quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Candidaturas pobres


José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
O julgamento do chamado mensalão afetou a eleição de prefeito, mas não como se imaginava. Somado ao escândalo de Cachoeira, o efeito de horas e horas de programação televisiva sobre o mensalão acabou sendo maior entre os financiadores do que entre os eleitores. Está faltando dinheiro para a campanha eleitoral.
Basta ver a penúria da primeira parcial das prestações de contas dos candidatos a prefeito nas capitais. Os valores previstos em dezenas de milhões estão sendo contados aos milhares. Os poucos que gastaram mais do que isso o fizeram por conta. Ou seja, fazem campanha na base do fiado.
Contraditoriamente, os tetos de gasto de campanha apresentados pelos comitês à Justiça Eleitoral nunca foram tão altos. Em São Paulo, projeções de receitas triplicaram em comparação ao pleito de quatro anos atrás. Obviamente a correção aplicada não foi apenas a da inflação. Os tesoureiros abriram espaço em suas planilhas para abrigar os antigos "recursos não contabilizados".
Por enquanto, porém, o dinheiro não está sendo contabilizado nem pelo caixa 2 nem pelo 1. Potenciais doadores têm muito frescas na memória as cenas de advogados de banqueiros e empresários apresentando a defesa de seus clientes no Supremo Tribunal Federal. Ou o exemplo da Delta, uma ex-rica doadora eleitoral que foi da prosperidade à bancarrota em apenas uma CPI.
Os céticos dirão que, mais cedo ou mais tarde, os interessados de sempre pingarão suas contribuições salvadoras nos cofres partidários. É bem provável. Até porque a gratidão pelas doações tardias será ainda maior do que de hábito. Mas o estrago já estará feito. A campanha foi encurtada para 50 ou 60 dias. Neófitos que precisavam se tornar conhecidos terão menos tempo para chegar aos olhos, ouvidos e dedos dos eleitores.
Tempestade perfeita. Desde 2002, a campanha eleitoral petista tacha José Serra (PSDB) de o candidato do medo. Por essa definição, vota no tucano quem teme ver hordas bárbaras invadirem o centro próspero. Mas a última década produziu uma invasão às avessas, uma onda de prosperidade consumista a banhar a periferia. Ermelino Matarazzo ficou mais parecido com a Mooca, não o contrário.
No começo da atual campanha eleitoral paulistana, a questão a ser respondida em 2012 parecia ser: o eleitor de Ermelino vai votar mais parecido com o da Mooca, ou o da Mooca com o de Ermelino? Na primeira hipótese daria Serra; na segunda, Fernando Haddad (PT). Mas aí Celso Russomanno (PRB) cresceu, apareceu, e o binômio PT-PSDB ficou insuficiente para resumir a eleição.
De onde apareceu Russomanno? Uma explicação é que Haddad é desconhecido, e o candidato do PRB ocupou o vácuo no eleitorado petista. Outra é que o paulistano está cansado das mesmas caras. Uma terceira, que há eleitores antipetistas que acham Serra um bom candidato a presidente, mas não um bom candidato a prefeito. Todas estão corretas.
Russomanno vai se sustentar na liderança? Ele tem um quarto do tempo de TV de Serra e Haddad. Ao contrário dos adversários, não tem as máquinas dos governos federal, estadual e municipal a apoiá-lo. Daqui para frente sua força é inercial. Veio da exposição na TV Record, da Igreja Universal do Reino de Deus e de sua imagem de conciliador e defensor do consumidor. E agora? Depende menos dele do que dos adversários.
Para Russomanno cair, Haddad tem que crescer. A maior superposição do voto no candidato do PRB é com o eleitorado petista. O pequeno crescimento de Haddad no mais recente Ibope já desacelerou Russomanno. Mas, para chegar ao segundo turno contra Serra, Haddad precisaria ao menos trocar os seus 11% de intenção de voto na zona petista pelos 30% de Russomanno. Mesmo assim seria o segundo colocado, e por uma margem muito apertada.
Nem só de votos petistas vive o fenômeno Russomanno, porém. Não está claro qual o tamanho do buraco que ele pode provocar no eleitorado de Serra. Entre maio e julho, fez o tucano perder cinco pontos porcentuais na zona antipetista da cidade. Mas a sangria parou em agosto. Só esperando o efeito do horário eleitoral para saber se a ferida cicatrizou ou não.
O que aconteceria se Haddad chegasse aos 30% na zona petista, a 10% no resto e, ao mesmo tempo, Russomanno equilibrasse a disputa com Serra em todas as regiões da cidade? A definição do segundo turno seria no olho mecânico. Qualquer combinação seria possível: Serra x Haddad, Serra x Russomanno ou até Russomanno x Haddad. A atual eleição paulistana é tudo, menos previsível.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Governo quer a volta dos trens de passageiros


