quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O parque náutico de São Paulo que jamais saiu do papel, Douglas Nascimento, FSP

  

Douglas Nascimento
São Paulo (SP)

Desde os primeiros anos do século 20 São Paulo já estava fadada a ser uma das maiores cidades do país. Se por um lado muitos achavam que o Rio de Janeiro, então capital federal, continuaria liderando como a maior das maiores, o desenvolvimento paulistano ia a todo o vapor e em 1960 tomou de vez o primeiro lugar da Cidade Maravilhosa.

Esse crescimento levou prefeitos, legisladores e urbanistas a tecer os planos do que seria São Paulo no futuro, de modo a transformar radicalmente aquela velha cidade, ainda com alguns traços arquitetônicos coloniais, em uma metrópole arrojada e moderna.

urbanismo de São Paulo
O prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia, em sua primeira passagem pelo cargo (1938-1945) - Divulgação

De todos os prefeitos paulistanos focados em uma transformação urbana, Francisco Prestes Maia (*1896 +1965) foi o que mais se dedicou a causa, cujo legado é conhecido através de seu "Plano de Avenidas de São Paulo" que contou com a colaboração do engenheiro João Florence de Ulhôa Cintra.

Foi em seu primeiro mandato como prefeito de São Paulo (1938-1945) que o ex-aluno da Escola Politécnica da USP pode colocar em execução uma parte de seus projetos previstos no plano de avenidas, que até hoje é considerado como um dos documentos cruciais do urbanismo brasileiro. Contudo um de seus projetos – que jamais saiu do papel – poderia ter transformado radicalmente a paisagem urbana de uma importante região paulistana: a zona norte.

A CIDADE DOS RIOS

Nas primeiras três décadas do século passado, São Paulo ainda era uma cidade com inúmeros rios a céu aberto, coisa que hoje se restringe aos poluídos Pinheiros, Tietê, Tamanduateí e alguns outros córregos. Na era de Prestes Maia o Tamanduateí já havia sido retificado, como conhecemos hoje, em 1928. Mas Tietê e Pinheiros ainda eram "indomados" e repleto de curvas cujo plano de avenidas previa suas retificações.

A prática de regatas no então limpo rio Tietê, em São Paulo, no ano de 1905. - Guilherme Gaensly/Instituto Moreira Salles

Porém São Paulo tinha uma série de clubes que faziam dos rios seus grandes espaços de competições, treinos e lazer e ver seus rios virarem meros coadjuvantes do sistema viário paulistano era algo que incomodava essas entidades, que previam que tal obra poderia significar sua extinção.

Assim clubes como Esperia, Tietê, Corinthians e tantos outros pressionaram a prefeitura a pensar em uma solução que não acabasse com suas atividades de regatas, que era largamente realizada especialmente no rio Tietê.

O PARQUE NÁUTICO

E então foi desenvolvido um projeto que transformava parte da antiga área do curso original do rio Tietê, uma vez retificado, em um enorme parque náutico paulistano, com muito verde, áreas de lazer, e uma grande raia para competições esportivas, com 2500 metros de extensão. Tudo isso em uma área servida por transporte público abundante, como trens, bondes e ônibus.

urbanismo de São Paulo
Arte com o parque náutico da zona norte de São Paulo, que jamais saiu do papel. No canto superior direito, uma charge cobrando a construção. - Divulgação

A área seria desfrutada por todos os clubes que tivessem atividades de regatas e prometia ser uma das maiores praças esportivas do país, mas infelizmente jamais saiu do papel. Com a mudança de prefeito e das prioridades para São Paulo o parque náutico acabou se tornando apenas uma grande ideia no papel frustrando os clubes e praticantes de atividades desportivas náuticas.

Hoje neste espaço existem três grandes construções: o terminal rodoviário do Tietê, o Shopping Center Norte e o Lar Center. Como teria sido o desenvolvimento da região sem estes espaços disponíveis? Jamais saberemos.


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