quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Prefeito paulistano de 100 anos atrás deveria inspirar candidatos.

 Bombas caíram sobre bairros como Mooca, Ipiranga e Vila Mariana, e a população paulistana, desesperada, corria pelas ruas, onde trincheiras tinham sido cavadas. Pelo menos 1.500 edificações foram parcial ou totalmente destruídas, inclusive fábricas famosas, como a Companhia Antarctica. Boa parte do comércio foi saqueada.

Há pouco mais de cem anos, a cidade foi palco de um dos conflitos urbanos mais sangrentos da história brasileira, a Revolta de 1924.

É comum rememorar a Revolução de 1932, também conhecida como Revolução Constitucionalista, mas poucos se lembram das disputas violentas que tomaram a capital paulista oito anos antes.

Jovens oficiais do Exército insatisfeitos com a situação política e econômica do país, os tenentistas iniciaram em 5 de julho de 1924 uma insurreição em São Paulo com o objetivo de derrubar o presidente, o autoritário Arthur Bernardes.

nuvem de fumaça provocada por explosão
Incêndio em indústria na Mooca provocado após ataque das tropas governistas contra os tenentistas, que tinham se rebelado - Divulgação

Liderados pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, os revoltosos chegaram a ocupar pontos estratégicos, como a Estação da Luz, mas as tropas governistas, bem mais numerosas, logo ganharam a dianteira. Depois de 23 dias de tiros de canhões (muitos de destino incerto) e outros tipos de ataque, os tenentistas se retiraram da cidade, consolidando a vitória dos homens de Bernardes. Não existem dados definitivos sobre o número de mortos, mas estima-se que tenham sido pelo menos 500 baixas.

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Com o acirramento dos combates, o então governador, Carlos de Campos, deixou o palácio dos Campos Elíseos, no centro da cidade, para se refugiar na Penha —àquela altura, considerada uma periferia distante.

Mas o prefeito Firmiano de Morais Pinto se manteve na arena dos conflitos. "Serei o último habitante a deixar São Paulo, aconteça o que acontecer", disse ele segundo Moacir Assunção, autor do livro "São Paulo Deve Ser Destruída - a História do Bombardeio à Capital na Revolta de 1924".

A cidade enfrentava uma calamidade jamais vista, mas poderia ter sido pior sem as ações do prefeito, um advogado e fazendeiro nascido em Itu. Embora integrante da tradicional política do café com leite, ou seja, ligado a Bernardes e a outros medalhões da velha guarda, Morais Pinto manteve diálogos constantes com os tenentistas.

Além disso, ao lado de nomes da sociedade civil, como Macedo Soares, presidente da Associação Comercial de São Paulo, organizou operações de abastecimento que permitiram o fornecimento de alimentos e outros itens básicos para os mais pobres, que não puderam deixar a cidade.

Passados os conflitos, Morais Pinto e sua equipe foram repreendidos pelo governo federal por uma suposta proximidade com os tenentistas. Na verdade, buscavam impor uma ordem mínima ao caos.
Sob um busto no parque Buenos Aires, no bairro de Higienópolis, a placa diz: "Ao prefeito Firmiano Pinto a São Paulo agradecida".

Alessandro Shinoda - 10.jul.2011/Folhapress
Busto de Firmiano de Morais Pinto no parque Buenos Aires, no bairro de Higienópolis, em São Paulo - Alessandro Shinoda/Folhapress


Não deve passar pela cabeça de ninguém que o prefeito eleito neste mês tenha que proteger a cidade de bombardeios, mas o escolhido faria muito bem se seguisse o exemplo de coragem e comprometimento de Firmiano de Morais Pinto.

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