sexta-feira, 10 de junho de 2011

São Bernardo terá 1ª termelétrica movida a lixo do País


06 de junho de 2011 | 10h 31
AE - Agência Estado
A prefeitura de São Bernardo, no interior paulista, vai lançar hoje o edital de licitação para seu novo projeto de tratamento de lixo, que deverá render ao País a primeira usina termelétrica movida a lixo. A estimativa é gerar 30 MW/h, o que poderia abastecer uma cidade de 200 mil habitantes - e poderão ser revendidos à Eletropaulo.
De acordo com o secretário de Coordenação Governamental, Tarcísio Secoli, a queima evita inconvenientes como a produção de chorume e gases comum nos aterros. E as cinzas geradas com a queima podem ser aproveitadas em asfalto de estradas. Além disso, não inutiliza grandes terrenos para a criação de aterros, como o de Mauá, onde a cidade deposita seu lixo hoje.
A criação de uma usina termelétrica à base de lixo também é um tema recorrente em cidades como Curitiba e São José dos Campos, no interior paulista. Em São Bernardo, a previsão é assinar contrato neste ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 


Rota turística pelo Rio Tietê deve ir até Salto


Governador vai anunciar, em julho, plano para ampliar hidrovia com o Paraná em 200 quilômetros; Emae ainda investirá em pequenas usinas

06 de junho de 2011 | 0h 00
José Maria Tomazela - O Estado de S.Paulo
SOROCABA
Divulgação
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Barco a motor. Prefeito já seguiu pelo rio até Porto Feliz
O sonho de viajar de barco pelo Rio Tietê, desde São Paulo até a foz no Rio Paraná, como faziam os antigos bandeirantes, está próximo de se tornar realidade. O governador Geraldo Alckmin deve anunciar no próximo mês o início do plano de trabalho para ampliar a Hidrovia Tietê-Paraná em 200 quilômetros. Com isso, a parte navegável do rio, que hoje chega a Anhembi, região de Botucatu, se estenderá até Salto, a 98 km da capital.
Além do transporte de cargas em barcaças, a hidrovia permitirá tirar do papel o plano de transformar o rio em uma grande rota turística. Desde o fim dos anos 1990, o prefeito de Salto, Geraldo Garcia (PDT), trabalha em um roteiro para resgatar a saga dos bandeirantes que desciam o Tietê para explorar as riquezas do interior. Os bandeirantes saíam de São Paulo, Santana de Parnaíba e Sorocaba, lançando-se ao rio em Porto Feliz. Os locais de parada das monções terão atracadouros para os barcos turísticos. A ideia é aproveitar a importância histórica e a beleza dessas paragens.
Garcia também subiu em barcos a motor, abaixo da cachoeira de Salto, e seguiu pelo rio 48 quilômetros até Porto Feliz. Tudo para provar que era possível navegar pelo Tietê mais perto de São Paulo, apesar da poluição. Ele fez seis viagens, a última no início deste ano.
"Ainda tem poluição, sobretudo agora que o rio está muito baixo pela falta de chuvas, mas a região é de grande beleza. Tem muitas aves e até peixes nesse trecho", dizia na sexta-feira. Com o apoio da Faculdade de Tecnologia de Jaú, o prefeito explorou metro por metro essa parte do rio. Ele descobriu pelo menos 40 fazendas na região com potencial para o turismo. "Algumas têm casas-grandes antigas e espetaculares que podem facilmente ser transformadas em hotéis ou pousadas."
Com a hidrovia, ele vê possibilidade de ampliar o projeto até Anhembi, passando por cidades com bom potencial turístico, como Tietê, Jumirim, Laranjal Paulista e Conchas. "É uma região rica em tradições culturais, como a Festa do Divino e o cururu, sem contar a gastronomia e a boa cachaça produzida em alambiques", conta. A partir de Anhembi, barcos turísticos já percorrem o Tietê, passando pela eclusa de Barra Bonita. Dali para a frente, até o Rio Paraná, as embarcações de passageiros dividem o leito do rio com os comboios de barcaças transportando cargas.
Projeto. A Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), vinculada à Secretaria de Saneamento e Energia, abriu licitação para o projeto de extensão da hidrovia, em parceria com o Departamento Hidroviário do Estado.
Até o fim deste mês, deverá ser definida a empresa para fazer o projeto básico, que servirá para a contratação da obra. O prazo para a conclusão dessa fase será de seis meses. Está prevista ainda a construção de três a cinco Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) no trecho entre Salto e Anhembi. As barragens servirão para regular a vazão do rio, permitindo a navegação em qualquer época do ano, e terão eclusas. Haverá também geração de energia e redução nas enchentes do rio, que periodicamente atingem as cidades de Porto Feliz e Tietê. Com a ampliação, o trecho navegável do Rio Tietê aumentará para 850 quilômetros.
O diretor-presidente da Emae, Antonio Bolognesi, vê com interesse o uso integrado das águas do rio. "Estávamos acostumados a trabalhar esses projetos com a visão energética. Hoje, a ideia é induzir o desenvolvimento em todos os aspectos, incluindo o turístico."
PARA LEMBRAR
Caminho para o Mercosul
Desde o fim dos anos 1990, a hidrovia Tietê-Paraná (2,4 mil quilômetros de extensão) serve como rota de escoamento de mercadorias entre países do Mercosul. A construção da eclusa de Jupiá, na foz do Tietê, em 1998, possibilitou a navegação de cargueiros entre Conchas (SP) e Foz do Iguaçu (PR). No ano passado, foram transportados 5,6 milhões de toneladas de produtos agroindustriais. Os governos federal e de São Paulo anunciaram em abril investimentos de R$ 1 bilhão até 2014, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2. 


