quarta-feira, 16 de abril de 2014

Por Cantareira, Alckmin se diz muito feliz com chuva em São Paulo


Água seguiu para o nordeste, onde está o Cantareira; apesar da chuva, situação da represa não deve melhorar muito

15 de abril de 2014 | 14h 46

Caio do Valle - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin (PSDB) se disse "muito" feliz com a chuva que atingiu a Região Metropolitana de São Paulo nesta terça-feira, 15. Isso porque a água seguiu para o nordeste, onde está o Sistema Cantareira, que passa uma crise hídrica que pode levar a população a enfrentar rodízio no futuro. Apesar da comemoração do tucano, a situação não deve mudar muita coisa.
Entre 8h e 12h desta terça-feira, foram registrados 12,8 milímetros de chuva - Werther Santana/Estadão
Werther Santana/Estadão
Entre 8h e 12h desta terça-feira, foram registrados 12,8 milímetros de chuva
De acordo com a meteorologista Aline Tochio, da Climatempo, na cidade de São Paulo, entre 8h e 12h desta terça-feira, foram registrados 12,8 milímetros de chuva. A medição foi feita pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no Mirante de Santana, zona norte da capital paulista. O volume corresponde a quase 17% do que é esperado para o mês de abril.
Depois de passar por São Paulo, a chuva seguiu para a região de Bragança Paulista e o sul de Minas Gerais, onde está o Cantareira, principal manancial paulista, que abastece 47,3% da Região Metropolitana. "A chuva não está ajudando muito, não. Tinha que chover bem mais e por vários dias seguidos", disse Tochio. Ela explica que, para este mês, não há previsão de um fenômeno assim.
"A gente até tem outra frente fria chegando no domingo de Páscoa, mas a mesma situação de agora, ou seja, dá um temporal no sábado, no domingo fica mais fechado, mas na segunda-feira já não tem tanta chuva, só fica meio nublado."
Durante um evento de entrega de ônibus para transportes de crianças e jovens a entidades assistenciais, Alckmin foi questionado por um repórter se estava feliz com a chuva. "Muito, né?", respondeu, sorrindo em seguida.
"A Sabesp está fazendo um trabalho enorme no sentido de redução de perdas e a nossa preocupação é o sofrimento das pessoas, é não impor sofrimento para as pessoas. Então, vamos fazer o possível para fazer o máximo de medidas que não prejudiquem a população", afirmou Alckmin.
Madrugada fria. Ainda de acordo com os dados do Inmet, a madrugada desta terça-feira foi a mais fria deste ano, com mínima de 16,1 graus. A previsão para amanhã, segundo a Climatempo, é de um pouco mais de abertura de sol pela manhã e risco de chuva à tarde.

USP revê versão sobre professora desaparecida



Publicação: 16/04/2014 08:19 Atualização:

São Paulo, 16 - A Universidade de São Paulo (USP) deve reverter nos próximos dias uma de suas decisões mais polêmicas e incômodas do período da ditadura: a demissão da professora de química Ana Rosa Kucinski, por abandono de emprego, ocorrida há 40 anos. Amanhã a Congregação do Instituto de Química vai se reunir e analisar um pedido da Comissão da Verdade da USP, para que a decisão seja mudada.

De acordo com a justificativa apresentada no pedido da comissão, a decisão anterior não levou em conta informações que na época já indicavam, de maneira clara, que a professora não abandonara o emprego, mas fora sequestrada por agentes do aparato repressivo da ditadura, no centro de São Paulo, e estava desaparecida.

Se a Congregação cancelar a demissão, o que é dado como quase certo, no dia 22 deve ser inaugurada uma escultura em memória da professora, nos jardins do Instituto de Química. Também está previsto que um representante da diretoria da instituição apresente na ocasião um pedido formal de desculpas à família dela.

