quarta-feira, 23 de março de 2011

Rios voadores: água levada por cima de nossas cabeças

- O Estado de S.Paulo
ENTREVISTA - Gerard Moss, ENGENHEIRO MECÂNICO E PILOTO DE AVIÃO

Gerard Moss é o idealizador do projeto Rios Voadores, que mapeia o papel da Amazônia na produção de vapor d"água que alimenta outras regiões do País. Suíço e filho de pilotos de rali, ele já voou ao redor do mundo em um monomotor da Embraer. Ao Estado, falou sobre a iniciativa, patrocinada pela Petrobrás, que agora vai chegar às escolas por meio de cartilhas, material didático e capacitação de professores.
O que são os rios voadores e quanta água transportam?
São cursos de água atmosféricos que levam umidade e vapor de água da bacia Amazônica para outras regiões do Brasil. São cerca de 20 bilhões de toneladas de água por dia transportadas de forma "invisível", por cima das nossas cabeças. Para se ter uma ideia, a vazão média do Amazonas é da ordem de 17 bilhões de toneladas de água por dia. Ou seja: a quantidade de água evaporada diariamente supera a vazão do maior rio do mundo.
Essa água vem da floresta?
Não. Boa parte vem do mar, mas a floresta funciona como uma bomba biótica. Da porta de entrada dessa água (Belém, na baía do Guajará, e cidades litorâneas) até o Acre, acontecem 2,8 ciclos hidrológicos (evaporação, condensação, precipitação). Resumindo: se não tivéssemos a floresta, menos água chegaria aos pontos mais remotos. Estudos recentes mostram que a condensação de água sobre a floresta faz com que a pressão, nesses locais, seja menor do que sobre o mar. Isso faz com que a umidade que há sobre o mar seja atraída para a floresta.
Qual o próximo passo do projeto Rios Voadores?
Estamos iniciando uma ação em escolas, nas cidades por sobre as quais os rios voadores passam: Londrina, Ribeirão Preto, Uberlândia, Brasília, Cuiabá e Chapecó. Começamos no dia 26 de abril em Ribeirão Preto. Vamos fazer com que as crianças estimem a quantidade de água atmosférica vinda da Amazônia. Num primeiro momento, vamos capacitar cerca de 180 professores e pretendemos atingir algo em torno de 30 mil crianças. / KARINA NINNI, ESPECIAL PARA O ESTADO 


Agroecologia preserva mananciais

Tânia Rabello, de O Estado de S.Paulo
Uma revolução silenciosa começa a tomar corpo na região de mananciais do município de São Paulo, no extremo da zona sul. Esta revolução passa necessariamente pela agricultura e pode se tornar uma alternativa efetiva para preservar o meio ambiente e a água consumida pelos 19 milhões de habitantes da Grande São Paulo.
Filipe Araújo/AE
Filipe Araújo/AE
Produtores da capital, como Batista, que quer produzir cachaça orgânica, assinaram o Protocolo
Números surpreendentes se escondem nas fronteiras do município, não só na zona sul, mas também nas zonas norte e leste, onde se abrigam, no total, 402 agricultores cadastrados. A área agricultável da megalópole paulistana representa 15% da superfície do município, de 1,5 milhão de quilômetros quadrados. Em plena capital se produzem hortaliças, plantas ornamentais e grãos. É na área de mananciais, as Represas Billings e Guarapiranga, que está a maioria desses agricultores: 311. O restante mantém lavouras na zona leste, com 50 agricultores, e zona norte, com 41.
O "nome" da revolução é agroecologia. E o sobrenome é "Protocolo de Boas Práticas Agroambientais". Até agora poucos, porém empolgados, 34 produtores da região de mananciais assinaram o protocolo, proposto em setembro de 2010 pelo governo estadual e pela prefeitura. Eles devem servir de exemplo para alguns ressabiados agricultores da região, que aguardam por resultados positivos antes de aderir.
Conservacionismo. A assinatura significa que esses agricultores se comprometem a adotar práticas agrícolas sustentáveis, entre elas abolir o uso de agrotóxicos e adubos químicos e preservar mata nativa, nascentes, prevenir erosão e manter o solo permeável, desistindo, por exemplo, do uso da plasticultura (estufas). A região é pródiga em hidroponia, técnica de cultivo que utiliza adubo químico solúvel em água e o plástico nas estufas. O prazo estipulado pelo protocolo para a conversão para a agroecologia é 2014.
"A ideia é transformar essas áreas, a médio prazo, em polos produtores de agricultura orgânica, além de garantir meios justos de comercialização e escoamento da produção", ressalta a diretora do Departamento de Agricultura e Abastecimento da Secretaria de Abastecimento do Município de São Paulo, Nadiella Monteiro.
"Fixando-se na atividade, além de garantir uma forma ambiental e economicamente sustentável de vida, o agricultor não fica forçado a vender a terra, eliminando o risco de ela se transformar em loteamentos clandestinos, uma das principais ameaças à qualidade das águas que abastecem a capital", explica Nadiella.
Em troca à adesão ao protocolo, o município dá assistência técnica especializada, por intermédio das Casas de Agricultura Ecológica. São três: a Unidade Sul, a Unidade Leste e a Unidade Norte. Na Unidade Sul, a Casa de Agricultura Ecológica José Umberto Macedo Siqueira, em Parelheiros, há dois engenheiros agrônomos, um engenheiro ambiental e uma estagiária de agronomia.
Cachaça orgânica. "Eu nunca havia tido nenhum tipo de assistência por aqui", diz o produtor José Geraldo Batista, de 45 anos e agricultor desde os 7, quando ajudava o pai, em Minas Gerais. Nos 7 hectares que arrenda para plantar cana e uma ornamental chamada "buchinha", conta com a assessoria da Casa de Agricultura e acabou de formatar um projeto de 80 mil litros/ano de cachaça orgânica. "Só falta a Cetesb autorizar", comemora Batista, que, não fosse a assistência dos agrônomos, teria cometido o erro de construir o alambique a menos de 30 metros de um curso d"água. "Tive de parar a construção, após receber orientação."
A cana já viceja no campo e ele espera produzir as primeiras garrafas de cachaça orgânica "made in Guarapiranga" até o fim do ano. Enquanto isso, Batista tem renda vendendo a buchinha a atravessadores. "Leva dois anos para colher e eles me pagam só R$ 2 por unidade. É muito pouco", lamenta ele.
Outra empolgada agricultora é Valéria Maria Macoratti, que cultiva, em sociedade com Daniel Petrino dos Santos, 3 hectares de hortaliças. "Fiz uma aposta com Daniel, de que conseguiríamos produzir sem adubo químico e veneno", conta ela, que há um ano abandonou o cultivo convencional. "A produção vai muito bem." Além da assistência técnica, Valéria conseguiu vaga num curso de agricultura biodinâmica e está aprendendo a fazer bokashi, um adubo à base de farelo de trigo, farinha de osso, torta de mamona, vermiculita e micronutrientes. "Se comprasse pronto, pagaria mais. Vamos fazer no meu sítio e dividir custos e o adubo."
Mauri Joaquim da Silva, do Bairro Lagoa Grande, em Parelheiros, se considera um dos maiores incentivadores para que os produtores assinem o Protocolo. Ele já começou a adotar práticas conservacionistas em sua horta e torce para que os vizinhos, boa parte deles adeptos da hidroponia, se convençam e assinem também.
"Tive vários problemas, sobretudo com atravessadores, e estava falido", conta Silva, que tem 33 anos e retomou o ânimo com a agroecologia, após fazer um curso da ONG Cinco Elementos, que atua na região com recursos do Fundo Estadual de Meio Ambiente. Agora, em 40 mil metros quadrados, só utiliza práticas conservacionistas e estimula os companheiros a formar uma cooperativa. "Ela ajudará na certificação orgânica, mas principalmente na comercialização", acredita.

