Os BRICs quase foram RICs. O economista Jim O'Neill, que cunhou o termo BRICs em 2001, conta que a inclusão do Brasil no grupo foi um dos maiores riscos que assumiu. "Nos anos 80 e 90, o Brasil era um lugar muito volátil. E pouco antes de eu introduzir o conceito dos BRICs, tivemos a crise da Argentina, e muita gente esperava que houvesse grandes consequências negativas para o Brasil; além disso, muita gente não confiava no presidente Lula, que acabava de assumir o poder quando eu formulei o conceito de BRICs", disse O'Neill em entrevista por telefone na semana passada.
Hoje, ele não tem a menor dúvida de que incluir o Brasil foi uma escolha acertada.
"De certa forma, o Brasil está se transformando em um novo país", ele acredita.
O'Neill, que hoje é diretor do conselho da Goldman Sachs Administração de Ativos, mede o prognóstico de crescimento e de aumento de renda per capita por meio de um índice, o Growth Environment Score (GES) . O GES acompanha 180 países em 13 critérios: inflação, deficit público (como % do PIB), taxa de investimento (formação bruta de capital fixo como % do PIB), abertura da economia (importações mais exportações como % do PIB, com ajuste para população e localização geográfica), penetração de celulares (por 100 pessoas), penetração de computadores pessoais (por 100 pessoas), média de anos de estudo secundário, expectativa de vida, estabilidade política (de indicadores do Banco Mundial), cumprimento de leis e regras (do Banco Mundial) e corrupção (do Banco Mundial).
Para chegar ao GES de cada país, que vai de um a 10, os economistas da Goldman Sachs atribuem uma nota a cada critério e dividem por 13. Todos têm o mesmo peso.
O Brasil tem a nota 5,5. É bastante baixa, comparando com nações do topo do ranking, como Cingapura (8,9) e Coreia do Sul (7,5). Chile também está à nossa frente, com 6,2.
Mesmo assim, lideramos entre os BRICs, à frente até da China (5,4).
O Brasil tem a nota 5,5. É bastante baixa, comparando com nações do topo do ranking, como Cingapura (8,9) e Coreia do Sul (7,5). Chile também está à nossa frente, com 6,2.
Mesmo assim, lideramos entre os BRICs, à frente até da China (5,4).
O Brasil tem deficiências sérias, como estamos cansados de saber. O país vai muito mal em taxa de investimento sobre o PIB (20%, segundo FMI), e abertura ao comércio internacional, com a pior pontuação entre os BRICs.
Mas o país se destaca em alguns criterios. "A redução dramática da inflação trouxe a estabilidade macroeconômica", diz O'Neill. "Além disso, em algumas das variáveis bem difíceis de ir bem, o Brasil tem scores melhores que os outros BRICs." Em critérios como corrupção, estabilidade política, educação, penetração de computadores e de internet, o país tem pontuação melhor do que os outros BRICs.
Isso, porém, diz mais a respeito do problema dos outros BRICs do que da suposta vantagem do Brasil --claramente é insólito dizer que o Brasil vai bem em educação ou corrupção.
Os outros BRICs tem desempenho ainda mais medíocre em alguns critérios. A China, por exemplo, precisa avançar muito em tecnologia e cumprimento de leis e regras; na Rússia (4,8), os pontos mais fracos são expectativa de vida, cumprimento de leis e regras e corrupção, e, na Índia (4,0), corrupção, estabilidade do governo, educação e todos os indicadores de tecnologia precisam de grande melhora.
Os outros BRICs tem desempenho ainda mais medíocre em alguns critérios. A China, por exemplo, precisa avançar muito em tecnologia e cumprimento de leis e regras; na Rússia (4,8), os pontos mais fracos são expectativa de vida, cumprimento de leis e regras e corrupção, e, na Índia (4,0), corrupção, estabilidade do governo, educação e todos os indicadores de tecnologia precisam de grande melhora.
Enquanto o Brasil foi o país que mais subiu no ranking do GES - sua nota passou de 3,7 em 1997 para 5,5 em 2010, e sua posição no ranking saltou de 103 para 74 - a Índia patina. Tinha nota 3,5 em 1997 e passou para 4.0 em 2010. No ranking, foi de 110, para 138.
"A Índia foi o país que menos avançou entre os BRICs", diz O'Neill.
Ou seja, está mais para para uma sigla impronunciável, BRCs, do que RICs.