quinta-feira, 12 de maio de 2016

PERFIL DILMA ROUSSEFF: O PREÇO DA FALTA DE JOGO DE CINTURA, Oesp


Na Presidência, ela reforçou comportamento centralizador e autossuficiente, distante do Congresso

Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
BRASÍLIA - A distância mantida por Dilma Rousseff em relação a setores desgastados do Congresso foi uma tentativa da presidente de deixar uma marca durante sua passagem pelo Planalto e, ao mesmo tempo, uma das razões de seu drama político. O estilo insular da primeira mulher a ocupar a Presidência da República – somado à fama de gestora eficiente e que combatia a corrupção – garantiu índices elevados de popularidade nos primeiros anos de mandato, mas depois resultou no derretimento da coalizão de partidos aliados e de sua capacidade de sobreviver às crises econômica e política.
Em cinco anos e quatro meses de poder, Dilma fez desse distanciamento uma característica de quase todas as suas relações como presidente. Uma queixa inclusive do PT antes mesmo de ela comandar pela primeira vez o País. Foi o PMDB, no entanto, o partido que deixou mais claro o desconforto pelo comportamento centralizador e autossuficiente, visto por muitos como prepotência. Em 2008, os deputados peemedebistas Michel Temer (SP), Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN) procuraram a então ministra-chefe da Casa Civil. No encontro, Alves lhe ofereceu um bambolê. O presente inusitado era uma crítica à falta de “jogo de cintura” da ministra em liberar cargos no setor elétrico. A gargalhada solta por Dilma não deixou clara a postura que adotaria no comando do Executivo, três anos depois. Naquela época, a relação com o PMDB não preocupava a futura candidata indicada ao posto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vivia o auge de sua popularidade.
Nas conversas com aliados, Dilma nunca escondeu que enxergava o exercício do poder como um peso e não um prazer. A Presidência era uma missão recebida. Mas a necessidade de iniciar um governo que tivesse características próprias ficou evidenciada dias antes de Lula lhe entregar a faixa. Dilma saiu em defesa da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada ao apedrejamento. A manifestação ia além de uma postura contrária à prática medieval de assassinar mulheres. A presidente eleita rejeitava em público a política externa do antecessor, que costurava negócios de mineradoras com regimes de violações de direitos humanos. Nas semanas seguintes, Dilma surgia como uma presidente técnica, que fugia dos extremismos e recebia para jantar até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Dilma Rousseff
Na festa de 31 anos do PT, dois meses depois da primeira posse de Dilma, Lula discursou para negar que estava com ciúmes da sucessora e reclamar que a imprensa tentava distinguir o governo dela do projeto petista. “O sucesso de Dilma é o meu sucesso, o fracasso de Dilma é o meu fracasso”, esbravejou. Ele levou para a festa o ex-ministro José Dirceu e outros envolvidos no mensalão. Lula sugeriu que o PT não daria apoio para um possível desejo de Dilma de impor uma marca própria e afirmava que a presidente lhe seria fiel. “Essa gente metida a formadora de opinião pública não entende nada de psicologia. Minha relação com Dilma é indissociável”, disse. A presidente, por sua vez, tentava vender a mesma imagem de união umbilical entre criador e criatura: “Não adianta, ninguém vai me indispor com Lula e é por isso que digo que ele pode falar o que quiser”. Mas a realidade era distante dos discursos. Em muitas ocasiões, ela também se afastava de Lula.
Faxina. Em menos de dois anos de governo, Dilma perdeu sete ministros por corrupção, muitos demitidos em meio à pressão. Mas a chamada “faxina” só reforçou a imagem da presidente. Ela chegou a aprovação pessoal de 78% na pesquisa do Ibope. A limpeza no governo, porém, causou sangria interna na coalizão liderada por PT e PMDB. Wagner Rossi, ministro da Agricultura indicado pelo agora vice-presidente Michel Temer, foi demitido em meio à acusação da Polícia Federal de que liderava uma organização criminosa. Alfredo Nascimento, dos Transportes (hoje, deputado federal pelo PR, do Amazonas), e Luiz Antonio Pagot, diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit), ligado ao senador Blairo Maggi (PP-MT), caíram sob suspeita de esquemas no setor rodoviário. A faxina chegou à Conab. O presidente do órgão, Evangevaldo Moreira dos Santos, irmão do deputado Jovair Arantes (PTB-GO), saiu disparando contra Temer. Mais tarde, Arantes foi o relator da proposta de admissibilidade do impeachment de Dilma na Câmara. O governo sofreu impacto maior nas demissões dos ministros Antonio Palocci, da Casa Civil, sob suspeita de aumento ilegal do patrimônio, e Nelson Jobim, da Defesa, por críticas a colegas.
A decisão de Dilma de desmontar esquemas do PR, PT e PMDB nos Transportes resultou em melhoria nas pesquisas e, ao mesmo tempo, no problema de uma máquina de obras que deixava de funcionar. O PAC começou a desandar. A presidente foi criticada ainda por não ter jogo de cintura na relação com as empreiteiras, protagonistas desde o governo de Juscelino Kubitschek.
Lula deixou o Palácio do Planalto em 2010 como novo “pai dos pobres”. Dilma, formada no brizolismo, encarnou a “mãe dos pobres”, personagem que Lula lhe deu, mas ignorou que a realidade econômica do País mudou. A presidente adotou políticas populistas, segurando o preço da gasolina e da energia, além de manter os gastos públicos em patamares insustentáveis. Sua aprovação pessoal atingiu 79% em março de 2013, outro recorde. Mas metade desse porcentual se perdeu em junho e julho daquele ano, quando protestos contra o aumento da tarifa de ônibus e metrô em São Paulo – de R$ 3 para R$ 3,20 –, concedido pelo prefeito Fernando Haddad (PT), e a repressão violenta da polícia sob o controle do governador Geraldo Alckmin (PSDB) foram o estopim de manifestações que se alastraram pelo País em uma espécie de catarse nacional.