Sabe-se hoje, por meio de relatos de militares e policiais civis que integraram o sistema repressivo, que Ana Rosa e o marido, Wilson Silva, ambos militantes da organização clandestina Ação Libertadora Nacional (ALN), foram presos em São Paulo, no dia 22 de abril de 1974, e levados para a Casa da Morte, em Petrópolis, no Estado do Rio. Segundo informações da Comissão Nacional da Verdade, tratava-se de um dos principais centros clandestinos montados pela ditadura para interrogatório e extermínio de opositores.

Os dois nunca mais foram encontrados. Seus nomes figuram em mais de um relato de agentes do Estado que atuaram naquela casa. Um deles, o delegado Claudio Guerra, disse no livro Memórias de uma Guerra Suja que os restos mortais de Ana Rosa e Wilson foram incinerados nos fornos de uma usina de açúcar. Ele também afirmou que o corpo da professora apresentava sinais de tortura, com mordidas pelo corpo, indicando também violência sexual.

Sequestro

A homenagem à professora marca a passagem dos 40 anos do seu desaparecimento. Naquele dia, Ana Rosa deixou o trabalho avisando que iria almoçar com o marido, num restaurante nas imediações da Praça da República. Wilson, que era físico e trabalhava com processamento de dados num escritório na Avenida Paulista, disse a mesma coisa a um colega. Os dois tinham 22 anos. O aniversário dele havia sido comemorado no dia anterior.

As duas famílias tomaram providências para tentar localizá-los desde as primeiras horas do desaparecimento. Denúncias foram feitas no Brasil e no exterior e várias organizações se mobilizaram para obter informações. O cardeal Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo naquela época, levou o caso ao conhecimento do general Golbery do Couto e Silva, que ocupava o cargo de ministro da Casa Civil e articulava o processo que levaria à distensão política.

Terroristas

Pressionado, o governo do presidente Ernesto Geisel reagiu por meio de uma nota oficial, assinada pelo então ministro da Justiça, Armando Falcão. Ele declarou que Ana Rosa e Wilson eram "terroristas" e estavam "foragidos".

A congregação, órgão máximo do Instituto de Química, se reuniu em outubro de 1975 e, por 13 votos favoráveis e dois em branco, aprovou uma proposta da Reitoria pedindo a dispensa da docente por abandono de função. Foi citada na ocasião, como justificativa, a nota assinada pelo ministro.

Em 1995, o jornalista Bernardo Kucinski, irmão da professora, encaminhou à reitoria da USP um pedido para a retificação da causa da demissão. A instituição, após ouvir sua assessoria jurídica, reconheceu a injustiça. Essa decisão, porém, não agradou à família.

Críticas

Em outubro, durante uma audiência pública da Comissão Estadual da Verdade, realizada na Cidade Universitária para tratar exclusivamente do caso da professora desaparecida, Kucinski explicou seu descontentamento: "A assessoria jurídica da Reitoria teve a ousadia de produzir um parecer, em linguagem jurídica, de quase cem páginas, em que afinal concedia que devia ser anulada a demissão, mas justificava a posição anterior. Ou seja, não há autocrítica, não há reconhecimento da conivência."

Kucinski, que é professor aposentado da USP, tem criticado de maneira sistemática a congregação e cobrado desculpas à família. Trechos da ata da reunião de 1975 foram transcritos no livro K - Relato de Uma Busca, no qual ele relata, entre a ficção e a realidade, o esforço e o sofrimento do pai à procura da filha desaparecida. Elogiado pela crítica e traduzido para o inglês, o espanhol, o hebraico e o alemão, o livro foi relançado agora no Brasil, por ocasião da passagem dos 50 anos do golpe.

O caso tem sido tratado com bastante atenção pela Comissão da Verdade da USP. De acordo com informações de um dos seus integrantes, Kucinski será convidado para a cerimônia em que a irmã será homenageada, no dia 22. O jornalista disse ao Estado, no entanto, que ainda não recebeu nenhum comunicado sobre a reunião no Instituto de Química nem a respeito da homenagem.

