domingo, 17 de abril de 2016

Aumento do nº de ateus no País já preocupa Igreja Católica, OESP


JOSÉ MARIA TOMAZELA - O ESTADO DE S. PAULO
09 Abril 2016 | 16h 02 - Atualizado: 10 Abril 2016 | 15h 55

Dados levados à 54ª Assembleia-Geral da CNBB mostram que 8,9% da população brasileira confessa não acreditar em nenhum Deus

APARECIDA - Há 34 anos, Jesus deixou de acreditar em Deus, por causa da influência de um amigo. O repórter-fotográfico José Jesus Vicente, hoje com 52 anos, virou ateu – uma minoria, mas que está crescendo. Mais que a concorrência de outras religiões, a Igreja Católica está preocupada agora com o aumento do ateísmo no Brasil. 
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Dados reservados, levados à 54.ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida (SP), mostram que o número de brasileiros que se declaram ateus subiu de 7,9%, em 2010, para 8,9% em 2014. São pessoas como José Jesus.
José Jesus deixou de acreditar em Deus há 34 anos
José Jesus deixou de acreditar em Deus há 34 anos
Nascido de família católica, batizado com os nomes do pai de Cristo e do próprio filho de Deus, segundo a crença cristã, José Jesus se tornou ateu aos 18 anos por influência de um amigo que não acreditava nem no Deus cristão nem em nenhum outro. “É uma coisa que aborrece muito minha mãe, católica fervorosa. Acredito na coincidência das coisas, mas não aceito essa ideia de Deus acima de tudo, supervisionando tudo.”
Ele conta que, até os 18 anos, frequentou a Igreja e chegou a fazer a primeira comunhão, conforme o ritual católico. “Aí cheguei naquela encruzilhada com muitos trilhos à minha frente e fiz a escolha. Descobri que o caminho mais sensato era o de ateu.” Curiosamente, José Jesus tem uma empresa com nome bíblico, Aarão Editora, que tem entre os clientes o Esporte Clube São Bento, de Sorocaba. “Eu leio a Bíblia e, quanto mais leio, mais ateu fico.” 
Resposta. Para o bispo de Santo André, d. Pedro Cipollini, da Comissão de Doutrina e Fé da CNBB, essa situação é vista pela Igreja como efeito do pluralismo religioso cada vez maior. “Durante 400 anos, todo mundo no Brasil era obrigado a ser católico, como mostra a história. Hoje vivemos um regime democrático também na religião e é natural que, com mais opções, haja uma distribuição.”
O ateísmo brasileiro não é agressivo ao ponto de fazer campanha contra quem acredita em Deus, segundo os bispos católicos. “Não me exponho, até porque, em alguns momentos, você pode ser prejudicado por suas convicções religiosas”, diz José Jesus. “Mas quando as pessoas tentam me convencer a deixar de ser ateu, aí não me faltam argumentos.”
“É uma espécie de ‘indiferentismo’, desânimo. Pessoalmente, acho que não existem pessoas ateias”, rebate d. Pedro. “O ateu pode ter uma ideia equivocada de Deus.”
Ele critica ainda uma “ideologia marxista” que teria tomado conta da educação no Brasil, não permitindo que se fale em Deus no processo educacional. “Na festa junina da escola, pode falar da bandeirinha, da fogueira, mas não pode falar do santo da festa. Vivemos num estado laicista, que é deletério, porque proíbe falar de Deus, que é elemento constitutivo da natureza humana.”
D. Pedro cita o caso de uma creche que, por ter um quadro de Jesus, foi ameaçada de perder a subvenção da prefeitura. “Se não fizermos nada, vai ser proibido falar em religião e não se pode educar uma pessoa sem falar no aspecto religioso.” 
Segundo ele, a Igreja trabalha na sua organização interna no sentido de fortificar a fé e dialogar. “Ela não pode abdicar do direito garantido na Constituição de professar a fé. Isso tem de ser defendido para que tenhamos um país democrático, com estado laico, mas também liberdade religiosa. O poder econômico só aceita um deus, o dinheiro, e para o sistema econômico a religião é um obstáculo.”
MOMENTOS DE PAPA FRANCISCOConclave>
Cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio é eleito papa, em 13 de março de 2013, e se torna 

