Os militares travam uma guerra, ainda sem desfecho, com as regras da democracia
por Mauricio Dias — publicado 28/09/2013 10:40
Tânia Rêgo/ABr
Grupo protesta na segunda-feira 23 pela reabertura dos arquivos da ditadura militar durante visita dos integrantes da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro ao 1º Batalhão de Polícia do Exército, na que abrigou o DOI-Codi
Passados quase 50 anos do golpe de 1964, 21 dos quais sob uma ditadura que torturou e matou presos políticos nos casarões assombrados e nos porões dos quartéis, as Forças Armadas brasileiras, notadamente o Exército, têm se deslocado com frequência para uma rota de colisão com as regras democráticas. Os generais, coronéis, oficiais e suboficiais reencarnam seus antecessores com o mesmo espírito. Ou seja, como se ainda tivessem o poder de executar regras inscritas nas cartilhas autoritárias.
Um exemplo dessa situação descabida repetiu-se na segunda-feira 23, quando a Comissão Estadual da Verdade (RJ), presidida pelo advogado Wadih Damous, além de parlamentares, foi conhecer o prédio da Rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca, na zona norte da cidade, tristemente famoso por ter sido sede do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, mais conhecidos como DOI-Codi, sigla do mais temido órgão de repressão da ditadura.
O diálogo travado entre a deputada Luiza Erundina e o coronel Luciano Simões, comandante da Polícia do Exército (PE), fala mais do que as teorias sobre o choque entre uma democracia parcialmente resgatada e uma ditadura parcialmente insepulta.
Simões pôs-se a falar e a enaltecer a história da PE. Os visitantes ouviam calados por dever de ofício. A deputada Erundina, no entanto, notou que o militar, embalado pela narrativa pretensamente patriótica, passou a borracha na tragédia vivida dentro daquele quartel durante os anos 1970, apogeu da ditadura. A história não faz sentido com supressão de passagens de alguns episódios. Foi mais ou menos o que ela disse para o narrador fardado. Em resposta, ouviu uma observação do coronel Simões: “Eu não quero politicar”.
A parlamentar, autora de um projeto malsucedido, que punha fim à Lei da Anistia, retrucou: “Mas eu quero politizar”. Naquelas circunstâncias, houvesse ou não diálogos ríspidos, nada poderia melhorar o constrangimento do ambiente. Nem mesmo com a fidalguia protocolar de um convidativo cafezinho oferecido aos visitantes.
A parlamentar, autora de um projeto malsucedido, que punha fim à Lei da Anistia, retrucou: “Mas eu quero politizar”. Naquelas circunstâncias, houvesse ou não diálogos ríspidos, nada poderia melhorar o constrangimento do ambiente. Nem mesmo com a fidalguia protocolar de um convidativo cafezinho oferecido aos visitantes.
O mal-estar daquele dia era a extensão de situações semelhantes iniciadas no gabinete de Celso Amorim, ministro da Defesa, onde o general Enzo Peri, comandante do Exército, reuniu-se com civis para decidir se seria “permitida” a entrada de um grupo de parlamentares e advogados na ex-sede do DOI-Codi.
Peri foi apanhado de surpresa quando os parlamentares da Subcomissão de Direitos Humanos do Senado, como alternativa, anunciaram que levariam ao plenário o requerimento com o pedido oficial de visita. O general propôs formular um convite. Isso resultou, no entanto, em arrastada troca de comunicações sobre a lista de convidados. O Exército tentou vetar a presença de Erundina. O veto foi derrubado pelos parlamentares.
O objetivo da visita era e ainda é espinhoso. Transformar o local em centro de memória sobre a ditadura. Uma proposta que o general Peri chamou de “provocação barata”. Pelos parâmetros da caserna, talvez seja. Mas já não seria hora de alterar o conteúdo e a perspectiva de ensino nas escolas militares?
Oposição empacou I
As pesquisas continuam a mostrar a popularidade de Dilma, como candidata à reeleição, assim como a avaliação do governo dela, em alta. Números recentes do Ibope, em Mato Grosso do Sul, apontam um índice de 51% de aprovação no item “ótimo e bom”. O exemplo em Mato Grosso do Sul, região conservadora, pode expressar o efeito em escala nacional sobre a aprovação da administração. Fato que, provavelmente, será confirmado em próximas sondagens.