Só a escola tira da pobreza


06 de junho de 2011 | 0h 00
Carlos Alberto Sardenberg - O Estado de S.Paulo
Não se mede o sucesso de um programa tipo Bolsa-Família pela quantidade de pessoas beneficiadas. É certo que o programa tem o objetivo imediato de aliviar a pobreza corrente e oferecer um mínimo de conforto para as famílias mais necessitadas. Mas isso não retira as pessoas dessa condição. Elas continuam dependendo do dinheiro do governo. Nesse caso, trata-se de assistência social, não de um programa de redução e eliminação da pobreza. Como esse objetivo poderia ser atendido?
A medida essencial está no progresso escolar das crianças atendidas. A ideia básica para esses programas, desenvolvida no âmbito do Banco Mundial, partiu do seguinte ponto: as famílias mais pobres transmitem a pobreza a seus filhos porque não têm recursos para mandá-los para a escola ou porque precisam do rendimento do trabalho dessas crianças. Sem educação formal, estas não encontram bons empregos e, assim, não têm como escapar da pobreza.
Daí o nome técnico do programa - Transferência de Renda com Condicionalidades (Conditional Cash Transfer) - e sua regra básica: a mãe recebe uma renda mínima e mais dinheiro conforme o número de crianças na escola. Trata-se de cobrir aquilo que o menino ou a menina poderiam ganhar trabalhando.
A ideia de entregar o dinheiro partiu da constatação do fracasso de programas antigos, como a distribuição da cesta básica. Em todos os países os problemas se repetiam: corrupção na compra pelo governo, erros na composição da cesta, perdas na distribuição. Auditorias mostravam que, a cada R$ 1 alocado para o programa, menos da metade chegava na casa das famílias pobres.
Que tal dar o dinheiro à família? Muitos tecnocratas diziam que isso daria errado, pois as pessoas gastariam tudo com bobagens ou, pior, com bebida, cigarro e jogo. Um equívoco. A prática provou que as famílias sabem cuidar de si, especialmente quando o dinheiro é entregue para a mãe, como é o caso dos atuais programas.
A segunda ideia boa foi exigir uma condição. A bolsa está condicionada basicamente à presença da criança na escola e, mais que isso, ao seu progresso na educação (frequentar aulas, passar de ano, etc.).
No México Oportunidades, o primeiro programa de âmbito nacional na América Latina, iniciado em 1997 e hoje considerado o mais bem implementado, a bolsa paga por criança aumenta na medida em que esta progride na vida escolar. Vai de US$ 10 (mensais), para alunos do ensino primário, a US$ 58, para os rapazes no 3.º ano do ensino superior, com até 22 anos.
As meninas recebem bolsa maior (US$ 66 no ensino universitário) porque são retiradas da escola com mais frequência, para ajudar na casa e no cuidado com os irmãos. Além disso, o México Oportunidades ainda paga uma caderneta de poupança para alunos do ensino médio. Concluindo o curso, eles podem usar o dinheiro para iniciar um negócio ou financiar os estudos universitários.