Num curto espaço de tempo, a gestora eficiente atraiu a ira das ruas. Quando Haddad e Alckmin anunciaram, no Palácio Bandeirantes, que a passagem voltaria ao preço anterior, milhares de pessoas continuaram nas ruas para pedir mudanças na qualidade dos serviços públicos e criticar a realização da Copa do Mundo.
Dilma não recuperou mais os índices de popularidade. Ela só tinha 34% de aprovação quando foi deflagrada a Operação Lava Jato, que jogou no colo do governo a corrupção na Petrobrás, estatal que teve a então ministra da Casa Civil como presidente do Conselho Administrativo. Os defensores do impeachment não apontaram sinais de enriquecimento ilícito de Dilma, mas destacavam que o projeto dela era o de Lula e do PT. As decisões do juiz Sérgio Moro e as ações da força-tarefa de procuradores e agentes federais da Lava Jato minariam tentativas da presidente de se desvencilhar da crise política e econômica.
Na campanha para o segundo mandato, Dilma fez mais promessas nas áreas social e econômica do que o já deficitário Orçamento permitiria. Antes mesmo da sua segunda posse, o discurso do Planalto mudou e a presidente foi acusada pela oposição de ter cometido “estelionato eleitoral”, algo que acabou sendo admitido pelo próprio Lula. Em outubro de 2015, um ano depois da reeleição, durante reunião do Diretório Nacional do PT em Brasília, Lula afirmou: “Tivemos um problema político sério, porque ganhamos a eleição com um discurso e depois das eleições tivemos que mudar o nosso discurso e fazer aquilo que a gente dizia que não ia fazer”.
A Operação Lava Jato não foi o argumento oficial da peça do impeachment de Dilma aprovada pela Câmara, mas a decisão da presidente de usar recursos de bancos oficiais para equilibrar o rombo das contas – as pedaladas fiscais. A área que a diplomou – ela é formada em economia – foi justamente o motivo de sua impopularidade.
Com o aumento de problemas no setor de infraestrutura e da política fiscal, Dilma não contava nem mesmo com a máquina de claques montada por Lula. No começo de seu governo, a presidente isolou a equipe que organizava solenidades no Planalto e nas cidades dos grotões, deixada pelo ex-ministro da Secretaria-Geral Luiz Dulci. O sucessor de Dulci no cargo, Gilberto Carvalho, amigo pessoal de Lula, foi afastado depois. Nada de MST e CUT no Salão Nobre do Planalto e no gramado do Alvorada. Durante seu governo, a presidente evitou a pauta de temas tradicionais de movimentos de esquerda, como a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, a aplicação de investimentos mais robustos na educação e a melhoria da saúde. No campo, ela manteve a aliança com o agronegócio construída por Lula. Os ruralistas, porém, deixaram a aliança em 2016 e apoiaram o impeachment. Por ironia do destino, a claque sempre muito explorada por Lula foi a que se fez presente no apoio nas ruas nestes momentos finais de seu governo.
12 dias. A fase mais crítica e decisiva que selou a sorte da presidente começou em 4 de março deste ano, quando Lula foi conduzido de forma coercitiva para depor na Polícia Federal, e terminou 12 dias depois, em 16 do mesmo mês, data em que o ex-presidente tomou posse no cargo de ministro-chefe da Casa Civil. Logo após o anúncio de que Lula entraria para o governo, Sérgio Moro divulgou áudios de telefonemas dos dois. Trechos desses áudios foram avaliados como conversas de Lula sobre uma suposta estratégia de ganhar foro privilegiado com a posse. O homem que conquistou multidões trazia a crise ainda mais para dentro do Planalto. Esse episódio abalou tanto a presidente que, no fim de semana seguinte, ela pegou o avião presidencial e foi buscar conforto na família, em Porto Alegre.
Mesmo com mais de 60% de rejeição nas pesquisas, Dilma não deixou de, praticamente todas as manhãs, pegar sua bicicleta e pedalar nas pistas próximas ao Palácio da Alvorada, por cerca de uma hora. “Isso me revigora”, confidenciou ela. Disciplinada, apesar das angústias e percalços, manteve sob rígido controle o peso e a saúde, evitando até mesmo uso de remédios para controlar a ansiedade.
Por causa das pressões, Dilma se viu obrigada a substituir muitos dos seus fiéis aliados. Manteve ao seu lado, porém, o assessor especial Giles Azevedo e desenvolveu uma ligação muito próxima a José Eduardo Cardozo, ex-Justiça e agora advogado-geral da União. O ex-ministro da Casa Civil, que ocupa hoje a Educação, Aloizio Mercadante, foi substituído por Jaques Wagner, que, agora, não sai de seu lado. Mas Dilma mantém momentos de isolamento no poder. Seus últimos discursos fizeram travessia para seu passado. “Eu tenho a disposição da resistência e resistirei até o último dia”, disse Dilma, na sexta-feira passada, pouco antes de a Comissão Especial do Senado aprovar a admissibilidade de abertura para o processo de impeachment.
Dilma não fala em erros, mas, além de ignorar os movimentos populares tão valiosos para a gestão do padrinho Lula, seu pouco apetite para a relação com o Congresso foi fatal. O vice-presidente Michel Temer, político tradicional, que ela desprezava, foi tratado como algoz. Apesar da disposição apregoada nos discursos de continuar lutando pelo seu mandato, auxiliares próximos à presidente relatam que ela também já demonstrou vontade de se livrar do fardo do poder.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Reformas, por Antonio Delfim Netto


