segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Tchau, PT!, dio Blog do Noblat


Ricardo Noblat
A menos de uma semana da eleição de 463.374 vereadores e dos prefeitos de 5.568 municípios, o PT parece destinado a ter que recomeçar.
Fundado em 1980, cinco anos depois ele elegeu em Fortaleza seu primeiro prefeito de capital.
Nas eleições de 1988, emplacou os prefeitos de três capitais – São Paulo, Porto Alegre e Vitória.
Este ano, só elegerá no primeiro turno o prefeito de Rio Branco, no Acre.
Aquele que em dezembro de 2009 era o partido preferido por 25% dos brasileiros, em 2015 só contava com a preferência de 9% a 12% deles.
Foi atingido em cheio pelos resultados desastrosos de pouco mais de cinco anos de governo Dilma, pela pior recessão econômica desde os anos 30 do século passado, e pelo maior e mais barulhento escândalo de corrupção política da história do país.
O fundador do PT, presidente da República por oito anos, e uma vez apontado como “o cara” por Barack Obama, é réu em dois processos da Lava Jato e poderá ser condenado, tornando-se assim inelegível.
A mulher que ele elegeu e reelegeu para sucedê-lo foi impedida pelo Congresso de continuar no cargo. O partido corre o risco de perder o seu registro na Justiça.
Tão ou mais grave do que isso será para o PT continuar perdendo apoio popular. E a julgar pelo que indicam até aqui as pesquisas de intenção de voto em 24 capitais, é o que deverá acontecer tão logo se abram as urnas de domingo.
Em São Paulo, o prefeito Fernando Haddad, candidato à reeleição, não acredita mais em vitória. Ali, o segundo turno será disputado por João Dória (PSDB) e mais um.
No Rio, o segundo turno reunirá Marcelo Crivella (PRB) e mais um. O PT sequer lançou candidato próprio.
Ficará também de fora do segundo turno da eleição em Belo Horizonte onde seu candidato amarga 4% das intenções de voto. Fernando Pimentel (PT) governa Minas Gerais. E responde a processo por ter se beneficiado de dinheiro sujo para se eleger. Parte do dinheiro ajudou Dilma a reeleger-se.
O candidato do PT a prefeito de Porto Alegre liderou as pesquisas até há pouco. Foi ultrapassado pelo candidato do PMDB.
Nem candidato a prefeito tem o PT em Salvador. A Bahia é governada pelo PT. É também o Estado que conferiu a Dilma em 2014 uma expressiva vitória.
O candidato do PT a prefeito do Recife irá para o segundo turno contra o atual prefeito do PSB. Os demais se juntarão para derrotá-lo.
Foi para o Nordeste que o PT migrou quando seus votos começaram a escassear no resto do país. Pois bem: por lá, o PT só tem chances de eleger o prefeito de Teresina. O Piauí é governado pelo PT.
Em Fortaleza, a candidata do PT está em terceiro lugar. O PT não lançou candidatos a prefeito em Aracaju e São Luís. Seu candidato em Natal não passou ainda da marca dos 5% dos votos. Nem dos 2% em Maceió e em João Pessoa.
Até a semana passada, o PT imaginava eleger o prefeito de Porto Velho. Agora, não mais.
O Norte e o Centro-Oeste são gigantescas manchas sem um único ponto vermelho à exceção de Rio Branco, reduto dos irmãos Vianna, governador do Acre e senador.
Fora das capitais, o PT perde a eleição em Garanhuns, onde Lula nasceu, e em São Bernardo Campo, onde ele mora. Nos dois lugares, Lula não apareceu para pedir votos.
O maior partido de massas que a esquerda já construiu na América Latina está em liquidação.

