segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Há 159 'manicômios' no País, sem previsão de fim, OESP


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São Paulo - Passados 15 anos da lei que determinou uma reforma psiquiátrica no Brasil, o governo federal não trabalha com uma data-limite para a extinção dos manicômios, forma como ficaram conhecidos os hospitais psiquiátricos. Ainda existem no País 159, com 25.126 leitos psiquiátricos.

O Ministério da Saúde informou, em nota, que não há prazo para o fechamento dos hospitais psiquiátricos já que a legislação de reforma psiquiátrica não determina uma data. A política de saúde mental foi estabelecida pela Lei nº 10.216, que estabelece "que esse fechamento deve se dar conforme a pactuação das gestões municipais e estaduais e conforme o planejamento da implantação da Rede de Atenção Psicossocial". Desde 2001, a reforma psiquiátrica ganhou status de estratégia de Estado e passou a ser desenvolvida no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

Segundo o Ministério, o gasto com ações e investimentos em obras de saúde mental, como Caps, leitos, programas de prevenção, entre outros, foi de R$ 1,3 bilhão no ano passado. A pasta afirma que, para casos com necessidade de internação de curta duração, foram criados nos últimos cinco anos 1.082 leitos de saúde mental.


São Paulo

No Estado, são 30 leitos habilitados pelo ministério para atender pacientes com transtornos mentais em hospitais gerais. A coordenadora de Saúde Mental da Secretaria Estadual da Saúde, Rosângela Elias, explica porém que o número é maior. Segundo ela, há ao todo 800 leitos psiquiátricos em unidades hospitalares gerais do Estado.

Ainda funcionam no território paulista 36 instituições, sendo três na capital. A população dessas unidades é de aproximadamente 3,4 mil pessoas. Rosângela reconhece que essas unidades são manicômios. "São espaços fechados de atendimento específico para saúde mental só para essa população que trabalham em uma lógica de asilamento", afirma a coordenadora, que chama os pacientes desses hospitais de "moradores".

Rosângela diz que a redução do número de manicômios é "um desafio" dos poderes federal, estadual e municipal. "Ainda estamos em processo de construção. Criar um Caps não significa que a rede está formada. A pessoa precisa de atendimento mais integral", diz.
Juliana Diógenes

A quem interessa combater enchentes com a velha estratégia dos piscinões?