A Assessoria de Imprensa da USP confirmou a reunião da congregação e a homenagem no dia 22. Também informou que a estátua será instalada nos jardins do Instituto de Química nos próximos dias, mas não deu detalhes sobre a obra. As informações são do jornal

O Estado de S. Paulo

Documento da Prefeitura afirma que Sabesp já faz rodízio noturno de água


Ofício distribuído a gestores municipais, ao qual o ‘Estado’ teve acesso, relata que a companhia está reduzindo em 75% a pressão do abastecimento na cidade entre meia-noite e 5 horas; para especialistas, medida pode indicar racionamento

16 de abril de 2014 | 3h 00

Fabio Leite e Rafael Italiani - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Um documento interno da Prefeitura de São Paulo, distribuído nesta terça-feira, 15, a gestores municipais, relata que a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou ao Comitê Gestor dos Serviços de Água e Esgoto da capital que já está reduzindo em 75% a pressão da água fornecida na cidade entre meia-noite e 5 horas. A medida, segundo especialistas, indica que o racionamento de água já está em curso na madrugada. A Sabesp nega a prática.
O ofício, ao qual o Estado teve acesso, é assinado pelo secretário municipal de Governo, Francisco Macena, com a data desta terça. Segundo o documento, o comitê gestor que acompanha o contrato de concessão do serviço de saneamento da capital foi informado pela Sabesp de que a pressão da água na rede de distribuição da cidade está sendo reduzida de madrugada de aproximadamente 40 metros de coluna d’água (m.c.a.) para 10 metros de coluna d’água.
"Na prática, essa redução deixa a água sem força suficiente para atingir alturas maiores do que 10 metros. Ou seja, acima dessa altura os reservatórios e as regiões mais altas podem apresentar dificuldades no abastecimento. Esse racionamento exige que a gestão pública municipal fique atenta ao impacto gerado na rede para não haver prejuízo dos serviços", diz o ofício. Procurada, a Prefeitura informou que não comentaria o teor do documento.
Impacto. O m.c.a. é a unidade que mede a pressão da água na rede a partir dos reservatórios de distribuição. Quanto menor o índice, menor o alcance da água. "A redução da pressão ajuda a diminuir a quantidade de perda de água por vazamento. A consequência disso é que, em lugares mais altos, a água pode ter dificuldade de subir pela tubulação, prejudicando o abastecimento. Não deixa de ser uma forma racionamento", explica o coordenador de Engenharia Civil do Centro Universitário da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Kurt Amann.
Segundo Rubem Porto, especialista em recursos hídricos da Escola Politécnica da USP, além da redução dos vazamentos, a medida faz com que reservatórios, seja de casas ou de distribuição pública, "não recebam água se estiverem a mais de dez metros de altura". Ele diz que, nesses casos, "uma pessoa que não tem caixa d’água e mora em uma zona alta da cidade não vai conseguir tomar um banho durante a madrugada".
Porto acredita que a prática é a forma menos prejudicial de se economizar água em tempos de crise. "Racionamento é uma palavra que perdeu o sentido. Está se tomando uma providência que automaticamente se reduza o consumo. Isso é feito à noite, porque é um horário em que a população é menos prejudicada. A Sabesp tem de alguma forma reduzir o consumo de água com o menor prejuízo possível para a população", afirma.
Queixas. Os casos de falta d’água na capital começaram a se intensificar em fevereiro, logo após a Sabesp tornar público que o Sistema Cantareira, que abastece 47,3% da Grande São Paulo e parte da capital, estava em crise. A maioria das queixas feitas à reportagem relatava justamente a falta d’água no período noturno.
Os primeiros bairros a sofrer com o corte foram os da zona norte, que são abastecidos pelo Cantareira. Nas últimas semanas, porém, as reclamações se estenderam para regiões abastecidas pelos Sistemas Alto Tietê e Guarapiranga.
É o caso da assistente administrativa Selma Ferreira, de 46 anos, que mora na Vila Inglesa, em Cidade Ademar, zona sul. Ela ficou mais de 36 horas sem água. "Não pensei que pudesse faltar água tão rápido. Seria melhor se avisassem antes", disse.