quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Campos, questões, discussões - ANA ESTELA DE SOUSA PINTO


FOLHA DE SP - 14/08


SÃO PAULO - 1) O PIB pernambucano cresceu 4% no primeiro trimestre de 2014, em relação ao último trimestre 2013. No Brasil, só 0,2%.

O número é bom. Mas o que pode ajudar na discussão é que ele foi tracionado pelo investimento, não pelo consumo. O Estado multiplicou por cinco o que investiu de 2007 a 2013, para R$ 3,8 bilhões. Recebeu mais de R$ 20 bilhões do governo federal. E atraiu capital privado, como a Fiat.

2) A indústria em Pernambuco se expandiu 2,8% nos 12 meses acumulados até maio (no país, só 0,2%).

A principal atividade fabril do Estado --a alimentícia-- foi ainda melhor: mais de 10% de março a maio.

O número é bom. Mas o que fica para a discussão é se, em vez de proteger indústrias a esmo, não faz mais sentido priorizar as que atuam onde o Brasil tem vantagens competitivas. Como, por exemplo, a de alimentos.

3) Até o último momento (na entrevista à GloboNews, na noite desta terça), Campos defendeu "mais gestão, mais meritocracia". Na sua passagem pelo governo de Pernambuco, mudou processos sob orientação de especialistas do setor privado. Há quem atribua a isso uma queda nos homicídios no Estado (de até 39%).

Seria certamente um bom número, mas o que vale para a discussão é a filosofia. Precisa-se, desesperadamente, de uma gestão melhor. Em tudo.

4) Para se financiar, a gestão de Campos tomou emprestado de instituições de fomento nacionais e estrangeiras cerca de R$ 8 bilhões. Não é pelo número; o que se deve discutir é o instrumento. Muita gente ainda crê que se endividar, em si, é ruim --preconceito nocivo contra um dos principais combustíveis econômicos.

5) "Seja bem-vindo, querido Miguel. Como disse seu irmão, você chegou na família certa! Agora, todos nós vamos crescer com muito amor, sempre ao seu lado." Foi o que disse Eduardo Campos a seu quinto filho, que nasceu com a síndrome de Down, no começo deste ano. Nada a ver com números. Mas poucas discussões são tão relevantes.

Os pais e a escola - CONTARDO CALLIGARIS


FOLHA DE SP - 14/08


Quase todo envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos não tem efeito --ou tem efeito negativo


Alguém, na burocracia da Educação Nacional francesa, já atribuiu notas boas a meus desenhos, tanto de tema livre (mais "artísticos") como figurativos (uma banana, uma laranja, uma maçã ou, mais difícil, uma alcachofra).

De qualquer jeito, não tenho do que me gabar. As notas foram decididas pensando que o autor dos desenhos fosse meu filho, que na época tinha dez anos.

Não havia outro jeito. A mãe de meu filho, de quem eu tinha me separado, aceitara que ele morasse um ano no Brasil comigo, mas à condição que ele não interrompesse sua escolaridade francesa. Em Porto Alegre, onde eu morava, isso só era possível se ele fosse escolarizado por correspondência.

A cada sexta-feira, chegava da França um temível envelope da Educação Nacional, com todo o necessário para cumprir o programa escolar da semana. A dose de lições de casa era assustadora e inesgotável.

Durante um ano, fiz lição de casa com meu filho. No domingo acontecia a arrancada final, pois o envelope das lições feitas devia imperativamente sair pelo correio na segunda: a gente trabalhava até as primeiras horas da madrugada, quando eu me encarregava dos desenhos de artes, enquanto ele completava o resto.

1) A quantidade de lições era insensata; 2) Estudar por correspondência era insensato, porque a escola deveria servir para estudar, mas também para socializar as crianças; 3) Eu fazer parte das lições dele (não só de artes) era insensato.

Apesar disso, num tributo ao espírito da pedagogia contemporânea, pela qual é bom que os pais se envolvam quanto mais possível na escolaridade dos filhos, eu imaginava que nossa "colaboração" criaria uma grande motivação futura.

Hoje, enfim, dá para afirmar que eu estava errado. Foi publicado em 2013 "The Broken Compass: Parental Involvement with Children Education" (a bússola quebrada: envolvimento dos pais na educação das crianças - Harvard University Press), em que os autores, K. Robinson e A. L. Harris, sociólogos, verificaram a eficácia (ou não) do envolvimento dos pais nos estudos dos filhos.

Eles estabeleceram 63 critérios para medir o envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos e procuraram os efeitos desse envolvimento ao longo de três décadas. Pois bem, eles chegaram à conclusão que quase todo envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos é sem efeito, quando não tem efeito negativo.