terça-feira, 22 de março de 2011

São Paulo tem em janeiro menor venda de imóveis dos últimos 7 anos


Recuo na quantidade de unidades novas vendidas foi de 45% em relação a igual período do ano anterior, segundo pesquisa da Secovi-SP

22 de março de 2011 | 8h 39
Fabiana Holtz, da Agência Estado
SÃO PAULO - A capital paulista registrou em janeiro o menor volume de vendas de imóveis novos desde 2004, com recuo de 45% em relação a igual período do ano anterior, passando de 1.508 para 830 unidades, segundo pesquisa divulgada hoje pelo Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais de São Paulo (Secovi-SP).   O resultado representa queda de 83,3% em relação a dezembro, quando foram vendidas 4.960 unidades. Os lançamentos, por outro lado, registraram leve alta de 1,9% em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado, somando 601 unidades.
Segundo a entidade, a performance reflete um forte efeito da tradicional sazonalidade do período de férias. Em nota, o economista-chefe do Secovi-SP, Celso Petrucci, considera o recuo pontual e pondera que ainda é cedo para traçar tendências.
Características dos imóveis
Os imóveis com idade máxima de 180 dias desde o lançamento representaram 74% do total comercializado no mês. Vale lembrar que os seis primeiros meses a partir do lançamento tradicionalmente concentram o maior esforço de divulgação do produto.
O segmento de dois quartos corresponde a 37% do total comercializado na capital. Imóveis com três dormitórios tiveram a segunda maior participação, com 31% do total. Já as unidades de quatro dormitórios representam 20,4%.
Em termos de área útil, cerca de 36,4% das unidades comercializadas no primeiro mês do ano tinham, em média, entre 46 e 65 metros quadrados. Outros 24,6% possuíam área entre 66 e 85 metros quadrados.
O indicador vendas sobre oferta (VSO) da cidade de São Paulo desacelerou de 29,2% em dezembro para 6,7% em janeiro. Em janeiro de 2010, o indicador estava em 11,3%. O VSO expressa a relação entre o volume de unidades vendidas e a oferta existente no mês.
Grande SP
As vendas de imóveis novos caíram 32,5% em janeiro na comparação com igual período do ano anterior na região metropolitana de São Paulo, que engloba 38 cidades e a capital. No período foram comercializados 2.535 imóveis, dos quais 32,7% estavam localizados na capital.
Segundo dados da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), os lançamentos da região metropolitana somaram 1.610 imóveis no período, com a capital respondendo por 37,3% do total (601 unidades).
Enquanto a capital mostrou expansão de 1,9% no número de unidades lançadas em relação a um ano antes, a região metropolitana registrou queda de 4,7%. No segmento de imóveis comerciais, janeiro contou com o lançamento de apenas um empreendimento, com 31 conjuntos, na capital.
Para Celso Petrucci, é nítida a tendência de redução da relevância da cidade de São Paulo nos resultados da região.
Até 2006, a capital representava de 74% a 80% do mercado e, desde então, vem passando por um processo gradual de queda de participação. Segundo o Secovi-SP, esse recuo se deve à legislação urbana restritiva da cidade de São Paulo, que diminuiu o potencial de edificação e tem, consequentemente, levado à migração dos empreendimentos para outras cidades.