A última fábrica de lâmpadas tradicionais do Brasil fechou as portas na semana passada. A alemã Osram, que está em meio a um processo de reestruturação global, encerrou na sexta-feira a produção de lâmpadas incandescentes, fluorescentes e de vapor de sódio em Osasco (SP), que já foi um dos maiores complexos da indústria no país. Agora, apenas os funcionários das áreas de vendas, administrativa e de suporte permaneceram na operação brasileira, para dar assistência à marca na região.
A Osram foi também a última, entre as grandes do setor, a abandonar a produção local, que foi substituída por importações. Em 2009, a GE fechou as portas da fábrica de lâmpadas incandescentes do Rio de Janeiro. A Sylvania, cujo controle acaba de ser comprado pela Feilo Acoustic, de Xangai, também deixou de produzir e passou a importar o produto da China. No ano seguinte, a Philips anunciou o encerramento das atividades na fábrica de Mauá (SP).
Esse declínio da indústria no país, que hoje é formada por montadores de lâmpadas de LED (do inglês Light Emitter Diode) e fabricantes de luminárias com LED incorporado, foi influenciado pela demanda crescente por lâmpadas de menor consumo de energia. Mudanças na legislação, decorrentes de recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU) dentro de seu programa ambiental, aceleraram esse processo.
No fim dos anos 2000, a grande concorrência às lâmpadas incandescentes vinha das compactas fluorescentes (CFL), que são produzidas principalmente na Ásia. Cada vez mais, porém, as lâmpadas de LED tendem a ficar com uma parcela maior do mercado.
“Essa transformação tem ocorrido porque as lâmpadas de LED têm grandes vantagens sobre as tradicionais, como maior eficiência, maior vida, não levar metais pesados, permitir a regulagem completa de luz”, enumera Isac Roizenblatt, diretor técnico da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux). Além da transformação tecnológica e da concorrência com os asiáticos, diz Roizenblatt, contribuiu para o fim da produção local o processo de retirada das lâmpadas incandescentes do mercado, iniciado em 2010 e que se completa em 1º de julho, conforme previsto em lei.
No ano passado, de acordo com a Abilux, o consumo de lâmpadas de LED no país foi de 80 milhões de unidades, com crescimento estimado de 30% para 2016. Essa alta, a despeito da perspectiva de encolhimento de 7% da indústria de iluminação, será impulsionada pelo avanço do LED no mercado dos demais tipos de lâmpadas.
Em 2015, o consumo de lâmpadas halógenas foi de 80 milhões de toneladas, atrás das CFL (250 milhões de unidades) e da fluorescente tubular (100 milhões). Lâmpadas de vapor de sódio e metálico responderam por outras 10 milhões de unidades. “Todas com perspectiva de queda em 2016″, diz o diretor da Abilux.
Em nota, a Osram confirma que, “devido a uma mudança estrutural no mercado que está se deslocando do negócio tradicional de iluminação para um novo modelo focado em produtos de iluminação mais econômicos com base LED”, foi preciso adotar novo posicionamento estratégico. “Essa estratégia inclui, entre outras, o realinhamento da companhia por meio da estruturação do negócio de lâmpadas como uma companhia independente e o início de iniciativas de inovação com base em tecnologias de base LED”, acrescenta.
Mundialmente, a companhia, que já foi parte da Siemens, está separando juridicamente a área de lâmpadas dos demais negócios.
A queda das vendas no mercado de iluminação tradicional, segue, teve impacto nas unidades produtivas, “que precisam refletir a demanda atual e futura de produtos”. “A decisão de encerrar esta operação [de Osasco] é um passo difícil mas necessário para focar nossos recursos em atender as necessidades do mercado e garantir um futuro necessário”, acrescenta.
De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, dos 240 funcionários da fábrica, 160 foram demitidos. Os demais foram transferidos para setores que continuarão em funcionamento, como o de logística, para manter o abastecimento do mercado brasileiro com lâmpadas de LED importadas.
Na última quarta-feira, trabalhadores da unidade aprovaram um pacote de benefícios negociado com o sindicato. Segundo o sindicato, a Osram estava instalada há 61 anos em Osasco, como uma das principais fabricantes de lâmpadas do país. “O fechamento da fábrica foi uma opção da empresa, que concluiu pela inviabilidade da fabricação de lâmpadas leds na unidade, preferindo importar este e outros tipos de lâmpadas”, diz.
Para Roizenblatt, da Abilux, há margem para que novas empresas importem o chip de LED e montem lâmpadas no país. Mas é improvável que o chip em si, hoje produzido sobretudo na China, tenha produção local. “Fazer o chip mesmo dificilmente vai acontecer, porque o Brasil perdeu o bonde da história ao não elaborar uma política industrial para iluminação”, afirma. [Fonte: Valor Econômico]