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Celso Ming
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Abril 2016 | 03h 00
Crises da economia são cemitérios de
empresas? Pode ser o contrário.
É em plena crise, como a de agora,
que certos modelos de negócio nascem ou ganham mais impulso. Este é o caso da
plataforma Airbnb, que conecta pela internet usuários cadastrados em 191 países
para aluguel de quartos, apartamentos e casas de temporada.
Criada em 2008, no auge da crise
mundial, a plataforma norte-americana reúne hoje mais de 2 milhões de ofertas
de acomodação em todo o mundo. Esse novo jeito de contratar esquemas de
hospedagem vem revolucionando o turismo e, como era de esperar, está sendo
questionado pelo setor hoteleiro, por aí e por aqui.
Além disso, tem sido regulamentada de
diferentes maneiras nas cidades onde ganha notoriedade e densidade.
No Brasil, ganhou espaço pelo
empurrão dado pela Copa do Mundo em 2014 e pela promoção dos Jogos Olímpicos
deste ano – evento para o qual foi oficialmente chamada a prover acomodações
alternativas. Mas não é só isso, a crise vem sendo fator crucial para explicar
o sucesso da plataforma por aqui, como observa o diretor-geral do Airbnb do
Brasil, Leonardo Tristão. Tanto pelo lado dos proprietários, que buscam novas
fontes de renda, como do lado dos viajantes, que procuram acomodações cujos
preços caibam em seu orçamento.
Quem tinha um quarto dando sopa em
casa ou um apartamento com pouco uso viu aí uma oportunidade de conseguir
acertar as contas no fim do mês. As pessoas aceitam abrir suas portas para
estranhos ou se hospedar na casa de quem nunca viu na vida por conta do sistema
de avaliações da plataforma, no qual tanto os hóspedes quanto os anfitriões são
recomendados ou não por experiências anteriores. Em 2012, eram 3.500 anúncios
no Brasil. Hoje o número de anfitriões saltou para os 70 mil, 20 vezes maior. O
maior mercado é o do Rio de Janeiro, com 25 mil ofertas.
Na outra ponta, os viajantes passaram
a ter à sua disposição um leque amplo de preços, mais a experiência de ficar na
casa de locais e compartilhar algo de sua cultura, o que os hotéis e as pousadas
não proporcionam. Mas há quem não veja esse lado, digamos, romântico desse
modelo de negócio. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
(ABIH), Dilson Jatahy Fonseca Junior, aponta para a significativa diminuição na
taxa de ocupação dos hotéis no Brasil, efeito que, segundo ele, não é produzido
só pela crise; tem a ver com a multiplicação das opções veiculadas por anúncios
no Airbnb e em outras plataformas do gênero. “A carga tributária do nosso setor
é enorme e estamos sofrendo concorrência desleal de quem não paga imposto. Isso
é pirataria”, afirma.
O presidente do Fórum de Operadores
Hoteleiros do Brasil (FOHB), Manuel Gama, tem uma reação menos agressiva.
Entende que não dá para brigar com um modelo de negócio que passou a ter aceitação
mundial. Mas, assim como a ABIH, defende a necessidade de regulamentação
específica para a utilização de plataformas desse tipo no País.
O embate, assim como a briga dos
taxistas com o aplicativo Uber, que conecta passageiros a motoristas particulares,
é filme repetido nas grandes cidades do mundo. Em Barcelona, por exemplo, o uso
da plataforma Airbnb passou a ser taxado pela autoridade local, a exemplo do
que já acontece com os hotéis. A Câmara Municipal de Lisboa decidiu, nesta
semana, que a plataforma estará sujeita ao pagamento da “taxa de dormida”,
correspondente, no momento, a um euro por noite de hospedagem.
Aqui no Brasil, até o fim dos Jogos
Olímpicos, o debate sobre regulamentação do Airbnb não deve ganhar força. Não
fosse essa novidade, não haveria acomodações suficientes na Cidade Maravilhosa.
Mas, apagada a tocha olímpica, o debate deve pegar fogo. É o que acredita o
professor do curso de Hotelaria da Universidade Anhembi Morumbi Carlos
Bernardo: “É difícil se contrapor a algo que hoje é necessidade do mercado, em
momento de pico. Mas a preocupação com o futuro é justificada”, observa.
O Ministério do Turismo afirma
oficialmente que tem estudado soluções implementadas no cenário internacional e
que dialoga com o Airbnb para encontrar a melhor maneira de regulamentar esse
modelo de negócio.
No entanto, o setor hoteleiro começa
a se reinventar e já mostra iniciativas que colocam em prática conhecido
ditado, o de que deve juntar-se aos que não se consegue vencer. Um dos maiores
grupos hoteleiros da Europa, a rede francesa Accor, por exemplo, anunciou na
última terça-feira a compra da Onefinestay, plataforma especializada em
serviços de aluguel de residências luxuosas. COM LAURA MAIA
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