quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Governo lançará três programas para tratamento de lixo
O governo vai lançar nas próximas semanas um programa para tratamento de resíduos sólidos baseado em três eixos: Brasil sem Lixão, Recicla Brasil e Pró-Catador. A informação foi repassada pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e as ações do programa estão estruturadas no sentido de cumprir as determinações do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, aprovado em 2010.
O primeiro eixo terá ações conjuntas entre estados, municípios e o governo federal e visa a eliminar os lixões de todas as cidades até agosto de 2014. O segundo irá estimular a reciclagem, e o Pró-Catador atuará para estruturar as cooperativas e tornar os catadores um elo importante para o alcance das metas do plano nacional.
O programa está na fase final de elaboração e, de acordo com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, os próximos passos são formatar os aspectos jurídicos e discutir o texto com a presidenta Dilma Rousseff.
Ao falar sobre um dos maiores desafios do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que é a eliminação dos lixões até 2014, a ministra lembrou que, a partir do plano, essa passou a ser uma responsabilidade compartilhada entre os entes federados.
“Esse esforço não é só do governo federal, é de competência também dos estados e municípios e dá a todos a responsabilidade de lidar com a questão do fim dos lixões, de incrementar a reciclagem, a logística reversa, de discutir as regiões do país que não têm aterros sanitários”, disse ontem (21) após participar da abertura do encontroDiálogos Sociais Rumo à Rio+20. A ministra observou também que muitas cidades ainda não têm a infraestrutura para implementar o patamar necessário de reciclagem no país.
Conforme o texto do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, após o dia 2 de agosto de 2014, o Brasil não poderá ter mais lixões, que serão substituídos pelos aterros sanitários. Os aterros vão receber apenas rejeitos, ou seja, aquilo que não é possível reciclar ou reutilizar. Os aterros são estruturas que contam com preparo no solo para evitar a contaminação de lençol freático, captam o chorume que resulta da degradação do lixo e contam com a queima do metano para gerar energia.
YARA AQUINO
Rochas de fama repentina
Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
No mar da China oriental existem cinco rochedos isolados, desertos e nus. Juntos formam o arquipélago chamado Diaoyu pelos chineses e Senkaku pelos japoneses.
Esses grandes blocos de pedra não servem para nada, mas sua fatalidade é a posição geográfica: estão mais ou menos à mesma distância do Japão e da China, ou seja entre a segunda e terceira economias do mundo, entre dois países poderosos separados por tudo: tradições, história, ideologias e alianças.
Essas cinco ilhotas estão nas primeiras páginas dos jornais em todo mundo. Elas foram anexadas pelos japoneses em 1895, mas a China de vez em quando as reivindica. Isso ocorreu em 1970 e agora, em setembro de 2012, uma frota com milhares de barcos de pesca chineses se dirige para a zona onde elas se encontram. E elas deve estar espantadas, tão solitárias, tão desamparadas, por se tornarem de um dia para o outro uma das "vedetes" do mundo, quase um "casus belli", e com o fato de dois países, um com mais de um bilhão de habitantes e outro com 300 milhões, se inflamarem de repente por sua causa.
Na terça-feira da semana passada, Tóquio anunciou sua decisão de comprar três dessas cinco ilhas, que até o momento são propriedade de particulares japoneses. O anúncio foi o bastante para alarmar a China.
A semana foi dura para o Japão. Aqui e ali, empresas japonesas instaladas na China foram atacadas: Panasonic, Toyota, Honda. Em Xian, um palácio fundado pelos japoneses foi incendiado.
Em torno da embaixada do Japão em Pequim, centenas de manifestantes controlados por centenas de policiais, desfilaram levando banners com a imagem de Mao estampada neles, estandartes mostrando mísseis caindo sobre o Japão. Cartazes traziam inscrições como "proibido para cachorros e japoneses", ou "vamos matar esses porcos japoneses".
Na realidade, além desse confronto entre dois "nacionalismos", os incidentes ocultam também interesses econômicos. O arquipélago de Senkaku está no centro de uma zona rica em petróleo e gás. Não espanta que a China o cobice. Isso também explica a violência da reação chinesa.
O jornal Diário do Povo advertiu que, se insistir, o Japão corre o risco de ver uma década perdida. Ou seja, Pequim, que hoje é o principal parceiro comercial do Japão, poderá reduzir seus negócios com Tóquio e especialmente limitar as vendas das "terras raras", essenciais para o setor de alta tecnologia, o forte da produção japonesa. A China é a única produtora mundial dessa matéria-prima.
Enfim, uma lembrança histórica envenena ainda mais as relações entre os dois países. Ontem, foi lembrado o aniversário do "incidente de Moukden". Nesse dia, em 1931, teve início a invasão da Manchúria pelos japoneses. Uma lembrança amarga para os chineses e os japoneses sabem disso. Por precaução, as escolas japonesas na China ficarão fechadas toda a semana. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
* É CORRESPONDENTE EM PARIS
terça-feira, 18 de setembro de 2012
A fatura do bem-estar
Numa primeira mirada, Felicidade S.A. parece mais um livro de autoajuda a entulhar as prateleiras das livrarias dos aeroportos e, assim, causar regozijo aéreo em quem lê só quando não tem mais nada que fazer. Mas as aparências enganam...