No Brasil, o Bolsa-Família atende crianças de até 15 anos. Eis, pois, um caminho para aperfeiçoar o programa brasileiro, sobretudo porque há um problema grave de evasão escolar e atraso no ensino médio. Outro ponto que se poderia copiar do México: o programa é auditado por uma instituição independente.
Resumo da ópera: o programa pode atender 1/4 da população, como ocorre no Brasil e no México, mas fracassará se as crianças não estiverem avançando na escola. Vai daí que a melhora do ensino público é uma condição essencial.
É preciso prestar atenção no foco, porque há sempre uma visão político-clientelista, dinheiro em troca de votos, como, aliás, denunciava Lula em suas campanhas eleitorais antes de ganhar. Ele atacava a distribuição de cesta básica e tíquete de leite, definida como prática eleitoral para ganhar o povo pela barriga. Dizia mais o candidato Lula: "Eles (dirigentes) tratam o povo mais pobre da mesma maneira que Cabral tratou os índios, distribuindo bijuterias e espelhos para ganhar os índios. Hoje, eles (da elite) distribuem alimentos... Tem como lógica manter a política de dominação".
Isso vale para o Bolsa-Família, se o programa for apenas, ou principalmente, de distribuição de dinheiro aos pobres. Há até um argumento econômico a favor dessa distribuição: os beneficiados gastam o dinheiro e movimentam o consumo, de modo que, quanto mais dinheiro dado, melhor. Os pobres continuam pobres, mas gastando o dinheirinho recebido das mãos dos políticos no governo e... votando neles. O que muda tudo é o foco na educação, o efetivo progresso escolar das crianças.
Paternidades. O programa Transferência de Renda com Condicionalidades, desenvolvido no Banco Mundial, foi testado no início dos anos 90 em Honduras.
No Brasil, a primeira experiência nasceu em Campinas, em 1994, numa iniciativa do prefeito José Roberto Magalhães. Era um Bolsa-Escola. Um ano depois, o então governador Cristovam Buarque introduziu o programa em Brasília.
Buarque batalha a ideia desde os anos 80. Colaborou com pesquisadores do Banco Mundial e a Unicef, que estiveram em Brasília, e ajudou o prefeito Magalhães.
O primeiro programa nacional em larga escala começou no México, em 1997. O Brasil foi o terceiro país, com o Bolsa-Escola de 2001, governo FHC, numa iniciativa do Comunidade Solidária, de Ruth Cardoso, que participara dos estudos no Banco Mundial. Em 2002, o Bolsa-Escola e outros programas semelhantes atendiam mais de 4 milhões de famílias.
No início de 2004, depois do fracasso do Fome Zero, o presidente Lula criou o Bolsa-Família, juntando todos aqueles programas. E ampliou o número de famílias beneficiadas para 12,5 milhões.
O risco, hoje, é afrouxar o controle da vida escolar das crianças, tolerar as faltas à escola e acabar levando o programa mais para a distribuição de dinheiro do que o apoio à educação. Ao anunciar a ampliação do Bolsa-Família na semana passada, a presidente Dilma pouco falou da escola.
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