antonio delfim netto
Ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici), é economista e ex-deputado federal. Professor catedrático na Universidade
de São Paulo.
Escreve às quartas-feiras.

Reformas

Há alguma coisa no ar e não são apenas os urubus que infestam nossos aeroportos. Na semana passada, três bancos que detêm excelentes departamentos econômicos ou confirmaram suas visões de que em 2017 o PIB crescerá (1,5% segundo o Bradesco) ou alteraram suas perspectivas: o Itaú elevou sua estimativa de 0,3% para 1% do PIB e o BNP Paribas, de 0% para 2%!
Não há outra explicação para esse fato que não seja a captura (por suas pesquisas proprietárias) do "sentimento" disseminado no setor privado de que a eventual assunção à Presidência do vice-presidente Michel Temer produzirá a volta da governabilidade e a melhoria na economia. Temer tem insistido que o problema econômico é muito grave, mas que a sua solução está diagnosticada e à vista. E que, para executá-la, não faltam economistas talentosos.
O que falta, então? É a construção de uma sólida maioria no Congresso Nacional (na Câmara e no Senado) que defenda e aprove as reformas constitucionais que reconstituirão as esperanças da sociedade. Ele precisa desmoralizar a narrativa da esquerda "infantil" que se aboletou no governo de que vai reduzir os programas sociais. Ele precisa insistir que é apenas seu "parasitismo" que vai ser fiscalizado, em benefício do verdadeiro interesse do trabalhador comum e desorganizado.
É preciso repetir à exaustão. Nenhum direito adquirido será violado. As reformas não são "maldades". Pelo contrário, são "benignidades" indispensáveis para que voltemos a crescer. Esta é a condição necessária (ainda que não suficiente) para melhorarmos a igualdade de oportunidades de todo cidadão em um regime de liberdade iniciativa, o que, consequentemente, beneficiará todos os trabalhadores, não importando o lar em que nasceram, sexo, cor, religião ou nacionalidade.
O eventual governo de Michel Temer e sua eventual maioria vão ter que encarar de frente o problema de mostrar à sociedade brasileira que, ao contrário do que afirma o pensamento "mágico" que nos levou à tragédia em que vivemos, são exatamente as reformas bem feitas que garantirão, no futuro, os "direitos adquiridos".
Nosso problema é político e só um novo governo com a maioria sólida e estável no Congresso poderá começar a resolvê-lo. O Brasil não precisa de um governo de "gênios", mas de um governo de políticos competente com sensibilidade para a economia e coragem para fazer o que deve ser feito.
A alternativa será a inexorável desorganização social que nos espera se não o fizermos e que, provavelmente, nos tirará não só os "direitos adquiridos", mas também a nossa liberdade...