Propostas inviáveis, Amir Khair


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Amir Khair
10 Abril 2016 | 03h 00
Está distante qualquer solução para as crises política, econômica e moral. O eventual impeachment da presidente comandado por Temer junto ao PMDB e por Cunha na Câmara, em vez de resolver o problema político, pode agravá-lo com a divisão do PMDB e a ofensiva do governo na recomposição de sua base parlamentar em um novo Centrão.
Para embolar o meio de campo pesam denúncias da Lava Jato contra importantes figuras da cúpula do PMDB e o Ministro Marco Aurélio Melo do STF acabou de obrigar Cunha a abrir processo de impeachment contra Temer. 
Os executivos das empreiteiras estão optando pela delação premiada. O juiz Sérgio Moro ainda tentou bloquear a superplanilha da Odebrecht – nova bomba envolvendo 279 políticos de 22 partidos, o que levou à decisão da cúpula da construtora a optar por delação premiada. 
A homologação da delação de executivos da Andrade Gutierrez atinge PT e PMDB e a campanha de 2014 da chapa Dilma/Temer. Provavelmente as empreiteiras doaram por baixo do pano não apenas para essa chapa, bem como para a campanha dos governadores.
Enquanto não para de crescer o caos político e moral, agrava-se o problema fiscal com: a) a recessão, que derruba a arrecadação pública; b) a manutenção da Selic elevada, tornando explosiva a despesa com juros e; c) o crescimento da demanda social das camadas de renda média e baixa, com o desemprego em ascensão e a perda do poder aquisitivo pela inflação não reposta dos salários.
  
