e escrever, sozinho, na marra” -, concorda. “Na Paraíba, onde nasci, a gente sofria com a seca. Existiam os capitães do mato, como na época da escravidão. Aqui, é a experiência do capitalismo na cidade grande.” Um e outra ressaltam na ocupação a experiência da cidadania e, no filme, essa possibilidade de utilizar o cinema para alavancar a luta social.
A estreia de Era o Hotel Cambridge será marcada por uma série de ações. Tudo para chamar a atenção da sociedade. A própria diretora se surpreende: “Quando iniciamos esse projeto, eu não tinha ideia da amplitude. Ele cresceu muito, e as pessoas cresceram com a gente. Somos um coletivo compondo uma força-tarefa. Existe uma pauta que pode ser política, reivindicatória, mas o filme é um filme, uma ficção. É para ser visto e fruído esteticamente.” Um típico exemplo dessa fruição é a participação, via Skype, da artista colombiana Lucía Pulido. “O filme é de baixíssimo orçamento, não poderíamos bancar a vinda dela, mas as trocas de informações viabilizam a presença do Skype no filme e, através dele, que a Lucía cante para a gente. Ela foi de uma generosidade extrema. E canta lindamente. São esses momentos mágicos que fazem a diferença.”
Livro de Carla Caffé disseca o processo
Irmã da diretora Eliane Caffé, Carla Caffé tem dado considerável contribuição a seu cinema. Em Narradores de Javé, incorporou a reciclagem de lixo ao projeto e, dessa forma, alterou a dinâmica da cidadezinha em que o filme foi feito. Em Era o Hotel Cambridge, seu trabalho como diretora de arte levou à criação de oficinas que integraram ainda mais o coletivo reunido naquele espaço. Tudo isso foi registrado e contado num livro que acaba de sair pelas Edições Sesc. 
Na apresentação, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik diz que, ao observar ‘invasões’ e ‘invasores’ de perto e com delicadeza, como faz a lente do cinema em Hotel Cambridge, outras imagens e narrativas são reveladas. Abre-se a grande multiplicidade de histórias que levou tanta gente ao mesmo local. É disso que o livro dá conta.

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Governador Alckmin dá posse ao novo Comando-Geral da Polícia Militar



Novo comandante-geral toma posse na Polícia Militar de SP nesta sexta

Coronel Nivaldo Restivo, de 52 anos e 35 de serviço à população paulista, era comandante do policiamento de Choque do Estado de São Paulo; ele substitui o coronel Ricardo Gambaroni

O governador Geraldo Alckmin empossou nesta sexta-feira, 17, o coronel Nivaldo Cesar Restivo no Comando-Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Ele substitui o coronel Ricardo Gambaroni, que estava à frente da corporação desde janeiro de 2015.

Alckmin agradeceu o trabalho do coronel Ricardo Gambaroni, destacando seu trabalho: “Extremamente preparado e um dos melhores talentos da nossa PM”. Ele lembrou que “conseguimos obter os melhores índices de homicídio de toda a série histórica de São Paulo: 8,2 por cada 100 mil habitantes/ano. No Brasil este índice é mais de 24. Nossa meta era chegar a um dígito e conseguimos atingir 8,2. Tudo fruto de muito trabalho, dedicação e sacrifício. Nossa Polícia está preparada para avançar ainda mais”, disse.

Com longa carreira na Polícia Militar, o novo comandante, de 52 anos, se destaca por sua experiência e disciplina. Desde julho de 2014 no comando da Tropa de Choque, Nivaldo também comandou o patrulhamento da zona sul da Capital e do Policiamento de Trânsito (CPTran), além de diversas unidades especializadas.

“Um homem de estratégia, oficial operacional com longa experiência, preparadíssimo para fazer um grande trabalho à frente desta que é a maior e melhor Polícia, talvez, até da América Latina, com mais de 86 mil homens e mulheres”, declarou o governador.

Na cerimônia, Alckmin lembrou da morte do soldado Erik Henrique Ardenghe, que aconteceu no início da semana, e em nome dele, fez uma homenagem a  “todos os heróis que perderam suas vidas no compromisso do dever e protegendo a população do nosso Estado”.

A cerimônia de passagem de comando aconteceu na Academia do Barro Branco, escola de oficiais que foi a porta de entrada do novo comandante na PM, em 1982. Filho e sobrinho de PMs, Nivaldo também já liderou o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e o Comandos e Operações Especiais (COE). O oficial conta, ainda, com passagens pelo policiamento de parte da região central e pelos 2º e 3º Batalhões de Choque, Corregedoria da PM e Assessoria Policial Militar da Secretaria da Segurança Pública.

Ao longo da carreira, foi agraciado com Láurea de Mérito Pessoal (1º grau) e condecorado com 42 medalhas. Formou-se em policiamento de eventos, instrutor de tiro e segurança de autoridades. Em fevereiro de 2013, quando chefiava as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), ele foi promovido ao posto de coronel pelo governador Geraldo Alckmin.

Novo subcomandante

Como subcomandante da PM, no lugar do coronel Francisco Alberto Aires Mesquita, fica o coronel Mauro Cezar dos Santos Ricciarelli. Hoje com 51 anos, ele ingressou na corporação em fevereiro de 1982. O oficial era, até então, responsável pelo Comando de Policiamento Rodoviário (CPRv), cargo que ocupava desde 2014.