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Álvaro Rodrigues dos Santos

Álvaro Rodrigues dos Santos

Especial para o UOL
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  • Moacyr Lopes Jr. / Folhapress
A cada nova eleição renovam-se as esperanças de que algo de mais efetivo será feito no combate às enchentes que castigam a bacia do Alto Tietê, o que equivale a dizer: que castigam a região metropolitana de São Paulo.
No entanto, para que essa expectativa realmente se concretizasse seria essencial, como ponto de partida, que as novas autoridades se convencessem definitivamente do enorme fracasso da atual e velha estratégia de combate às enchentes que é centrada essencialmente na ampliação das calhas dos rios principais e na implantação de piscinões. Também seria indispensável que as novas autoridades reunissem grandeza e coragem cívicas para confrontar os interesses empresariais privados que se estabeleceram no atendimento da já referida velha estratégia.
Houve uma leve esperança que a eleição de Haddad pudesse vir a significar uma saudável mudança de rota na gestão de tal problema. Doce ilusão que logo se desfez nos primeiros meses de sua gestão, quando ficou bastante claro a todo o meio técnico que o novo prefeito de São Paulo havia feito a comum opção de se acomodar com os interesses anteriormente estabelecidos.
Tudo indica que na gestão Doria sequer a ingênua ilusão de alterações se faça presente, uma vez que o novo prefeito acaba de anunciar o foco estratégico de seu programa de combate às enchentes: a construção de 21 novos piscinões. Isso, quando se sabe que a decisão pela implantação de um piscinão, levando-se em conta os enormes males que causam à cidade, deveria ser a última das últimas alternativas, e não o carro-chefe de um programa.
Bom relembrar a equação básica das enchentes urbanas, ou seja, de volumes crescentemente maiores de águas pluviais em tempos sucessivamente menores e sendo escoados para drenagens naturais e construídas que progressivamente são incapazes de dar vazão. Em outras palavras, a cidade, devido à sua impermeabilização, perde a capacidade de reter as águas de chuva, lançando-as em grandes volumes e rapidamente sobre um sistema de drenagem –valetas, galerias, bueiros, córregos, rios– que já não consegue escoá-las devidamente. E aí temos as enchentes.
Outros fatores adicionais que contribuem diretamente com o desastre são a excessiva canalização de córregos e também o enorme assoreamento de todo o sistema de drenagem por sedimentos oriundos de processos erosivos urbanos e por todo tipo de entulhos de construção civil e lixo urbano.
Ou seja, sem a eliminação das causas da doença, não há como curar o doente. Porém, a quem mais poderia interessar, senão à sociedade, o combate à erosão e à decorrente redução do assoreamento de nossos rios? Certamente, os interessados não seriam aqueles que faturam alto com as infindáveis operações de desassoreamento e de ampliação das calhas.
Afinal, a quem interessaria promover medidas voltadas para o aumento da capacidade de retenção de chuva em reservatórios domésticos ou empresariais com a acumulação e infiltração de água em calçadas e sarjetas drenantes, em pátios e estacionamentos drenantes, em valetas, trincheiras e poços drenantes, em multiplicação dos bosques florestados por todo o espaço urbano? Certamente, não estariam entre os interessados aqueles que hoje se beneficiam da contratação de projetos, da execução e da manutenção de piscinões –estes, verdadeiros atentados urbanísticos, financeiros, sanitários e ambientais.
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Atuação no Chile mudou padrão da astronomia brasileira, Agência Fapesp