Assim, caem o consumo e a produção e se aprofunda a recessão.
Por outro lado, tem algo bom na economia, que é a queda da inflação e a recuperação das contas externas, principal fator atenuante da recessão. 
A inflação cede devido à menor pressão da demanda, refluxo dos preços monitorados, preços internacionais em queda, alimentos devolvendo a inflação do início do ano e câmbio com movimento favorável para redução dos preços dos bens importados.
O front externo tem recuperação impressionante, a maior da história, tendo passado do déficit de US$ 104 bilhões em 2014 para US$ 59 bilhões em 2015, caminhando próximo ao equilíbrio neste ano e possível superávit em 2017.
Nesta conjuntura estão postas duas posições já anunciadas para tentar vencer a crise econômica: a do PMDB, no programa “Uma Ponte para o Futuro”, e a do PT no “Programa Nacional de Emergência”. São posições antagônicas. A do PMDB prega a reforma estrutural do Estado visando a diminuir despesas sociais, e a do PT defende o crescimento das ações do Estado visando ao combate à desigualdade de renda e riqueza como princípio reitor de um segundo ciclo de desenvolvimento com inclusão social. A do PMDB é, no aspecto fiscal, semelhante à defendida por Joaquim Levy, Nelson Barbosa e pelos maiores bancos privados. Concentra-se numa saída de longo prazo com mais uma reforma da Previdência Social, contenção do salário mínimo e desvinculação de impostos para a educação e saúde constantes da Constituição. A proposta do PT pressupõe maiores recursos para a área social que viriam de maior tributação sobre a renda e riqueza e sem maior compromisso com a expansão das despesas. 
Fragilidade. Na hipótese da queda da presidente e assumindo o vice-presidente, “Uma Ponte para o Futuro” será o guia econômico do governo. No caso de não haver impeachment, não restará à presidente outra alternativa senão adotar pelo menos parte do “Programa Nacional de Emergência”. Se insistir no plano proposto pelo atual ministro da Fazenda, perde o apoio político de sua base parlamentar e da parcela do eleitorado que a elegeu e que foi às ruas contra o impeachment. As duas propostas incluem princípios gerais, mas pecam pela ausência de estratégias de implantação – o que as torna frágeis.
É interessante observar a camisa de força em que se colocaram. Os dois lados partem do pressuposto da existência de limite de recursos do governo federal para enfrentar a crise. Diante disso, a resposta do programa do PMDB é reduzir as despesas sociais e, a do PT, criar/ampliar impostos sobre as camadas de maior renda. Ambas de difícil – senão impossível – aprovação no Congresso, com ou sem impeachment. 
Nenhuma delas trata da queda da despesa com juros como estratégia central para enfrentar o limite de recursos. Assim, ou se apelam às camadas de renda média/baixa com mais sacrifícios do que já vêm passando, ou as de maior renda, que seriam mais oneradas por impostos. 
Fazem de conta que não existem despesas com juros, responsáveis por 82% do déficit público em 2015 – e, mais do que isso, neste ano e em anos anteriores. É ela a principal limitante dos recursos. Reduzir essas despesas, que alimentam os bancos e o rentismo, é que abre espaço fiscal necessário à retomada do crescimento.
Na contabilidade pública, os juros integram a categoria de despesas correntes, da mesma forma que as despesas de pessoal e da máquina pública. Igual montante de elevação para despesa de pessoal, ou de investimento, ou de juros ocasiona elevação de idêntico valor na dívida bruta, bem como no déficit fiscal.
A derrubada da despesa com juros tem impacto muito maior e rápido do que as propostas de redução de despesas e de elevação de impostos, ambas dependentes de aprovação no Congresso.
Será que é necessário manter um excesso de reservas internacionais de US$ 200 bilhões, que custa em juros ao País R$ 110 bilhões (!) por ano, quando; a) se caminha para o equilíbrio das contas externas; b) sobram dólares com investimento direto de estrangeiros e; c) se conseguiu atravessar, sem esse excesso de reservas, a crise financeira internacional de 2008? 
Será que é necessário manter a Selic fora de lugar, o que custa ao País R$ 230 bilhões (!) por ano face à recessão que derruba a todos e que se mostrou ineficaz para o combate da inflação? 
São R$ 340 bilhões (!) por ano de juros, que são desperdiçados, mas pagos pelo contribuinte. Essa sangria causada pela Selic fora de lugar foi responsável pela maior parte do crescimento de R$ 675 bilhões (!) da dívida bruta no ano passado.
Os programas desses dois partidos vão empurrar o País ladeira abaixo com a dívida bruta explodindo em alta velocidade, com o empurrão do Banco Central ao manter excesso de reservas internacionais e Selic fora de lugar. São propostas inviáveis.
Vale sempre insistir: é inviável qualquer tentativa de superação da recessão e da explosão fiscal que não ataque a anomalia das taxas de juros e do excesso de reservas internacionais. Continuar com falsas saídas que descarreguem seu peso sobre a população, além de agravar perigosamente o ambiente social, reduz o consumo e aprofunda a recessão, tornando mais distante e grave a crise atual. A conferir.
AMIR KHAIR É MESTRE EM FINANÇAS PÚBLICAS PELA FGV E CONSULTOR. ESCREVE QUINZENALMENTE

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Pernoite na minha casa, Celso Ming OESP


