sábado, 11 de março de 2017

Anos 2010 são uma viagem ao fundo do abismo sórdido - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 08/03

Antes de ser uma década perdida para a economia, os anos 2010 terão sido um ano de assombrações, de coisas terríveis e, se não inexplicáveis, ainda muito mal explicadas.

Por que a grande revolta política "das ruas" começou quando consumo e renda flutuavam no nível mais alto da história, 2013? Por que a recessão não provoca conturbação social maior, embora produza projetos de monstros, líderes políticos das trevas?

Em 2015 e 2016, jamais a renda média dos brasileiros rolou tão rápido a ribanceira desde que se tem notícia dessas coisas, desde o começo do século passado.

No entanto, mesmo depois de tamanha desgraça, a renda média, na verdade o PIB per capita, ainda equivale à de meados do ano da felicidade consumista de 2010, da canonização política de Lula e da eleição do poste que ele indicou por um "dedazo" de caudilho, Dilma Rousseff.

Sim, há o desemprego terrível, que duplicou em dois anos, para níveis altos mesmo no Brasil, de tumultos e exageros ciclotímicos. Por falar nisso, talvez o desemprego fulminante seja devido justamente ao fato da proteção dos rendimentos, do trabalho ou outros, como acreditam economistas ditos ortodoxos. Sem ajuste maior pela renda, talham-se empregos.

Mas, por horrível que seja dizê-lo, mesmo a massa imensa de desempregados é minoritária.

Mesmo após o desastre, ainda está quase no maior nível da história o número de pessoas com salários protegidos por lei, com empregos formais, com renda mínima garantida por algum programa social. Ao menos na história até 2014 ou 2015, o que, em termos históricos, desculpem o pleonasmo, foi anteontem.

A renda média aumentaria ainda até o pico de 2013, um dos anos de assombros e assombrações. Ano daquele Junho que foi o começo da campanha contra Dilma Rousseff. Ano do colapso súbito da confiança política e econômica, dos primeiros sinais de recessão, na indústria, no investimento, evidentes no segundo semestre.

No entanto, a revolta da massa era de um modo ou outra política. A recessão estava longe das ruas. Mesmo o movimento de deposição de Dilma antecedeu a crise econômica dura. Foi deflagrado pelo udenismo de Aécio Neves em fins de 2014; teve repercussão social maior antes da crise braba, ainda no primeiro trimestre, uma reação ao estelionato eleitoral chocante.

A revolta da elite empresarial era quase inaudível em 2012; era sussurrada com ira pouco antes do Junho de 2013. Mas, até pouco antes disso, aceitavam-se quase de bom grado as primeiras loucuras de Lula e os primeiros terremotos ruinosos de Dilma. Era um conluio. Ignorava-se a demência da política econômica porque havia rapina direta, roubança, e subsídios, empréstimos empresariais e consumismo insustentável financiado com dívida pública.

É fácil compreender o oportunismo vulgar da elite quase toda. É menos simples entender como um país inteiro foi incapaz de resistir a esse pacto de ruína. Um país que pareceu imunodeficiente de instituições, forças políticas e debate público que abalassem a versão final e mais degradada da "Pax Luliana", o acordão entre petismo e agregados esquerdistas com os donos da grande empresa e do dinheiro grosso em geral.

Isso que nos trouxe a este abismo sórdido.

Podemos sair da recessão em 2017, mas só se seguirmos o ajuste fiscal - ALEXANDRE SCHWARTSMAN


Vivemos a mais longa recessão da história recente do país: 11 trimestres, dos quais o PIB registrou queda em nove (e estagnação nos demais).

No primeiro trimestre de 2014, o produto atingiu R$ 1,783 trilhão; no último trimestre do ano passado, R$ 1,622 trilhão (-9%), praticamente o mesmo nível observado no terceiro trimestre de 2010. Regredimos, portanto, sete anos em três.

Há quem atribua tal desempenho à austeridade fiscal, principalmente por parte do governo federal. Isso é falso: como divulgado nesta terça (7), o consumo do setor público se manteve virtualmente inalterado (R$ 361 bilhões agora, ante R$ 365 bilhões no início de 2014). Outras medidas de gastos, no caso do governo federal, incluindo despesas como pagamentos de aposentadorias e pensões, mostram aumento do dispêndio, jamais queda.

Só mesmo apreciável contorcionismo mental poderia atribuir ao ajuste fiscal, nem sequer iniciado, a queda vertiginosa da atividade econômica, iniciada ainda em 2014.