Ao longo de sua trajetória, também esteve à frente do 40º Batalhão Metropolitano (BPM/M), em São Bernardo do Campo, e do Comando de Policiamento de Área Metropolitana 6 (CPA/M-6), responsável por todo o Grande ABC. O coronel possui 48 condecorações, entre elas a Láurea do Mérito Pessoal em 1º grau e 47 medalhas.

Despedida de um aviador

Ricardo Gambaroni estava, desde janeiro de 2015, à frente da corporação, na qual ingressou em 1981, sendo promovido a coronel em 2012. Além de graduações em Direito, Educação Física, Ciências Policiais e Liderança e Gestão de Polícia, o comandante possui vasto currículo em aviação policial.

Habilitado pela PM como piloto de aviões e helicópteros, Gambaroni tem especialização pela Escola Internacional de Aviação Policial da Inglaterra. Além de seguir carreira no Grupamento de Radiopatrulha Aérea (GRPae), ele atuou no 2º Batalhão de Choque, no 6º do Interior, no 2º Grupamento de Bombeiros e no comando de policiamento de Osasco.

Também trabalhou nos antigos Batalhão de Guarda dos Palácios (atual Divisão de Segurança Física da Casa Militar) e Divisão de Tecnologia de Emergências (atual Escola Superior de Bombeiros). Gambaroni era o presidente regional do sudeste do Conselho Nacional dos Comandantes-gerais das Polícias e Corpos de Bombeiros Militares.

Polícia Federal prende executivos das gigantes do setor de carnes JBS e BRF, O Globo

‘Carne Fraca’, maior operação da história da PF, determina bloqueio de até R$ 1 bi em contas de 46 investigados

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Acusado chega à sede da Polícia Federal de São Paulo na operação "Carne Fraca". Foto Marcos Alves / Agencia O Globo - Marcos Alves / Agência O Globo



SÃO PAULO e RIO - A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira a “Operação Carne Fraca”, com o objetivo de desarticular organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio. É a maior operação já realizada pela Polícia Federal em toda a sua história, segundo a organização.
A operação detectou, em quase dois anos de investigação, que superintendências regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público. Irregularidades como reembalagem de produtos vencidos e venda de carne imprópria para consumo humano foram encontradas.
A operação já prendeu executivos dos grupo JBS (de marcas como Friboi, Swift e Seara) e BRF (marcas como Sadia e Perdigão) e faz buscas nas residências dos investigados e nas sedes das empresas. O gerente de Relações Institucionais do Grupo BRF, Roney Nogueira dos Santos, e o funcionário da Searea, do grupo JBS, Flavio Cassou, estão entre os presos.
Os pedidos de prisão preventiva incluídos na decisão da 14ª Vara Federal de Curitiba incluem ainda os nomes do vice-presidente da BRF, José Roberto Pernomian Rodrigues, e do diretor da BRF, André Luiz Badissera. Também há pedido para a prisão do funcionário do Ministério da Agricultura Daniel Gonçalves Filho, que foi superintendente regional no Paraná e é apontado como "o líder da organização criminosa".
A decisão também prevê o bloqueio de contas bancárias e de aplicações financeiras de até R$ 1 bilhão e o bloqueio de outros bens (sequestro e arresto) de 46 pessoas, entre elas Flavio Cassou, do JBS, e Roney Nogueira dos Santos, do BRF. A Justiça determinou o bloqueio de até R$ 1 bilhão das contas de 46 investigados na operação.
A JBS informou que está averiguando o que aconteceu. A empresa informa que não houve buscas na sede da empresa em SP e não confirma prisão de executivos do grupo. A JBS vai divulgar uma nota oficial em breve. Também procurada, a BRF ainda não respondeu.
REEMBALAGEM DE PRODUTOS VENCIDOS


Operação "Carne Fraca" da Polícia Federal - Polícia Federal/Divulgação
Entre as irregularidades encontradas pela Polícia Federal estão reembalagem de produtos vencidos, excesso de água, inobservância da temperatura adequada das câmaras frigoríficas, assinaturas de certificados para exportação fora da sede da empresa e do Ministério da Agricultura, sem checagem in loco, venda de carne imprópria para o consumo humano.
Cerca de 1.100 policiais federais estão cumprindo 309 mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso. As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba e estão sendo cumpridas em sete estados federativos: São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goias.
“Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer fiscalização efetiva”, disse a PF em nota.
Segundo as investigações, entre as ilegalidades praticadas por funcionários públicos, está a “remoção de agentes públicos com desvio de finalidade” para atender interesses dos grupos empresariais.
“Tal conduta permitia a continuidade delitiva de frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total desrespeito à legislação vigente”, diz a nota.
O nome da operação faz “alusão à conhecida expressão popular em sintonia com a própria qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor por grandes grupos corporativos do ramo alimentício. A expressão popular demonstra uma fragilidade moral de agentes públicos federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade dos alimentos fornecidos a sociedade”.
EXECUTIVOS ACUSADOS
A decisão da Justiça ressalta que Roney Nogueira dos Santos, da BRF, "alcança dinheiro a servidores públicos, remunera diretamente fiscais contratados, presenteia com produtos da empresa, se dispõe a auxiliar no financiamento de campanha política e até é chamado a intervir em seleção de atleta em escolinha de futebol". A acusação é de que ele teria até login e senha para acessar o sistema do Ministério da Agricultura. André Luís Baldissera, diretor da BRF, e Flavio Evers Cassou, funcionário da Seara (marca do Grupo JBS), também teriam a mesma linha de atuação, segundo o processo.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/policia-federal-prende-executivos-das-gigantes-do-setor-de-carnes-jbs-brf-21075354#ixzz4baneKzlN 
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