domingo, 27 de fevereiro de 2011

Energia própria é opção contra apagão

eone Farias 
do Diário do Grande ABC

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A padaria onde Andréia Gonçalves Moreira trabalha, no Jardim do Estádio, em Santo André, ficou sem luz por três dias em janeiro. No mesmo período, a empresária Andréa Fazan dispensou clientes da lavanderia que administra, no município, porque não tinha como ligar as máquinas.
Para evitar esses problemas, cada vez mais empresas buscam alternativas de geração própria de energia, a fim de não ter de depender da rede da AES Eletropaulo, pelo menos em parte do dia. O Shopping Praça da Moça, em Diadema, é um exemplo: o centro de compras investiu em gerador movido a gás natural.
A ideia, segundo o gerente geral do empreendimento, Wilson Roberto Pelizaro, é que o equipamento comece a funcionar em março. "Ele fornecerá energia para o shopping no horário de pico, das 18h30 às 21h30, quando o preço de um quilowatt chega a ser dez vezes mais caro que no restante do dia", ressaltou.
COGERAÇÃO
Dados da EPE (Empresa de Pesquisas Energéticas) mostram que o mercado da autoprodução de energia vem em ascensão e deve disparar até 2020, com expansão de 6,8% ao ano, ou seja, acima do ritmo do consumo de eletricidade no País, que deve girar em 4,8% anualmente no período.
De olho nesse mercado, a Comgás, concessionária da distribuição de gás no Estado de São Paulo, criou em 2007 departamento específico para a área, que registrou alta de 55% nas vendas em 2010.
Embora o volume consumido pelos clientes do segmento ainda seja pequeno - 30 milhões de m³ ao ano, frente ao total de cerca de 5 bilhões de m³ anuais -, o percentual de crescimento justifica ter equipe dedicada a esse público. Isso porque as perspectivas são promissoras. Para este ano, o gerente de cogeração da Comgás, Alexandre Breda, afirma que a meta é de expansão superior a 52% em relação a 2010.
Breda acrescenta que entre os clientes há hospitais, prédios comerciais, escolas e shopping centers.
Seu departamento engloba três segmentos: o de ar-condicionado a gás, a geração de ponta (para operação normalmente no horário de pico de consumo de eletricidade, das 17h30 às 20h30) e a cogeração propriamente, em que o equipamentos ficam ligados o tempo todo e há o aproveitamento da queima do gás para o aquecimento ou resfriamento de água, por exemplo.
No caso da última modalidade, ele cita que o investimento inicial gira em R$ 7 milhões, para capacidade de 2,5 MW. Ele ressalta que a economia de gastos com eletricidade fica em 30% e que há retorno do valor aplicado no prazo de até quatro anos.
Autoprodução é tendência mundial, apontam especialistas
A geração própria de energia é tendência mundial, segundo o especialista em mercado de energia elétrica da UFABC (Universidade Federal do ABC), Aroldo de Farias Júnior. O gerente da Comgás Alexandre Breda cita que o Brasil ainda está bem atrás de outros países. "O mundo inteiro vai na direção da cogeração. A média mundial é de 20% (do consumo), enquanto no Brasil está em 1%", afirma.
Breda destaca que o sistema dá mais confiabilidade, já que pode ser usado em paralelo à rede de eletricidade. Farias Júnior avalia ainda que a fonte geradora de energia localizada mais próxima ao local de consumo diminui os riscos de interrupção no abastecimento.
Paulo Toledo, consultor da Ecom Energia, considera que a autoprodução é uma opção, mas não justifica os serviços prestados pelas distribuidoras. "Nosso sistema de energia não condiz com a tarifa cobrada. É preciso fiscalizar para que façam um serviço mais confiável", afirma.
As falhas se agravam todo início de ano. "Nessa época, o clima contribui para agravar o problema, pois raios e tempestades prejudicam a rede. Mas transformadores e subestações também estão com defeitos e precisam passar por manutenção", afirma Farias Júnior.