12 de dezembro de 2016

José Tadeu Arantes Agência FAPESP – A FAPESP quer estreitar relações com instituições chilenas para ampliar os esforços de pesquisa em áreas estratégicas. “Nossas parcerias científicas continuam fortemente centradas em instituições dos Estados Unidos e da Europa Ocidental. Precisamos nos aproximar mais dos países vizinhos da América do Sul”, afirmou José Goldemberg, presidente da FAPESP.
As afinidades científicas entre o Brasil e o Chile estiveram em pauta no Workshop FAPESP-Conicyt, em 7 de dezembro de 2016 na sede da instituição. Conicyt é a Comisión Nacional de Investigación Científica y Tecnológica, do Chile, e o encontro foi projetado exatamente para estimular novas colaborações entre pesquisadores brasileiros e chilenos nas áreas de astronomia, oceanografia, agroindústria e nanotecnologia.
O encontro desenvolveu-se em apresentações conjugadas de pesquisadores chilenos e brasileiros, que contemplaram as quatro áreas de interesse. A área na qual as colaborações estão mais avançadas é, sabidamente, a de astronomia. E o motivo, como explicou Luis Chavarría, diretor do Programa de Astronomia da Conicyt, é que as condições geográficas fizeram do Chile a meca dos astrônomos contemporâneos.
“A formidável barreira constituída pela Cordilheira dos Andes, que bloqueia a massa de ar úmido proveniente do Atlântico, e a Corrente de Humboldt, que resfria o Pacífico e inibe a evaporação, tornaram o céu do norte chileno extremamente seco e límpido, propício para a observação astronômica”, disse o diretor à Agência FAPESP.
Grandes consórcios astronômicos internacionais, como o Gemini, cujas operações se iniciaram em 2004 com dois telescópios “gêmeos”, um nos Andes chilenos e outro no Havaí, e o Soar (Southern Observatory for Astrophysical Research), inaugurado nos Andes chilenos em 2005, mudaram o padrão da astronomia mundial baseada no solo, assim como o Telescópio Espacial Hubble, colocado em órbita em 1990, havia mudado o padrão da astronomia realizada no espaço.
Projetos ainda mais ambiciosos estão agora em construção, como o GMT (Giant Magellan Telescope), com setes espelhos que, em conjunto, comporão uma área coletora de 25,4 metros de diâmetro, capaz de gerar imagens até 10 vezes mais nítidas do que as do Hubble; o Alma (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), com 66 antenas de alta precisão, que deverão operar a 5 mil metros acima do nível do mar, no Deserto de Atacama; o E-ELT (European Extremely Large Telescope), coordenado pelo European Southern Observatory (ESO), com espelho primário também composto, de 39 metros de diâmetro; e o Thirty Meter Telescope (TMT), administrado pelo California Institute of Technology e pela University of California.
“As condições meteorológicas permitirão que o Alma opere com céu claro durante 70% do ano”, exemplificou Chavarría. “No total, 17 observatórios deverão estar em operação no Chile por volta de 2025”, completou.
Como demonstrou João Evangelista Steiner, professor titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP), que dividiu com Chavarría a apresentação na área de astronomia, a participação nos projetos Gemini e Soar configurou um salto de qualidade na astronomia brasileira. “E não só na astronomia, mas também na engenharia envolvida no processo de observação astronômica. Quatro companhias brasileiras colaboraram na construção do domo do Soar e várias outras na produção dos instrumentos”, afirmou.
Segundo Steiner, o Brasil teve direito a 5,5% do tempo de uso do Gemini em 2015. E os pesquisadores brasileiros produziram 12,3% dos artigos científicos gerados com base na utilização do telescópio, o que atesta o alto nível de desempenho alcançado. “As publicações brasileiras associadas ao Gemini e ao Soar cresceram 17% ao ano desde 2000”, contabilizou.
A FAPESP investirá US$ 40 milhões no projeto do GMT, o que equivale a cerca de 4% do custo total estimado. Pelos termos do acordo internacional, tal aporte garantirá, para os pesquisadores de instituições paulistas, 4% do tempo de operação do megatelescópio, além de assento no conselho diretor do consórcio (leia mais em agencia.fapesp.br/21268/).
Vida marinha
Outra área para a qual o Chile constitui um destino privilegiado é a da oceanografia, como detalhou, no segundo segmento do workshop, o biólogo Silvio Pantoja, diretor do Centro de Investigación Oceanográfica en el Pacifico Sur-Oriental (Copas), da Universidad de Concepción. Com uma superfície apenas três vezes superior à do Estado de São Paulo, comprimida entre o Oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes, o país possui uma extensa linha costeira, de 6.435 quilômetros.
Acrescente-se a isso o fenômeno da ressurgência marinha, provocado na região pela Corrente de Humboldt. A barreira da Cordilheira dos Andes faz com que os ventos alísios que sopram para sudeste sejam inflexionados para o norte. E esse regime de ventos arrasta as águas superficiais da costa chilena e peruana, possibilitando que as águas profundas, frias e extremamente ricas em nutrientes, aflorem. O resultado é uma extraordinária abundância de vida marinha. De 18% a 20% de toda a pesca mundial ocorre no grande ecossistema marinho associado à Corrente de Humboldt.
