JOSÉ MARIA TOMAZELA - O ESTADO DE S.
PAULO
09 Abril 2016 | 16h 02 - Atualizado: 10 Abril 2016 | 15h
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Dados
levados à 54ª Assembleia-Geral da CNBB mostram que 8,9% da população brasileira
confessa não acreditar em nenhum Deus
APARECIDA - Há 34 anos, Jesus deixou de acreditar em Deus, por
causa da influência de um amigo. O repórter-fotográfico José Jesus Vicente,
hoje com 52 anos, virou ateu – uma minoria, mas que está crescendo. Mais que a
concorrência de outras religiões, a Igreja Católica está preocupada agora com o
aumento do ateísmo no Brasil.
RELACIONADAS
Dados reservados, levados à 54.ª Assembleia-Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Aparecida (SP), mostram que o número
de brasileiros que se declaram ateus subiu de 7,9%, em 2010, para 8,9% em 2014.
São pessoas como José Jesus.
José Jesus deixou de acreditar em Deus há 34 anos
Nascido de família católica, batizado com os nomes do pai de
Cristo e do próprio filho de Deus, segundo a crença cristã, José Jesus se tornou
ateu aos 18 anos por influência de um amigo que não acreditava nem no Deus
cristão nem em nenhum outro. “É uma coisa que aborrece muito minha mãe,
católica fervorosa. Acredito na coincidência das coisas, mas não aceito essa
ideia de Deus acima de tudo, supervisionando tudo.”
Ele conta que, até os 18 anos, frequentou a Igreja e chegou a
fazer a primeira comunhão, conforme o ritual católico. “Aí cheguei naquela
encruzilhada com muitos trilhos à minha frente e fiz a escolha. Descobri que o
caminho mais sensato era o de ateu.” Curiosamente, José Jesus tem uma empresa
com nome bíblico, Aarão Editora, que tem entre os clientes o Esporte Clube São
Bento, de Sorocaba. “Eu leio a Bíblia e, quanto mais leio, mais ateu fico.”
Resposta. Para o
bispo de Santo André, d. Pedro Cipollini, da Comissão de Doutrina e Fé da CNBB,
essa situação é vista pela Igreja como efeito do pluralismo religioso cada vez
maior. “Durante 400 anos, todo mundo no Brasil era obrigado a ser católico,
como mostra a história. Hoje vivemos um regime democrático também na religião e
é natural que, com mais opções, haja uma distribuição.”
O ateísmo brasileiro não é agressivo ao ponto de fazer campanha
contra quem acredita em Deus, segundo os bispos católicos. “Não me exponho, até
porque, em alguns momentos, você pode ser prejudicado por suas convicções
religiosas”, diz José Jesus. “Mas quando as pessoas tentam me convencer a
deixar de ser ateu, aí não me faltam argumentos.”
“É uma espécie de ‘indiferentismo’, desânimo. Pessoalmente, acho
que não existem pessoas ateias”, rebate d. Pedro. “O ateu pode ter uma ideia
equivocada de Deus.”
Ele critica ainda uma “ideologia marxista” que teria tomado
conta da educação no Brasil, não permitindo que se fale em Deus no processo
educacional. “Na festa junina da escola, pode falar da bandeirinha, da
fogueira, mas não pode falar do santo da festa. Vivemos num estado laicista,
que é deletério, porque proíbe falar de Deus, que é elemento constitutivo da
natureza humana.”
D. Pedro cita o caso de uma creche que, por ter um quadro de
Jesus, foi ameaçada de perder a subvenção da prefeitura. “Se não fizermos nada,
vai ser proibido falar em religião e não se pode educar uma pessoa sem falar no
aspecto religioso.”
Segundo ele, a Igreja trabalha na sua organização interna no sentido
de fortificar a fé e dialogar. “Ela não pode abdicar do direito garantido na
Constituição de professar a fé. Isso tem de ser defendido para que tenhamos um
país democrático, com estado laico, mas também liberdade religiosa. O poder
econômico só aceita um deus, o dinheiro, e para o sistema econômico a religião
é um obstáculo.”
MOMENTOS
DE PAPA FRANCISCOConclave>
Cardeal
argentino Jorge Mario Bergoglio é eleito papa, em 13 de março de 2013, e se
torna
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