As pesquisas continuam a mostrar a popularidade de Dilma, como candidata à reeleição, assim como a avaliação do governo dela, em alta. Números recentes do Ibope, em Mato Grosso do Sul, apontam um índice de 51% de aprovação no item “ótimo e bom”. O exemplo em Mato Grosso do Sul, região conservadora, pode expressar o efeito em escala nacional sobre a aprovação da administração. Fato que, provavelmente, será confirmado em próximas sondagens.
Oposição empacou II
Os porcentuais de intenção de voto, recuperados por Dilma após a queda vertiginosa, em julho, pareciam escoar para Marina.
Mas pesquisa do Vox Populi, publicada por CartaCapital, captou no início de setembro uma perda de 7 pontos porcentuais. Ela recuou de 26% para 19%. A sondagem do Ibope, divulgada na quinta-feira 26, confirma queda de Marina ainda maior: ela tem 16% das intenções de voto. Aécio Neves (13%), José Serra (12%) e Eduardo Campos (4%) empacaram.
Os porcentuais de intenção de voto, recuperados por Dilma após a queda vertiginosa, em julho, pareciam escoar para Marina.
Mas pesquisa do Vox Populi, publicada por CartaCapital, captou no início de setembro uma perda de 7 pontos porcentuais. Ela recuou de 26% para 19%. A sondagem do Ibope, divulgada na quinta-feira 26, confirma queda de Marina ainda maior: ela tem 16% das intenções de voto. Aécio Neves (13%), José Serra (12%) e Eduardo Campos (4%) empacaram.
A votação perdida por Dilma não teve herdeiros. Ao recuperar os votos perdidos, a presidenta pode voltar a sonhar com a possibilidade de vencer, em 2014, no primeiro turno. Em caso de segundo turno, se a eleição fosse hoje, ela venceria todos os adversários com grande margem de diferença.
O que é o que é? IJosé Serra explicou a um amigo a razão da frequência dele à Casa das Garças, núcleo dos tucanos, no Rio: “Convívio e afinidade de pensamento”, disse. Provocado pelo interlocutor, identificou-se como “fiscalista modernizante”, e não “um liberal mais à esquerda”.
Seja lá o que o rótulo significar, isso mostra a inquietação de Serra com a condenação que sofre como um bastião da direita.
Já se culpou cem vezes o PT por ter empurrado Serra para a direita, onde se acomodou mais por conveniência eleitoral do que por afinidade política. De qualquer forma, ficou preso na teia da aranha.
Seja lá o que o rótulo significar, isso mostra a inquietação de Serra com a condenação que sofre como um bastião da direita.
Já se culpou cem vezes o PT por ter empurrado Serra para a direita, onde se acomodou mais por conveniência eleitoral do que por afinidade política. De qualquer forma, ficou preso na teia da aranha.
O que é o que é? IIAliás, nem só os tucanos visitam este think tank da economia conservadora. Arminio Fraga, líder do grupo, também recebe por lá o senador petista Lindbergh Farias, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Será ele, Lindbergh, um “fiscalista modernizante” ou “um liberal mais à esquerda”?
A história vai julgarA afirmação do advogado paulista Ives Gandra, de que José Dirceu foi condenado “sem provas”, mais visivelmente no crime por “formação de quadrilha”, denuncia uma articulação política no Supremo Tribunal Federal para condenar o ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula. Além desse efeito prático, Gandra, espécie de guru da direita no campo jurídico, deixa um legado teórico: os ministros Joaquim Barbosa e Luiz Fux estão muito além do Opus Dei.
Eleição apimentadaNa eleição para o governo de Minas, segundo as pesquisas, o petista Fernando Pimentel, ministro de Dilma, ex-prefeito de Belo Horizonte, vai à frente. Aécio Neves tenta empurrar para a disputa o tucano Pimenta da Veiga, ex-ministro de FHC e também ex-prefeito de BH. Confirmadas as candidaturas, a disputa será de Pimentel contra Pimenta.