A lenta recuperação do Tietê, Estadão

Não há muitos motivos para comemorar a redução de 11,5% da mancha de poluição do Rio Tietê entre 2015 e 2016. A melhora se deveu muito mais às chuvas do período – que ajudaram a diluir os remanescentes de esgotos lançados no rio e a poluição – do que a medidas de combate à poluição e resultou da comparação com o índice ruim do ano anterior, provocado pela crise hídrica que afetou o Estado. Além disso, o nível alcançado neste ano é muito pior do que o registrado entre 2013 e 2014.
A Fundação SOS Mata Atlântica constatou que o Tietê está praticamente morto em um trecho de 137 quilômetros, de Itaquaquecetuba até Cabreúva. Essa extensão da mancha anaeróbica – na qual, por causa da baixa presença de oxigênio, o índice de qualidade da água varia de ruim a péssima – é 17,7 km menor do que a constatada em 2015. Mas é quase o dobro da registrada em 2014, antes do período de estiagem, de 71 km (entre Guarulhos e Pirapora do Bom Jesus, no trecho em que o rio atravessa a região metropolitana), o melhor resultado da série. Ou seja, a mancha da poluição do Tietê continua a se estender pelo interior do Estado.
A avaliação da qualidade da água do Tietê é feita com a análise de amostras colhidas em 302 pontos distribuídos por 50 municípios de três bacias hidrográficas (formadas pelo Alto e Médio Tietê, pelos Rios Sorocaba e Piracicaba e pelos Rios Capivari e Jundiaí) e 94 corpos d’água.
A primeira avaliação – feita em 1993, pouco depois de lançado o Projeto Tietê, de recuperação do rio – constatou que a mancha de poluição do rio se estendia por 530 km, de Mogi das Cruzes, a poucos quilômetros da nascente (no município de Salesópolis), até o reservatório de Barra Bonita, na região central do Estado de São Paulo. No fim de 2010, concluída a segunda etapa do Projeto Tietê, a mancha tinha se reduzido para 243 km, de Suzano a Porto Feliz. Apesar dos avanços, os resultados continuam tímidos quase um quarto de século depois do início do projeto de despoluição do rio.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), responsável por boa parte do projeto, observou que, como programado, hoje 87% do esgoto domiciliar da Grande São Paulo está sendo coletado e 68% é tratado antes de seu lançamento final nos cursos d’água. Além da extensão da rede de coleta domiciliar e de coletores troncos de esgoto, o programa de saneamento básico da empresa inclui também a ampliação da capacidade de tratamento. Com sua expansão, que deve ser concluída no ano que vem, a Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri poderá atender 7,5 milhões de pessoas.
O que o monitoramento da qualidade da água do Tietê pela Fundação SOS Mata Atlântica deixa evidente é que, indispensáveis para recuperar o Tietê, as obras de coleta e tratamento de esgotos não bastam para eliminar os pontos em que a água do rio é considerada ruim ou péssima. Para alcançar a despoluição do Tietê, será necessário também investir em restauração florestal nas suas margens e nas de seus afluentes, sobretudo na Região Metropolitana de São Paulo.
Isso envolve a legislação sobre uso do solo no entorno do rio, como lembrou a coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro. Ela observou que houve ocupação desordenada em toda a faixa entre as Rodovias Fernão Dias e Ayrton Senna. A qualidade das águas da Represa Billings foi afetada pelas ocupações em seu entorno.
Detectou-se também piora da qualidade da água na zona leste da capital e em Guarulhos, que tem sistema próprio de saneamento básico. Isso indica que, além dos órgãos estaduais que tratam da questão ambiental, também os órgãos dos municípios banhados pelo Tietê precisam atuar de maneira efetiva para recuperar o rio.
A lenta evolução da despoluição do Tietê, prejudicada pela crise hídrica, indica que, no ritmo com que são feitos os investimentos, nem nos próximos 20 anos o rio poderá ser considerado limpo. Até lá, terão se passado mais de 40 anos desde o início do Projeto Tietê.

Produção da agricultura paulista aumenta em mais de 90% nas últimas duas décadas, da Fapesp