“As possibilidades de cooperação entre oceanógrafos brasileiros e chilenos incluem oceanografia física; oceanografia costeira, com estudos de poluição e manejo; aquicultura; geoquímica inorgânica e orgânica; ecologia de águas profundas; paleo-oceanografia, com estudos de registros sedimentares e modelagem; e estudos de organismos extremófilos [bactérias que sobrevivem e se reproduzem em condições extremas]”, afirmou em sua apresentação Michel Michaelovitch de Mahiques, ex-diretor e atualmente vice-diretor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), que compartilhou com Pantoja o segmento dedicado à oceanografia no workshop.
Smart Agriculture
O cobre, que já respondeu por mais de 60% da pauta de exportações do Chile, ainda é, atualmente com 30%, o principal produto exportado pelo país. Mas o Chile possui tradição e potencial de desenvolvimento no setor agroindustrial, como afirmou Ricardo Diaz Cárcamo, diretor executivo do Centro de Estudios de Alimentos Procesados (Ceap).
Enfatizando a agregação de valor aos produtos agroindustriais, Cárcamo mostrou que a exportação de processados (óleos vegetais, enlatados, sucos, congelados, desidratados) cresceu rápida e consistentemente nos primeiros 14 anos do presente século. Depois, acompanhando a retração do mercado mundial, apresentou um declínio relativo a partir de 2014. Os principais desafios para a sustentabilidade e expansão do setor incluem o manejo e a valorização dos resíduos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
Como exemplo citou a indústria de azeite de oliva. Apenas 15% do resultado do processo industrial é azeite. Os outros 85% são resíduos. Situação semelhante ocorre na indústria de sucos. Transformar esses resíduos em recursos, como fontes de antioxidantes, alimentos funcionais, fibras para alimentação humana ou animal etc., constitui, segundo ele, importante meta econômica e ambiental.
E neste tópico se deu a confluência entre a apresentação de Cárcamo e a de Silvio Crestana, ex-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), atualmente na Embrapa Instrumentação, que colocou em pauta o conceito de Agricultura Inteligente (Smart Agriculture). “O termo se refere ao uso de equipamentos eletrônicos, sensores, máquinas e informática para prover decisões mais precisas, eficientes e sustentáveis no manejo da produção agrícola”, explicou Crestana.
Durante o debate que se seguiu, o pesquisador argumentou que o conceito, que compreende ainda a criação de sistemas que integrem agricultura, pecuária e floresta, não pressupõe necessariamente a grande propriedade agroindustrial, podendo também chegar aos médios e pequenos produtores por meio de cooperativas ou iniciativas públicas.
Nanotecnologia
O último segmento do workshop tratou de nanotecnologia, com apresentações de Dora Altbir Drullinsky, diretora do Centro para el Desarrollo de la Nanociencia y la Nanotecnologia (Cedenna), e de Marcelo Knobel, professor titular do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (IF-Unicamp) e diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
Trata-se de uma área em que o Chile teria muito a ganhar com o desenvolvimento bem maior alcançado pelo Brasil. E a parceria já está, de certo modo, em curso, inclusive com a participação do próprio Knobel em iniciativas do Cedenna.
Knobel destacou o apoio dado pela FAPESP ao setor em São Paulo, com um total de 6.274 auxílios e bolsas concedidos. Nanociência e nanotecnologia são contemplados em cinco dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) mantidos pela FAPESP: Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica, Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais, Centro de Pesquisa em Alimentos, Centro de Engenharia e Ciências Computacionais e Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação em Vidros.
Além dos palestrantes e de outros pesquisadores, o workshop teve a participação do embaixador do Chile no Brasil, Jaime Gazmuri; do agregado científico do Chile no Brasil, Cesar Gatica; do coordenador do Ministério das Relações Exteriores do Chile, Claudio Rojas; do diretor executivo da Conicyt, Christian Nicolai; e da executiva de projetos da Conicyt, Andrea Cibotti. Pela FAPESP, participaram o diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo, Carlos Américo Pacheco; o diretor científico, Carlos Henrique de Brito Cruz; a assessora especial da Diretoria Científica, Marilda Solon Teixeira Bottesi; e a gerente de área para colaborações em pesquisa, Glenda Mezarobba.
Encerrando o workshop, Mezarobba lembrou que 103 chilenos receberam bolsa da FAPESP para estudar em São Paulo nos últimos 10 anos. A Fundação já mantém acordos de cooperação com a Universidad de Chile (UCH), a Universidad de la Frontera e a Universidad de Magallanes (UMAG). O intercâmbio deverá ser fortemente incrementado com a próxima assinatura de acordo de cooperação com a própria Conicyt.