Representantes do setor empresarial da região engrossam o coro das críticas à rede da AES Eletropaulo. Em recente reunião com técnicos da companhia, dirigentes do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) questionaram a qualidade da rede e a demora no restabelecimento da energia
AES Eletropaulo rebate críticas
A AES Eletropaulo rebateu as críticas e afirmou, em nota, que investe R$ 12 milhões na região. Entre as ações previstas estão a modernização de três subestações (Capuava, Nações e Utinga), beneficiando mais de 100 mil consumidores, e a realização de 70 mil podas, já que 52% das interrupções são causadas por quedas de galhos e árvores na rede.
Segundo o diretor executivo de operações da empresa, Sidney Simonaggio, as ações já estão em andamento.
Ele apontou o fator climático como o causador dos apagões. "Foram eventos notáveis que causaram a queda de árvores e galhos sobre a rede, além de deixar ilhadas as equipes de atendimento emergencial." Ainda segundo ele, em janeiro choveu mais que no mesmo período de 2010, mas a empresa teve melhor desempenho neste ano. "Houve queda de 19% no número de clientes que ficaram sem abastecimento e de 25% na duração do blecaute", explicou
Indústria aposta em projetos sustentáveis
Grandes indústrias da região estão investindo em usinas de energia no interior do Estado, que se inserem em estratégias de sustentabilidade.
É o caso da Rhodia Energy, divisão do grupo químico francês, que vai aportar cerca de R$ 150 milhões em projeto de cogeração, utilizando a biomassa da cana-de-açúcar, em Brotas (SP). Terá capacidade instalada de 70 MW (megawatts) e produzirá o suficiente para atender a 200 mil residências ou 600 mil pessoas. A maior parte da eletricidade gerada por essa unidade será comercializada no sistema nacional de energia.
Segundo o presidente da Rhodia América Latina, Marcos De Marchi, a empresa já tinha gerador em suas instalações em Santo André, com capacidade de 4 MW, para dar mais confiabilidade, já que o processo produtivo da companhia não pode parar. "A Rhodia Energy é um negócio à parte. Temos a crença de que esse modelo vai tornar nossa empresa perene, aumentando produtos sustentáveis, como é o caso da biomassa", afirma.
Iniciativa que também carrega o conceito da sustentabilidade é das PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) da Volkswagen. A montadora anunciou em dezembro a construção da segunda unidade geradora de energia, com aporte total de R$ 143 milhões. A usina, com inauguração prevista para 2013, terá capacidade instalada de 25,5 MW/h, com três turbinas.
A primeira PCH, em operação desde março de 2010, é a Celan (Central Elétrica Anhanguera S.A.), resultado de parceria entre a Volkswagen, a Seband e a Pleuston, construída no rio Sapucaí, afluente do Rio Grande, entre as cidades de São Joaquim da Barra e Guará.
A planta já em operação tem capacidade instalada de 22,68 MW/h e possui potencial de geração anual de 18,3 mil toneladas de crédito de carbono. Juntas, as duas usinas totalizam investimento de R$ 273 milhões. Para o presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, os aportes mostram a preocupação da empresa no desenvolvimento de alternativas de energia geradas por fontes limpas e renováveis. (com Camila Galvez)

Mais petróleo segura o preço

ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
Os preços do petróleo chegaram a US$ 119 na quinta-feira, num mercado intensamente especulativo, e recuaram neste fim de semana, com o Brent a US$ 98. É quase o nível de quando eclodiu a crise no Egito.
O recuo se deve principalmente à decisão oficial da Arábia Saudita de aumentar a produção. No fim da tarde sexta-feira, informava-se que os sauditas haviam colocado no mercado mais 3 milhões de barris por dia, elevando sua produção de pouco mais de 7 milhões de barris/dia para cerca de 10 milhões. Isso apenas confirma uma tendência anterior, quando os sauditas evitaram que os preços do barril ultrapassassem US$ 100, considerado o nível suportável pela economia mundial nesta fase de recuperação.