Design de iluminação natural: Um ato de equilíbrio, Por Pedro Polo*

09.05.16
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Fonte: Arquitetura.com - 04.05.2016
Brasil -

Mesmo que a iluminação seja a principal fonte de consumo de qualquer edifício comercial em qualquer lugar do mundo, respondendo por algo entre 35% e 65% do total consumido, em muitos locais, até mesmo os mais modernos e que se autoproclamam “sustentáveis”, até 100% da luz natural é desperdiçada todos os dias. Isso acontece até mesmo no Brasil, quando a luz do Sol pode estar disponível por várias horas mesmo no inverno e o seu aproveitamento poderia significar não apenas redução de custos, mas também algo mais confortável e ambientalmente correto.

Isto é especialmente antieconômico nos horários de pico, quando a demanda de energia elétrica e os encargos são elevados em uma fase em que o Brasil voltou para a “bandeira amarela” em suas contas no final do mês após um longo período de “bandeira vermelha”, resultado da necessidade de um uso expressivo das usinas termelétricas com os reservatórios das hidrelétricas em baixa.

No entanto, administradores de edifícios ou projetistas de residências muitas vezes agem como se não houvesse luz natural ao nosso redor.

Ao trazer a luz do dia, natural, para o interior de um edifício, nós nos tornamos capazes de reduzir a necessidade de emissão de luz elétrica e, portanto, economizar energia e reduzir custos operacionais. O Design de iluminação natural não apenas aproveita a luz natural disponível, levando-a para dentro de um prédio, mas também atua na gestão dos níveis proporcionais de saída de luz elétrica e regulação de calor e brilho. Isso acontece por meio do uso de tratamentos nas janelas, o que pode maximizar a eficiência, a funcionalidade e garantir mais conforto ao ambiente. Se bem tratada, a luz natural é muito mais agradável aos olhos do que diversas opções de luz artificial – isso sem falar nos custos.

À medida que mais sistemas avançados de gestão de edifícios continuam a surgir, integrando o controle de HVAC (heating, ventilating, air conditioning), garantindo um melhor controle de energia elétrica, calor e segurança para as operações mais eficazes, o design de iluminação natural ganha mais espaço e proporciona a oportunidade para uma eficiência ainda maior.

Agradável, produtivo, positivo

A motivação para a utilização do design de iluminação natural não deve ser exclusivamente a recompensa financeira. Muito além disso, ele deve ser visto como um meio para a criação de uma força de trabalho saudável e produtiva, bem como edifícios sustentáveis que atendam códigos e orientações, incluindo a certificação LEED, que tem se tornado cada vez mais uma meta para empresas ambientalmente responsáveis.

Dezenas de estudos mostram, por exemplo, que o aprendizado em salas de aula é muito mais fácil para os alunos que ali estão quando a luz natural se sobrepõe à artificial. Da mesma forma, é fácil encontrar estudos que relatam melhorias significativas na produtividade de funcionários em escritórios, assim como vendas em varejistas e até mesmo a melhoria da saúde geral dos ocupantes de um ambiente como um resultado direto de luz natural em espaços comerciais.

