Não há muitos motivos para comemorar a redução de 11,5% da mancha de poluição do Rio Tietê entre 2015 e 2016. A melhora se deveu muito mais às chuvas do período – que ajudaram a diluir os remanescentes de esgotos lançados no rio e a poluição – do que a medidas de combate à poluição e resultou da comparação com o índice ruim do ano anterior, provocado pela crise hídrica que afetou o Estado. Além disso, o nível alcançado neste ano é muito pior do que o registrado entre 2013 e 2014.
A Fundação SOS Mata Atlântica constatou que o Tietê está praticamente morto em um trecho de 137 quilômetros, de Itaquaquecetuba até Cabreúva. Essa extensão da mancha anaeróbica – na qual, por causa da baixa presença de oxigênio, o índice de qualidade da água varia de ruim a péssima – é 17,7 km menor do que a constatada em 2015. Mas é quase o dobro da registrada em 2014, antes do período de estiagem, de 71 km (entre Guarulhos e Pirapora do Bom Jesus, no trecho em que o rio atravessa a região metropolitana), o melhor resultado da série. Ou seja, a mancha da poluição do Tietê continua a se estender pelo interior do Estado.
A avaliação da qualidade da água do Tietê é feita com a análise de amostras colhidas em 302 pontos distribuídos por 50 municípios de três bacias hidrográficas (formadas pelo Alto e Médio Tietê, pelos Rios Sorocaba e Piracicaba e pelos Rios Capivari e Jundiaí) e 94 corpos d’água.
A primeira avaliação – feita em 1993, pouco depois de lançado o Projeto Tietê, de recuperação do rio – constatou que a mancha de poluição do rio se estendia por 530 km, de Mogi das Cruzes, a poucos quilômetros da nascente (no município de Salesópolis), até o reservatório de Barra Bonita, na região central do Estado de São Paulo. No fim de 2010, concluída a segunda etapa do Projeto Tietê, a mancha tinha se reduzido para 243 km, de Suzano a Porto Feliz. Apesar dos avanços, os resultados continuam tímidos quase um quarto de século depois do início do projeto de despoluição do rio.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), responsável por boa parte do projeto, observou que, como programado, hoje 87% do esgoto domiciliar da Grande São Paulo está sendo coletado e 68% é tratado antes de seu lançamento final nos cursos d’água. Além da extensão da rede de coleta domiciliar e de coletores troncos de esgoto, o programa de saneamento básico da empresa inclui também a ampliação da capacidade de tratamento. Com sua expansão, que deve ser concluída no ano que vem, a Estação de Tratamento de Esgotos de Barueri poderá atender 7,5 milhões de pessoas.
O que o monitoramento da qualidade da água do Tietê pela Fundação SOS Mata Atlântica deixa evidente é que, indispensáveis para recuperar o Tietê, as obras de coleta e tratamento de esgotos não bastam para eliminar os pontos em que a água do rio é considerada ruim ou péssima. Para alcançar a despoluição do Tietê, será necessário também investir em restauração florestal nas suas margens e nas de seus afluentes, sobretudo na Região Metropolitana de São Paulo.
Isso envolve a legislação sobre uso do solo no entorno do rio, como lembrou a coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro. Ela observou que houve ocupação desordenada em toda a faixa entre as Rodovias Fernão Dias e Ayrton Senna. A qualidade das águas da Represa Billings foi afetada pelas ocupações em seu entorno.
Detectou-se também piora da qualidade da água na zona leste da capital e em Guarulhos, que tem sistema próprio de saneamento básico. Isso indica que, além dos órgãos estaduais que tratam da questão ambiental, também os órgãos dos municípios banhados pelo Tietê precisam atuar de maneira efetiva para recuperar o rio.
A lenta evolução da despoluição do Tietê, prejudicada pela crise hídrica, indica que, no ritmo com que são feitos os investimentos, nem nos próximos 20 anos o rio poderá ser considerado limpo. Até lá, terão se passado mais de 40 anos desde o início do Projeto Tietê.
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