O que vocês querem? A Arábia Saudita não só está produzindo mais petróleo, mas chegou a perguntar às empresas dos países consumidores qual tipo de petróleo, leve ou pesado, estavam precisando para manter a produção de suas refinarias e abastecer o mercado.
Uma sutileza importante, pois tinha como objetivo conter as especulações de que o petróleo saudita é pesado, e não pode substituir o produto leve da Líbia. Não vai dar, diziam os críticos, o que importa não é a quantidade, mas a qualidade, afirmava Lawrence Goldstein, diretor da Fundação de Política Energética, em Nova York.
A resposta veio logo. Os sauditas têm esse tipo de petróleo, mas se propõem a fazer acordos com a Argélia e principalmente a Nigéria, grandes produtores de petróleo leve, em troca de contrato de reposição futura em condições financeiras mais favoráveis. Há espaço no mercado para esse tipo de operações. Além disso, as refinarias americanas e mesmo sauditas e outras nos países árabes do Golfo Pérsico estão preparadas para operar com petróleo pesado e exportar derivados. Não se pode esquecer que, além do petróleo que jogou no mercado, a Arábia Saudita tem mais 3,5 milhões de capacidade ociosa. É uma decisão política, que, parece, já adotou.
Opep sem reuniões. Outro fato que pesou no recuo dos preços foi o anúncio velado dos países árabes do Oriente Médio de que não vão esperar reuniões da Opep para produzir mais petróleo. Pouco lhes importa, nas circunstâncias atuais, o que vierem a dizer o Irã, ideologicamente engajado num confronto com o Ocidente, ou a Venezuela, de Chávez. Os países árabes da Opep não veem razão alguma para impedir a recuperação econômica mundial e jogar o mundo contra eles.
Os preços também recuaram na sexta-feira porque a Casa Branca informou que os EUA têm dependência menor do petróleo do Oriente Médio. Aumentaram suas importações os países do leste da África e da América Latina. Isso foi possível porque suas refinarias, ao contrário do que ocorre com as europeias, estão mais preparadas para operar com petróleo pesado. Hoje até exportam gasolina, diesel e outros derivados.
Outro fato. No mesmo dia em que se fazia esse anúncio, o Departamento do Comércio informou que o PIB dos Estados Unidos cresceu menos que se previa, apenas 2,8% (anualizado) no último trimestre de 2010, ou seja, apenas 3% no ano. Sinal de menor aumento da demanda. É muito importante, porque eles respondem por cerca de 24% do consumo mundial de petróleo. Acrescente-se que o país dispõe de reserva estratégica, estimada pelo mercado em torno de 750 milhões de barris, que pode ser usada a qualquer momento.
Outro desdobramento importante: a Agência Internacional de Energia (AIE) confirmou que os países consumidores têm reservas estratégicas de 1,6 bilhão de barris. Na quarta-feira, antes da ação da Arábia Saudita, a AIE havia sugerido aos países membros que começassem a usar parte desse petróleo para conter especulação com os preços, mas no fim da tarde de sexta-feira reavaliou essa recomendação. Não será preciso, disse um diretor da agência. O mercado, agora, está abastecido. 

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Remédio em excesso mata

MIR KHAIR - O Estado de S.Paulo
Os remédios têm em suas bulas a posologia, ou seja, as dosagens que podem ser tomadas para produzir o melhor efeito no combate ao problema de saúde. O médico, após o diagnóstico, tem que decidir qual o remédio ministrar e a posologia adequada ao tratamento.
O mesmo ocorre para a economia. Uma das doenças a ser tratada é a inflação e o remédio mais usado tem sido uma alta taxa básica de juros, a Selic. A partir do dia 6 de dezembro um novo remédio foi usado pelo Banco Central (BC) visando conter "certos excessos do mercado de crédito". Ele impôs uma reserva maior de dinheiro pelos bancos quando concederem empréstimos para consumidores com prazo acima de dois anos. No caso de automóveis, essa reserva varia conforme a entrada que o comprador do veículo der. Além disso, o BC elevou o recolhimento compulsório dos bancos, tirando da economia cerca de R$ 65 bilhões.
