quinta-feira, 12 de maio de 2016

Portos do Norte firmam-se como opção




 - Atualizado: 12 Maio 2016 | 05h 01

Arco Norte já concentra cerca de 20% das exportações de soja do País


Do município de Barcarena, no Pará, saem navios carregados com toneladas de soja rumo à África, Ásia e Europa, em uma operação quase silenciosa. O Porto de Vila do Conde, na cidade, em nada lembra a balbúrdia dos portos brasileiros. A calmaria que a reportagem do Broadcast Agro observou no local, em meados de abril, é reflexo de uma série de fatores, como a forte mecanização, o transporte fluvial, com comboios de barcaça, e o atraso na colheita da soja. 
Se estendendo de Rondônia até a Bahia, a nova rota de escoamento da produção agrícola tem seus principais portos e investimentos no Pará, firmando-se como opção viável aos tradicionais terminais do Sul e Sudeste, que ainda embarcam 80% da soja. Somente no ano passado, as exportações totais pelo chamado Arco Norte foram de 20 milhões de toneladas, 54% superiores às de 2014, segundo o Ministério da Agricultura. Para 2016, a previsão é de novo crescimento, mas não sem um atraso nos embarques. O tempo seco no Centro-Oeste no segundo semestre de 2015 atrasou o plantio, e a chuva, em fevereiro, prejudicou a colheita e o transporte de soja pela BR-163, principal eixo rodoviário do Arco Norte. 



 
 


A atratividade do escoamento pela região – o custo mais barato em relação aos Portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) – só não é maior justamente porque as ligações entre as áreas produtoras e terminais nos rios amazônicos apresentam graves deficiências. A BR-163 tem mais de 200 km sem pavimentação. Já o projeto da Ferrogrão, elaborado por tradings e que prevê ferrovia de 1 mil km entre o médio-norte de Mato Grosso e Miritituba, distrito de Itaituba no sudoeste do Pará, às margens do Rio Tapajós, ainda não saiu do papel, apesar de promessas do governo federal. 
Solucionados esses entraves, a expansão na movimentação de grãos pelo Arco Norte pode ser ainda maior. Com todos os investimentos que vêm sendo feitos na região, 20% da soja exportada pelo Brasil passa por ali. Mas a estimativa é de que toda a produção de soja e milho de regiões acima do paralelo 16, que passa pelo Mato Grosso, possa ser escoada pelo Arco Norte com maior vantagem competitiva à medida que investimentos em áreas públicas e privadas se concretizarem, segundo o consultor em infraestrutura e logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet. Esta produção, em 2014, representou 57,9% da safra nacional dos dois grãos. 
Custo. Mesmo com as dificuldades e eventuais atrasos no transporte, pelas estimativas do governo do Pará, Estado que concentra o maior número de portos da região, o custo logístico para o produtor do Centro-Oeste exportar por Vila do Conde, em Barcarena, ou Santarém é de US$ 20 a US$ 30 por tonelada menor do que enviar a produção para Santos e Paranaguá. De olho nesses cálculos, as principais tradings com operações no País estão investindo na região há pelo menos três anos. Por ali, elas teriam, também, uma rota mais curta para chegar ao canal do Panamá e, de lá, até o principal comprador da oleaginosa brasileira, a China.
Miritituba tornou-se um grande polo de Estações de Transbordo de Cargas (ETCs), nas quais toda a carga que chega do Centro-Oeste por caminhões é transferida para barcaças que rumam em comboios por rio para os portos do Norte. Lá, a Cargill finaliza sua própria ETC e a Bunge já conta com estação em atividade. ADM e Glencore utilizam os serviços da Transportes Bertolini, enquanto Multigrain, Cofco Agri e Nidera fazem os grãos chegarem a Barcarena por meio da empresa de logística Hidrovias do Brasil. 
A Amaggi também escoa parte de sua produção pelo Pará, por meio de parceria com a Bunge, e a Louis Dreyfus Commodities tem interesse em instalar estruturas próprias para movimentação de grãos em Barcarena e em Rurópolis. Para chegar a Miritituba, porém, a carga proveniente do Centro-Oeste precisa percorrer um longo caminho pelas rodovias 163 e 230 (a chamada Transamazônica), ambas com diversos trechos sem pavimentação. 


Portos do Norte firmam-se como opção, Estadão


 - Atualizado: 12 Maio 2016 | 05h 01

Arco Norte já concentra cerca de 20% das exportações de soja do País


Do município de Barcarena, no Pará, saem navios carregados com toneladas de soja rumo à África, Ásia e Europa, em uma operação quase silenciosa. O Porto de Vila do Conde, na cidade, em nada lembra a balbúrdia dos portos brasileiros. A calmaria que a reportagem do Broadcast Agro observou no local, em meados de abril, é reflexo de uma série de fatores, como a forte mecanização, o transporte fluvial, com comboios de barcaça, e o atraso na colheita da soja. 
Se estendendo de Rondônia até a Bahia, a nova rota de escoamento da produção agrícola tem seus principais portos e investimentos no Pará, firmando-se como opção viável aos tradicionais terminais do Sul e Sudeste, que ainda embarcam 80% da soja. Somente no ano passado, as exportações totais pelo chamado Arco Norte foram de 20 milhões de toneladas, 54% superiores às de 2014, segundo o Ministério da Agricultura. Para 2016, a previsão é de novo crescimento, mas não sem um atraso nos embarques. O tempo seco no Centro-Oeste no segundo semestre de 2015 atrasou o plantio, e a chuva, em fevereiro, prejudicou a colheita e o transporte de soja pela BR-163, principal eixo rodoviário do Arco Norte. 