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Celso Ming
10 Abril 2016 | 03h 00
Crises da economia são cemitérios de empresas? Pode ser o contrário.
É em plena crise, como a de agora, que certos modelos de negócio nascem ou ganham mais impulso. Este é o caso da plataforma Airbnb, que conecta pela internet usuários cadastrados em 191 países para aluguel de quartos, apartamentos e casas de temporada.
Criada em 2008, no auge da crise mundial, a plataforma norte-americana reúne hoje mais de 2 milhões de ofertas de acomodação em todo o mundo. Esse novo jeito de contratar esquemas de hospedagem vem revolucionando o turismo e, como era de esperar, está sendo questionado pelo setor hoteleiro, por aí e por aqui.
Além disso, tem sido regulamentada de diferentes maneiras nas cidades onde ganha notoriedade e densidade.
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No Brasil, ganhou espaço pelo empurrão dado pela Copa do Mundo em 2014 e pela promoção dos Jogos Olímpicos deste ano – evento para o qual foi oficialmente chamada a prover acomodações alternativas. Mas não é só isso, a crise vem sendo fator crucial para explicar o sucesso da plataforma por aqui, como observa o diretor-geral do Airbnb do Brasil, Leonardo Tristão. Tanto pelo lado dos proprietários, que buscam novas fontes de renda, como do lado dos viajantes, que procuram acomodações cujos preços caibam em seu orçamento.
Quem tinha um quarto dando sopa em casa ou um apartamento com pouco uso viu aí uma oportunidade de conseguir acertar as contas no fim do mês. As pessoas aceitam abrir suas portas para estranhos ou se hospedar na casa de quem nunca viu na vida por conta do sistema de avaliações da plataforma, no qual tanto os hóspedes quanto os anfitriões são recomendados ou não por experiências anteriores. Em 2012, eram 3.500 anúncios no Brasil. Hoje o número de anfitriões saltou para os 70 mil, 20 vezes maior. O maior mercado é o do Rio de Janeiro, com 25 mil ofertas.
Na outra ponta, os viajantes passaram a ter à sua disposição um leque amplo de preços, mais a experiência de ficar na casa de locais e compartilhar algo de sua cultura, o que os hotéis e as pousadas não proporcionam. Mas há quem não veja esse lado, digamos, romântico desse modelo de negócio. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Dilson Jatahy Fonseca Junior, aponta para a significativa diminuição na taxa de ocupação dos hotéis no Brasil, efeito que, segundo ele, não é produzido só pela crise; tem a ver com a multiplicação das opções veiculadas por anúncios no Airbnb e em outras plataformas do gênero. “A carga tributária do nosso setor é enorme e estamos sofrendo concorrência desleal de quem não paga imposto. Isso é pirataria”, afirma.
O presidente do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB), Manuel Gama, tem uma reação menos agressiva. Entende que não dá para brigar com um modelo de negócio que passou a ter aceitação mundial. Mas, assim como a ABIH, defende a necessidade de regulamentação específica para a utilização de plataformas desse tipo no País.
O embate, assim como a briga dos taxistas com o aplicativo Uber, que conecta passageiros a motoristas particulares, é filme repetido nas grandes cidades do mundo. Em Barcelona, por exemplo, o uso da plataforma Airbnb passou a ser taxado pela autoridade local, a exemplo do que já acontece com os hotéis. A Câmara Municipal de Lisboa decidiu, nesta semana, que a plataforma estará sujeita ao pagamento da “taxa de dormida”, correspondente, no momento, a um euro por noite de hospedagem.
Aqui no Brasil, até o fim dos Jogos Olímpicos, o debate sobre regulamentação do Airbnb não deve ganhar força. Não fosse essa novidade, não haveria acomodações suficientes na Cidade Maravilhosa. Mas, apagada a tocha olímpica, o debate deve pegar fogo. É o que acredita o professor do curso de Hotelaria da Universidade Anhembi Morumbi Carlos Bernardo: “É difícil se contrapor a algo que hoje é necessidade do mercado, em momento de pico. Mas a preocupação com o futuro é justificada”, observa.
O Ministério do Turismo afirma oficialmente que tem estudado soluções implementadas no cenário internacional e que dialoga com o Airbnb para encontrar a melhor maneira de regulamentar esse modelo de negócio.

No entanto, o setor hoteleiro começa a se reinventar e já mostra iniciativas que colocam em prática conhecido ditado, o de que deve juntar-se aos que não se consegue vencer. Um dos maiores grupos hoteleiros da Europa, a rede francesa Accor, por exemplo, anunciou na última terça-feira a compra da Onefinestay, plataforma especializada em serviços de aluguel de residências luxuosas. COM LAURA MAIA