Os efeitos deste remédio foram eficazes e imediatos, pois de acordo com o BC, até o fim de janeiro, a taxa do crédito pessoal subiu de 40,3% para 49,4% ao ano, o prazo médio reduziu de cinco para quase três anos e a média diária das concessões de crédito pessoal caiu 19%! No caso dos veículos, a taxa do financiamento subiu cinco pontos nos bancos convencionais e quatro nos bancos de montadoras, o prazo médio recuou de três anos e meio para menos de três anos e a concessão de crédito caiu 45% nos bancos convencionais e 35% nos bancos das montadoras.
Outros indicadores confirmam queda ou estabilidade no nível de atividade depois dessas medidas macroprudenciais. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) do IBGE de dezembro ficou estável em relação a novembro, e em janeiro, o indicador de atividade do comércio elaborado pela Serasa apresentou queda de 2,7%. Avalia-se que as vendas do varejo tendem a ser prejudicadas pela redução da oferta de crédito.
Quanto ao remédio taxa básica de juros, a posologia adotada mundialmente é aproximá-la da taxa de inflação. Atualmente, está um ponto abaixo da inflação na média mundial e nos países emergentes meio ponto abaixo. Mas, no Brasil, é de 5,5 pontos acima, ou seja, uma posologia anormalmente elevada, que além de não resolver a doença da inflação traz vários efeitos colaterais danosos ao corpo econômico.
1) Aumenta as despesas do governo. A Selic contamina no curto e no médio prazo todas as taxas de juros dos títulos do governo federal cuja dívida está atualmente em R$ 1,7 trilhões. Cada ponto de aumento da Selic aumenta a despesa com juros do governo federal em R$ 17 bilhões! Como essa dívida é crescente, especialmente por causa da elevação das reservas internacionais, do aporte de recursos do Tesouro Nacional ao BNDES - que são feitos com a emissão de títulos - e da Selic, esse dano será maior neste ano, anulando parte expressiva do corte de R$ 50 bilhões no orçamento do governo federal.
2) Causa elevado custo de carregamento das reservas internacionais. O BC tem mais de US$ 300 bilhões de reservas, que são aplicadas especialmente em títulos do Tesouro americano com juros de cerca de 1,5% e pagam juros de 11,25%. Além disso, há a perda cambial com a valorização do real perante o dólar. No ano passado, o custo de carregamento desta dívida foi estimado em R$ 26,6 bilhões pelo BC, mas esse cálculo parece conservador frente a outros estudos que apontam para R$ 45 bilhões. Neste ano deverá se elevar mais, pois crescem as reservas e a Selic em relação ao ano passado.
3) Valoriza o real perante o dólar. Os especuladores do mercado captam recursos a taxas próximas a zero e aplicam nos títulos do governo federal que pagam taxas elevadas. São ganhos líquidos e certos, sem riscos. O BC está dando um presentão a esses especuladores para manter o real apreciado e funcionar como âncora cambial, barateando as importações e encarecendo nossas exportações. Isso tira o poder competitivo das empresas do País tanto interna quanto externamente, causando um rombo nas contas externas, que pode se tornar explosivo. Esse risco existe, caso se mantenha essa situação, pois a política dos países desenvolvidos é continuar inundando o mundo com suas moedas para permitir elevar suas exportações e reduzir suas importações.
O mais grave é que o paciente Brasil ainda não se deu conta que está tomando o remédio errado e em doses cavalares. Ele tem, ainda, uma boa saúde, mas está ficando cada vez mais debilitado com os efeitos colaterais do remédio. O pior é que o médico já avisou que vai elevar essa dosagem, pois não está havendo a cura e o paciente tem confiança no médico e não pensa em mudá-lo. Se continuar assim, corre sério risco de espalhar em seu organismo novos problemas, que certamente serão combatidos com mais elevação da dosagem do mesmo remédio. Assim, o paciente corre o risco de vir a morrer.