Tendências arquitetônicas recentes, como janelas proporcionalmente grandes em relação à parede e mais baixas e mais claraboias em edifícios comerciais, aumentam a penetração da luz do dia sem grandes mudanças nos projetos ou grande aumento nos custos durante a construção ou reforma do local.

Por exemplo: a Califórnia, estado mais rico dos Estados Unidos e com uma grande oferta de luz natural, tornou obrigatório em 2005 o uso de claraboias e sistemas de controle de iluminação em edifícios comerciais com pé direito superior a 15 pés. Assim, a iluminação natural evoluiu a partir da prática de trazer mais luz natural para dentro para um sistema mais abrangente e integrado para equilibrar a eficiência de todo o edifício.

A prática, como sempre, levou à perfeição.

Cuidado: quente!

Aumentar o tamanho das janelas e incluir claraboias, no entanto, tem que ser uma medida bastante estudada e planejada: o sombreamento correto é tão necessário que um cálculo incorreto de direcionamento de luz e temperatura pode colocar tudo a perder, já que o interior do edifício pode se tornar quente demais e o brilho do sol pode causar um grande desconforto, levando a produtividade por água abaixo.

Por essa razão, o design de luz natural amadureceu e se tornou em um sistema de construção controlável abrangente que traz e regula a luz do dia dentro do edifício. Uma verdadeira e efetiva integração acontece quando um sistema de controle de iluminação elétrica é integrado com outros sistemas, como janelas com cortinas ou persianas controláveis para controlar o brilho, reduzir a carga de refrigeração e proteger superfícies interiores dos raios UV.

Os sistemas de controle de iluminação natural integrados consistem em equipamentos de iluminação controláveis, como sistemas de escurecimento, cortinas automáticas, sensores capazes de medir a luz natural disponível e um controlador de iluminação capaz de executar o controle dos níveis de luz elétrica e a posição das coberturas nas janelas – em um dia de muito sol sem nuvens, por exemplo, apenas uma parte das persianas pode ficar fechada. Se uma grande nuvem aparece, automaticamente essa cortina pode se abrir completamente, garantindo o nível de luz adequado ao local de maneira rápida e sem transtornos.

Estes sistemas também podem – e devem – ser integrados a um sistema de gestão de edifícios, já que essa união permite que o proprietário ou administrador do local um único ponto de controle para todas as principais funções do edifício, proporcionando uma melhor capacidade de controlar o uso da energia no local com uma única central de controle.

Em resumo: um edifício integrado agrega muito mais valor ao seu dono.

Projetar a luz natural

Edifícios não respondem de maneira uniforme a sistemas de iluminação natural: o sucesso ou a necessidade de melhorias dependem das características arquitetônicas do edifício, do design interior, das obstruções exteriores e até mesmo das condições meteorológicas, entre outros fatores.

Além disso, é aconselhável observar também a posição da construção em relação ao sol – isso irá determinar toda a estratégia do sistema de iluminação natural. Os empreendimentos “Face Norte” frequentemente garantem a melhor fonte de luz durante o dia, porque toda a iluminação é difundida e é relativamente livre do brilho incômodo aos olhos. Por outro lado, uma exposição pelo sul pode necessitar uma maior blindagem por conta do sol do meio-dia, enquanto as janelas voltadas para leste ou oeste apresentam um maior risco para o brilho do sol direto, o que, no entanto, pode ser facilmente controlado com cortinas e persianas motorizadas, guiadas por controle remoto.

É importante compreender o impacto que estas variáveis podem ter sobre o sucesso do sistema nas fases iniciais de concepção para a iluminação natural, pois ao planejar estrategicamente levando-se em conta estes fatores é possível chegar a um sistema ideal para um determinado empreendimento.

Determine o foco

O objetivo do sistema de controle é manter a iluminação incidente, ou o nível de iluminação em uma posição constante e ao mesmo tempo agradável. O foco da luz, por sua vez, pode ser não apenas um local como um todo, mas também uma única superfície, um objeto, uma obra de arte, ou qualquer outra coisa.

A escolha da localização do sensor é algo crítico, já que ela precisa estar exposta a uma luz incidente que se correlacione com a iluminação a ser controlada e, além disso, a intensidade do sinal deste sensor deve ser, no mínimo, razoável. Além disso, na maioria dos casos queremos eliminar a luz direta do sol, devido ao seu desconforto por conta da luz forte e do calor.