26 de setembro de 2016

Elton Alisson e José Tadeu Arantes  |  Agência FAPESP – A produção da agricultura paulista aumentou 90,4% entre 1990 e 2012, registrando uma taxa de crescimento médio anual de 3,1%.
Alguns dos fatores que contribuíram para esse aumento da produção do setor no período foram os investimentos em pesquisa na área de Ciências Agrárias feitos por instituições como a FAPESP – que permitiram elevar a produtividade por hectare das lavouras –, além da expansão da mecanização e a concentração na produção de commodities, como a cana-de-açúcar e a laranja.
As constatações foram feitas durante o estudo “Contribuição da FAPESP ao desenvolvimento da agricultura no Estado de São Paulo, apoiado pela Fundação.
“Nosso levantamento mostrou uma agricultura paulista mais eficiente do que a do resto do país, na qual menos trabalhadores produzem mais valor”, disse Maria Auxiliadora de Carvalho, pesquisadora aposentada do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e uma das autoras do estudo, à Agência FAPESP.
A pesquisadora fez durante o estudo uma análise da evolução recente da agricultura paulista, baseada em dados de Censos Agropecuários, de Pesquisas de Produção Agrícola Municipal e das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílio (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Participando com 11,7% no total de áreas plantadas das lavouras no Brasil, São Paulo contribuiu com 18% do valor total da produção agrícola do país no triênio de 2010 a 2012, destacou Carvalho. “Isso evidencia a alta produtividade da agropecuária paulista”, afirmou.
Redução de trabalhadores
Uma das constatações da análise foi que o número de estabelecimentos rurais no Estado de São Paulo diminuiu cerca de 30% entre o Censo Agropecuário de 1970 e o de 2006, passando de 327 mil para 228 mil unidades.
De acordo com a pesquisadora, no período, a área média dos estabelecimentos rurais em São Paulo subiu de 62,5 para 74,5 hectares, indicando uma tendência de concentração da propriedade da terra.
Tal transformação foi acompanhada pela redução do pessoal ocupado na agricultura paulista.
A população rural paulista, que era de 4,8 milhões em 1960, caiu para cerca de 1,7 milhão em 2010 – correspondente a 4,1% da população total do Estado de São Paulo e a 5,6% da população rural brasileira.
“Em um contexto social mais amplo, a diminuição do número de trabalhadores na agricultura inseriu-se no processo de deslocamento da população de origem rural para os centros urbanos”, avaliou Carvalho.
A redução do pessoal ocupado não teve reflexo negativo sobre a produção e a produtividade. “Trata-se de uma tendência considerada ‘normal’ nas regiões desenvolvidas, nas quais menos pessoas produzem mais, devido ao aporte de tecnologia”, explicou Carvalho. O Estado de São Paulo contribuiu com 11,3% do valor adicionado aos preços básicos da agropecuária brasileira em 2010, apontou o estudo.
A queda no número de trabalhadores rurais no Estado de São Paulo foi precedida pelo aumento da mecanização nas lavouras paulistas, indicou o estudo.
O número de tratores, que era de 67 mil em 1970, ultrapassou 170 mil no censo de 1995-96. Depois diminuiu, para totalizar 145 mil em 2006 – número que corresponde a 2,2 vezes o total existente em 1970.
Os ganhos de produtividade do setor e o declínio da população rural paulista foram acompanhados pelo crescimento da renda per capita rural em São Paulo nos últimos anos, apontam os pesquisadores.
No triênio de 1995 a 1997, por exemplo, a renda per capita rural paulista, bem como a brasileira, equivalia a 21% da urbana.
Já no triênio de 2000 a 2002, a renda per capita rural em São Paulo passou a equivaler a 42% da urbana, enquanto que a do Brasil era de 33%.
Entre 2010 e 2012 essa diferença tornou-se ainda maior, uma vez que a renda per capita rural brasileira caiu para 31,4% da urbana, enquanto em São Paulo evoluiu para 53%, comparam os pesquisadores.
“Essas mudanças sugerem uma forte redução da diferença entre a renda das pessoas no meio rural paulista e os ganhos dos trabalhadores no meio industrial-urbano”, afirmou Paulo Cidade, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e coordenador do estudo.
Agricultura concentrada
Segundo os pesquisadores, uma característica peculiar da agricultura paulista é a alta concentração. Apenas 25 produtos responderam por 99,2% do valor da produção agrícola paulista entre 2010 e 2012.
A cana-de-açúcar contribuiu com 59,3%, seguida pela laranja, com 12,6% de participação – o que significa que apenas esses dois produtos responderam por mais de 70% do valor da produção agrícola paulista no triênio de 2010 a 2012.
“Há que se considerar, porém, que essas estatísticas englobam as grandes lavouras. Se incluíssem também floricultura, horticultura e algumas frutíferas, o grau de concentração seria menor, pois são culturas relevantes nas proximidades dos grandes centros urbanos”, ressalvou Carvalho.
O Estado de São Paulo é o principal produtor nacional de cana-de-açúcar e laranja, contribuindo, respectivamente, com 58% e 76,2% da produção brasileira dessas duas commodities agrícolas.
A liderança paulista, contudo, não se limita a esses dois produtos, ponderam os pesquisadores.
Dos 25 produtos mais importantes da agricultura paulista, São Paulo é o primeiro produtor nacional de nove deles – além da cana e da laranja, também de banana, tomate, borracha, limão, amendoim, tangerina e caqui –, o segundo maior produtor brasileiro de pêssego, palmito e abacaxi e o terceiro maior na produção de café, uva, batata-inglesa e manga.
“A especialização da agricultura paulista em alguns produtos agrícolas não foi tão prejudicial e exagerada como muitas pessoas imaginam e possibilitou que o setor aumentasse sua produtividade”, avaliou Cidade.
“E esse aumento de produtividade só foi possível em razão de fatores como investimentos públicos no setor e, principalmente, a pesquisa, inovação tecnológica, extensão rural e a qualificação dos recursos humanos”, apontou.
Pobre e atrasado durante todo o período colonial e na fase inicial do período monárquico, São Paulo emergiu da miséria à opulência no Segundo Reinado, graças a um único produto agrícola, o café.
Nas primeiras décadas do século XX, já no período republicano, o Estado de São Paulo respondia por quase a metade de todo o café comercializado no mundo.
A crise mundial, que teve seu momento icônico no crash da Bolsa de Nova York, em 1929, acarretou a drástica redução da demanda internacional pelo café, forçando, nos anos subsequentes, a transferência de capitais da cafeicultura para a indústria, bem como a maior diversificação da agricultura paulista.
Com sua indústria pujante, o Estado de São Paulo liderou o desenvolvimento brasileiro, chegando a responder por 40% do PIB nacional em meados da década de 1970.
Depois, principalmente devido à redução relativa da atividade industrial, sua participação no PIB declinou, até chegar, em 2012, a 31%. Dessa participação total, 73,1% foram providos pelo setor de serviços; 25%, pela indústria; e 1,9%, pela agropecuária, apontou o estudo.

Leia mais sobre a pesquisa "Contribuição da FAPESP ao desenvolvimento da Agricultura no Estado de São Paulo": agencia.fapesp.br/23878