ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
Os preços do petróleo chegaram a US$ 119 na quinta-feira, num mercado intensamente especulativo, e recuaram neste fim de semana, com o Brent a US$ 98. É quase o nível de quando eclodiu a crise no Egito.
O recuo se deve principalmente à decisão oficial da Arábia Saudita de aumentar a produção. No fim da tarde sexta-feira, informava-se que os sauditas haviam colocado no mercado mais 3 milhões de barris por dia, elevando sua produção de pouco mais de 7 milhões de barris/dia para cerca de 10 milhões. Isso apenas confirma uma tendência anterior, quando os sauditas evitaram que os preços do barril ultrapassassem US$ 100, considerado o nível suportável pela economia mundial nesta fase de recuperação.
O que vocês querem? A Arábia Saudita não só está produzindo mais petróleo, mas chegou a perguntar às empresas dos países consumidores qual tipo de petróleo, leve ou pesado, estavam precisando para manter a produção de suas refinarias e abastecer o mercado.
Uma sutileza importante, pois tinha como objetivo conter as especulações de que o petróleo saudita é pesado, e não pode substituir o produto leve da Líbia. Não vai dar, diziam os críticos, o que importa não é a quantidade, mas a qualidade, afirmava Lawrence Goldstein, diretor da Fundação de Política Energética, em Nova York.
A resposta veio logo. Os sauditas têm esse tipo de petróleo, mas se propõem a fazer acordos com a Argélia e principalmente a Nigéria, grandes produtores de petróleo leve, em troca de contrato de reposição futura em condições financeiras mais favoráveis. Há espaço no mercado para esse tipo de operações. Além disso, as refinarias americanas e mesmo sauditas e outras nos países árabes do Golfo Pérsico estão preparadas para operar com petróleo pesado e exportar derivados. Não se pode esquecer que, além do petróleo que jogou no mercado, a Arábia Saudita tem mais 3,5 milhões de capacidade ociosa. É uma decisão política, que, parece, já adotou.
Opep sem reuniões. Outro fato que pesou no recuo dos preços foi o anúncio velado dos países árabes do Oriente Médio de que não vão esperar reuniões da Opep para produzir mais petróleo. Pouco lhes importa, nas circunstâncias atuais, o que vierem a dizer o Irã, ideologicamente engajado num confronto com o Ocidente, ou a Venezuela, de Chávez. Os países árabes da Opep não veem razão alguma para impedir a recuperação econômica mundial e jogar o mundo contra eles.
Os preços também recuaram na sexta-feira porque a Casa Branca informou que os EUA têm dependência menor do petróleo do Oriente Médio. Aumentaram suas importações os países do leste da África e da América Latina. Isso foi possível porque suas refinarias, ao contrário do que ocorre com as europeias, estão mais preparadas para operar com petróleo pesado. Hoje até exportam gasolina, diesel e outros derivados.
Outro fato. No mesmo dia em que se fazia esse anúncio, o Departamento do Comércio informou que o PIB dos Estados Unidos cresceu menos que se previa, apenas 2,8% (anualizado) no último trimestre de 2010, ou seja, apenas 3% no ano. Sinal de menor aumento da demanda. É muito importante, porque eles respondem por cerca de 24% do consumo mundial de petróleo. Acrescente-se que o país dispõe de reserva estratégica, estimada pelo mercado em torno de 750 milhões de barris, que pode ser usada a qualquer momento.
Outro desdobramento importante: a Agência Internacional de Energia (AIE) confirmou que os países consumidores têm reservas estratégicas de 1,6 bilhão de barris. Na quarta-feira, antes da ação da Arábia Saudita, a AIE havia sugerido aos países membros que começassem a usar parte desse petróleo para conter especulação com os preços, mas no fim da tarde de sexta-feira reavaliou essa recomendação. Não será preciso, disse um diretor da agência. O mercado, agora, está abastecido.
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