LU AIKO OTTA , ANNE WARTH / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
O governo quer "ressuscitar" o transporte de passageiros em trens. Os 10 mil quilômetros de ferrovias que serão concedidos à iniciativa privada e que estarão prontos em meados de 2018, se tudo correr como o planejado, poderão oferecer o serviço. "O governo vai estimular isso e, se não o fizer, a sociedade cobrará", disse o presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, no lançamento do pacote de concessões.
A oferta de viagens ferroviárias dependerá apenas de haver interesse por parte de alguma empresa para operar linhas regulares de passageiros, segundo explicou ao Estado o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. Ele acredita que a tendência é que isso ocorra em trechos mais densamente povoados, como é o caso, por exemplo, da linha que ligará o Rio de Janeiro a Vitória (ES), passando por Campos (RJ).
Estudos mostram que o transporte de passageiros em trens só é financeiramente viável em distâncias curtas que passem por áreas urbanizadas. O foco das concessões ferroviárias anunciado pelo governo é o transporte de carga e o próprio traçado das linhas deixa isso claro: elas saem de áreas de produção de grãos e minérios e chegam aos portos. O transporte de pessoas seria algo secundário.
Porém, o governo acredita que haverá interesse, porque haverá um serviço melhor do que o atual a oferecer. As linhas férreas em operação no País, antigas e com traçados com muitas curvas e rampas, permitem às composições trafegar a velocidades próximas a 30 ou 40 quilômetros por hora. "Quem vai querer viajar assim, se pode ir num ônibus confortável a 90 quilômetros por hora?", comentou Passos.
Mais rápido. As novas linhas que serão construídas, de bitola larga e traçado mais moderno, permitirão viagens a velocidades de 80 a 120 quilômetros por hora. Portanto, elas poderão ser opções competitivas do ponto de vista comercial.
Pelo modelo anunciado pelo governo, serão leiloadas concessões para consórcios interessados em construir, manter e administrar as linhas férreas. Toda a capacidade de transporte de carga será comprada pela estatal Valec que, por sua vez, leiloará as autorizações de uso aos operadores interessados.
Assim, para que haja trens de passageiros, será necessário que alguma empresa se interesse pela linha e compre da Valec as cotas para operar o serviço. Além da ligação entre o Rio e Vitória citada pelo ministro, haverá, por exemplo, uma linha ligando Salvador (BA) a Recife (PE), passando por Aracaju (SE) e Maceió (AL).

Manejo de resíduos pode reduzir emissões em 56%


O Estado de S.Paulo
O manejo adequado do lixo no Brasil pode possibilitar uma redução de 54 milhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano. É a conclusão de um estudo feito na Universidade de Utrecht (Holanda), levando em conta o cenário de mudanças estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, na comparação com o padrão atual de descarte.
O trabalho considerou as estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para as emissões do setor, e o padrão da composição dos resíduos sólidos no Brasil elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que encomendou a pesquisa.
Em 2011, 51,4% dos resíduos brasileiros eram matéria orgânica (passível de compostagem), 31,9% eram recicláveis e 16,7% entravam na categoria outros (em geral rejeitos que não têm nenhum aproveitamento).
Esse quadro foi complementado com o dado de que 42,44% dos resíduos têm destino inadequado (vai para lixões) e só 3% são reciclados. Pelos cálculos dos pesquisadores, numa projeção para 2030,mantidas essas condições, as emissões do setor seriam equivalentes a 95,5 milhões de toneladas de CO2 por ano.
Em sua decomposição, o lixo emite principalmente metano (CH4), um dos gases de efeito estufa que, apesar de contribuir com o problema em menor volume que o gás carbônico, tem um poder calorífico maior. Para somar todos os gases, os cientistas converter o valor para o do CO2, daí essa unidade "equivalente".
O ano 2030 também foi pensado porque é o estabelecido pelas metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Na ocasião, 36% do "lixo seco" deverá ser reciclado, e 53% do lixo orgânico deverá ser compostado. O trabalho considera também o aproveitamento de 83% do gás gerado nos aterros para produção de energia elétrica. Com tudo isso, deixaria de ser emitido o equivalente a 54 milhões de toneladas de CO2 por ano - redução de 56% em relação à projeção se nada fosse feito.
"Além do ganho climático, essa diminuição geraria créditos de carbono que poderiam render US$ 570 milhões", comenta Carlos Silva, diretor executivo da Abrelpe.
O trabalho também considerou um cenário mais ousado, com padrões semelhantes aos europeus: reciclagem maior, compostagem de 80% e incineração do que não for reciclado, gerando energia.
A redução poderia chegar ao equivalente a 82 milhões de toneladas de CO2 por ano, com ganho em créditos de US$ 1,3 bilhão. "E nesse cálculo nem foram considerados os ganhos com a venda da reciclagem. A ideia é que essas atividades poderiam gerar recurso para o próprio setor melhorar", afirma. / GIOVANA GIRARDI