O Estado de S.Paulo
Reivindicado há mais de 20 anos pelos moradores da zona sul, o pacote de obras proposto para melhorar a mobilidade da região deve, enfim, desafogar parte dos gargalos enfrentados todos os dias por motoristas e passageiros do transporte público. São dez projetos listados, com destaque para duplicação e prolongamento da Estrada do M'Boi Mirim e da Avenida Belmira Marin, que travam fora dos horários de pico e até em fins de semana.
Juntas, as duas vias receberão mais 6,3 quilômetros de pista e a mesma extensão de ciclovias. Na Belmira Marin, a duplicação será no sentido da Avenida Senador Teotônio Vilela. No futuro, a Prefeitura ainda prevê construir uma ponte ligando o Jardim Gaivotas ao Jardim Ganhambu, outra exigência local para acesso mais rápido ao centro.
Na M'Boi Mirim, a duplicação deve dar mais espaço aos ônibus. Em determinado trecho, a via ganhará uma faixa de cada lado. Em outros, duas. Em paralelo, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras diz que vai reformar o corredor dos coletivos.
"Haverá uma requalificação. A ponte usada para ultrapassagem, por exemplo, será melhorada e ganhará faixa dupla para ônibus. Do jeito que está, a M'Boi Mirim não dá vazão nem aos carros nem aos ônibus", afirma o secretário Elton Santa Fé Zacarias. Segundo ele, caso o governo estadual opte por construir um monotrilho na avenida - e não um metrô subterrâneo, como reivindicado pela população -, o canteiro central ainda será alargado.
Rankings. O caos na M'Boi Mirim se explica porque a estrada é a única via que atende regiões populosas, como o Jardim Ângela. A rota, compartilhada por carros, ônibus e pedestres, lidera vários rankings negativos: via com mais atropelamentos, menor velocidade no corredor de ônibus e uma das campeãs de congestionamentos. Não por acaso são comuns protestos contra a má qualidade do transporte público local. No último, em abril de 2010, a via ficou três horas fechada.
Mas, para urbanistas e engenheiros de trânsito, a falta de estrutura da área só pode ser resolvida com um plano adequado de transporte público - e com o viário destinado aos automóveis adequado a esse projeto.
"Para construir um metrô que não seja enterrado, como um VTL (ou monotrilho), é preciso uma faixa de domínio maior, o que a região não tem. A Avenida Carlos Caldeira Filho foi construída em um fundo de vale e ficou bem resolvida. Já na M'Boi Mirim, a via vai se estreitando e fica confusa. Uma avenida que sai na carona de uma ampliação para melhorar o transporte público é válida", afirma o urbanista Cândido Malta Campos Filho, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Com a canalização do Córrego Ponte Baixa, uma pequena marginal, com duas faixas de tráfego, permitirá o prolongamento da Avenida Carlos Caldeira Filho em 3,2 km até a M'Boi Mirim, reduzindo o trânsito registrado na região do Hospital de M'Boi.
No novo plano viário municipal, a Avenida Guarapiranga é a que ganhará a maior extensão. Serão 9,9 km margeando a represa, no entroncamento com a Estrada da Baronesa, a um custo estimado de R$ 310 milhões. Segundo a Prefeitura, esse será o primeiro trecho de um anel viário a ser construído.
Outra meta jogada para frente no plano é a ligação da região de Cidade Ademar com as estradas que levam ao litoral. A Prefeitura diz que vai duplicar a Estrada do Alvarenga em 6,3 km, mas ainda não acertou com o município de Diadema, no ABC, um cronograma conjunto para estender a via até a Rodovia dos Imigrantes, o que completaria o planejamento.
Ao todo, a Prefeitura pretende construir 43 km de novas faixas, incluindo o investimento previsto para a Marginal do Pinheiros. "A zona sul é a região mais carente de mobilidade urbana, pela própria característica de ocupação, com muitas invasões sem qualquer planejamento. O resultado é que o viário da região ficou muito acanhado e deficiente", diz Zacarias. / ADRIANA FERRAZ e BRUNO RIBEIRO