No caso da luz natural, o grande desafio está em orientar o sensor de tal maneira que ele seja capaz de medir também a luz refletida – nas nuvens, por exemplo. Essa iluminação é bastante variável, já que ela depende inclusive da superfície em que ela está projetada.

Em aplicações de luz natural, o desafio está em colocar o sensor em um local onde se possa não apenas medir a luz refletida, mas também analisar como ela varia em uma determinada superfície. Desta forma, é fácil concluir que normalmente o sensor está no localizado no teto de um ambiente de trabalho e, geralmente, acima das mesas.

Sensores de luz não devem jamais ser apontados diretamente para uma fonte de luz, seja ela o sol ou uma lâmpada elétrica. Também é importante que este sensor não fique totalmente voltado para o exterior do prédio, para evitar a influência de fatores como luzes de veículos, raios e trovões, entre outros fatores não-permanentes.

Entregando um sistema que funciona

Enquanto os sistemas de iluminação natural exigem responsabilidade após a instalação, o processo de comissionamento foi simplificado nos últimos anos, e os fabricantes usualmente têm técnicos treinados para realizar este trabalho com alta qualidade.

A instalação inicial de um sistema de controle de iluminação natural envolve um procedimento de medição. É importante “avisar” o sistema quando o nível de iluminação chega ao nível desejado, para que seja definida a contribuição da luz elétrica necessária para que se atinja o nível de luz pretendido.

Além disso, é preciso estar atento ao período da noite, visto que a contribuição da luz elétrica obviamente se torna muito maior que a luz natural. Outro fator a ser levado em conta é que, para regular o uso da luz elétrica, também é preciso definir os limites de iluminação das janelas com persianas em níveis aceitáveis.

Isso é importante porque irá determinar quantas vezes e em que grau as persianas devem se mover, além da quantidade de brilho externo que a janela levará para dentro do ambiente.

Quando o sistema de controle incorpora persianas e luz elétrica, a iluminação pode variar dentro de uma faixa pré-definida. Quando ela se move fora desta faixa, as cortinas são movidas para trazê-la de volta para dentro do que foi anteriormente planejado. Esta operação garante que as cortinas não se movem de forma contínua ou com demasiada frequência, o que seria perturbador e incômodo para os ocupantes.

Muitos projetos de construções comerciais estão passando a utilizar sistemas de controle de iluminação com luzes fluorescentes com reatores digitais reguláveis que incorporam a iluminação natural. O uso da tecnologia de reatores digitais, que cresce exponencialmente, oferece benefícios exclusivos para um sistema de controle de iluminação natural. Um exemplo: diversos locais com os mais diferentes requisitos de luz podem ser controlados com a utilização de um único sensor. O resultado é uma performance superior e um alto nível de flexibilidade.

Sistemas automáticos que são capazes de desligar ou diminuir as luzes em resposta à luz do dia são extremamente eficazes em ambientes de trabalho. E com a adição de cortinas nas janelas que podem ser controladas tanto pelos ocupantes quanto por um controle remoto ou outro sistema automático, a economia de energia pode chegar a surpreendentes 70%.

Assim como acontece com qualquer sistema de controle, é muito importante dar aos ocupantes do local algum nível de poder sobre ele. Isto pode ser tanto controles individuais para cada ocupante quanto um controle manual com localização central, capaz de operar as cortinas e persianas e as luzes de uma forma independente.

Isto pode variar de controles individuais para cada ocupante a um controle manual com localização central, que opera as sombras e as luzes de forma independente. Em todo caso, vários estudos mostraram que a utilização de controles individuais tem um efeito positivo sobre a satisfação e a motivação dos funcionários, e, consequentemente, sobre o desempenho.

Existe uma série de fatores que afetam o sucesso de um sistema de iluminação natural que precisam ser consideradas no início do projeto. Mas os sistemas integrados são uma tecnologia real e econômica por conta dos diversos benefícios ambientais, de custos e de produtividade.

Com a instalação e o comissionamento de sistemas de iluminação natural, controles de iluminação mais avançados e sistemas de gestão de edifícios menos complicados à disposição, projetos de edifícios comerciais podem cada vez mais a abraçar a luz natural que está ao nosso redor.

* Pedro Polo é diretor-geral da Lutron Electronics Brasil.