 
 


A atratividade do escoamento pela região – o custo mais barato em relação aos Portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) – só não é maior justamente porque as ligações entre as áreas produtoras e terminais nos rios amazônicos apresentam graves deficiências. A BR-163 tem mais de 200 km sem pavimentação. Já o projeto da Ferrogrão, elaborado por tradings e que prevê ferrovia de 1 mil km entre o médio-norte de Mato Grosso e Miritituba, distrito de Itaituba no sudoeste do Pará, às margens do Rio Tapajós, ainda não saiu do papel, apesar de promessas do governo federal. 
Solucionados esses entraves, a expansão na movimentação de grãos pelo Arco Norte pode ser ainda maior. Com todos os investimentos que vêm sendo feitos na região, 20% da soja exportada pelo Brasil passa por ali. Mas a estimativa é de que toda a produção de soja e milho de regiões acima do paralelo 16, que passa pelo Mato Grosso, possa ser escoada pelo Arco Norte com maior vantagem competitiva à medida que investimentos em áreas públicas e privadas se concretizarem, segundo o consultor em infraestrutura e logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet. Esta produção, em 2014, representou 57,9% da safra nacional dos dois grãos. 
Custo. Mesmo com as dificuldades e eventuais atrasos no transporte, pelas estimativas do governo do Pará, Estado que concentra o maior número de portos da região, o custo logístico para o produtor do Centro-Oeste exportar por Vila do Conde, em Barcarena, ou Santarém é de US$ 20 a US$ 30 por tonelada menor do que enviar a produção para Santos e Paranaguá. De olho nesses cálculos, as principais tradings com operações no País estão investindo na região há pelo menos três anos. Por ali, elas teriam, também, uma rota mais curta para chegar ao canal do Panamá e, de lá, até o principal comprador da oleaginosa brasileira, a China.
Miritituba tornou-se um grande polo de Estações de Transbordo de Cargas (ETCs), nas quais toda a carga que chega do Centro-Oeste por caminhões é transferida para barcaças que rumam em comboios por rio para os portos do Norte. Lá, a Cargill finaliza sua própria ETC e a Bunge já conta com estação em atividade. ADM e Glencore utilizam os serviços da Transportes Bertolini, enquanto Multigrain, Cofco Agri e Nidera fazem os grãos chegarem a Barcarena por meio da empresa de logística Hidrovias do Brasil. 
A Amaggi também escoa parte de sua produção pelo Pará, por meio de parceria com a Bunge, e a Louis Dreyfus Commodities tem interesse em instalar estruturas próprias para movimentação de grãos em Barcarena e em Rurópolis. Para chegar a Miritituba, porém, a carga proveniente do Centro-Oeste precisa percorrer um longo caminho pelas rodovias 163 e 230 (a chamada Transamazônica), ambas com diversos trechos sem pavimentação. 


Não vai ter volta, José Henrique Mariante FSP


SÃO PAULO - Para a geração que não viveu 1964 e os anos mais duros da ditadura, o que vivemos nestes dias certamente é o fundo do poço, apesar de o país a cada minuto se esforçar em cavar mais. Para essa turma, principalmente aos que resistiram à tentação de se colocar nos extremos do bate-boca, o momento é muito tenso. Um Henrique Meirelles não faz verão, o futuro é incerto.
A lembrança pré-jornalismo, adolescente e inexata, não volta ao impedimento anterior, do presidente que todos achavam boçal, afastado de lavada pelo Congresso. A memória pula direto para o segundo turno de 1989, discussões intermináveis e descrições do fim do mundo; para a insegurança econômica dos anos Sarney, quando se discutia ministro da Fazenda como técnico da seleção; para as greves do ABC e a sensação esquisita de não saber exatamente o que acontecia ao redor.
Talvez sejam apenas lembranças comportadas de quem viveu muito tempo no fundo de outro poço, o da crise dos anos 80. Talvez os que tenham vivido o pesadelo anterior até as percebam com desprezo. E talvez por isso o inconfessável, a geração do buraco tem mais medo de voltar ao buraco que de golpe.
Dilma Rousseff não cai pelas pedaladas, óbvio. Fosse esse seu crime, de fato o afastamento seria um golpe. Cai por ser a beneficiária final de um esquema corrupto de poder, certamente não o único, mas o primeiro a ser destampado de verdade pela Justiça —até aqui de modo didático, com gente na cadeia, bilhões devolvidos. A presidente cai porque piorou uma crise econômica sem precedentes para se manter no poder.
A geração do buraco não será menos intolerante com o novo governo. E terá ao seu lado a do golpe, que se prepara para voltar irresponsável à oposição. Deputados, senador e um presidente já rodaram. Exigir e conseguir novas cabeças é factível.
O governo que entra precisa ser rápido. Se demorar a mostrar serviço, no país já existe um novo normal.