A pergunta que fica é: Não dá para trocar de remédio uma vez que o outro (medidas macroprudenciais) já provou sua eficácia além de não causar os efeitos colaterais apontados? Dá, e isso precisa ser feito imediatamente rumando em prazo, o mais curto possível, para taxas de juros a nível internacional e continuar aferindo os efeitos das medidas macroprudenciais, regulando sua posologia para que o apetite de consumo não tensione a inflação.
O consumo das famílias, que responde por 75% do consumo total, é fortemente influenciado pela oferta de crédito via taxas de juros e prazos de financiamentos. As medidas macroprudenciais, que podem influir o nível da oferta de crédito e suas taxas de juros, têm efeito imediato. A taxa Selic leva, segundo o BC e o mercado financeiro, cerca de nove meses para produzir efeito. Em nove meses ninguém sabe o que estará ocorrendo no mundo e em nossa economia, pois o tempo é longo demais para previsões. Há pouco não se previa a revolta no mundo árabe e ninguém sabe onde isso vai dar, com repercussões nos preços do petróleo, em forte ascensão.
Outra questão que chama a atenção é o ciclo vicioso criado pelo BC: 1) mantém a Selic elevada para servir como âncora cambial; 2) com isso atrai capital externo para lucrar com essa taxa; 3) isso aprecia o real; 4) para segurar essa apreciação, o BC compra dólares aumentando as reservas; 5) reservas maiores atraem mais capital externo, pois aumentam a garantia às aplicações externas. Ou seja, ele cria o problema e o agrava com sua "solução".
Várias vezes o jornalista Celso Ming, em sua coluna no Estado, chamou a atenção que, quanto maiores as reservas internacionais, mais atração exercerão para a entrada de capital externo. Como resultado desse processo da ação do BC, eleva-se a dívida bruta do País, as despesas com juros do governo federal e o custo do carregamento das reservas. E tudo isso tem efeito imediato; não precisa de nove meses para repercutir numa improvável alteração da inflação.
Quanto à teoria das expectativas de que as alterações da Selic servem para conduzir os agentes econômicos a adequar seus preços conforme a meta de inflação, isso não ocorre, pois ao contrário dos outros países, onde essa teoria funciona razoavelmente, a distância entre a Selic e a taxa de juros dos bancos é tão grande, que permite variar as taxas dos bancos conforme outros interesses, visando ampliar seu mercado na disputa com bancos mais agressivos em sua expansão, além das pessoas e empresas terem mais alternativas de escolha das melhores ofertas de financiamento.
A teoria das expectativas faz mais sentido para as medidas macroprudenciais, pois o efeito é imediato sobre o crédito, que é a perna principal da adequação do nível de consumo. As expectativas, porém, estão sendo mais influenciadas pela inflação corrente do que pela inflação projetada, sempre sujeita a toda sorte de erros. A inflação está sendo influenciada mais pela realidade internacional nos preços dos alimentos e commodities do que por qualquer outro fator e sobre isso pouco se pode fazer a não ser restringir o galope do crédito.
Para que possa ocorrer a mudança do remédio velho para o de nova geração, que já mostrou sua eficácia, é necessário que o BC, que já dispõe de autonomia operacional em relação ao governo e aos políticos, comece a exercê-la também em relação ao mercado financeiro, o qual adora uma Selic elevada, pois amplia sem riscos seus lucros.
Para isso, é fundamental cortar a relação simbiótica que sempre existiu entre ambos. Isso agora tem melhor chance de ocorrer, uma vez que os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) são todos funcionários de carreira do próprio BC. Além disso, já passou da hora de usar o Boletim Focus, baseado em cem instituições financeiras, como única fonte de consulta sobre projeção de inflação e Selic. O BC precisa estender as consultas à academia e às instituições que representam o setor real da economia se quiser ter maior credibilidade e possuir diagnósticos mais confiáveis e de melhor qualidade. Já passou da hora de mudar de remédio.
MESTRE EM FINANÇAS PÚBLICAS PELA FGV E CONSULTOR