Depois de passar anos na editoria de Época Negócios, entrevistando gestores e consultores, lendo relatórios de pesquisas de diversos países, perseguindo autores clássicos e contemporâneos, Alexandre Teixeira, em seu métier jornalístico, realizou uma incursão nas ideias que povoam o mundo dos que vivem de negócios - etimologicamente, os que negam o ócio. Mergulhou no ideário gerencial dos que estão no topo. O resultado é forte: se a onda é a do ideário da felicidade, a pragmática que prolifera é a da corrosão.
Em suas entrevistas, o autor dialoga com os gestores e suas concepções acerca das relações entre felicidade e dinheiro, liderança e despotismo, sofrimento e ascensão, homem cordial e patriarcalismo, tempo livre e tempo poluído fora do trabalho, meritocracia e qualidade de vida, entre outros. Se, por vezes, o ex-editor de negócios aparenta estar absorto pelo ideário dos gestores, o repórter pesquisador sempre desconfia. Percebe que o movimento existente na superfície - a busca da felicidade como o "novo" leitmotiv do mundo gerencial - está em descompasso com a guerra das empresas globais em sua competitividade destrutiva. Esse descompasso faz com que o paralelo acabe por entrar em curto-circuito, e quando isso ocorre, são os "de baixo" que acabam pagando a conta.
É por isso que o autor afirma que se trata de "um livro sobre a felicidade no trabalho inspirado, em boa medida, pela ausência dela", dadas as "reclamações generalizadas sobre as jornadas de trabalho intermináveis" e a "ditadura do Blackberry", entre tantos outros elementos. E não é fora de propósito lembrar que BlackBerry era um grilhão usado durante a escravidão, nos Estados Unidos, que atava os pés dos negros como forma de impedir sua fuga. Só que agora adentramos na fase do grilhão digital.
Nas partes referentes às relações entre dinheiro, riqueza e felicidade, o autor demonstra que o ideário da felicidade é frequentemente obnubilado pelo frenesi do dinheiro e da riqueza. Chega a ser constrangedor ouvir gestores lá de cima, no cume do controle, afirmar que buscam mesmo é a felicidade. Seria interessante perguntar: qual é a base de sustentação dessa "nova felicidade"? Como vivem os proprietários/altos gestores/grandes acionistas entrevistados? Serão comedidos no número de automóveis que possuem? São monges em relação ao número de aposentos em suas mansões e na vastidão de suas propriedades para viver o gozo e a fruição? São constritos na parafernália de aparelhos informacionais-digitais (computadores, tablets, ipads, iphones, celulares, televisores, etc.) que possuem, eles, seus filhos e familiares? Ou será que a "felicidade" tão almejada no "espaço de trabalho" dos gestores é aquela que se erige a partir da abundância do consumo fetichizado e da superfluidade? Se assim for, seria também interessante indagar como a felicidade nos escalões de cima se sustenta e se fundamenta na "redução" das necessidades e carecimentos cotidianos daqueles que vivem no chão das empresas.
O livro apresenta um amplo leque de indicações sugestivas, especialmente à medida que vai descendo os degraus das hierarquias dos assalariados nas empresas: o Japão do emprego vitalício, por exemplo, ao ocidentalizar-se e praticar seu downsizing, não estaria vitimando especialmente seus jovens, dado que as corporações querem cada vez mais trabalhadores "diaristas"? A Google, ao oferecer condução para seus "colaboradores", com Wi-Fi para que possam conectar-se e laborar antes mesmo do horário de trabalho começar e ainda ofertar lavanderia para seus "colaboradores", não estaria se apropriando do tempo de trabalho de seus engenheiros e programadores? E a Atlasian, produtora australiana de software, ao criar o FedEx Day, "um dia de trabalho a cada trimestre no qual os funcionários ficam livres para trabalhar no que desejarem, com o único compromisso de entregar algo à empresa no dia seguinte", não estaria fazendo o mesmo? O resultado: em 18 realizações do dito-cujo, "550 projetos foram apresentados e 47 projetos ou aprimoramentos foram entregues a clientes da companhia". Não é preciso dizer que a ideia do FedEx Day se espalhou pela "aldeia global", pois instilar "ócio criativo" traz mesmo é aumento da massa de mais valia, através da subordinação dos trabalhos imateriais à forma-mercadoria.
E foi seguindo essa trilha que o qualificado livro-reportagem de Alexandre Teixeira, ao tratar da felicidade no trabalho, mesmo daqueles que dispõem de certo "capital cultural", esbarrou frequentemente em sua infelicidade. O que não dizer, então, dos que estão lá "em baixo", cuja felicidade em ter emprego convive cotidianamente com o risco de perdê-lo?
|
Autor: Ricardo Antunes |
Assinar:
Postagens (Atom)