Se você ajuda as crianças a fazer a lição de casa, isso vai melhorar temporariamente as notas, mas, a médio e longo prazo, isso não melhorará a performance escolar dos seus rebentos. Apenas satisfaremos nossa vontade imediata de ver notas melhores nos cadernos de nossos filhos.

Se você sacrifica seu fim de semana para estar na escola, vendendo cupcakes na festa junina porque ouviu dizer que o envolvimento dos pais na vida da escola é um grande motivador para as crianças, saiba que, realmente, não é preciso.

Claro, sou parcial (não gosto de cupcakes e não gosto de festa junina), mas está provado que esse tipo de envolvimento dos pais não tem efeito constatável.

Diga-se o mesmo para as reuniões trimestrais com cada professor de nossas crianças, matéria por matéria: você pode ir, mas quando der, ok?

Robinson e Harris, em suma, sugerem que voltemos à antiga separação de casa e escola, as quais não precisam compartilhar problemas num excesso de fala sobre a criança.

Desde os anos 1970, acreditamos que uma aliança escola-família seja boa para a performance escolar dos nossos filhos. Descobre-se que, às vezes, é bom que a criança possa descansar dos pais quando está na escola --e descansar da escola quando está em casa.

O que se salva da ideologia da aliança casa-escola? Robinson e Harris acham que três coisas, principalmente, têm efeito positivo: 1) o valor que os pais atribuem à educação, 2) sua capacidade de conversar com os filhos sobre o futuro deles, 3) a leitura em voz alta com os pequenos.

O engraçado é que são coisas que os pais fazem em casa, com filhos e filhas --coisas, em suma, que não pedem nenhuma aliança especial entre a casa e a escola.

SP perde 5,7 milhões de pés de laranja

Relatório da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado aponta que no primeiro semestre deste ano citricultores erradicaram 1,8 milhão de pés de laranja para mudar de atividade em São Paulo. O motivo seria o alto custo da produção, a dificuldade para comercializar a safra e as muitas pragas que vêm prejudicando aslavoras.


 


Essas situações desfavoráveis, somadas ao abandono da cultura, foram responsáveis pelo fim de 5,7 milhões de plantas no Estado. Somente em razão do greening ou "ferrugem", como é conhecido, 2,2 milhões de pés de citros deixaram de existir. Também pesaram na redução da área plantada o cancro cítrico, que erradicou 60,5 mil plantas, além de doenças e motivos que levaram à eliminação de mais 1,8 milhão de pés.


Os produtores são obrigados a encaminhar à Defesa Agropecuária documentos com informações sobre as lavouras. Foram recebidos 12.592 relatórios de greening e cancro cítrico, dando conta de que no Estado foram inspecionadas 198,2 milhões de plantas cítricas. Mesmo se a Lavoura não tiver nenhuma doença ou mesmo se abandonou a cultura, o citricultor tem a obrigação de informar o órgão sob o risco de ser multado em mais de R$ 10 mil.


Doenças como o greening não têm tratamento e quando detectadas é preciso erradicar a planta. Já no caso do cancro cítrico, uma resolução do fim do ano passado desobrigou o produtor a erradicar a Lavoura no raio de 30 metros a partir da planta. Em vez disso, ele tem agora de eliminar apenas a planta afetada e pulverizar a área com calda cúprica, uma solução feita com sulfato de cobre.


Em queda


O número de plantas cítricas em São Paulo vem caindo. No segundo semestre de 2013 já haviam sido erradicadas 3,5 milhões de plantas com sintomas de greening, 70,7 mil com cancro cítrico, 3,7 milhões com outras doenças e 4,5 milhões por mudança de atividade. Nesse mesmo período, somente 1 milhão de plantas cítricas foram replantadas.


Entre as regiões com maior porcentagem de plantas eliminadas estão Limeira, Ribeirão Preto, Jaboticabal, Araraquara, Jaú e São João da Boa Vista. Para Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), problemas como o baixo preço pago ao produtor estão levando ao desinteresse pela citricultura.


Segundo ele, embora os custos de produção estejam por volta de US$ 8 por caixa de laranja em São Paulo e na Flórida, nos EUA, o tratamento dado ao citricultor é bem diferente nos dois países. "Enquanto os produtores daqui recebem em tomo de USS 4 a caixa, os de lá ganham US$ 14." Levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA) aponta que nos átimos dois anos houve redução de 52,3 mil hectares no Estado, o que significou a eliminação de mais de 30 milhões de laranjeiras.