Por outro lado, o investimento não apenas caiu muito mais do que o consumo público (R$ 97 bilhões no mesmo período) como, na verdade, começou seu colapso já em 2013, não por acaso também o ano em que se iniciou a piora da percepção de risco soberano.

O prêmio de risco cobrado do país praticamente dobrou naquele ano, saindo de 1% para 2% ao ano (em dólar), escalada que continuou à medida que a administração Dilma se mostrou incapaz de endereçar o problema do gasto público crescente.

Assim, em janeiro do ano passado empresas que precisassem acessar o mercado internacional de capitais encaravam um prêmio de risco de quase 5% ao ano, o que não apenas encarecia a captação de dívidas novas mas também deprimia o preço de suas ações, encarecendo também a opção de obter recursos por meio de emissão de novo capital.

Nesse contexto a queda de quase 30% do investimento entre seu pico no terceiro trimestre de 2013 (R$ 357 bilhões, já corrigidos pela inflação) e o último trimestre de 2016 (R$ 255 bilhões) não chega a ser uma anormalidade, mas a reação natural de empresas em face de um aumento considerável do custo do seu capital.

Para não deixar dúvidas, a recessão histórica é resultado direto das políticas desastradas adotadas pela administração anterior, em particular no plano fiscal, mas muito agravada pelo intervencionismo excessivo em diversas frentes.

O estrago foi imenso e segue afetando a atividade por meio de suas consequências, como o caso do emprego (com reflexos sobre o consumo), bem como o investimento, por causa da enorme capacidade ociosa criada de 2014 para cá.

Contra esse pano de fundo é que espero uma modesta recuperação, expressa em crescimento ao redor de 0,5% para 2017. Como expliquei recentemente, esse número não é tão ruim como parece, pois equivale a expansão trimestral do produto ao ritmo de 2,5% ao ano, impulsionada pela queda da taxa de juros e pela redução do risco-país.

Não há dúvida de que esses desenvolvimentos se amparam principalmente na aprovação do teto para o gasto público e na proposta de reforma previdenciária.

Podemos sair da recessão em 2017, mas apenas se seguirmos no caminho do ajuste fiscal, ainda que lento. Se desviarmos dele, como defendido pelos suspeitos de sempre, correremos o risco de perder outros sete anos.


Emprego na indústria naval sofre os efeitos da política do PT - EDITORIAL ECONÔMICO


ESTADÃO - 09/03

Pesquisa do Dieese mostra que o número de empregados na indústria naval caiu de 71.554 em 2014



Os efeitos da desastrosa política de investimentos que a administração lulopetista impôs à Petrobrás e da instalação, nela, de um bilionário esquema de corrupção – que beneficiou o partido no governo e seus aliados, abalou as finanças da empresa e comprometeu sua eficiência técnica – se estendem para muito além das operações da estatal. A indústria naval, que cresceu estimulada pelos projetos de expansão da Petrobrás, já demitiu quase 60% de seu pessoal desde que os planos mirabolantes do governo petista começaram a ruir. Os planos fracassaram em razão de seu irrealismo e em decorrência do desvendamento, pela Operação Lava Jato, do esquema de assalto a que a estatal foi submetida durante a administração anterior.

Pesquisa do Dieese mostra que o número de empregados na indústria naval caiu de 71.554 em 2014 (quando começaram as demissões) para 40.232 no fim de 2016. Por esses dados, baseados em registros do Ministério do Trabalho, a redução foi de 44%.

Números levantados pelo sindicato nacional das empresas do setor, o Sinaval, diretamente com suas filiadas mostram redução ainda mais intensa. Segundo o levantamento do Sinaval, o total de empregados do setor naval caiu de 82,5 mil em 2014 para 35 mil em dezembro de 2016, redução de 57,6%, segundo reportagem do jornal Valor.

A gestão petista na Petrobrás causou-lhe pesadas perdas financeiras, em decorrência do desvio de recursos da estatal e de políticas equivocadas. Fortemente endividada, a empresa teve de rever drasticamente seus planos de investimentos.

Os cortes afetaram, em primeiro lugar, as operações da Sete Brasil – empresa constituída com participação da própria Petrobrás para executar os delirantes planos petistas para o pré-sal – e, em seguida, as das empresas fornecedoras do setor, entre elas as do setor naval. Dezenas de navios-sonda chegaram a ser encomendados, mas boa parte das encomendas foi cancelada.

A situação que se observa na Bahia, onde a indústria de construção pesada e de montagem chegou a empregar 4,8 mil pessoas e hoje mantém apenas 200 funcionários, resume o drama do setor.